Por Escrito

10 de fevereiro de 2021
Visualizações: 7326
comente!
+A
-A
compartilhar

E a verdade os libertará

Avaliando o bolsonarismo à luz das Escrituras

Resenha

Por Cacau Marques

Ricardo Alexandre

Mundo Cristão, 2020

Nas eleições presidenciais de 2018, pela primeira vez, havia dois candidatos evangélicos disputando o cargo: Marina Silva e Cabo Daciolo. Mesmo com essas opções, as pesquisas mostram que o alvo do voto evangélico foi o católico Jair Messias Bolsonaro. O ex-capitão foi o candidato que conseguiu se apresentar como a alternativa cristã conservadora na disputa.

Em E a Verdade os Libertará (Mundo Cristão), o jornalista Ricardo Alexandre explica que Bolsonaro olhou para o evangélico brasileiro de uma forma que nenhum outro candidato havia feito. “O nível de sinceridade e de oportunismo nesse movimento de Bolsonaro em direção aos evangélicos é algo que cabe a Deus julgar. Mas é fato que ele enxergou um contingente do Brasil profundo até então invisível”. Essa aliança entre um grupo negligenciado e um político do baixo clero levou a uma eleição improvável, mas também provocou mudanças na prática e na mensagem da Igreja.

O livro aborda a relação entre o bolsonarismo e a igreja evangélica brasileira na perspectiva de alguém que conhece bem essa realidade. O autor é batista e sua vivência eclesiástica contribui para que a obra não seja um mero ataque aos evangélicos ou uma análise cínica da situação política. O que encontramos aqui é um chamado para que os cristãos brasileiros avaliem seus vínculos políticos à luz das Escrituras.

O conteúdo do livro não é formado por revelações bombásticas, histórias de bastidores, ou dossiês incriminadores. Todas as informações ali são de conhecimento público, divulgadas em grandes veículos de imprensa. O mérito do autor é o de lançar uma luz bíblica sobre esse conjunto de informações e proporcionar uma reflexão clara de como o Evangelho se aplica em nosso envolvimento com a política e a sociedade. “O personagem principal desse livro não é Jair Bolsonaro. É a igreja evangélica brasileira e seu papel nesse fenômeno chamado bolsonarismo” afirma logo nas primeiras páginas.

Tal reflexão é essencial para a compreensão do evangelicalismo hoje no Brasil. Deixando uma posição de contracultura religiosa, os evangélicos assumiram um papel de protagonistas do rumo político nacional no século 21. Nesse processo, certos valores foram consagrados como parte essencial da identidade evangélica no imaginário da sociedade brasileira. Bolsonaro soube apresentar-se como o representante dessa identidade, reforçando ainda mais seus contornos. Assim, o resultado da eleição é também um retrato de um tipo de evangelicalismo que se torna predominante no Brasil.

Muitas análises já foram feitas sobre esse fenômeno, mas faltava à igreja brasileira uma crítica da formação dessa cultura política que partisse da doutrina bíblica. Como cristãos, somos impelidos a reavaliar continuamente nossos passos. Ricardo Alexandre oferece essa leitura, passando a limpo temas importantes do linguajar político contemporâneo como “imprensa”, “direita e esquerda”, “messianismo” e “verdade e pós-verdade”, sempre oferecendo uma abordagem bíblica pacificadora, lembrando aos cristãos brasileiros que todas as coisas, incluindo as ideias políticas, devem ser colocadas sob o crivo da Palavra.

E a Verdade os Libertará - Ricardo Alexandre (Mundo Cristão, 2020)

E como o evangelicalismo não é um movimento uniforme, o livro apresenta contribuições de fontes variadas. As referências teológicas incluem teólogos reformados e pentecostais, líderes mais associados à direita e à esquerda. Neste exercício eclético, o autor encontra pontos em comum que oferecem uma identidade alternativa ao bolsonarismo. Desafia-se a crença difundida de que o reacionarismo político é traço fundamental da fé evangélica. O Evangelho de Jesus Cristo não é propriedade de uma corrente política e nem é plenamente manifestado em nenhuma vertente partidária.

E a Verdade os Libertará é um apelo para que os evangélicos retornem à unidade em bases bíblicas; um clamor para que abandonemos nossos ídolos políticos e um protesto contra a relação impura entre Igreja e poder. A leitura desse livro oferecerá elementos para que os governistas sejam mais críticos e para que os críticos mais justos.

• Carlos "Cacau" Marques é casado com Natália. É pastor na Igreja Batista Vida Nova em Nova Odessa, SP e professor na Faculdade Teológica Batista de Campinas. É formado em teologia pela TBC e em história pela Unicamp. Ele é podcaster e tem vários programas gravados com irmaos.com e também faz parte da equipe BiboTalk.

O podcast irmaos.com analisou no podcast 424 (A igreja evangélica e o bolsonarismo) a história recente do evangelicalismo brasileiro para tentar entender a relação de parte da igreja evangélica com o governo e seus apoiadores.

Com a participação do autor do livro "E a Verdade os Libertará" Ricardo Alexandre (@ralexandredb) e também com a presença de Cacau Marques (@cacaupmarques), Paulinho (@paulinhodegaspari) e Adriana Degaspari (@dridegaspari).

Você pode ouvir esse programa em qualquer aplicativo agregador de podcast, no spotify, ou pelo site: https://www.irmaos.com/424-a-igreja-evangelica-e-o-bolsonarismo/

>> Conheça o livro Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não, de Paul Freston

Leia mais

» Cristãos à espera de um Messias

» Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam? (resenha)

+Igreja e Liderança +Política e Sociedade +Resenha

10 de fevereiro de 2021
Visualizações: 7326
comente!
+A
-A
compartilhar

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.

Ultimato quer falar com você.

A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.

PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.