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Opinião

A vida interior e as relações humanas: um caminho de redenção para o esteta

Por Thiago Ferreira
 
Diz-se por aí que a pós-modernidade é a sociedade das aparências, um mundo voltado para a exposição midiática, para as novas tecnologias sociais, na qual a experiência da concretude e da segurança de relações sólidas dão espaço para uma constante liquidez. Curiosamente, esse dilema da aparência e superficialidade é, sobretudo, a perda da vida interior, de uma profunda subjetividade que se revela perante o outro, em uma relação substancial entre dois indivíduos. Todavia, na pós-modernidade, vivemos como indivíduos estetas, no plano estético, das aparências.
 
O monge Tomás de Kempis, em A imitação de Cristo, discursa sobre a vida interior, cuja noção funda-se no abandono das vaidades, da opinião e dos prazeres humanos, os quais são efêmeros e não respondem às necessidades da alma, e o acolhimento de Cristo no interior do homem, para ordenação dos afetos e das paixões da alma. A perturbação da alma é a consequência de uma doença interior, que, imergida e escrava na frivolidade das coisas terrenas, a alma é dominada por elas, pelas consolações exteriores, e torna-se fútil e pueril.
 
Esse problema já era anunciado em Confissões de Santo Agostinho, quando este prescreve o caminho para o interior do homem, na busca pelo conhecimento de Deus. O filósofo é aconselhado ao voltar a si mesmo, recolher-se em seu próprio coração, conduzido e auxiliado por Deus, cujo retorno a si mesmo fá-lo apreender uma hierarquia metafísica de bens superiores e inferiores.
 
A vida interior, ademais, é o significado do quarto fechado, evocado pelas palavras do Mestre, a solidão das orações perante o Senhor, cuja vínculo espiritual é o fundamento de um segredo de nosso eu, o qual será revelado na consumação dos tempos: o desnudar de nossa própria identidade. Esta, hoje, é como um mistério que se vê em partes, a qual permanece oculto diante dos homens, um segredo que não pode ser rompido por qualquer intenção humana; permanece, então, a indagação: eis o homem, o que é ele?


 
Se Antoine de Saint-Exupéry evocava que o “só se vê bem com o coração, [pois] o essencial é invisível aos olhos”, o caminho para a profundidade e solidez das relações, contra a imediatez estética, é perpassado pela vida interior, isto é, pela imitação de Cristo e pelo apego do coração às Suas palavras, pois a partir daí há relação entre almas, um vínculo infinito e espiritual.
 
Ofereça ao outro uma alma, uma essência, não a superficialidade de sua existência!
 
“Aquele que avalia as coisas pelo que são, e não pelo juízo e estimação dos outros, este é o verdadeiro sábio, ensinado mais por Deus que pelos homens. Quem sabe andar recolhido dentro de si, e ter em pequena conta as coisas exteriores, não precisa escolher lugar nem aguardar horas para se dar a exercícios de piedade. O homem interior facilmente se recolhe, pois nunca se entrega de todo às coisas exteriores. Não o estorvam trabalhos externos nem ocupações, às vezes necessárias, mas ele se acomoda às circunstâncias, conforme sucedem. Quem tem o interior bem disposto e ordenado não se importa com as façanhas e crimes dos homens. Tanto o homem se embaraça e distrai, quanto se mete nas coisas exteriores.”
(Tomás de Kempis, A Imitação de Cristo, Livro II, cap.1)
  • Thiago Ferreira, membro da Igreja Esperança em Belo Horizonte, líder do Núcleo de Filosofia Cristã/ABC², estudante no Programa Avançado de Tutoria em Teologia do Invisible College e quase formado em Filosofia na UFMG.

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