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- 24 de fevereiro de 2011
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A visão pessimista da natureza humana em Dostoievski
Elben César
No final do século passado, o filósofo francês Alain Finkielkraut, autor de "A humanidade perdida: ensaio sobre o século 20", disse que "seria melhor que começássemos o século 21 um pouco mais pessimistas, porque o otimismo já testamos e não deu certo".
A visão pessimista da natureza humana é muito mais sábia do que a visão otimista. E é isso que o escritor russo Fiódor Dostoievski (1821 – 1881) deixa claro em seus mais famosos romances: "Memórias do subsolo" (1865), "Crime e castigo" (1866), "O idiota" (1868), "Os demônios" (1871), e principalmente em "Os irmãos Karamazov" (1880). Este último é considerado por Freud o maior romance escrito. Dostoievski é um dos poucos escritores a fazer uso da palavra pecado. Para ele, "uma das formas mais pecaminosas de enfrentar o pecado é negar a condição pecadora -- o que define o pecado, entre outras formas, é a própria denegação; em outras palavras, a forma mais moralmente errada de enfrentar a condição do mal é não atravessá-la".
Dostoievski nasceu em Moscou, no dia 30 de outubro de 1821, e morreu em São Petersburgo no dia 28 de janeiro de 1881, dois meses depois de completar 59 anos. Foi um vizinho da morte a vida inteira: perdeu a mãe (tuberculosa) aos 16 anos, o pai (assassinado) aos 18, a mulher e o irmão aos 43 anos e o filho Alexei, de três anos, de sua segunda esposa, aos 57. Enfrentou situações muito difíceis. Preso e condenado à morte aos 28 anos por participar de reuniões subversivas, quando já era engenheiro e subtenente do exército, teve na última hora a pena comutada e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Onsk e cinco como soldado raso. Tinha constantes problemas de saúde (crises de epilepsia) e econômicos (dívidas a pagar) e uma fraqueza pelo jogo. Era cristão convicto (Igreja Ortodoxa Russa) e dizia que “a única forma de acesso a Deus era pela metanoia (conversão), portanto, pelo toque do sobrenatural”. A respeito da pessoa de Jesus, Dostoievski afirmava “não haver nada de mais belo, de mais profundo e de mais perfeito do que Cristo”. E acrescentou: “Não só não há nada, mas nem sequer pode haver”. Foi ele quem disse que, “partindo do pressuposto de que Deus não existe, de que a alma é mortal, então tudo é permitido”. É dele esta exortação: “Ame toda a criação de Deus, ela inteira e cada grão de areia nela. Ame cada folha, cada raio de luz de Deus. Se amar tudo, perceberá o mistério divino nas coisas”. O filósofo Friedrich Nietzsche referia-se a Dostoievski como “o único psicólogo com que tenho algo a aprender: ele pertence às inesperadas felicidades da minha vida”.
Vale a pena ler o livro “Crítica e profecia: a filosofia da religião em Dostoievski”, do filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé, que lança muita luz sobre o conceito de natureza humana proposto pelo escritor russo.
No final do século passado, o filósofo francês Alain Finkielkraut, autor de "A humanidade perdida: ensaio sobre o século 20", disse que "seria melhor que começássemos o século 21 um pouco mais pessimistas, porque o otimismo já testamos e não deu certo".
A visão pessimista da natureza humana é muito mais sábia do que a visão otimista. E é isso que o escritor russo Fiódor Dostoievski (1821 – 1881) deixa claro em seus mais famosos romances: "Memórias do subsolo" (1865), "Crime e castigo" (1866), "O idiota" (1868), "Os demônios" (1871), e principalmente em "Os irmãos Karamazov" (1880). Este último é considerado por Freud o maior romance escrito. Dostoievski é um dos poucos escritores a fazer uso da palavra pecado. Para ele, "uma das formas mais pecaminosas de enfrentar o pecado é negar a condição pecadora -- o que define o pecado, entre outras formas, é a própria denegação; em outras palavras, a forma mais moralmente errada de enfrentar a condição do mal é não atravessá-la".
Dostoievski nasceu em Moscou, no dia 30 de outubro de 1821, e morreu em São Petersburgo no dia 28 de janeiro de 1881, dois meses depois de completar 59 anos. Foi um vizinho da morte a vida inteira: perdeu a mãe (tuberculosa) aos 16 anos, o pai (assassinado) aos 18, a mulher e o irmão aos 43 anos e o filho Alexei, de três anos, de sua segunda esposa, aos 57. Enfrentou situações muito difíceis. Preso e condenado à morte aos 28 anos por participar de reuniões subversivas, quando já era engenheiro e subtenente do exército, teve na última hora a pena comutada e passou nove anos na Sibéria, quatro no presídio de Onsk e cinco como soldado raso. Tinha constantes problemas de saúde (crises de epilepsia) e econômicos (dívidas a pagar) e uma fraqueza pelo jogo. Era cristão convicto (Igreja Ortodoxa Russa) e dizia que “a única forma de acesso a Deus era pela metanoia (conversão), portanto, pelo toque do sobrenatural”. A respeito da pessoa de Jesus, Dostoievski afirmava “não haver nada de mais belo, de mais profundo e de mais perfeito do que Cristo”. E acrescentou: “Não só não há nada, mas nem sequer pode haver”. Foi ele quem disse que, “partindo do pressuposto de que Deus não existe, de que a alma é mortal, então tudo é permitido”. É dele esta exortação: “Ame toda a criação de Deus, ela inteira e cada grão de areia nela. Ame cada folha, cada raio de luz de Deus. Se amar tudo, perceberá o mistério divino nas coisas”. O filósofo Friedrich Nietzsche referia-se a Dostoievski como “o único psicólogo com que tenho algo a aprender: ele pertence às inesperadas felicidades da minha vida”.
Vale a pena ler o livro “Crítica e profecia: a filosofia da religião em Dostoievski”, do filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé, que lança muita luz sobre o conceito de natureza humana proposto pelo escritor russo.
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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