Opinião
- 14 de fevereiro de 2018
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Artista cristão ou cristão artista? Faz diferença?
Entrevista com João Alexandre
A música está no DNA não só dele, mas de toda a família. Nascido em Campinas, SP, em setembro de 1964, João Alexandre Silveira é cantor, compositor, arranjador e atua como músico profissional. A esposa, Tirza Rosa, é intérprete e o filho, Felipe Silveira, pianista e produtor musical. A musicalidade da família é herança do avô materno de João, violeiro e compositor, e de sua sogra, que cantava no coro da igreja.
A marca de João Alexandre, que iniciou a carreira aos 17 anos, é o estilo musical peculiarmente brasileiro, que esbanja harmonias, ritmos e melodias características da cultura nacional, passeando pela música rural, seresta e de raiz, até chegar ao samba e bossa nova, sem esconder, claro, a influência do jazz. Em seus mais de trinta anos de carreira, João participou de grupos como “Vencedores por Cristo”, “Pescador", “Milad” e “Água Viva”, até se lançar à carreira solo em 1986. Ele acumula cerca de vinte álbuns, entre solos e em conjunto, e inúmeras participações em projetos de amigos como artista convidado. Além disso, sua produção conta com um DVD gravado em 2009 e o livro “Músico – Profissão ou Ministério?”, publicado em 2016 pela VPC Produções.
Dentre as inúmeras parcerias, a que fez com Gérson Borges, em 2005, para o arranjo do musical “A Volta do Filho Pródigo”, lhe rendeu a premiação “Troféu Talento”, na categoria “Melhor Arranjo”. Borges o considera não só um dos melhores músicos cristãos do país, mas sim um dos melhores músicos do país, um arranjador de talento extraordinário que tem respeito, inclusive, fora do circuito evangélico. “Os músicos que levam a música a sério, que pesquisam a grande tradição da canção popular brasileira, quando entram em contato com o trabalho do João, logo o tem como referência”, conclui o músico.
>> Contando e Cantando – Conhecendo as Histórias de Hinos Cristãos <<
Outro amigo que não poupa elogios e lembra com carinho de João é o músico Carlinhos Veiga, colunista da revista Ultimato. “Conheci o João Alexandre em 1983, num acampamento. Ele estava tocando numa equipe de Vencedores Por Cristo. Ali mesmo já percebi que o João era um músico diferenciado, com um raro talento”, lembra Veiga.
Ouvido pelo Portal Ultimato, Carlinhos Veiga declarou: “O João é um amigo que Deus deu a mim e à Claudia, minha esposa. Alguém com a capacidade de fazer um violão e voz, como ele, são poucos no Brasil, inclusive entre os nomes reconhecidos da MPB. Ele traz para a igreja brasileira uma contribuição enorme em termos de qualidade musical, mostrando que música cristã nem sempre é sinônimo de falta de qualidade e beleza. O João chegou a esse nível de qualidade estudando, ouvindo, tocando os grandes nomes da MPB de todos os tempos. Por outro lado o Evangelho é sua bandeira e o conteúdo de suas canções, explicita ou implicitamente. Os cristãos da nova geração têm muito a aprender com ele.”
Em entrevista a Ultimato, João Alexandre falou da influência musical na família, o mercado e a música evangélica, a relação entre “secular x sagrado”; falou da realização com o recente trabalho de vídeo-aulas de violão pela internet, e deixou um recado aos jovens cristãos que querem se dedicar profissionalmente à música, lembrando a diferença entre um artista cristão e um cristão artista. Vale a pena conferir.
Ultimato - Toda sua família é envolvida com música. A que isso se deve?
João Alexandre - A música está em nossas veias porque vem de ambas as famílias. Meu falecido avô materno era violeiro de catira e compositor de muitas modas de viola. A falecida mãe de minha esposa tinha uma voz maravilhosa e cantava no coral da Igreja Presbiteriana Independente de Sorocaba, SP. Agradeço a Jesus por termos herdado esse maravilhoso dom e hoje ver meu filho, pianista profissional, no exercício responsável dessa profissão tão desafiadora e idealista. Poder ser usado por Deus para tocar a alma das pessoas é um privilégio e alegria inenarráveis!
U. - Você sempre foi crítico à música evangélica brasileira. Qual sua visão hoje?
J.A. - Acho que duplicamos em qualidade vocal, instrumental e técnica e quintuplicamos em superficialidade e impertinência, com raríssimas exceções. A internet reproduz, de forma quase instantânea e viral, muita coisa boa e muita coisa ruim. É um mercado potencial para quem quer se aperfeiçoar e crescer, a despeito e acima da preocupação com a “popularidade”, mas que pode acabar servindo de isca para quem se contenta em viver na mediocridade e não na excelência, mesmo com toda popularidade que consiga. Acredito naqueles que buscam a excelência, ou seja, fazer o melhor que podem com as ferramentas que têm, até terem ferramentas melhores para fazer melhor ainda, aquilo que já fazem. O problema é que se a fé vem pelo ouvir, como diz a Palavra de Deus, aquele que se contenta em ouvir e assimilar “qualquer coisa”, corre o sério risco de transformar sua própria fé em qualquer coisa.
>> Ser Evangélico Sem Deixar de Ser Brasileiro <<
U. - A música evangélica se rendeu ao mercado?
J.A. - Não acho que se rendeu, mas sempre foi um mercado em potencial. O problema está em fazer do dinheiro um objetivo, ao invés de ser uma consequência desse mercado. Daí, por amor ao dinheiro nascem todos os males procedentes do mercado. Até aqueles que não são evangélicos se interessam pelo segmento e pelo lucro que ele pode proporcionar. Nesse meio, se distinguem os que vivem honestamente do mercado e os que se utilizam da música e da imagem para lucrar com ele.
U. - Os evangélicos já superaram a velha dicotomia “secular versus sagrado”? Quais as implicações dessa visão para a igreja na relação com a cultura e, especificamente, com a música?
J.A. - Acho que ainda não! Muitos cristãos, por falta de esclarecimento, ainda acreditam no MI maior profano e no RÉ menor divino, infelizmente. Há pastores que não entendem de música e músicos que não entendem de Bíblia espalhados Brasil afora. Isso dificulta demais a inserção sadia da música cristã, como arte, dentro dos meios de comunicação. Ainda usamos o “evangeliquês” de forma latente e somos identificados muito mais como religiosos do que como artistas. Somos artistas cristãos e deveríamos ser cristãos artistas. A noção de que “por meio dele, por ele e para ele são todas as coisas” ainda é subjugada à religiosidade quando deveria se submeter ao fato de que Deus é o criador de todas as coisas.
>> A Arte Não Precisa de Justificativa <<
U. - Na sessão “Novos Acordes”, da revista Ultimato, seu nome aparece com frequência, participando ou produzindo álbuns de novos músicos. Você consegue visualizar uma nova geração de músicos que prezam por valores semelhantes aos que você busca desde o início da sua carreira?
J.A. - Confesso que nunca corri atrás de fama ou sucesso que me fizessem deixar de lado o valor de um trabalho digno e feito com excelência para Deus. Quando um músico sério e cristão aceita produzir ou participar de um projeto qualquer, ele precisa levar em conta o nome de quem o procura, o seu próprio nome e o nome de Jesus – a quem ele deve honrar pelos dons recebidos. Fora disso, é perda de tempo e correr atrás do vento. Sinto-me grato por ter sido chamado por tanta gente para participar de alguns trabalhos e louvo a Jesus pela oportunidade singular de servi-lo com alegria e gratidão. Quando eu já não estiver mais aqui, creio que minhas canções ainda estarão. Há muitos anos, parei de compor, mas, pela graça e misericórdia de Deus, sobrevivo das canções que compus há vinte, trinta anos. Aprendi desde cedo, com Guilherme Kerr, Nelson Bomilcar, Sérgio Pimenta, entre outros, que canções devem ser compostas pensando na eternidade e não em um momento, nem mesmo em um mercado. Ouvir pessoas me dizendo que elas parecem atuais, me alegra demais e me deixa certo do dever cumprido. Se isso servirá de exemplo para futuras gerações, o tempo dirá.
U. - A Carta do Som do Céu, assinada em 2009 por você e mais outros quinze músicos, toca em alguns pontos de tensão da relação “igreja x músicos”. Alguma coisa nessa relação mudou nos últimos anos?
J.A. - Embora eu realmente não tenha assinado essa carta, meu nome consta nela. Só não nasci dentro da igreja porque naquele dia não havia culto (risos). Mas ainda existem tensões a serem resolvidas quando o assunto é viver profissionalmente de música dentro das igrejas, de modo geral. Até escrevi um pequeno livreto sobre isso chamado "Músico: Profissão ou Ministério?", bem esclarecedor e com base bíblica, sem previsão de ser reimpresso. Acho que essa questão tem que passar pelo amor, pois só com amor acontecerá uma relação de cumplicidade entre músicos e igrejas. Penso que uma igreja que chama ou se utiliza de um músico como ferramenta de entretenimento (e, não poucas vezes, ainda paga uma fortuna para isso!), está tão errada quanto um músico que cobra uma fortuna de cachê, porque sabe que atrairá público para ela. Nesse caso, estes se merecem. Vivo do meu trabalho há trinta e cinco anos e vejo exageros e mágoas dos dois lados. Antes de ser um profissional, o músico é um servo, assim como qualquer outro membro da igreja, portanto, antes de "explorar" sua "voluntariedade" de servo, a igreja precisa entender suas necessidades de sobrevivência. Simples assim. Se Deus ama a quem dá com alegria, precisamos ter muito cuidado no trato com qualquer profissional que trabalhe em prol de uma igreja local. Deixar um profissional que pertence a uma igreja decidir livremente se quer "doar" seus serviços ou uma parte do valor deles para a igreja, creio que é a atitude mais correta, ao invés de coagi-lo ou subjugá-lo a realizar este serviço, que, facilmente, se pagaria para alguém que não pertence ao rol de membros da igreja. O versículo mais usado covardemente por algumas lideranças evangélicas – "de graça recebeste, de graça dai!" – se refere à salvação e não à remuneração de quem quer que seja. Dito isso, existe o aspecto da voluntariedade que pauta o serviço a Deus e muitos músicos profissionais – existem até profissionais de outras áreas que acabam por assumir a música dentro da igreja –, mas a decisão de servir sempre deveria partir do indivíduo e não da liderança.
>> Louvor, Adoração e Liturgia <<
U. - Seu trabalho autoral mais recente é de 2009/2010. Além dos vídeos na internet, a que mais você tem se dedicado?
J.A. - Não tenho novos projetos de CD ou DVD em vista. Na verdade, o mais recente foi o CD de minha esposa, Tirza Silveira, lançado no ano passado [2017] e que enviei para o querido Veiga para ser avaliado em uma próxima edição da [revista] Ultimato. Com a Internet, se perdeu o trabalho artístico dos CDs, que contavam histórias da primeira à última faixa. Hoje, se torna mais interessante gravar canções específicas e publicá-las nas plataformas digitais. O Mais Música com João Alexandre (MMJA) tem me consumido muito tempo e interesse. Creio que este projeto de ensino de violão à distância é uma resposta a muitos anseios pessoais e profissionais para mim. Mas tudo é possível, então quem sabe?
U. - Como o advento e popularização da internet, das redes sociais e dos canais de streaming modificaram os processos de distribuição e consumo de música?
J.A. - Se por um lado, inviabilizam as mídias físicas, por outro, aproximam o músico rápida e facilmente do público em geral. Existe espaço para tudo e para todos, mas a opção de escolha ainda é pessoal e intransferível. Penso que é um caminho sem volta.
>> Cristo e a Criatividade <<
U. - Qual seu recado para o jovem cristão que quer fazer carreira na área da música?
J.A. - Aprenda a viver com pouco e o suficiente. Se há uma verdade a ser aprendida nessa área é que Deus é Fiel o tempo todo e nosso coração tem que estar no lugar certo: debaixo de sua vontade, boa, perfeita e agradável. A fama, assim como o dinheiro, deve ser uma consequência e não um objetivo. Mesmo porque, é perda de tempo ser famoso, mas não ser importante (aquilo ou alguém que as pessoas “importam” para dentro de si e as modifica de modo significativo). Toda profissão tem que passar pelo seguinte crivo, definido por John Stott: “Trabalho ou profissão é a tarefa que traz alegria ao trabalhador, benefício à sociedade e Glória a Deus!”.
Leia mais
>> Aquilo que um músico cristão precisa saber
>> Sola Música
A música está no DNA não só dele, mas de toda a família. Nascido em Campinas, SP, em setembro de 1964, João Alexandre Silveira é cantor, compositor, arranjador e atua como músico profissional. A esposa, Tirza Rosa, é intérprete e o filho, Felipe Silveira, pianista e produtor musical. A musicalidade da família é herança do avô materno de João, violeiro e compositor, e de sua sogra, que cantava no coro da igreja.
A marca de João Alexandre, que iniciou a carreira aos 17 anos, é o estilo musical peculiarmente brasileiro, que esbanja harmonias, ritmos e melodias características da cultura nacional, passeando pela música rural, seresta e de raiz, até chegar ao samba e bossa nova, sem esconder, claro, a influência do jazz. Em seus mais de trinta anos de carreira, João participou de grupos como “Vencedores por Cristo”, “Pescador", “Milad” e “Água Viva”, até se lançar à carreira solo em 1986. Ele acumula cerca de vinte álbuns, entre solos e em conjunto, e inúmeras participações em projetos de amigos como artista convidado. Além disso, sua produção conta com um DVD gravado em 2009 e o livro “Músico – Profissão ou Ministério?”, publicado em 2016 pela VPC Produções.
Dentre as inúmeras parcerias, a que fez com Gérson Borges, em 2005, para o arranjo do musical “A Volta do Filho Pródigo”, lhe rendeu a premiação “Troféu Talento”, na categoria “Melhor Arranjo”. Borges o considera não só um dos melhores músicos cristãos do país, mas sim um dos melhores músicos do país, um arranjador de talento extraordinário que tem respeito, inclusive, fora do circuito evangélico. “Os músicos que levam a música a sério, que pesquisam a grande tradição da canção popular brasileira, quando entram em contato com o trabalho do João, logo o tem como referência”, conclui o músico.
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Outro amigo que não poupa elogios e lembra com carinho de João é o músico Carlinhos Veiga, colunista da revista Ultimato. “Conheci o João Alexandre em 1983, num acampamento. Ele estava tocando numa equipe de Vencedores Por Cristo. Ali mesmo já percebi que o João era um músico diferenciado, com um raro talento”, lembra Veiga.
Ouvido pelo Portal Ultimato, Carlinhos Veiga declarou: “O João é um amigo que Deus deu a mim e à Claudia, minha esposa. Alguém com a capacidade de fazer um violão e voz, como ele, são poucos no Brasil, inclusive entre os nomes reconhecidos da MPB. Ele traz para a igreja brasileira uma contribuição enorme em termos de qualidade musical, mostrando que música cristã nem sempre é sinônimo de falta de qualidade e beleza. O João chegou a esse nível de qualidade estudando, ouvindo, tocando os grandes nomes da MPB de todos os tempos. Por outro lado o Evangelho é sua bandeira e o conteúdo de suas canções, explicita ou implicitamente. Os cristãos da nova geração têm muito a aprender com ele.”
Em entrevista a Ultimato, João Alexandre falou da influência musical na família, o mercado e a música evangélica, a relação entre “secular x sagrado”; falou da realização com o recente trabalho de vídeo-aulas de violão pela internet, e deixou um recado aos jovens cristãos que querem se dedicar profissionalmente à música, lembrando a diferença entre um artista cristão e um cristão artista. Vale a pena conferir.
Ultimato - Toda sua família é envolvida com música. A que isso se deve?
João Alexandre - A música está em nossas veias porque vem de ambas as famílias. Meu falecido avô materno era violeiro de catira e compositor de muitas modas de viola. A falecida mãe de minha esposa tinha uma voz maravilhosa e cantava no coral da Igreja Presbiteriana Independente de Sorocaba, SP. Agradeço a Jesus por termos herdado esse maravilhoso dom e hoje ver meu filho, pianista profissional, no exercício responsável dessa profissão tão desafiadora e idealista. Poder ser usado por Deus para tocar a alma das pessoas é um privilégio e alegria inenarráveis!
U. - Você sempre foi crítico à música evangélica brasileira. Qual sua visão hoje?
J.A. - Acho que duplicamos em qualidade vocal, instrumental e técnica e quintuplicamos em superficialidade e impertinência, com raríssimas exceções. A internet reproduz, de forma quase instantânea e viral, muita coisa boa e muita coisa ruim. É um mercado potencial para quem quer se aperfeiçoar e crescer, a despeito e acima da preocupação com a “popularidade”, mas que pode acabar servindo de isca para quem se contenta em viver na mediocridade e não na excelência, mesmo com toda popularidade que consiga. Acredito naqueles que buscam a excelência, ou seja, fazer o melhor que podem com as ferramentas que têm, até terem ferramentas melhores para fazer melhor ainda, aquilo que já fazem. O problema é que se a fé vem pelo ouvir, como diz a Palavra de Deus, aquele que se contenta em ouvir e assimilar “qualquer coisa”, corre o sério risco de transformar sua própria fé em qualquer coisa.
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U. - A música evangélica se rendeu ao mercado?
J.A. - Não acho que se rendeu, mas sempre foi um mercado em potencial. O problema está em fazer do dinheiro um objetivo, ao invés de ser uma consequência desse mercado. Daí, por amor ao dinheiro nascem todos os males procedentes do mercado. Até aqueles que não são evangélicos se interessam pelo segmento e pelo lucro que ele pode proporcionar. Nesse meio, se distinguem os que vivem honestamente do mercado e os que se utilizam da música e da imagem para lucrar com ele.
U. - Os evangélicos já superaram a velha dicotomia “secular versus sagrado”? Quais as implicações dessa visão para a igreja na relação com a cultura e, especificamente, com a música?
J.A. - Acho que ainda não! Muitos cristãos, por falta de esclarecimento, ainda acreditam no MI maior profano e no RÉ menor divino, infelizmente. Há pastores que não entendem de música e músicos que não entendem de Bíblia espalhados Brasil afora. Isso dificulta demais a inserção sadia da música cristã, como arte, dentro dos meios de comunicação. Ainda usamos o “evangeliquês” de forma latente e somos identificados muito mais como religiosos do que como artistas. Somos artistas cristãos e deveríamos ser cristãos artistas. A noção de que “por meio dele, por ele e para ele são todas as coisas” ainda é subjugada à religiosidade quando deveria se submeter ao fato de que Deus é o criador de todas as coisas.
>> A Arte Não Precisa de Justificativa <<
U. - Na sessão “Novos Acordes”, da revista Ultimato, seu nome aparece com frequência, participando ou produzindo álbuns de novos músicos. Você consegue visualizar uma nova geração de músicos que prezam por valores semelhantes aos que você busca desde o início da sua carreira?
J.A. - Confesso que nunca corri atrás de fama ou sucesso que me fizessem deixar de lado o valor de um trabalho digno e feito com excelência para Deus. Quando um músico sério e cristão aceita produzir ou participar de um projeto qualquer, ele precisa levar em conta o nome de quem o procura, o seu próprio nome e o nome de Jesus – a quem ele deve honrar pelos dons recebidos. Fora disso, é perda de tempo e correr atrás do vento. Sinto-me grato por ter sido chamado por tanta gente para participar de alguns trabalhos e louvo a Jesus pela oportunidade singular de servi-lo com alegria e gratidão. Quando eu já não estiver mais aqui, creio que minhas canções ainda estarão. Há muitos anos, parei de compor, mas, pela graça e misericórdia de Deus, sobrevivo das canções que compus há vinte, trinta anos. Aprendi desde cedo, com Guilherme Kerr, Nelson Bomilcar, Sérgio Pimenta, entre outros, que canções devem ser compostas pensando na eternidade e não em um momento, nem mesmo em um mercado. Ouvir pessoas me dizendo que elas parecem atuais, me alegra demais e me deixa certo do dever cumprido. Se isso servirá de exemplo para futuras gerações, o tempo dirá.
U. - A Carta do Som do Céu, assinada em 2009 por você e mais outros quinze músicos, toca em alguns pontos de tensão da relação “igreja x músicos”. Alguma coisa nessa relação mudou nos últimos anos?
J.A. - Embora eu realmente não tenha assinado essa carta, meu nome consta nela. Só não nasci dentro da igreja porque naquele dia não havia culto (risos). Mas ainda existem tensões a serem resolvidas quando o assunto é viver profissionalmente de música dentro das igrejas, de modo geral. Até escrevi um pequeno livreto sobre isso chamado "Músico: Profissão ou Ministério?", bem esclarecedor e com base bíblica, sem previsão de ser reimpresso. Acho que essa questão tem que passar pelo amor, pois só com amor acontecerá uma relação de cumplicidade entre músicos e igrejas. Penso que uma igreja que chama ou se utiliza de um músico como ferramenta de entretenimento (e, não poucas vezes, ainda paga uma fortuna para isso!), está tão errada quanto um músico que cobra uma fortuna de cachê, porque sabe que atrairá público para ela. Nesse caso, estes se merecem. Vivo do meu trabalho há trinta e cinco anos e vejo exageros e mágoas dos dois lados. Antes de ser um profissional, o músico é um servo, assim como qualquer outro membro da igreja, portanto, antes de "explorar" sua "voluntariedade" de servo, a igreja precisa entender suas necessidades de sobrevivência. Simples assim. Se Deus ama a quem dá com alegria, precisamos ter muito cuidado no trato com qualquer profissional que trabalhe em prol de uma igreja local. Deixar um profissional que pertence a uma igreja decidir livremente se quer "doar" seus serviços ou uma parte do valor deles para a igreja, creio que é a atitude mais correta, ao invés de coagi-lo ou subjugá-lo a realizar este serviço, que, facilmente, se pagaria para alguém que não pertence ao rol de membros da igreja. O versículo mais usado covardemente por algumas lideranças evangélicas – "de graça recebeste, de graça dai!" – se refere à salvação e não à remuneração de quem quer que seja. Dito isso, existe o aspecto da voluntariedade que pauta o serviço a Deus e muitos músicos profissionais – existem até profissionais de outras áreas que acabam por assumir a música dentro da igreja –, mas a decisão de servir sempre deveria partir do indivíduo e não da liderança.
>> Louvor, Adoração e Liturgia <<
U. - Seu trabalho autoral mais recente é de 2009/2010. Além dos vídeos na internet, a que mais você tem se dedicado?
J.A. - Não tenho novos projetos de CD ou DVD em vista. Na verdade, o mais recente foi o CD de minha esposa, Tirza Silveira, lançado no ano passado [2017] e que enviei para o querido Veiga para ser avaliado em uma próxima edição da [revista] Ultimato. Com a Internet, se perdeu o trabalho artístico dos CDs, que contavam histórias da primeira à última faixa. Hoje, se torna mais interessante gravar canções específicas e publicá-las nas plataformas digitais. O Mais Música com João Alexandre (MMJA) tem me consumido muito tempo e interesse. Creio que este projeto de ensino de violão à distância é uma resposta a muitos anseios pessoais e profissionais para mim. Mas tudo é possível, então quem sabe?
U. - Como o advento e popularização da internet, das redes sociais e dos canais de streaming modificaram os processos de distribuição e consumo de música?
J.A. - Se por um lado, inviabilizam as mídias físicas, por outro, aproximam o músico rápida e facilmente do público em geral. Existe espaço para tudo e para todos, mas a opção de escolha ainda é pessoal e intransferível. Penso que é um caminho sem volta.
>> Cristo e a Criatividade <<
U. - Qual seu recado para o jovem cristão que quer fazer carreira na área da música?
J.A. - Aprenda a viver com pouco e o suficiente. Se há uma verdade a ser aprendida nessa área é que Deus é Fiel o tempo todo e nosso coração tem que estar no lugar certo: debaixo de sua vontade, boa, perfeita e agradável. A fama, assim como o dinheiro, deve ser uma consequência e não um objetivo. Mesmo porque, é perda de tempo ser famoso, mas não ser importante (aquilo ou alguém que as pessoas “importam” para dentro de si e as modifica de modo significativo). Toda profissão tem que passar pelo seguinte crivo, definido por John Stott: “Trabalho ou profissão é a tarefa que traz alegria ao trabalhador, benefício à sociedade e Glória a Deus!”.
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