Opinião
- 25 de novembro de 2016
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A Vitória de Donald Trump prejudicará o testemunho da Igreja
Por Kate Shellnutt
[Christianity Today]
Alguns líderes evangélicos por todo o globo estão preocupados com a possibilidade de que a recente eleição presidencial norte-americana tenha prejudicado o testemunho moral cristão, e que alimentará a discórdia no exterior.
Em uma teleconferência realizada na terça-feira, 15 de novembro, uma semana após a vitória de Donald Trump, mais de 70 líderes ministeriais, pastores e estudiosos falaram com preocupação enquanto debatiam as implicações da eleição norte-americana sobre a igreja global.
A conferência foi organizada por Doug Birdsall, antigo líder do Movimento de Lausanne e da Sociedade Bíblica Norte-Americana, como parte de seu novo grupo, Civilitas. Os participantes incluíam representantes evangélicos da Ásia, Europa e América do Sul, assim como um leque diversificado de líderes eclesiásticos norte-americanos.
“Uma das coisas que os EUA representavam no passado era o caráter e a liderança moral. Nas últimas décadas, isso tem se dissipado lentamente”, disse Hwa Yung, bispo de longo tempo da Igreja Metodista na Malásia. “Nessa eleição vocês produziram dois candidatos, ambos de caráter profundamente falho. A pergunta que os povos no mundo inteiro se fazem é: "É isso que os EUA são hoje?" Essa eleição causou um grande dano à sua representação moral aos olhos do mundo.”
O grupo de líderes globais observou que, à distância, a política norte-americana pode se confundir com as prioridades cristãs, já que a ampla maioria dos norte-americanos evangélicos brancos elegeram o novo presidente.
“Há um grande desapontamento dentro das comunidades cristãs em grande parte da Europa central e oriental, [e] preocupação com a perda de credibilidade do testemunho cristão ̶ especialmente a credibilidade dos evangélicos”, disse Peter Kuzmic, um estudioso evangélico da Croácia. “Se o presidente eleito representa valores cristãos, então esses valores na verdade não significam nada, e a verdade e o caráter estão ausentes.”
Grace Mathews, líder do Movimento de Lausanne baseada em Deli (Índia), disse que a eleição deste ano conflita com a imagem de virtude associada à política norte-americana das décadas anteriores. Embora a igreja norte-americana tenha sido vista como dividida em relação a Trump, os cristãos conservadores contribuíram sim para transmitir sua mensagem. “A credibilidade do testemunho cristão foi prejudicada, devo dizer, porque o que foi declarado não era a verdade”, disse ela.
As preocupações desses líderes não se limitaram à reputação do governo ou da igreja norte-americana. Pelo contrário, eles observaram Trump em relação às questões globais, incluindo governos autocráticos vs governos democráticos e padrões de imigração, como aqueles que levaram ao voto pelo Brexit há alguns meses.
Falando da Europa Oriental, Kuzmic mencionou que não é só Putin que está celebrando a vitória de Trump, mas também os líderes xenofóbicos de extrema direita da Holanda, França e Hungria. “Qual será o dano ao mundo?” ele perguntou. “Essas são tendências antiglobalização aqui na Europa, e agora claramente na política oficial dos Estados Unidos, que nos preocupam como cristãos que amam a liberdade, defendem a democracia e a sociedade pluralista em todo o lugar.”
Especialistas em relações exteriores fizeram observações similares. O jornal The Washington Post observou recentemente:
“A onda populista de 2016 que carregou Trump ao ápice do poder e da influência internacional não se iniciou nos Estados Unidos. E certamente não terminará lá. Pelo contrário, esse é o maior prêmio até agora para um movimento global construído sobre uma reserva aparentemente sem fundo de queixas políticas, econômicas e culturais. E é provável que ele seja um acelerador para ainda mais vitórias de pessoas e causas inclinadas a reverter a ordem mundial existente.”
Falando de um país abalado por sua própria instabilidade política atual, Valdir Steuernagel, teólogo da Aliança Evangélica Mundial (AEM), disse: “As consequências estão aí, e elas são globais. Podemos sentir seus efeitos aqui no Brasil.” Ele disse que seu país dará uma atenção particular à maneira como o processo democrático se sustentará durante a transição.
Na Índia, Mathews observou o apelo hinduísta de Trump, com algumas pessoas exibindo a foto dele até em seus templos, graças à sua promessa de “se encarregar dos muçulmanos”.
Entre uma maioria muçulmana na Malásia ̶ onde “a ameaça do Islamismo radical está viva” ̶ Yung disse acreditar que o mundo seria “um lugar mais perigoso” se Hillary Clinton tivesse sido eleita.
Greg Thompson, estudioso do Instituto para Estudos Avançados em Cultura da Universidade da Virginia, disse que a eleição de Trump representa uma “crise profunda da virtude democrática”.
“Este é um momento extraordinário, em que os norte-americanos ̶ muitos, muitos cristãos conservadores norte-americanos ̶ disseram: "Não nos importamos tanto assim com a virtude pessoal"”, disse ele. “Relacionado a isso está um fracasso geral de empatia. A democracia exige uma imaginação empática ̶ a habilidade tornar seus vizinhos inteligíveis a você e de fazer esse trabalho.”
Vários líderes norte-americanos na conferência reiteraram a necessidade de que os cristãos desafiem sua busca por poder e influência política.
“No passado, os evangélicos se apaixonaram pela possibilidade de mudança social via aquisição de poder, mas agora temos que nos perguntar: "É esse o caminho de Jesus?"” disse Walter Kim, pastor principal da Park Street Church, em Boston.
Da mesma maneira, seu companheiro de pastorado em Boston, pastor John M. Borders III, criticou um padrão dos cristãos ̶ tanto negros quanto brancos ̶ de colocar um significado demasiado nos líderes políticos:
"Esta eleição presidencial infundiu insinuações messiânicas com promessas de um idealismo nacional que são irreais. Acho que colocamos muita responsabilidade sobre nosso presidente aqui nos Estados Unidos. Acho que a igreja negra não fez o suficiente para remover as expectativas messiânicas da presidência de Barack Obama, e me preocupa que os evangélicos brancos cometam o mesmo erro com o presidente eleito, Trump".
Matthew Watley, pastor da Igreja Episcopal Metodista Africana Reid Temple, disse: “Estamos em meio a um barril de pólvora, e oro para que a igreja lidere neste momento; entretanto, tenho sérias preocupações por nossos irmãos e irmãs evangélicos do lado branco conservador, porque eles ainda têm que encontrar sua voz e se levantar para falar contra essas coisas.”
Jo Anne Lyon, antiga líder da Igreja Wesleyana e conselheira da Casa Branca sobre parcerias religiosas, questionou a prevalência da religião civil no discurso norte-americano. “Me pergunto se podemos estar a caminho de uma igreja confessional em oposição a uma igreja nacionalista”, disse ela.
Nas próximas semanas, Birdsall lançará uma síntese da conversa e possíveis passos de ação para os líderes. Como ele disse antes da conferência: “Devemos planejar o caminho em frente em meio a uma sociedade dividida, e a uma igreja dividida. O papel dos evangélicos está sendo cuidadosamente examinado por alguns, e amargamente ridicularizado por muitos, aqui e no mundo inteiro.”
Enquanto isso, os participantes concordaram que o diálogo e a oração sempre ajudam. “É tempo de orar pela reconciliação em nossas famílias cristãs, e também em nosso papel em nossas sociedades”, disse Valdir Steuernagel.
Chritianity Today destacou recentemente uma rodada de respostas de líderes evangélicos norte-americanos sobre a eleição de Trump, assim como mostrou as principais estatísticas explicando como o voto evangélico provavelmente se dividiria.
Tradução: Christiane S. Caetano
> Artigo publicado originalmente Christianity Today, em Gleanings. Publicado e autorizado no Brasil por Cristianismo Hoje.
Leia mais
Os eleitores de Donald Trump são racistas, homofóbicos e xenófobos?
[Christianity Today]
Alguns líderes evangélicos por todo o globo estão preocupados com a possibilidade de que a recente eleição presidencial norte-americana tenha prejudicado o testemunho moral cristão, e que alimentará a discórdia no exterior.
Em uma teleconferência realizada na terça-feira, 15 de novembro, uma semana após a vitória de Donald Trump, mais de 70 líderes ministeriais, pastores e estudiosos falaram com preocupação enquanto debatiam as implicações da eleição norte-americana sobre a igreja global.
A conferência foi organizada por Doug Birdsall, antigo líder do Movimento de Lausanne e da Sociedade Bíblica Norte-Americana, como parte de seu novo grupo, Civilitas. Os participantes incluíam representantes evangélicos da Ásia, Europa e América do Sul, assim como um leque diversificado de líderes eclesiásticos norte-americanos.
“Uma das coisas que os EUA representavam no passado era o caráter e a liderança moral. Nas últimas décadas, isso tem se dissipado lentamente”, disse Hwa Yung, bispo de longo tempo da Igreja Metodista na Malásia. “Nessa eleição vocês produziram dois candidatos, ambos de caráter profundamente falho. A pergunta que os povos no mundo inteiro se fazem é: "É isso que os EUA são hoje?" Essa eleição causou um grande dano à sua representação moral aos olhos do mundo.”
O grupo de líderes globais observou que, à distância, a política norte-americana pode se confundir com as prioridades cristãs, já que a ampla maioria dos norte-americanos evangélicos brancos elegeram o novo presidente.
“Há um grande desapontamento dentro das comunidades cristãs em grande parte da Europa central e oriental, [e] preocupação com a perda de credibilidade do testemunho cristão ̶ especialmente a credibilidade dos evangélicos”, disse Peter Kuzmic, um estudioso evangélico da Croácia. “Se o presidente eleito representa valores cristãos, então esses valores na verdade não significam nada, e a verdade e o caráter estão ausentes.”
Grace Mathews, líder do Movimento de Lausanne baseada em Deli (Índia), disse que a eleição deste ano conflita com a imagem de virtude associada à política norte-americana das décadas anteriores. Embora a igreja norte-americana tenha sido vista como dividida em relação a Trump, os cristãos conservadores contribuíram sim para transmitir sua mensagem. “A credibilidade do testemunho cristão foi prejudicada, devo dizer, porque o que foi declarado não era a verdade”, disse ela.
As preocupações desses líderes não se limitaram à reputação do governo ou da igreja norte-americana. Pelo contrário, eles observaram Trump em relação às questões globais, incluindo governos autocráticos vs governos democráticos e padrões de imigração, como aqueles que levaram ao voto pelo Brexit há alguns meses.
Falando da Europa Oriental, Kuzmic mencionou que não é só Putin que está celebrando a vitória de Trump, mas também os líderes xenofóbicos de extrema direita da Holanda, França e Hungria. “Qual será o dano ao mundo?” ele perguntou. “Essas são tendências antiglobalização aqui na Europa, e agora claramente na política oficial dos Estados Unidos, que nos preocupam como cristãos que amam a liberdade, defendem a democracia e a sociedade pluralista em todo o lugar.”
Especialistas em relações exteriores fizeram observações similares. O jornal The Washington Post observou recentemente:
“A onda populista de 2016 que carregou Trump ao ápice do poder e da influência internacional não se iniciou nos Estados Unidos. E certamente não terminará lá. Pelo contrário, esse é o maior prêmio até agora para um movimento global construído sobre uma reserva aparentemente sem fundo de queixas políticas, econômicas e culturais. E é provável que ele seja um acelerador para ainda mais vitórias de pessoas e causas inclinadas a reverter a ordem mundial existente.”
Falando de um país abalado por sua própria instabilidade política atual, Valdir Steuernagel, teólogo da Aliança Evangélica Mundial (AEM), disse: “As consequências estão aí, e elas são globais. Podemos sentir seus efeitos aqui no Brasil.” Ele disse que seu país dará uma atenção particular à maneira como o processo democrático se sustentará durante a transição.
Na Índia, Mathews observou o apelo hinduísta de Trump, com algumas pessoas exibindo a foto dele até em seus templos, graças à sua promessa de “se encarregar dos muçulmanos”.
Entre uma maioria muçulmana na Malásia ̶ onde “a ameaça do Islamismo radical está viva” ̶ Yung disse acreditar que o mundo seria “um lugar mais perigoso” se Hillary Clinton tivesse sido eleita.
Greg Thompson, estudioso do Instituto para Estudos Avançados em Cultura da Universidade da Virginia, disse que a eleição de Trump representa uma “crise profunda da virtude democrática”.
“Este é um momento extraordinário, em que os norte-americanos ̶ muitos, muitos cristãos conservadores norte-americanos ̶ disseram: "Não nos importamos tanto assim com a virtude pessoal"”, disse ele. “Relacionado a isso está um fracasso geral de empatia. A democracia exige uma imaginação empática ̶ a habilidade tornar seus vizinhos inteligíveis a você e de fazer esse trabalho.”
Vários líderes norte-americanos na conferência reiteraram a necessidade de que os cristãos desafiem sua busca por poder e influência política.
“No passado, os evangélicos se apaixonaram pela possibilidade de mudança social via aquisição de poder, mas agora temos que nos perguntar: "É esse o caminho de Jesus?"” disse Walter Kim, pastor principal da Park Street Church, em Boston.
Da mesma maneira, seu companheiro de pastorado em Boston, pastor John M. Borders III, criticou um padrão dos cristãos ̶ tanto negros quanto brancos ̶ de colocar um significado demasiado nos líderes políticos:
"Esta eleição presidencial infundiu insinuações messiânicas com promessas de um idealismo nacional que são irreais. Acho que colocamos muita responsabilidade sobre nosso presidente aqui nos Estados Unidos. Acho que a igreja negra não fez o suficiente para remover as expectativas messiânicas da presidência de Barack Obama, e me preocupa que os evangélicos brancos cometam o mesmo erro com o presidente eleito, Trump".
Matthew Watley, pastor da Igreja Episcopal Metodista Africana Reid Temple, disse: “Estamos em meio a um barril de pólvora, e oro para que a igreja lidere neste momento; entretanto, tenho sérias preocupações por nossos irmãos e irmãs evangélicos do lado branco conservador, porque eles ainda têm que encontrar sua voz e se levantar para falar contra essas coisas.”
Jo Anne Lyon, antiga líder da Igreja Wesleyana e conselheira da Casa Branca sobre parcerias religiosas, questionou a prevalência da religião civil no discurso norte-americano. “Me pergunto se podemos estar a caminho de uma igreja confessional em oposição a uma igreja nacionalista”, disse ela.
Nas próximas semanas, Birdsall lançará uma síntese da conversa e possíveis passos de ação para os líderes. Como ele disse antes da conferência: “Devemos planejar o caminho em frente em meio a uma sociedade dividida, e a uma igreja dividida. O papel dos evangélicos está sendo cuidadosamente examinado por alguns, e amargamente ridicularizado por muitos, aqui e no mundo inteiro.”
Enquanto isso, os participantes concordaram que o diálogo e a oração sempre ajudam. “É tempo de orar pela reconciliação em nossas famílias cristãs, e também em nosso papel em nossas sociedades”, disse Valdir Steuernagel.
Chritianity Today destacou recentemente uma rodada de respostas de líderes evangélicos norte-americanos sobre a eleição de Trump, assim como mostrou as principais estatísticas explicando como o voto evangélico provavelmente se dividiria.
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