Opinião
26 de setembro de 2016
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Ben Hur: reconciliação e perdão ou vingança?

O livro foi um sucesso tremendo e foi adaptado várias vezes para o cinema. A versão de 1959 tornou-se a mais famosa de todas. Com razão: foi contemplada com o Oscar em nada menos que 11 categorias, e com o Globo de Ouro em três. Ben Hur é o épico dos épicos da era de ouro de Hollywood. Sem exagero, o filme é glorioso. A cena da corrida de bigas é uma das famosas de toda a história do cinema. As interpretações são ótimas. Charlton Heston, que fez o personagem-título, era muito bom como ator dramático. É bem verdade que seu fenótipo nórdico não se enquadra de jeito nenhum no padrão físico dos judeus do primeiro século. Mas o filme mereceu o sucesso tremendo que teve: figurino, trilha sonora, roteiro, direção, e, por último, mas não menos importante, um enredo muito bom.
É preciso que um diretor tenha muita coragem para fazer um remake de um filme de sucesso estrondoso como este. Mas foi exatamente esta a empreitada corajosa assumida pelo diretor cazaque Timur Bekmambetov. Dele eu já havia assistido Abraão Lincoln: Caçador de Vampiros, de 2012, a versão cinematográfica do livro com o mesmo título de Seth Grahame-Smith, talvez uma das estórias mais bizarras de todos os tempos (li o livro e vi o filme exatamente por conta do seu altíssimo grau de bizarrice, algo tão estranho que me chamou a atenção).
E agora Bekmambetov se lançou à tarefa de recontar a história tantas vezes contada de Lewis Wallace. E o fez de maneira muito inteligente, pois conseguiu produzir um filme que ao mesmo tempo se aproxima e se distancia do filme de Wyler. Pois as comparações entre as duas versões são inevitáveis. Como não li o livro, não posso dizer qual das versões lhe é ou não a mais fiel. O que pretendo é mostrar algumas impressões da versão do cineasta cazaque.

Outra diferença notável está na presença de Jesus: na versão de 1959 ele aparece duas vezes apenas, e seu rosto nunca é mostrado. Em contraste notável, na de 2016 Jesus aparece muito.

Como dito acima, a grande ênfase no Ben Hur de 2016 está na busca da reconciliação e do perdão. O príncipe judeu na versão de Bekmambetov é um humanista pacifista. Ele crê piamente na possibilidade dos diferentes viverem unidos, a despeito de diferenças culturais ou religiosas. Neste sentido, o filme é a demonstração de uma grande utopia, a utopia em que a alteridade é levada a sério, em que o outro é respeitado. Mas uma palavra crítica precisa ser dita: o filme quase resvala para um final piegas demais na última cena, em que inexplicavelmente (e de modo um tanto ridículo) se ouve uma música contemporânea. Esta cena ficou muito “nada a ver”.
Na Jerusalém do tempo de Ben Hur judeus e romanos vivem uma relação de ódio e tensão constante. Dois mil anos depois, a situação de tensão continua: agora, entre israelenses e palestinos. A necessidade de perdão e reconciliação continua tão necessária como sempre. O filme de Timur Bekmambetov ajuda a pensar no sonho de um mundo em que barreiras de separação são derrubadas, e que em lugar destas, os homens construam pontes.
Leia mais
Cinema e Fé Cristã
A reconciliação e o mistério do perdão triangular
Cristo, Nosso Reconciliador
É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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