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- 04 de maio de 2020
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Agreste de Pernambuco: a Igreja é o paradoxo da esperança contra a Covid-19
Igreja em Ação
Por Jénerson Alves
O mundo foi pego de surpresa por um inimigo invisível. Um vírus parou o planeta, mas movimentou corações em atos de solidariedade e cidadania. Enquanto alguns setores da igreja se limitaram a fazer elucubrações relacionadas à Covid-19, outros preferiram agir e mostrar o poder do amor ao próximo. Neste sentido, a igreja é o paradoxo da esperança em meio à angústia provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Pernambuco é o 4º estado com mais registros de Covid-19, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. No domingo (03/5), a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 8.145 casos. O Agreste é a região do interior com mais incidência da doença (173 casos). Até o momento, 628 mortes foram confirmadas pelo novo coronavírus no Estado. A interiorização dos casos tem sido motivo de preocupação das autoridades e também de pessoas dedicadas a Deus que buscam servir ao próximo.
Neste cenário, a preocupação é redobrada, principalmente para as parcelas mais vulneráveis da população. A pesquisa ‘Tracking the Coronavírus’, realizada pela Ipsos entre 26 e 28 de março, mostrou que o Brasil está no topo do ranking dos países quanto à preocupação com as pessoas mais vulneráveis. 70% dos entrevistados no Brasil afirmaram temer pelos mais debilitados. Em Caruaru, no agreste pernambucano, várias igrejas evangélicas e católicas promovem ações cidadãs para ajudar aos que mais precisam, intensificando o trabalho social que já realizam e prestando assistência aos mais carentes. Outras ações surgiram com foco específico na pandemia.
Exemplo disso é uma iniciativa das missionárias Sabrina Carvalho e Sara Galdino, da Igreja Águas do Trono. Em meados de março, elas iniciaram uma ação que, a princípio, parecia pontual e singela. “Quando as autoridades em saúde começaram a intensificar a necessidade de constante higienização das mãos, ficamos preocupadas com a população em situação de rua, que, por vários motivos, muitas vezes é privada do acesso a água e sabão para se higienizar”, lembra Sabrina. Diante desta inquietude, elas tomaram uma simples atitude: com R$ 50, adquiriram um pouco de água e sabão e se dispuseram a oferecer àqueles que não têm casa. A partir do contato com a população em situação de rua, elas também se encontraram diante de outro desafio: a fome. Através de um card divulgado nas redes sociais, as missionárias apontavam para o cerne do projeto: “Ajude-nos a ajudar”. Aos poucos, várias pessoas começaram a participar e até 3 de maio, o grupo conseguiu entregar 3.117 refeições; 465 cestas básicas; 400 bandejas de ovos; 1.786 garrafas de água de 500ml; 305 litros de suco; 212 kits de higiene; 15 kits de limpeza; 475 máscaras de tecido; 17 garrafões de água de 20 litros; além de um fogão e uma cama. O publicitário católico Oscar Mariano, um dos voluntários da ação, afirma profeticamente: "Com esse projeto, brota em mim a esperança em dias melhores, pois acredito que depois que tudo isso passar, teremos muitos ensinamentos".
Semelhantemente, um grupo de jovens que se reúne no Monte do Bom Jesus, que é um dos cartões postais do município de Caruaru percebeu que a vida cristã implica em servir ao próximo e decidiu estender a mão para quem mais precisa. "Quando iniciamos o período de isolamento social, logo pensamos no que podíamos fazer para ajudar as pessoas que precisassem", relembra o líder do PG, Alex Oliveira. Desde então, eles têm realizado distribuição de almoço para caminhoneiros nas rodovias que cortam o município – tendo em vista que tais profissionais não pararam de trabalhar, mas muitos dos restaurantes nas estradas fecharam as portas devido às medidas restritivas –; doação de roupas; distribuição de janta e água mineral para os moradores de rua e cestas básicas para as famílias que não estão podendo trabalhar por causa do isolamento social.
A Associação Batista do Agreste (Assobagre), formada por 32 igrejas e 22 congregações da denominação Batista em diversos municípios da região, traduz esperança em meio à crise. Mesmo com os templos fechados, atividades solidárias estão sendo desenvolvidas. Um dos projetos acontece na Primeira Igreja Batista em Agrestina, em Pernambuco. Cinco senhoras que integram a comunidade são costureiras, e se empenham em produzir máscaras de tecido para serem distribuídas gratuitamente no município. O número de equipamentos produzidos e entregues já ultrapassa a casa dos 300. A igreja também está confeccionando e distribuindo cestas básicas para as famílias mais necessitadas. "Devido ao momento de dificuldade que todos estamos vivendo, nossas igrejas voltaram ainda mais os olhos para a questão social, colaborando principalmente na confecção de máscaras e distribuição de alimentos, além de incrementar o papel educativo de conscientização sobre a necessidade de proteção contra a pandemia", relata o pastor Edmilson Lemos, presidente da Assobagre.
Além da doença, as chuvas
A Covid-19 não é o único problema das pessoas mais carentes. Para se ter uma ideia, entre o domingo (26/04) e a segunda-feira (27/04), Caruaru registrou 98,3% da chuva esperada para o mês de abril, conforme foi divulgado pela Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac). As chuvas evidenciaram a falta de infraestrutura em vários pontos da cidade, principalmente nas áreas periféricas. Em uma edição extra do Diário Oficial, a Prefeitura do Município decretou situação de emergência por causa das chuvas. A cidade, que já estava em estado de calamidade pública devido à pandemia, ficou em uma situação ainda mais complexa.
Sem esperar ações do poder público, integrantes da Igreja Adventista do Sétimo Dia no bairro Severino Afonso - uma das comunidades mais carentes atingida pelas enchentes - se dispôs a auxiliar e, em menos de 24 horas, conseguiu arrecadar 220 cestas básicas, aproximadamente 10 mil peças de roupas, alguns móveis, eletrodomésticos e cerca de mil reais para a população ao redor. O fotógrafo Guilherme Almeida, que também é membro da igreja e entende que gestos de empatia podem transformar a vida de famílias, registra na memória algumas cenas impactantes ocorridas durante a ação cidadã. "Ficou marcado em meu coração o momento em que uma senhora chegou chorando aqui na igreja, porque perdeu tudo é só estava com a roupa que estava vestida. Ajudamos com roupa e alimentos, e ela saiu um pouco mais tranquila”. A Comunidade Católica Restauração também se engajou no intuito de ajudar essa população e realizou uma live solidária no dia 2 de maio, por meio do YouTube da entidade.
Por Jénerson Alves
O mundo foi pego de surpresa por um inimigo invisível. Um vírus parou o planeta, mas movimentou corações em atos de solidariedade e cidadania. Enquanto alguns setores da igreja se limitaram a fazer elucubrações relacionadas à Covid-19, outros preferiram agir e mostrar o poder do amor ao próximo. Neste sentido, a igreja é o paradoxo da esperança em meio à angústia provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Pernambuco é o 4º estado com mais registros de Covid-19, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. No domingo (03/5), a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 8.145 casos. O Agreste é a região do interior com mais incidência da doença (173 casos). Até o momento, 628 mortes foram confirmadas pelo novo coronavírus no Estado. A interiorização dos casos tem sido motivo de preocupação das autoridades e também de pessoas dedicadas a Deus que buscam servir ao próximo.
Neste cenário, a preocupação é redobrada, principalmente para as parcelas mais vulneráveis da população. A pesquisa ‘Tracking the Coronavírus’, realizada pela Ipsos entre 26 e 28 de março, mostrou que o Brasil está no topo do ranking dos países quanto à preocupação com as pessoas mais vulneráveis. 70% dos entrevistados no Brasil afirmaram temer pelos mais debilitados. Em Caruaru, no agreste pernambucano, várias igrejas evangélicas e católicas promovem ações cidadãs para ajudar aos que mais precisam, intensificando o trabalho social que já realizam e prestando assistência aos mais carentes. Outras ações surgiram com foco específico na pandemia.
Exemplo disso é uma iniciativa das missionárias Sabrina Carvalho e Sara Galdino, da Igreja Águas do Trono. Em meados de março, elas iniciaram uma ação que, a princípio, parecia pontual e singela. “Quando as autoridades em saúde começaram a intensificar a necessidade de constante higienização das mãos, ficamos preocupadas com a população em situação de rua, que, por vários motivos, muitas vezes é privada do acesso a água e sabão para se higienizar”, lembra Sabrina. Diante desta inquietude, elas tomaram uma simples atitude: com R$ 50, adquiriram um pouco de água e sabão e se dispuseram a oferecer àqueles que não têm casa. A partir do contato com a população em situação de rua, elas também se encontraram diante de outro desafio: a fome. Através de um card divulgado nas redes sociais, as missionárias apontavam para o cerne do projeto: “Ajude-nos a ajudar”. Aos poucos, várias pessoas começaram a participar e até 3 de maio, o grupo conseguiu entregar 3.117 refeições; 465 cestas básicas; 400 bandejas de ovos; 1.786 garrafas de água de 500ml; 305 litros de suco; 212 kits de higiene; 15 kits de limpeza; 475 máscaras de tecido; 17 garrafões de água de 20 litros; além de um fogão e uma cama. O publicitário católico Oscar Mariano, um dos voluntários da ação, afirma profeticamente: "Com esse projeto, brota em mim a esperança em dias melhores, pois acredito que depois que tudo isso passar, teremos muitos ensinamentos".
Semelhantemente, um grupo de jovens que se reúne no Monte do Bom Jesus, que é um dos cartões postais do município de Caruaru percebeu que a vida cristã implica em servir ao próximo e decidiu estender a mão para quem mais precisa. "Quando iniciamos o período de isolamento social, logo pensamos no que podíamos fazer para ajudar as pessoas que precisassem", relembra o líder do PG, Alex Oliveira. Desde então, eles têm realizado distribuição de almoço para caminhoneiros nas rodovias que cortam o município – tendo em vista que tais profissionais não pararam de trabalhar, mas muitos dos restaurantes nas estradas fecharam as portas devido às medidas restritivas –; doação de roupas; distribuição de janta e água mineral para os moradores de rua e cestas básicas para as famílias que não estão podendo trabalhar por causa do isolamento social.
A Associação Batista do Agreste (Assobagre), formada por 32 igrejas e 22 congregações da denominação Batista em diversos municípios da região, traduz esperança em meio à crise. Mesmo com os templos fechados, atividades solidárias estão sendo desenvolvidas. Um dos projetos acontece na Primeira Igreja Batista em Agrestina, em Pernambuco. Cinco senhoras que integram a comunidade são costureiras, e se empenham em produzir máscaras de tecido para serem distribuídas gratuitamente no município. O número de equipamentos produzidos e entregues já ultrapassa a casa dos 300. A igreja também está confeccionando e distribuindo cestas básicas para as famílias mais necessitadas. "Devido ao momento de dificuldade que todos estamos vivendo, nossas igrejas voltaram ainda mais os olhos para a questão social, colaborando principalmente na confecção de máscaras e distribuição de alimentos, além de incrementar o papel educativo de conscientização sobre a necessidade de proteção contra a pandemia", relata o pastor Edmilson Lemos, presidente da Assobagre.
Além da doença, as chuvas
A Covid-19 não é o único problema das pessoas mais carentes. Para se ter uma ideia, entre o domingo (26/04) e a segunda-feira (27/04), Caruaru registrou 98,3% da chuva esperada para o mês de abril, conforme foi divulgado pela Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac). As chuvas evidenciaram a falta de infraestrutura em vários pontos da cidade, principalmente nas áreas periféricas. Em uma edição extra do Diário Oficial, a Prefeitura do Município decretou situação de emergência por causa das chuvas. A cidade, que já estava em estado de calamidade pública devido à pandemia, ficou em uma situação ainda mais complexa.
Sem esperar ações do poder público, integrantes da Igreja Adventista do Sétimo Dia no bairro Severino Afonso - uma das comunidades mais carentes atingida pelas enchentes - se dispôs a auxiliar e, em menos de 24 horas, conseguiu arrecadar 220 cestas básicas, aproximadamente 10 mil peças de roupas, alguns móveis, eletrodomésticos e cerca de mil reais para a população ao redor. O fotógrafo Guilherme Almeida, que também é membro da igreja e entende que gestos de empatia podem transformar a vida de famílias, registra na memória algumas cenas impactantes ocorridas durante a ação cidadã. "Ficou marcado em meu coração o momento em que uma senhora chegou chorando aqui na igreja, porque perdeu tudo é só estava com a roupa que estava vestida. Ajudamos com roupa e alimentos, e ela saiu um pouco mais tranquila”. A Comunidade Católica Restauração também se engajou no intuito de ajudar essa população e realizou uma live solidária no dia 2 de maio, por meio do YouTube da entidade.
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