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07 de novembro de 2019
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Novo álbum de Gerson Borges: brasilidade, beleza e afeto
Por Phelipe Reis

É preciso ter um coração de pedra para discordar da síntese que Rubem Alves faz acima. Sim, precisamos de beleza e canção para viver. E nesses quesitos, Gerson Borges nos serve com muita generosidade. Pastor, músico e escritor; autor de Ser Evangélico Sem Deixar de Ser Brasileiro, as canções de Gerson, além de melodias, letras e rimas bem trabalhadas, nos saciam com beleza, afeto e um toque especial de brasilidade.
Dia 8 de novembro ele lança nas principais plataformas digitais o seu novo álbum, inspirado na obra “Os Quatro Amores”, de C. S. Lewis. Ao lado dele, na produção, instrumentais e vocais, muita gente boa – todos amigos. Nas palavras do músico, trata-se de um álbum destinado a “quem tiver ouvidos para ouvir, coração para sentir, pés para dançar e olhos para marejar”.
Conversei com Gerson, virtualmente, sobre a inspiração, produção e expectativa para o lançamento do álbum. Também ouvi Paulo Nazareth e Amanda Rodrigues sobre suas participações no projeto. Confira como foi esse bate-papo.
Phelipe Reis – Por que C. S. Lewis?
Gerson Borges – Sem dúvida, na minha opinião e de muita gente de peso, é o escritor cristão mais influente do século vinte. Possivelmente, o mais citado também por autores protestantes-evangelicais.
PR – Qual a relevância de Lewis para hoje?
GB – Muita e variada. Mas eu destacaria primeiro a articulação da fé e cosmovisão cristã em um ambiente cultural cada vez mais pós ou anticristão. Lewis conhecia os clássicos profundamente ao refutar o ateísmo da “hermenêutica da suspeita” (Marx, Freud, Nietzsche). Ainda que não direta ou sistematicamente, ele demonstrava conhecer o núcleo estruturante do pensamento dos seus opositores. Em segundo lugar, a sua contribuição para uma imaginação cristã. Eu não digo isso apenas em um sentido óbvio, isto é, a sua obra ficcional, mas especialmente naquilo que Eugene Peterson chamou de “oração” ou “espiritualidade imaginativa”. As narrativas bíblicas se misturam às narrativas ficcionais e à própria narrativa de vida, criando uma tessitura que estabelece sentido e significado. Não apenas em Nárnia ou na Trilogia Espacial, mas em Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, por exemplo, ele me incentiva a pensar de modo tão teológico quanto narrativo, o que qualifica a fé. É que a linguagem da teologia e da espiritualidade é essencialmente analógica e metafórica. Lewis é incrivelmente fluente nisso. Por fim, algo subjetivo, ou nem tanto: amo o estilo de Lewis – é literatura da melhor e maior qualidade, tudo o que escreveu, ensaios ou ficção!
PR – O que mais lhe marcou na obra “Os Quatro Amores”?
GB – A genialidade da classificação: amor-necessidade (os amores humanos) e amor-doação (o amor de origem divino). E o capítulo final. Sei trechos de cor, praticamente.
PR – Quanto tempo durou o processo de concepção e produção deste trabalho?
GB – Quando eu comecei a desenvolver o conceito, percebi que sempre compus canções que trabalhavam os quatro amores. Então, comecei uma te-ré-releitura do livro (rsrsrs) e coloquei intencionalidade criativa na composição de novas músicas e no desenho do álbum/show – quem eu convidaria para tocar e cantar. Uma delícia a pré e a pós-produção. A produção em si é que é bastante exaustiva, pois mesmo com a tecnologia/ambiente online, prefiro o presencial. E para quem vive em São Paulo, não é fácil conciliar família, igreja, viagem e estúdios. Mas vale muito a pena. Estou feliz e grato ao Eterno.
PR – Como escolheu os convidados para cantar com você?
GB – Percebendo a necessidade de falar de afeto... De modo afetuoso, de cantar a amizade, ao lado de amigos. Em primeiro lugar, chamei amigos. Mas a benção é que são extremamente talentosos e musicalmente muito competentes. O “featuring” (participações, colaborações) desse lindo projeto é um mimo da graça. Desde “A Volta do Filho Pródigo”, que co-produzi com o genial João Alexandre, eu não vivia algo tão criativamente relacional e trinitário. A diferença é que chamei gente mais jovem que eu (sempre gravo com os meus mentores e mestres). Eu quis dar uma diferenciada, o que rejuvenesce a música, é claro. Ah, Paulo Nazareth, querido amigo, está co-produzindo o álbum comigo. E é digna de nota a colaboração em muitos sentidos dos queridos Marcos Almeida e Estevão Queiroga, admiráveis. Melhor eu parar para não deixar nenhum instrumentista ou cantor convidado enciumado.
PR – Quem toca e canta com você?
GB – No álbum, os citados Marcos Almeida (fiz uma canção com ele). Estevão Queiroga, Paulo César Baruk, Amanda Rodrigues, Aline, Salomão do Reggae e mais alguns nomes. Meus amigos Pantico Rocha (baterista do Lenine), Carlos Bala, batera, Sergio Carvalho, baixo, (esses dois gravaram e excurcionaram com Djavan), o fera Marcinho Teixeira, bateria/percussão, Stanley Wagner e Jorge Ervolini nas lindas guitarras e nos vilões comigo. Ah, muita gente boa e querida!
PR – O que podemos esperar deste novo trabalho?
GB – Coisas muito belas, boas e verdadeiras. Mas é claro que gosto musical é bastante subjetivo. O que estou querendo dizer é poesia, espiritualidade, afeto, sabe? É muito, muito de mim, meu amor pela vida, por minha família, por meus amigos, pela “Mulher da minha mocidade” e pelo Deus que me ama como eu sou a fim de que um dia eu seja como ele é.
PR – Quais características musicais de outros trabalhos seus esse novo projeto carrega e o que de novo ele tem?
GB – Brasilidade, diálogo do pop com o erudito e o jazz, poesia e teologia. Uma música para a igreja, que possa ser cantada/apreciada “lá fora” e vice-versa.
PR – Numa conversa com Estevão Queiroga, você mencionou que a sua música é uma música de guerrilha. O que seria isso?
GB – No contexto da conversa, quis dizer sofrida, feita com companheirismo, por sonho, paixão e fé – nosso rifle é o violão, nossa baioneta a poesia. Nossos inimigos? Os de sempre: o Diabo, a carne e o mundo. Poetas são primos-irmãos dos poetas, meu caro. Temos oráculo e missão. Acordar os que dormem, adormecer os cansados. O mote/moto dessa “O Senhor Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos.” (Isaías 50:4, ARA).
PR – Por que escrever um livro e produzir um álbum tão bem trabalhado, tanto na forma quanto no conteúdo, em dias como os nossos, em que uma boa leitura e uma boa música parecem não mais atrair a atenção de muitos?
GB – Por conta da tal “guerrilha” que falei antes, lutamos – artistas, pastores e poetas – todos que sonham os sonhos do Reino – o bom, o belo e o verdadeiro do reino do já/ainda não; não pelo que “dá certo”, lutamos pelo que vale a pena. Nenhuma ideologia ou projeto filosófico se aproxima disso: lutar as lutas do Senhor, as lutas da Shalom. Eu creio nisso, vivo assim. Me sinto e me vejo engajado na Missão de Deus. Essa é a minha milícia: a do Evangelho!
COM A PALAVRA, OS AMIGOS
A amizade e o afeto são dois dos elementos da tessitura do novo trabalho de GB. Nada mais justo que ouvir quem divide este sonho com ele. Com vocês, Paulo Nazareth e Amanda Rodrigues.
PR – Como foi sua participação no projeto?
Paulo Nazareth – Eu sempre acompanhei o Gerson de perto e temos uma amizade muito preciosa para mim. Tive a grata surpresa de ser convidado por ele para produzir esse projeto baseado no livro “Os Quatro Amores”, de C.S Lewis.
Amanda Rodrigues – Em 2018 ele iria fazer um show no Teatro Municipal de Niterói, RJ, e me chamou para participar. Me enviou uma canção que ainda não havia terminado às vésperas do show para que eu tentasse terminá-la e assim nasceu a “Cafezinho”. Cantamos juntos, assim como a minha “Todo Dia” e a partir daí passamos a estreitar o relacionamento. O convite para participar do projeto veio em seguida e foi recebido por mim com muita alegria e grande surpresa.
PR – O que mais você gostou no projeto?
PR – O que mais você gostou no projeto?
PN – O Gerson é um artista singular (artista no sentido mais essencial da palavra), um poeta inspirado e, sendo assim, tem muito a dizer. Os projetos que ele se propõe a fazer são sempre de muito bom gosto e tocam a alma da gente. Desta vez, não seria diferente. Topei participar antes mesmo de saber qual seria o “tema” e quando ouvi as canções fiquei maravilhado.
AR – É difícil dizer vindo de uma fã assumida (risos). Sou suspeita. É difícil ou praticamente impossível eu não gostar de um projeto do GB. Mas eu destacaria a temática e as participações incríveis que estão enriquecendo muito o projeto.
PR – O projeto conta com um álbum, um livro e um show. Vale apena investir nisso tudo nestes dias em que parece que as pessoas não querem mais ler e muitas pessoas de nossas igrejas parecem não querer ouvir aquilo que não vem com o selo da indústria gospel?
PN – A fé em Jesus, o evangelho, a mensagem do Reino afetam a vida por inteiro e não se restringem ao que geralmente cantamos nos encontros de domingo. Ao contrário do que se possa pensar quando olhamos o cenário da música gospel atual, existe um espectro musical e poético muito mais amplo. Temos a liberdade de usar o nosso dia-a-dia, de segunda a sábado, como matéria prima para o que criamos e entendemos como adoração. Por que não fazer músicas que reflitam o Evangelho nessa dinâmica do dia-a-dia? Quando ouço o Gerson percebo que isso é possível e faz sentido! Que assim seja! Vida longa ao Gerson Borges e à sua arte que tanto nos abençoa!
AR – Com certeza. O que nos move enquanto artistas e cristãos genuínos nunca é o mercado e suas demandas, mas sim aquilo que arde em nossos corações para compartilhar com as pessoas e a vontade de Deus. Nossos sonhos e ideais.
Para acompanhar as novidades do Gerson, siga ele nas redes sociais:
É natural do Amazonas, casado com Luíze e pai da Elis e do Joaquim. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e mestre em Missiologia no Centro Evangélico de Missões (CEM). É missionário e colaborador do Portal Ultimato.
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