Opinião
- 30 de abril de 2015
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Auschwitz e a violência dos normais
“Eu sou a videira verdadeira, permanecei em mim.” João 15.1-8
Temos medo da violência inimputável? Se não temos, por que estaria ela diluída no alerta permanente sobre os perigos que teremos de enfrentar na próxima esquina, ou no próximo sinal, indivíduos armados assaltando e matando por insignificâncias? Perigos são derramados desde massacres de crianças em escolas; massacres em templos religiosos, atentados terroristas nas ruas das cidades onde ocorrem maratonas internacionais, ao lado do medo de mendigos agressivos, de torcedores de futebol executando rivais, de delinquentes sexuais à solta e de gangues em arrastões nas praias mais famosas do país?
Na famigerada operação Lava-Jato, as principais empreiteiras do país podem requerer falência, acobertadas pela Constituição, se a justiça assim determinar como penalidade à corrupção de alguns dos seus funcionários – distribuindo propinas milionárias a dirigentes da Petrobrás –, e 500 mil postos de trabalho estarão comprometidos com o desemprego. E com esses, cerca de 100 mil famílias, que temem por seu futuro.
O que é a justiça, do ponto de vista humanístico? No julgamento de Eichmann, carrasco nazista sequestrado e levado para Israel, fazendo a cobertura por um grande jornal, o “New Yorker”, Hannah Arendt, uma das mais importantes filósofas do século 20, observava: “o verdadeiro desafio do processo é: como julgar um indivíduo normal, uma pessoa média, que cometeu todos esses crimes, contribuindo no assassinato de milhões de judeus, ciganos, homossexuais, mas que não tem consciência da natureza criminosa de seus atos”?
Eichmann era um homem normal, na medida em que foi apenas um entre milhares de outros a participar da “limpeza racial” que ocorreu sob domínios ideológicos nazistas. Auschwitz: tão simbólica na violência contra pessoas, raças e povos, mas tão real para a humanidade humilhada! Auschwitz: cheia de dor, infâmia e vergonha pelo silêncio, consentimento e conivência de sociedades, de homens e mulheres, para com regimes totalitários.
Com esses exemplos, já nos aproximamos da resposta do cristão, quando perguntado sobre essas coisas. Cuidaremos, assim, da justiça e da verdade como pilares sobre os quais construiremos a vida de fé. Segundo González Ruiz, devemos lembrar-nos de que o Deus dos Cristãos é justo, não destruindo, mas transformando o homem e as estruturas, nas lutas pela justiça. Seria possível buscar proteção ao medo e violência existentes sem ânimo de vingança, mas com o espírito do perdão, em favor da misericórdia e da compaixão, enquanto enfrentamos os problemas de nossos dias?
Hannah Arendt dizia: Eichmann era “simplesmente incapaz de pensar”. Ela o avaliou como “no momento em que a consciência cessara de funcionar”. Insistia na enormidade dos crimes contra a humanidade, cometidos no cotidiano, evocando sociedades modernas sem consciência da responsabilidade com doentes, famintos, pobres e miseráveis, hoje entre 2 bilhões de habitantes do planeta.
Tudo isso sem falar dos milhões de refugiados, como os que pereceram nos naufrágios recentes no Mediterrâneo. E não apenas contra indivíduos que cristalizam em si, circunstancialmente, o mal de todos. Do naufrágio entre a Líbia e a Itália, contrastando com o noticiário exaustivo referente ao piloto suicida que leva consigo 150 passageiros inocentes, o jornal inglês “The Sun” aponta como resolver a questão de migrantes africanos árabes que perecem no mar: “barcos de resgate? Eu usaria canhoneiras para estancar os imigrantes...”.
Lidamos com o mal, mas também somos alvos da compaixão de Deus, quando nos mostra a desarmonia da vida e da impiedade ao redor. Como afirmar a transcendência do Deus cristão, cheio de ternura pelos temerosos, ou pelas vítimas soterradas sob escombros da humanidade humilhada, perdida em suas incongruências, mas apontada para a reconstituição e recuperação no evangelho de Jesus Cristo? Outro alemão extraordinário, Lutero, poderia dizer, citando as Escrituras: “O justo viverá pela fé”. Certamente, fé na justiça de Deus: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.4).
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Auschwitz – um triste cartão de visita (Ultimato 282)
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Foto: Evan Schneider/ UN (18/11/2013) / Fotos Públicas
Temos medo da violência inimputável? Se não temos, por que estaria ela diluída no alerta permanente sobre os perigos que teremos de enfrentar na próxima esquina, ou no próximo sinal, indivíduos armados assaltando e matando por insignificâncias? Perigos são derramados desde massacres de crianças em escolas; massacres em templos religiosos, atentados terroristas nas ruas das cidades onde ocorrem maratonas internacionais, ao lado do medo de mendigos agressivos, de torcedores de futebol executando rivais, de delinquentes sexuais à solta e de gangues em arrastões nas praias mais famosas do país?
Na famigerada operação Lava-Jato, as principais empreiteiras do país podem requerer falência, acobertadas pela Constituição, se a justiça assim determinar como penalidade à corrupção de alguns dos seus funcionários – distribuindo propinas milionárias a dirigentes da Petrobrás –, e 500 mil postos de trabalho estarão comprometidos com o desemprego. E com esses, cerca de 100 mil famílias, que temem por seu futuro.
O que é a justiça, do ponto de vista humanístico? No julgamento de Eichmann, carrasco nazista sequestrado e levado para Israel, fazendo a cobertura por um grande jornal, o “New Yorker”, Hannah Arendt, uma das mais importantes filósofas do século 20, observava: “o verdadeiro desafio do processo é: como julgar um indivíduo normal, uma pessoa média, que cometeu todos esses crimes, contribuindo no assassinato de milhões de judeus, ciganos, homossexuais, mas que não tem consciência da natureza criminosa de seus atos”?
Eichmann era um homem normal, na medida em que foi apenas um entre milhares de outros a participar da “limpeza racial” que ocorreu sob domínios ideológicos nazistas. Auschwitz: tão simbólica na violência contra pessoas, raças e povos, mas tão real para a humanidade humilhada! Auschwitz: cheia de dor, infâmia e vergonha pelo silêncio, consentimento e conivência de sociedades, de homens e mulheres, para com regimes totalitários.
Com esses exemplos, já nos aproximamos da resposta do cristão, quando perguntado sobre essas coisas. Cuidaremos, assim, da justiça e da verdade como pilares sobre os quais construiremos a vida de fé. Segundo González Ruiz, devemos lembrar-nos de que o Deus dos Cristãos é justo, não destruindo, mas transformando o homem e as estruturas, nas lutas pela justiça. Seria possível buscar proteção ao medo e violência existentes sem ânimo de vingança, mas com o espírito do perdão, em favor da misericórdia e da compaixão, enquanto enfrentamos os problemas de nossos dias?
Hannah Arendt dizia: Eichmann era “simplesmente incapaz de pensar”. Ela o avaliou como “no momento em que a consciência cessara de funcionar”. Insistia na enormidade dos crimes contra a humanidade, cometidos no cotidiano, evocando sociedades modernas sem consciência da responsabilidade com doentes, famintos, pobres e miseráveis, hoje entre 2 bilhões de habitantes do planeta.
Tudo isso sem falar dos milhões de refugiados, como os que pereceram nos naufrágios recentes no Mediterrâneo. E não apenas contra indivíduos que cristalizam em si, circunstancialmente, o mal de todos. Do naufrágio entre a Líbia e a Itália, contrastando com o noticiário exaustivo referente ao piloto suicida que leva consigo 150 passageiros inocentes, o jornal inglês “The Sun” aponta como resolver a questão de migrantes africanos árabes que perecem no mar: “barcos de resgate? Eu usaria canhoneiras para estancar os imigrantes...”.
Lidamos com o mal, mas também somos alvos da compaixão de Deus, quando nos mostra a desarmonia da vida e da impiedade ao redor. Como afirmar a transcendência do Deus cristão, cheio de ternura pelos temerosos, ou pelas vítimas soterradas sob escombros da humanidade humilhada, perdida em suas incongruências, mas apontada para a reconstituição e recuperação no evangelho de Jesus Cristo? Outro alemão extraordinário, Lutero, poderia dizer, citando as Escrituras: “O justo viverá pela fé”. Certamente, fé na justiça de Deus: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.4).
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Auschwitz – um triste cartão de visita (Ultimato 282)
A vida é sagrada (estudos bíblicos)
Foto: Evan Schneider/ UN (18/11/2013) / Fotos Públicas
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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