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- 17 de agosto de 2015
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As vozes das ruas e nossa lição de casa
EDITORIAL
Ruas de 205 cidades foram ocupadas ontem (16) por milhares de brasileiros insatisfeitos com o governo federal e com a corrupção. Colunistas dos jornais de hoje apontam as tendências do “jogo” político num país que quase sempre toma as decisões “por trás dos panos”. A maioria desses colunistas acha democrático o que ocorreu, mas duvida que o cenário político mudará muito drasticamente (a não ser que a Operação Lava Jato apresente mais surpresas). As redes sociais continuam sendo depositórios de quem defende sua posição, mas com pouca gente interessada em atravessar a “ponte” em direção ao outro que não concorda.
O Brasil está cada vez mais respirando política – para o bem ou para o mal. As bandeiras são muitas. Um manifestante carregava um cartaz que dizia: “Não se trata de direita contra esquerda, não se trata de ricos contra pobres, é a nação contra a corrupção!”. Algumas das frases mais vistas em faixas eram: “Impeachment já!” e “Fora, Dilma”. Mas nos muros de São Paulo também era possível encontrar os dizeres: “abaixo o golpe, impeachment não!”.
A despeito das guerras simbólicas polarizadas ou maniqueístas, o que cabe a cada cristão diante do atual cenário político e democrático? Não há respostas prontas, mas também não podemos deixar de buscá-las. Aqui vão algumas “placas de sinalização”:
1. Julgar, com discernimento bíblico, e além das manchetes de jornais. A Bíblia fala bastante sobre a natureza humana e sobre a vontade de Deus para a humanidade. Por que então não falaria sobre política? Ou seja, sobre como o ser humano deve lidar com o poder, com a justiça e com a nação em que vive, produz e serve? A formação da nação de Israel, a briga pelo poder no período dos reis, as vozes dos profetas, a fidelidade dos discípulos de Cristo a despeito do abuso de poder romano e do “culto a César”, e a espera por “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pe 3.13). Tudo isso nos faz buscar o discernimento de Deus para o momento atual e se torna ingrediente essencial para tal.
2. Envolver-se, sem cair em tentação. Se há 20 anos, líderes evangélicos como Robinson Cavalcanti, reclamavam da ausência dos evangélicos na política, hoje, devemos nos perguntar: como temos nos envolvido? Nossa participação política tem ajudado a sociedade a discernir a verdade da mentira, a ética da desonestidade, a busca pelo poder da busca pela justiça? Ou temos sido meramente “mundanos” (no sentido antigo da palavra: influenciados pelo sistema pecaminoso do mundo e pela carnalidade humana)? Temos buscado a unidade da Igreja, enquanto lutamos por uma nação mais justa? E temos lutado por uma nação mais justa, enquanto buscamos a unidade da Igreja?
3. Assumir voz profética, sem perder o senso do chamado encarnacional. Deus nos chama para anunciarmos sua justiça e lamentarmos a corrupção e o engano, como bem fizeram os profetas, com coragem, com inconformismo, com temor ao Senhor, com integridade. Mas também ele nos chama para sermos “cartas vivas” (2 Co 3.2,3), “bom perfume” (2 Co 2.15) e assumirmos o chamado encarnacional de Jesus Cristo (Fp 2). Isso é bíblico, mas não é fácil. Exige de nós bem mais do que, em geral, temos feito. Frases prontas ou discursos filosóficos elaborados não são suficientes. Precisamos assumir – como cristãos e como igreja - a tarefa de ir até aos outros, de ouvir atentamente suas vozes, de ponderar respostas sinceras, de renunciar nossa carnalidade, de assumir bandeiras justas, de orar pela situação da nossa nação, de doar financeiramente para projetos justos, de ser sensível ao vento do Espírito e de lutar pela reconciliação da igreja e do mundo.
4. Renovar o compromisso com Jesus Cristo. O que isso tem a ver com política? Tudo. Jesus é o fundamento (1 Co 3.11) e o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2). Em Cristo, nosso olhar sobre a realidade se sensibiliza, mas não é manipulado; se aprofunda, mas não perde a esperança. Se por um lado, Cristo escancarou a miséria do coração humano, sendo ele mesmo a vítima desta miséria, por outro lado, Cristo anunciou a esperança, sendo ele mesmo o caminho para a redenção. Em Cristo – sua encarnação, sua ética, sua piedade, seu sacrifício vicário, sua revelação – somos mais do que indivíduos corretos, somos o povo da esperança, que, com humildade, assume sua responsabilidade no mundo. Nem sempre com respostas, mas sempre com sinceridade e compaixão.
Faça o seu dever de casa e coloque a boca no trombone.
Legenda: Manifestantes ontem (16/08) em Brasília (DF).
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (Fotos Públicas - 16/08/2015)
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Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não
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O Brasil está cada vez mais respirando política – para o bem ou para o mal. As bandeiras são muitas. Um manifestante carregava um cartaz que dizia: “Não se trata de direita contra esquerda, não se trata de ricos contra pobres, é a nação contra a corrupção!”. Algumas das frases mais vistas em faixas eram: “Impeachment já!” e “Fora, Dilma”. Mas nos muros de São Paulo também era possível encontrar os dizeres: “abaixo o golpe, impeachment não!”.
A despeito das guerras simbólicas polarizadas ou maniqueístas, o que cabe a cada cristão diante do atual cenário político e democrático? Não há respostas prontas, mas também não podemos deixar de buscá-las. Aqui vão algumas “placas de sinalização”:
1. Julgar, com discernimento bíblico, e além das manchetes de jornais. A Bíblia fala bastante sobre a natureza humana e sobre a vontade de Deus para a humanidade. Por que então não falaria sobre política? Ou seja, sobre como o ser humano deve lidar com o poder, com a justiça e com a nação em que vive, produz e serve? A formação da nação de Israel, a briga pelo poder no período dos reis, as vozes dos profetas, a fidelidade dos discípulos de Cristo a despeito do abuso de poder romano e do “culto a César”, e a espera por “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pe 3.13). Tudo isso nos faz buscar o discernimento de Deus para o momento atual e se torna ingrediente essencial para tal.
2. Envolver-se, sem cair em tentação. Se há 20 anos, líderes evangélicos como Robinson Cavalcanti, reclamavam da ausência dos evangélicos na política, hoje, devemos nos perguntar: como temos nos envolvido? Nossa participação política tem ajudado a sociedade a discernir a verdade da mentira, a ética da desonestidade, a busca pelo poder da busca pela justiça? Ou temos sido meramente “mundanos” (no sentido antigo da palavra: influenciados pelo sistema pecaminoso do mundo e pela carnalidade humana)? Temos buscado a unidade da Igreja, enquanto lutamos por uma nação mais justa? E temos lutado por uma nação mais justa, enquanto buscamos a unidade da Igreja?
3. Assumir voz profética, sem perder o senso do chamado encarnacional. Deus nos chama para anunciarmos sua justiça e lamentarmos a corrupção e o engano, como bem fizeram os profetas, com coragem, com inconformismo, com temor ao Senhor, com integridade. Mas também ele nos chama para sermos “cartas vivas” (2 Co 3.2,3), “bom perfume” (2 Co 2.15) e assumirmos o chamado encarnacional de Jesus Cristo (Fp 2). Isso é bíblico, mas não é fácil. Exige de nós bem mais do que, em geral, temos feito. Frases prontas ou discursos filosóficos elaborados não são suficientes. Precisamos assumir – como cristãos e como igreja - a tarefa de ir até aos outros, de ouvir atentamente suas vozes, de ponderar respostas sinceras, de renunciar nossa carnalidade, de assumir bandeiras justas, de orar pela situação da nossa nação, de doar financeiramente para projetos justos, de ser sensível ao vento do Espírito e de lutar pela reconciliação da igreja e do mundo.
4. Renovar o compromisso com Jesus Cristo. O que isso tem a ver com política? Tudo. Jesus é o fundamento (1 Co 3.11) e o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2). Em Cristo, nosso olhar sobre a realidade se sensibiliza, mas não é manipulado; se aprofunda, mas não perde a esperança. Se por um lado, Cristo escancarou a miséria do coração humano, sendo ele mesmo a vítima desta miséria, por outro lado, Cristo anunciou a esperança, sendo ele mesmo o caminho para a redenção. Em Cristo – sua encarnação, sua ética, sua piedade, seu sacrifício vicário, sua revelação – somos mais do que indivíduos corretos, somos o povo da esperança, que, com humildade, assume sua responsabilidade no mundo. Nem sempre com respostas, mas sempre com sinceridade e compaixão.
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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (Fotos Públicas - 16/08/2015)
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