Opinião
- 06 de março de 2013
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As religiões do mundo
Em 1900, Lars Dahle, secretário-geral da Sociedade Missionária Norueguesa, previu que até 1990 toda a raça humana já teria sido conquistada para a fé cristã. Em contrapartida, na mesma época, outros, imbuídos de uma fé quase cega no avanço da ciência e da tecnologia, criam que era apenas questão de tempo para que o ser humano deixasse de lado todo e qualquer tipo de crença religiosa.
Hoje, claro, podemos dizer que ambos os pontos de vista estavam totalmente equivocados. A pesquisa O Cenário Religioso Mundial, realizada pelo Centro de Pesquisas Pew Forum e publicada em dezembro de 2012, mostra isso claramente. Além de a população mundial não ter se tornado cristã, o ser humano continua buscando na religião respostas para alguns dos seus anseios mais profundos.
Números
Vejamos alguns dos dados mais importantes mostrados pela pesquisa:
Diante da realidade esboçada acima, e considerando que a fé cristã é eminentemente missionária, quais são alguns dos principais desafios para a igreja do século 21 que emanam de uma rápida análise da pesquisa?
Possivelmente, o desafio que mais salta à vista é o fato de a maior concentração de seguidores de três das quatro maiores religiões do mundo (hindus, budistas e muçulmanos) encontrar-se na região da Ásia-Pacífico. Se queremos que o nome de Jesus seja conhecido em toda a terra, obviamente não podemos ignorar esta região do mundo. Também chama a atenção o fato de existirem mais de 800 milhões de pessoas nesta região do mundo que são ateus, agnósticos ou simplesmente não se identificam com nenhuma confissão religiosa.
Em qualquer leitura missiológica que façamos dos resultados da pesquisa, torna-se óbvio que o Islamismo, com 1,6 bilhão de fiéis espalhados principalmente pela Ásia, Oriente Médio, África do Norte e Europa, precisa estar no centro dos esforços missionários cristãos. Em 2008, o Vaticano anunciou que o número de muçulmanos no mundo havia ultrapassado o número de católicos, e tudo indica que o crescimento dos seguidores de Maomé continuará em ritmo acelerado por algum tempo, não somente por meio de conversões, mas principalmente pela alta taxa de natalidade entre as mulheres muçulmanas.
Se fossem considerados um grupo religioso, os que não possuem afiliação religiosa (1,1 bilhão de pessoas) estariam em terceiro lugar, atrás apenas do Cristianismo e do Islamismo. Eles estão principalmente na Ásia e na Europa, e precisamos traçar estratégias específicas para que o Evangelho chegue a essas pessoas.
A Europa, apesar de possuir um grande contingente de cristãos, torna-se, cada vez mais, um grande desafio para os esforços missionários. Além de já não ser o centro do Cristianismo mundial, a presença de mais de 40 milhões de muçulmanos, a alta taxa de nominalismo entre os cristãos (algo que a pesquisa não se propunha a detectar) e a crescente secularização, deveriam fazer com que o Velho Continente ocupasse um lugar destacado nas nossas estratégias. Precisamos, urgentemente, deixar de pensar que os povos não alcançados estão somente nos recônditos mais longínquos do nosso planeta, e parar de olhar para cidades como Paris, Roma, Madri e Berlim como se fossem apenas parte de importantes roteiros turísticos reservados aos mais abastados. Precisamos entender que, apesar da fartura material, a necessidade espiritual destes lugares precisa ser olhada com tanto interesse como qualquer outra região do mundo.
Por já não existir um centro do Cristianismo mundial (os cristão estão distribuídos de maneira quase uniforme pela África, Europa e América Latina e, em menor proporção, na Ásia e América do Norte), a responsabilidade de proclamar, em palavras e obras, o Reino de Deus por toda a terra, deixou de ser um privilégio exclusivo dos cristãos europeus e norte-americanos. A igreja do “sul global” (América Latina, África e Ásia) precisa assumir a responsabilidade de investir na expansão do Evangelho.
Por último, mas nem por isso menos importante, é preciso destacar que cerca de um bilhão e meio de pessoas vivem como minoria religiosa em diferentes lugares do mundo. Isso dá lugar a um sem número de injustiças, principalmente (mas não exclusivamente) na Ásia, Oriente Médio e Norte da África. Mesmo que muitos destes não sejam cristãos, precisamos ter organizações cristãs especializadas na defesa do direito à liberdade de religião e culto de todo ser humano, sem que isso afete o nosso profundo desejo de que todos conheçam a Cristo.
Diante de tão grandes desafios, resta-nos rogar ao Senhor que nos capacite a sermos fiéis ao chamado e que, assim como Davi, possamos servir à nossa “própria geração, conforme o desígnio de Deus” (Atos 13.36).
___________
Marcos Amado é pastor, missionário da SEPAL e diretor para a América Latina do Movimento Lausanne. Atualmente coordena os esforços para o desenvolvimento do Centro de Reflexão Missiológica Martureo.
Leia mais
A Europa precisa de Jesus agora
Novas geografias, velhas desigualdades
O Compromisso da Cidade do Cabo
A Visão Missionária na Bíblia
Hoje, claro, podemos dizer que ambos os pontos de vista estavam totalmente equivocados. A pesquisa O Cenário Religioso Mundial, realizada pelo Centro de Pesquisas Pew Forum e publicada em dezembro de 2012, mostra isso claramente. Além de a população mundial não ter se tornado cristã, o ser humano continua buscando na religião respostas para alguns dos seus anseios mais profundos.
Números
Vejamos alguns dos dados mais importantes mostrados pela pesquisa:
- Cerca de 84% das pessoas de todo o mundo se identificam com alguma religião. Isso significa que dos 6,9 bilhões de habitantes que existem hoje no mundo, 5,8 bilhões manifestam pertencer a algum grupo religioso.
- 1,1 bilhão de pessoas consideram-se sem nenhuma afiliação religiosa. Neste grupo estão os ateus e agnósticos, mas também aqueles que, apesar de possuírem algum tipo de crença espiritual, não se identificam com nenhum grupo religioso. Dos que pertencem a este grupo, 700 milhões estão na China, 158 milhões nos demais países da região Ásia-Pacífico e cerca de 134 milhões na Europa. O Brasil está entre os dez países com o maior número de pessoas sem afiliação religiosa.
- O Cristianismo, somadas todas as vertentes, continua sendo a religião com o maior número de adeptos, com 2,2 bilhões de pessoas (31,5% da população mundial), seguido pelo Islamismo (1,6 bilhão, 23%), Hinduísmo (1 bilhão, 15%), Budismo (quase 500 milhões de pessoas, 7% da população mundial), religiões tradicionais (400 milhões, 6%), outras religiões (Xintoísmo, Zoroastrismo, Taoísmo, etc –58 milhões, pouco menos de 1%) e Judaísmo (14 milhões, 0,2%).
- A região da Ásia-Pacífico concentra cerca de 90% dos seguidores do Hinduísmo, Budismo e religiões populares.
- Os cristãos são os que estão em uma melhor distribuição nas diferentes regiões do mundo: 26% estão na Europa, 24% na América Latina-Caribe e outros 24% na África subsaariana. O restante está distribuído entre a Ásia-Pacífico, América do Norte e Oriente Médio/Norte da África. É interessante notar que, hoje, existe mais cristãos na região Ásia-Pacífico do que na América do Norte, fato inimaginável há algumas décadas.
- Dentre os cristãos, 50% são católicos, 37% fazem parte de alguma das denominações que traçam suas origens a partir da Reforma Protestante e 12% são cristãos ortodoxos.
- Para a surpresa de muitos, 62% dos muçulmanos existentes no mundo vivem na região da Ásia-Pacífico. Aproximadamente 20% vivem no Oriente Médio e Norte da África, e quase 16% na África subsaariana.
- Cerca de 90% dos muçulmanos são sunitas e 10% xiitas.
- A Europa, com 43 milhões de muçulmanos, já é a quarta maior região do mundo em número de seguidores de Maomé.
- Das quatro maiores religiões do mundo, o maior número de pessoas com menos de 25 anos de idade encontra-se entre os muçulmanos.
- Ao redor de 27% daqueles que aderem a alguma religião vivem como minoria religiosa em diferentes partes do mundo.
Diante da realidade esboçada acima, e considerando que a fé cristã é eminentemente missionária, quais são alguns dos principais desafios para a igreja do século 21 que emanam de uma rápida análise da pesquisa?
Possivelmente, o desafio que mais salta à vista é o fato de a maior concentração de seguidores de três das quatro maiores religiões do mundo (hindus, budistas e muçulmanos) encontrar-se na região da Ásia-Pacífico. Se queremos que o nome de Jesus seja conhecido em toda a terra, obviamente não podemos ignorar esta região do mundo. Também chama a atenção o fato de existirem mais de 800 milhões de pessoas nesta região do mundo que são ateus, agnósticos ou simplesmente não se identificam com nenhuma confissão religiosa.
Em qualquer leitura missiológica que façamos dos resultados da pesquisa, torna-se óbvio que o Islamismo, com 1,6 bilhão de fiéis espalhados principalmente pela Ásia, Oriente Médio, África do Norte e Europa, precisa estar no centro dos esforços missionários cristãos. Em 2008, o Vaticano anunciou que o número de muçulmanos no mundo havia ultrapassado o número de católicos, e tudo indica que o crescimento dos seguidores de Maomé continuará em ritmo acelerado por algum tempo, não somente por meio de conversões, mas principalmente pela alta taxa de natalidade entre as mulheres muçulmanas.
Se fossem considerados um grupo religioso, os que não possuem afiliação religiosa (1,1 bilhão de pessoas) estariam em terceiro lugar, atrás apenas do Cristianismo e do Islamismo. Eles estão principalmente na Ásia e na Europa, e precisamos traçar estratégias específicas para que o Evangelho chegue a essas pessoas.
A Europa, apesar de possuir um grande contingente de cristãos, torna-se, cada vez mais, um grande desafio para os esforços missionários. Além de já não ser o centro do Cristianismo mundial, a presença de mais de 40 milhões de muçulmanos, a alta taxa de nominalismo entre os cristãos (algo que a pesquisa não se propunha a detectar) e a crescente secularização, deveriam fazer com que o Velho Continente ocupasse um lugar destacado nas nossas estratégias. Precisamos, urgentemente, deixar de pensar que os povos não alcançados estão somente nos recônditos mais longínquos do nosso planeta, e parar de olhar para cidades como Paris, Roma, Madri e Berlim como se fossem apenas parte de importantes roteiros turísticos reservados aos mais abastados. Precisamos entender que, apesar da fartura material, a necessidade espiritual destes lugares precisa ser olhada com tanto interesse como qualquer outra região do mundo.
Por já não existir um centro do Cristianismo mundial (os cristão estão distribuídos de maneira quase uniforme pela África, Europa e América Latina e, em menor proporção, na Ásia e América do Norte), a responsabilidade de proclamar, em palavras e obras, o Reino de Deus por toda a terra, deixou de ser um privilégio exclusivo dos cristãos europeus e norte-americanos. A igreja do “sul global” (América Latina, África e Ásia) precisa assumir a responsabilidade de investir na expansão do Evangelho.
Por último, mas nem por isso menos importante, é preciso destacar que cerca de um bilhão e meio de pessoas vivem como minoria religiosa em diferentes lugares do mundo. Isso dá lugar a um sem número de injustiças, principalmente (mas não exclusivamente) na Ásia, Oriente Médio e Norte da África. Mesmo que muitos destes não sejam cristãos, precisamos ter organizações cristãs especializadas na defesa do direito à liberdade de religião e culto de todo ser humano, sem que isso afete o nosso profundo desejo de que todos conheçam a Cristo.
Diante de tão grandes desafios, resta-nos rogar ao Senhor que nos capacite a sermos fiéis ao chamado e que, assim como Davi, possamos servir à nossa “própria geração, conforme o desígnio de Deus” (Atos 13.36).
___________
Marcos Amado é pastor, missionário da SEPAL e diretor para a América Latina do Movimento Lausanne. Atualmente coordena os esforços para o desenvolvimento do Centro de Reflexão Missiológica Martureo.
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A Europa precisa de Jesus agora
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