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Opinião

A vocação que move o mundo

Por Lissânder Dias do Amaral
 
O que nos mantém de pé, mas em movimento? Nosso senso de vocação, de significado proposital no mundo. É descobrir para o que Deus nos chamou. Tal qual um peão que permanece rodando no eixo vertical a partir da força implementada sobre ele, a vocação é esse movimento de rotação que tende a resistir. Quando tal energia é usada de maneira certa pelas razões certas, ela muda o mundo!
 
Como fazer isso acontecer em meio a uma geração normalmente taxada de distraída, imatura e fútil? Como fazer com que os jovens sejam essa força em movimento? 
Entre os evangélicos, há uma série de iniciativas que nos trazem esperança nesse sentido para a juventude. Aliança Bíblica Universitária (ABU), Mocidade para Cristo (MPC) e Cruzada Estudantil (hoje, CRU) são algumas das mais antigas no Brasil. Entre as mais recentes, no entanto, está o Ministério Prisma, que começou em maio de 2020 e alcançou popularidade com publicações reflexivas no Instagram e no YouTube, sem perder a clareza. Para Gabriel Pacheco, um dos fundadores do Prisma, “se o jovem não consegue descobrir sua vocação, é como se ele se sentisse desvinculado de sua fé no cotidiano”. 
 
 
Movimento Vocare
Uma das iniciativas – e talvez a primeira a conseguir unir mais consistentemente os ambientes físico e digital na horizontalidade do voluntariado – é o Movimento Vocare. As primeiras reuniões efetivas começaram no final de 2012, mas o ano “D”, por assim dizer, foi 2014; ano preparatório para o primeiro evento, que aconteceria em 2015 nas dependências da Unicesumar, em Maringá, PR. Não se sabia muito bem o que aconteceria, mas havia uma certeza de que Deus mostraria algo a partir daquele encontro. Cerca de setecentos jovens estavam lá com o coração disposto a ouvir a voz de Deus durante quatro dias. “Experimentamos realidades profundas nestes quatro últimos dias. Verdade, paixão, discernimento, compaixão, convocação, amor... Fomos convidados a mergulhar no chamado de Deus para nós. Somos jovens e não estamos sozinhos!”, dizia a carta escrita em nome dos participantes naquele ano.
 
Desde então, o Movimento Vocare cresceu, se organizou, mobilizou mais voluntários e fortaleceu vínculos com igrejas e agências missionárias. Sobretudo, continuou engajando jovens para a missão de Deus. Até 2023, realizou seis congressos nacionais e quinze regionais (em nove cidades de oito estados brasileiros). Enfrentou os tempos de pandemia com criatividade, promovendo iniciativas virtuais de oração e de solidariedade. Sua liderança – representando agências missionárias ligadas à Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) – entende que os jovens devem continuar conduzindo o movimento, e não os mais velhos. Em meio a um país politicamente polarizado, o Vocare não se esfacelou, mas uniu forças para manter o propósito de ajudar a “conectar o jovem com a missão de Deus”, construindo unidade na diversidade do Corpo de Cristo.
 
Hoje, dez anos depois daquele ano “D”, o Vocare continua sendo um movimento centralizado no voluntariado; continua a oferecer um horizonte amplo da vocação – não apenas a transcultural, e não apenas a local. E, em meio a uma avalanche de informações, continua a trabalhar em parceria com agências e igrejas, unindo pontas entre as necessidades e as oportunidades reais.
 
 
Um jovem longevo
O Movimento Vocare ainda é um “jovem longevo” que, após uma década, se alegra em persistir nos propósitos que Deus o chamou para viver. Ao mesmo tempo, é cercado de desafios, como a sustentabilidade financeira e a suscitação de novos líderes entre os jovens. Mas qual o “segredo” para manter-se vivo? Para Cassiano Luz, um dos fundadores do Vocare, há, pelo menos, três (em suas próprias palavras):
  1.  A relevância e a atualidade do tema. As novas gerações não abrem mão de enxergar claramente um sentido para a vida. Parece que deixamos de “terceirizar” respostas e decisões sobre o que fazer, quando e onde investir nossa vida, e cada indivíduo, mais do que nunca, está atrás delas. 
  2. O Vocare tem características de movimento, mas é uma iniciativa estruturada em sua liderança e gestão. Ele “tem dono”, a AMTB, mas a ampla equipe de coordenação e de trabalho o faz com liberdade e cada um “se sente dono” do Vocare. Esse equilíbrio é hoje um desafio para qualquer organização e iniciativa ministerial.
  3. A fidelidade e a clareza quanto ao propósito. Desde o início, o objetivo do Vocare é “conectar o jovem com a missão de Deus”. A oferta é clara, objetiva, não há espaço para confusão. Todos sabem qual é.
Cassiano acrescenta ainda a pluralidade dos atores como um fator fundamental para a perseverança do movimento. “Iniciativas que promovem a unidade no serviço tendem a ter sucesso”, afirma ele.
 
Como continuar sendo relevante?
O Movimento Vocare olha para sua história e pergunta a Deus: “Como continuar sendo relevante?” Essa e outras perguntas cabem muito bem para qualquer organização ou movimento coletivo. No caso do Vocare, ele resolveu tentar responder da maneira que sempre fez: realizando encontros presenciais. O próximo encontro nacional acontecerá de 30 de maio a 2 de junho de 2024, na Estância Árvore da Vida, em Sumaré, SP.
 
Sim, em meio a uma geração altamente conectada pela tecnologia, o anseio do “olho no olho”, do abraço real, da oração em dupla, do café simples na mesa, do louvor abraçado com o outro, da leitura da Palavra em comunidade, da esperança compartilhada... tudo isso faz parte – é mais do que um apêndice – da caminhada do Vocare. E é provável que seja esse o fator que mantém aquela certeza de que Deus chamou o Vocare à existência.
Talvez – e somente talvez – mais do que transformar o mundo, a vocação tem a principal tarefa de nos manter de pé, impulsionando-nos a continuar em movimento para abençoar outros em nome de Jesus. 
 
Valores do Movimento Vocare
1. Na simplicidade, desprendimento
2. De muitos, um
3. Coragem para inovar
4. De Deus, coadjuvantes
5. Excelência com alegria
6. Para sempre, aprendizes
7. Paixão pelo jovem
 
  • Lissânder Dias do Amaral é jornalista, cronista e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e do Movimento Vocare. É autor de O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas (Editora Ultimato e W4 Editora) e responsável pelo blog Fatos e Correlatos, do Portal Ultimato.

REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
 
Nem bens materiais nem espirituais – vida, família, igreja, recursos, formação, reconhecimento do pecado e da necessidade de Deus, fé, dons – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
 
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
 
É disso que trata a matéria de capa da edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.

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