Opinião
- 05 de maio de 2023
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“Amazing Grace” na hinologia brasileira
Por Raquel Monteiro Cordeiro de Azeredo
Os hinários tradicionais das diferentes denominações evangélicas são constituídos, majoritariamente, de hinos traduzidos a partir do inglês. Entretanto, em vista de a versão original não ser, regra geral, conhecida, cantamos as excelentes letras adaptadas por poetas cristãos para o português. Por exemplo, enquanto a letra do hino de Horatio Spafford, It’s well with my soul, equivaleria a dizer que “Minha alma está bem”, cantamos “Sou feliz com Jesus”... E fica tudo bem!
Entretanto, toda e qualquer música cuja letra seja conhecida no idioma original dificilmente terá uma versão satisfatória. Creio que este é o caso de Amazing Grace. Qual o sentido da palavra “amazing”? Incrível, maravilhoso, adorável, surpreendente. Como colocar tal sentido em uma tradução? Traduzir uma letra requer adaptação à métrica, ao sentido, à tonicidade de cada sílaba e por aí. Tarefa difícil. Acaba-se por aceitar ou fazer concessões e usar palavras cujo sentido poético seja belo, palavras de pronúncia agradável e, sobretudo, de sentido doutrinário correto, mas nem sempre fiéis à ideia do autor.
Amazing Grace, em nosso Brasil, já se chamou “Eterna graça”, “Preciosa graça”, “Maravilhosa graça”, “Sublime graça”. Creio que nenhuma versão faz jus ao sentido, à beleza e profundidade da letra original de John Newton. Aos que podem ouvi-la e apreciá-la em inglês, digo que assim deve ser. Só assim conseguimos entender o que se passava na alma do autor ao escrevê-la. Uma graça salvadora, transformadora, capaz de curar, graça que moveu um coração a enxergar seu brilho e a louvar a Deus por isso. A letra é um louvor que se pretende eterno.
Gosto imensamente da história contada Pelo Reverendo Wintley Phipps, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia nos Estados Unidos. No seu vídeo postado aqui. Ele nos mostra várias canções chamadas de Spirituals e as associa a uma característica única: elas podem ser tocadas usando apenas as notas pretas do piano: a escala pentatônica ou “Slave scale”! E o Rev. Phipps toca Amazing Grace (e outras) usando apenas essas notas. Para coroar sua apresentação, o pastor canta Amazing Grace evocando os tristes gemidos dos escravos trazidos da África em navios negreiros, chorando, remando e morrendo pelo caminho.
Depois de ouvir a interpretação do pastor adventista em sua voz poderosa, em minha modesta opinião, nem Elvis Presley ou Aretha Franklin voltariam a cantar as palavras e notas de “so, so Amazing Grace”!
- Raquel Monteiro Cordeiro de Azeredo é casada com Gino Ceotto Filho, mãe de Henriette, Eveline e Alberto, e avó de Anna Azeredo. Professora aposentada do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa. Membro da Igreja Presbiteriana de Viçosa desde a década de 1960.
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Saiba mais:
» Contando e Cantando (Volume 2), - Conhecendo as Histórias de Hinos Cristãos, Henriqueta Rosa F. Braga
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