Opinião
- 04 de maio de 2016
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Árabes, Israel e os prejuízos do dispensacionalismo cristão
Em meio a tal tragédia, um importante aspecto permaneceu desconhecido por muitos cristãos ocidentais: entre os árabes palestinos havia uma significativa minoria cristã. De acordo com a informação disponível, em 1948, 59% da população de Jerusalém e Belém, respectivamente, era formada por cristãos.41 “Discriminados como cristãos e perseguidos como árabes”, em 1988 não havia mais que 10% de cristãos na Palestina.42 Conversando com alguns líderes árabes palestinos cristãos há dois anos, eles afirmaram crer que hoje não haja mais que 2% de cristãos entre os árabes palestinos cristãos. Muitos deles saíram da região, principalmente por causa da pressão social e econômica imposta pelo governo israelense.
Como os refugiados nunca obtêm permissão para voltar, a despeito das resoluções das Nações Unidas ordenando Israel a conceder tal permissão ou ressarci-los financeiramente,43 ainda há milhões de árabes palestinos (muçulmanos e cristãos) vivendo como refugiados em diferentes partes do mundo, especialmente no Líbano e na Jordânia. Um grande número (diz-se que pelo menos 1 milhão no Líbano) vive em condições sub-humanas, nos assim chamados campos de refugiados, sem nacionalidade, dignidade, e em total desamparo.
Mas quando o Estado de Israel recebe apoio sem reservas de líderes evangélicos bastante renomados e por meio de publicações que defendem certos aspectos teológicos promovidos, pelo menos inicialmente, pela hermenêutica dispensacionalista (ou, no mínimo, sionistas), é praticamente impossível que multidões de evangélicos não sejam influenciadas e mostrem-se indiferentes à situação dos árabes palestinos.
Em 2014, quando estava ocorrendo o que, até o momento, foi a última batalha entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, um respeitado teólogo brasileiro44 postou em seu perfil no Facebook as razões pelas quais apoiava Israel45. Para ser justo, seus argumentos eram bem construídos, muito embora eu não concorde com a maioria deles. Reagindo aos seus comentários, alguém postou uma nota apoiando as convicções pró-Israel mencionadas, e citou o seguinte versículo:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Castigarei os amalequitas pelo que fizeram a Israel, atacando-os quando saíam do Egito. Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e jumentos’” (1 Sm 15.2-3).
Evidentemente, o comentário infeliz não é culpa do teólogo pró-Israel, mas essa é a postura de muitos dos evangélicos. O Estado de Israel, e seus habitantes judeus, são vistos como divinamente protegidos e abençoados. Os árabes palestinos por outro lado, são vistos por muitos como a versão moderna dos amalequitas. “Alguns evangélicos”, diz Weber, “demonizaram os palestinos: porque eles são os inimigos do moderno Estado de Israel, eles são também inimigos de Deus e servos de Satanás”.46
O que realmente parece importar para alguns cristãos é que Israel seja protegido a qualquer preço. Ao fim e ao cabo, de acordo com os dispensacionalistas, o cumprimento das profecias escatológicas depende deles.
Toda essa situação causa um desgaste tremendo na frágil igreja no Oriente Médio. Os cristãos passam a ser vistos como “agentes de Sião”, ou simplesmente castigados e perseguidos pelo fato de governos ocidentais patrocinarem Israel, não raro com apoio de cristãos sionistas. “A postura unilateral de cristãos pró-Israel”, diz Cavalcanti, “é um obstáculo à evangelização dos árabes e deixa os cristãos locais em uma situação difícil”.47
Além disso, muitos evangélicos, direcionados pela mídia secular e cristã, creem que a versão radical do Islã que vemos hoje representa os muçulmanos em geral. Spector relatou que:
“Quase todo evangélico que apoia Israel com quem conversei associou às suas convicções bíblicas e políticas duas conclusões relacionadas: que Deus deu aos judeus a posse eternal do inteiro território bíblico a Israel e que os árabes e outros muçulmanos estão determinados a sabotar a aliança divina”.48
Isso evidentemente não ajuda os que querem testemunhar de Jesus entre os árabes muçulmanos. Porém, é isto que alguns seminários teológicos e centros de treinamento missionário ao redor do globo, inclusive no Brasil, estão fazendo aos que querem se preparar para o campo de missão muçulmano. Em vez de ensinar os cristãos a amar os muçulmanos, estamos ensinando-os a amar Israel (o que é correto), a ter medo dos muçulmanos e a defender-se daqueles a quem deveríamos oferer nosso serviço sacrificial.
Como os refugiados nunca obtêm permissão para voltar, a despeito das resoluções das Nações Unidas ordenando Israel a conceder tal permissão ou ressarci-los financeiramente,43 ainda há milhões de árabes palestinos (muçulmanos e cristãos) vivendo como refugiados em diferentes partes do mundo, especialmente no Líbano e na Jordânia. Um grande número (diz-se que pelo menos 1 milhão no Líbano) vive em condições sub-humanas, nos assim chamados campos de refugiados, sem nacionalidade, dignidade, e em total desamparo.
Mas quando o Estado de Israel recebe apoio sem reservas de líderes evangélicos bastante renomados e por meio de publicações que defendem certos aspectos teológicos promovidos, pelo menos inicialmente, pela hermenêutica dispensacionalista (ou, no mínimo, sionistas), é praticamente impossível que multidões de evangélicos não sejam influenciadas e mostrem-se indiferentes à situação dos árabes palestinos.
Em 2014, quando estava ocorrendo o que, até o momento, foi a última batalha entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, um respeitado teólogo brasileiro44 postou em seu perfil no Facebook as razões pelas quais apoiava Israel45. Para ser justo, seus argumentos eram bem construídos, muito embora eu não concorde com a maioria deles. Reagindo aos seus comentários, alguém postou uma nota apoiando as convicções pró-Israel mencionadas, e citou o seguinte versículo:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Castigarei os amalequitas pelo que fizeram a Israel, atacando-os quando saíam do Egito. Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e jumentos’” (1 Sm 15.2-3).
Evidentemente, o comentário infeliz não é culpa do teólogo pró-Israel, mas essa é a postura de muitos dos evangélicos. O Estado de Israel, e seus habitantes judeus, são vistos como divinamente protegidos e abençoados. Os árabes palestinos por outro lado, são vistos por muitos como a versão moderna dos amalequitas. “Alguns evangélicos”, diz Weber, “demonizaram os palestinos: porque eles são os inimigos do moderno Estado de Israel, eles são também inimigos de Deus e servos de Satanás”.46
O que realmente parece importar para alguns cristãos é que Israel seja protegido a qualquer preço. Ao fim e ao cabo, de acordo com os dispensacionalistas, o cumprimento das profecias escatológicas depende deles.
Toda essa situação causa um desgaste tremendo na frágil igreja no Oriente Médio. Os cristãos passam a ser vistos como “agentes de Sião”, ou simplesmente castigados e perseguidos pelo fato de governos ocidentais patrocinarem Israel, não raro com apoio de cristãos sionistas. “A postura unilateral de cristãos pró-Israel”, diz Cavalcanti, “é um obstáculo à evangelização dos árabes e deixa os cristãos locais em uma situação difícil”.47
Além disso, muitos evangélicos, direcionados pela mídia secular e cristã, creem que a versão radical do Islã que vemos hoje representa os muçulmanos em geral. Spector relatou que:
“Quase todo evangélico que apoia Israel com quem conversei associou às suas convicções bíblicas e políticas duas conclusões relacionadas: que Deus deu aos judeus a posse eternal do inteiro território bíblico a Israel e que os árabes e outros muçulmanos estão determinados a sabotar a aliança divina”.48
Isso evidentemente não ajuda os que querem testemunhar de Jesus entre os árabes muçulmanos. Porém, é isto que alguns seminários teológicos e centros de treinamento missionário ao redor do globo, inclusive no Brasil, estão fazendo aos que querem se preparar para o campo de missão muçulmano. Em vez de ensinar os cristãos a amar os muçulmanos, estamos ensinando-os a amar Israel (o que é correto), a ter medo dos muçulmanos e a defender-se daqueles a quem deveríamos oferer nosso serviço sacrificial.
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