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Opinião

As diferenças que matam


Evolução, alteridade e preconceito são alguns dos temas abordados pela terceira aventura cinematográfica dos mutantes conhecidos como X-Men. O novo filme estréia dia 26 de maio e conclui a saga iniciada no primeiro. Embora seja considerado um simples passatempo, X3 aborda um desafio para a convivência humana atual: o exercício da tolerância e o respeito à alteridade.
O filme conta a história da existência de pessoas que nascem com habilidades sobre-humanas como a capacidade de atravessar paredes e até de controlar as condições climáticas. Algumas crianças sofrem grandes alterações físicas como a mudança da cor da pele e o aparecimento de novos membros. O que provoca essas transformações é o fator X, presente no código genético de algumas pessoas e considerado o responsável pelo próximo passo da evolução humana.
Os mutantes são temidos e odiados pelo mundo. Quando expostos, tornam-se alvo de chacota e cobaias de experimentos científicos. Por isso eles vivem escondidos, sozinhos ou em grupos. No filme, há dois grupos de mutantes que têm líderes com princípios opostos: Professor X e Magneto. O primeiro oferece uma educação especial e procura a convivência pacífica entre mutantes e humanos, ao passo que o segundo visa o domínio de mutantes sobre humanos. Em X3, Magneto investe toda a sua força contra os humanos e os X-Men se colocam à frente destes para defender quem os odeia.
Um ponto curioso em X3 é que ele não separa claramente a luta entre o bem e o mal, pois tanto mutantes quanto humanos podem ser bons ou maus. Tudo é uma questão de interesse político e de poder. Nesse sentido, não se pode esquecer que o cristianismo também subjugou culturas diferentes achando que elas eram primitivas. A dominação era um jogo político que visava o enriquecimento às custas de “mão-de-obra barata e escrava”.
Hoje o mundo vive uma época em que os interesses políticos e econômicos entre países em desenvolvimento e superpotências se tornam alvos de ameaças e jogos de poder. Assim, o filme X3, como obra de ficção, chega a ser um eco cultural do que está acontecendo no mundo. Também dentro das sociedades se fecham os olhos para a diferença – preconceitos contra portadores de necessidades especiais, idosos, mulheres, doentes, negros, dependentes químicos etc. No Brasil, o preconceito está disfarçado: ele está implícito nos salários baixos e nas falências das estruturas de educação e saúde.
O preconceito é sempre uma diminuição do outro. A ironia do filme em relação ao que acontece na sociedade é que nele os mais evoluídos são os desprezados. De qualquer forma, a pergunta que o filme provoca é: como exercitar uma convivência pacífica, baseada no amor ao próximo, se não nos dispormos a enxergar nossos preconceitos, superar os limites da incompreensão e do medo e acreditar que há possibilidades de comunhão entre xiitas e sunitas, turcos e europeus, pobres e ricos, israelenses e palestinos... A guerra não é a solução, mas sim a tolerância e o respeito à alteridade.

Iuri Andréas Reblin é teólogo, mestrando no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação (IEPG), em São Leopoldo, RS, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pesquisa a relação entre a religiosidade e a construção dos super-heróis. Para mais informações, confira: “Para o Alto e Avante”, em Protestantismo em Revista.

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