Opinião
- 10 de outubro de 2022
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As crianças pedem o peito
Por Délnia Bastos
“Até os chacais dão o peito, dão de mamar a seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto. A língua da criança que mama fica pegada pela sede ao céu da boca” (Lamentações 4.3-4).
“Até os chacais dão o peito, dão de mamar a seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto. A língua da criança que mama fica pegada pela sede ao céu da boca” (Lamentações 4.3-4).
Ao contrário das mamães avestruzes, conhecidas pelo descuido com suas crias, a narrativa bíblica nos apresenta pelo menos cinco crianças muito bem cuidadas por suas mães: crianças que amamentaram.
A primeira foi Isaque, que nasceu quando seus pais já eram velhos. Abraão estava com 100 anos. Mesmo assim, Sara amamentou seu filho. E, quando Isaque foi desmamado, por volta dos três anos, segundo o costume da época, Abraão comemorou com uma grande festa (Gn 21.7-8).
O segundo relato de um bebê amamentado está na história de Êxodo. Quando a filha de Faraó encontrou no rio aquele nenenzinho chorando no cesto que flutuava, Miriã, que o vigiava, tomou a dianteira: “Queres que eu vá chamar uma das hebreias que sirva de ama, e te crie a criança?” (Êx 2.7.) A palavra ama significa ama-de-leite: “mulher que amamenta criança alheia”. É claro, naquela época não havia mamadeira... Assim foi que Moisés, com três meses de idade, pôde continuar mamando em sua própria mãe, provavelmente por mais três anos, quando esta o trouxe de volta à princesa, para ser criado no palácio real.
Na bonita história da oração e do voto de Ana, vemos que ela “criou o filho ao peito, até que o desmamou. Havendo-o desmamado, levou-o consigo... e o apresentou à casa do Senhor a Silo” (1 Sm 1.23-24). Como Moisés, que aos três anos foi devolvido à princesa, Samuel também foi devolvido ao Senhor “para lá ficar para sempre” (v. 22).
Há um bebê sem nome que também a Bíblia diz que foi amamentado: “Levantando-me de madrugada para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto” (1Rs 3.21). Aliás, eram dois. Dois filhinhos de duas prostitutas, que moravam juntas. Trata-se da célebre causa julgada sabiamente por Salomão. Neste relato, a mãe, cujo “amor materno se aguçou por seu filho” (v. 6) se identifica com a maioria das mães que amamentam: o levantar-se de madrugada...
Já no Novo Testamento, tudo indica que aquela criança que “crescia em sabedoria, estatura e graça” (Lc 2.52) também tenha sido amamentada. “Entrando na casa [os magos], viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2.11) - quem sabe, mamando. Pelo menos, assim afirmou uma mulher no anonimato da multidão: “Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram” (Lc 11.27). É como entendem os diversos artistas que vêm pintando o menino Jesus ao seio de sua mãe.
O aleitamento materno sempre foi “ponto pacífico” nas Escrituras, um ato natural consecutivo à concepção e à gravidez. Quando Jó, em seu questionamento, amaldiçoa seu nascimento, ele chora tanto a sua concepção e a sua vinda ao mundo, quanto “o leite derramado”: “Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? Por que houve regaço que me acolhesse? e por que os peitos, para que eu mamasse?” (Jó 3.11-12.)
As crianças de peito são lembradas também pelo profeta Joel. Elas deviam ser levadas à assembleia solene: “Congregai o povo... reuni os filhinhos e os que mamam” (Jl 2.16). Afinal, de alguma forma, elas também cultuam, como se pode ver no Salmo 8.2, que mais tarde foi citado por Jesus: “Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor” (Mt 21.16). Além disso, há profecias de paz também para elas: “A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco” (Is 11.8).
Pedro também usa a metáfora da amamentação quando escreve aos eleitos, “forasteiros da Dispersão”, que busquem vorazmente a Palavra, assim como um recém-nascido chora por leite materno e usa todas as suas energias para sugá-lo (1Pe 2.2).
Ainda mais tocante e belo que tudo isso, porém, é o uso da figura bíblica de Deus na forma de mãe que amamenta: “Meu coração está calmo e tranquilo, como um nenê depois de ser alimentado pela mãe” (Sl 131.2, em A Bíblia Viva); “Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama...? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
A idéia é, de um lado, eu, carente, necessitada, totalmente dependente de cuidados constantes, pois um bebê jamais pode sobreviver por si só. E, do outro lado, uma mãe 24 horas por dia ocupada comigo, carregando-me no colo, me dando de mamar toda vez que for preciso, conforme “a livre demanda”... Esta Mãe (com “M” maiúsculo) é Deus! Que maravilha!
Dessa forma, tanto nos fatos históricos, como nas constantes lembranças do aleitamento e de suas comparações, vemos que a Bíblia dá valor ao ato de amamentar. O que não poderia deixar de ser, já que o Criador dotou a mulher dessa capacidade natural e instintiva.
Do ponto de vista científico, as vantagens do aleitamento natural para mãe filho são mais que comprovadas e, felizmente, têm sido cada vez mais conhecidas da população.
As crianças pedem o peito! É hora de deixarmos de lado a maternidade tipo avestruz e nos dedicarmos à maternidade de peito aberto. Para que as crianças tenham o melhor de nós.
- Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e avó de quatro netos, e serve na área de governança em algumas iniciativas de missão.
Artigo originalmente publicado na edição 249 de novembro de 1997, de Ultimato.
O QUE SERÁ DESTA CRIANÇA?| REVISTA ULTIMATO
Quem faz essa pergunta também tem os olhos abertos para as ameaças que cercam as crianças. Assim, não se trata de uma torcida apenas. É uma provisão de “cercas de proteção”, incentivos, ensino, cuidados, promoção; não sem preocupações, lutas e, acima de tudo, intercessão. Oramos por estas crianças expressando as nossas mais santas e nobres expectativas e contando que Deus vai guiá-las para que sejam, de fato, quem devem ser e para que ocupem o seu lugar na Grande História.
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