Opinião
27 de março de 2025
- Visualizações: 98
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
A velhice e a Bíblia
Ao voltar-se para a Bíblia, o leitor se surpreenderá com a abrangência na abordagem do envelhecimento humano
Por Wilson Nunes
O famoso escritor C.S. Lewis menciona sua convicção no cristianismo declarando que acreditava no cristianismo como acreditava no sol que se levantava, não apenas porque via o sol, mas porque podia ver todas as outras coisas através da luz irradiada por ele. Para C. S. Lewis o cristianismo proporcionava essa forma abrangente ou transcendente de ver o mundo.
Semelhantemente, penso que o gerontólogo ao voltar-se para a Bíblia expondo-se à sua luz se surpreenderá com a abrangência e a atualidade da literatura bíblica na abordagem do tema do envelhecimento humano. Neste sentido, apresentando o tema da velhice na perspectiva do Antigo e do Novo Testamento formulamos expectativas de oferecer uma contribuição ímpar para os estudos científicos além de um incentivo ao compromisso de garantir às pessoas idosas condição de vida mais humana em uma sociedade de contínua e rápida transformação. Nossa reflexão acerca da velhice a partir da literatura bíblica nos permitiram pontuar três ordens de conteúdos cujas especificidades discorremos a seguir.
Concepções bíblicas acerca das pessoas idosas
Para o povo de Israel, a vida longa era vista mais como benção do que como carga. Chegar à velhice era considerado como recompensa pela piedade, um sinal do favor divino. "[...] e nunca se desvie do caminho que ele lhe mostra. Assim tudo correrá bem para todos vocês, e viverão muitos anos na terra que vão possuir" (Dt 5.33)."Mais uma vez os velhinhos e as velhinhas, com as suas bengalas na mão, vão se sentar nas praças de Jerusalém" (Zc 8.4). A velhice era considerada parte geral do propósito de Deus para uma vida normal. Longe de ser vista como uma situação atípica ou como um simples acidente, ela é enfatizada como algo a se esperar da parte de Deus, é como se Deus mesmo conspirasse por uma vida longa para todos os indivíduos. O patriarca Abraão é um modelo e sua longevidade foi considerada como sinal de benção divina. "Abraão viveu cento e setenta e cinco anos. Ele morreu bem velho e foi reunir-se com os seus antepassados no mundo dos mortos" (Gn 29.26, 28). A velhice também tinha a sua própria glória e dignidade. As Escrituras enfatizam a beleza da velhice ao valorizar o idoso cuja experiência acumulada e sabedoria são fonte de riqueza humana para todas as pessoas. "A beleza dos jovens está na sua força, e o enfeite dos velhos são os seus cabelos brancos" (Pv 20.29). "Uma vida longa é a recompensa das pessoas piedosas; os seus cabelos brancos são uma coroa de glória" (Pv 16.31). A velhice, em vez de descartável, é vista como tempo de frutificar e produzir. Provavelmente a lição mais útil, derivada deste estudo, seja o fato de a Bíblia considerar a velhice como uma fase altamente produtiva. Mais uma vez as palavras das Escrituras nos instruem, mostrando que o poder de Deus pode ser revelado na velhice, mesmo ao indivíduo vivendo em meio às limitações e dificuldades. Quando a vida se torna mais difícil e sente mais fraco, os idosos têm razão para sentir que eles são instrumentos úteis nas mãos do Seu Criador e que podem, mesmo na velhice, tornarem-se produtivos e frutíferos em suas vidas. "Na velhice essas pessoas ainda produzirão frutos; estarão sempre fortes e cheias de vida, dispostas a anunciar que o Eterno é justo" (Sl.92 15). Moisés guiou o povo de Israel pelo deserto dos 80 aos 120 anos. Bate-Seba, em sua velhice, participou do reinado junto com o seu filho Salomão (IRe.2 19) e, Ana, “[...] avançada em dias, falava ao povo sobre as consolações de Israel “ (Lc.2 36-38).
Vê-se, portanto, que o envelhecimento não precisa ser reputado de modo tão negativo ou como um castigo que aguarda o homem no futuro. Essa era a opinião dos intelectuais gregos e de muitos nos dias atuais, mas a opinião da Bíblia é que a velhice é benção de Deus, e uma fase que pode ser construtiva e repleta de realizações. Todavia, a literatura bíblica não ignora as perdas e as dores que podem acompanhar o envelhecimento. A Bíblia revela que não devemos ter ilusões sobre esta fase da vida, ela lembra que a vida passa como uma brisa, mas nem sempre uma brisa suave ou uma brisa que é indolor. "[...]nossa vida termina como um sopro. Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta; mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos" (Sl. 90 10). Como acontece nos dias de hoje, também naquele tempo, a velhice operava um desgaste no organismo do homem. Era comum aos idosos daquela época sofrerem muitas perdas e declínios em suas vidas. A velhice ao promover perdas, podia ser percebida como "dias maus”. "Lembre-se do seu Criador antes que venham os dias maus, e cheguem os anos em que você dirá: Não tenho mais prazer na vida" (Ec.12 1). Este texto de Eclesiastes é uma advertência aos jovens para começar a se preparem para a velhice. Isto é um toque bíblico muito atual, pois, nos nossos dias a prevenção médica é vista como uma proteção para muitos problemas da velhice. O texto ainda descreve com muito realismo algumas perdas físicas que acompanham a velhice: Perda da visão "Lembre-se dele antes que chegue o tempo em que você achará que a luz do sol, da lua e das estrelas perdeu o seu brilho e que as nuvens nunca vão embora" (Ec 12.2), "A sua visão ficará tão fraca, que você não poderá mais ver as coisas claramente" (Ec 12.3c); tremor nas mãos e pernas fracas "Então os seus braços, que sempre o defenderam, começarão a tremer, e as suas pernas, que agora são fortes, ficarão fracas" (Ec 12.3a); perda dos dentes "Os seus dentes cairão, e sobrarão tão poucos, que você não conseguirá mastigar a sua comida" (Ec 12.3b); perda de audição "Você ficará surdo e não poderá ouvir o barulho da rua. Você quase não conseguirá ouvir o moinho moendo ou a música tocando."(Ec 12.4a); dormir menos "E levantará cedo, quando os passarinhos começam a cantar" (Ec 12.4b); terá mais fobias "Então você terá medo de lugares altos, e até caminhar será perigoso" (Ec 12.5a); perda do paladar "Os seus cabelos ficarão brancos, e você perderá o gosto pelas coisas" (Ec 12.5b).
Leis que garantiam o respeito às pessoas idosas
Nos tempos bíblicos os anciãos gozavam de grande importância. Era comum atribuir a eles a autoridade para orientar, ou liderar tanto grupos políticos, religiosos como também famílias. A lei judaica sempre exigiu grande respeito pelos idosos e impunha à família e à sociedade a responsabilidade moral de cuidar de seus membros idosos e de tratá-los com máxima dignidade e valor. Aos idosos é garantida a honra e o respeito: "Respeite o seu pai e a sua mãe para que você viva muito tempo na terra que estou lhe dando" (Ex 20.12); "Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito; e honrem a mim, o Deus de vocês. Eu sou o Deus Eterno" (Lv. 9.32); "Escute o seu pai, pois você lhe deve a vida; e não despreze a sua mãe quando ela envelhecer" (Pv 23.22); "Não repreenda um homem mais velho, mas o aconselhe como se ele fosse o seu pai" (1Tm 5.1).
A dimensão cristã vai propor à Igreja uma ação contínua em prol da pessoa idosa (At 6.1-3). Amar e respeitar o ancião na história do Novo Testamento era questão de princípio e honra (Tg 1.27; 2.1,8,9). Também não se pode deixar de notar a preocupação de Deus para com os idosos registrada nas seguintes referências (Is 46.4; Ex 22.22; Is 1.17; Zc 7.10).
Os deveres das pessoas idosas
Os anciãos eram considerados os mais sábios e consequentemente os mais capacitados a assumir funções de liderança nas instituições. Não há dúvida de que se preservou esse respeito pelos idosos, mas isso não queria dizer que se devotasse uma obediência cega aos mais velhos. A ênfase bíblica recaía mais na qualidade de caráter, o fator importante era a moral, e não a idade. "Diga aos mais velhos que sejam moderados, sérios, prudentes e firmes na fé, no amor e na perseverança. Diga também às mulheres mais idosas que vivam como pessoas que têm vida santa. Que elas não sejam caluniadoras nem escravas do vinho. Que ensinem o que é bom, para que a mulheres mais jovens aprendam a amar os seus maridos e filhos" (Tt 2.2-4). As pessoas idosas eram consideradas responsáveis para servirem de elo com as gerações futuras repassando as lições aprendidas. "Tu tens me ensinado desde a minha mocidade, e eu continuo a falar das coisas maravilhosas que fazes. Ó Deus, não me abandones agora que estou velho e de cabelos brancos. Fica comigo enquanto anuncio o teu poder e a tua força a este povo e aos seus descendentes" (Sl 71.17-18).
Para a literatura bíblica a velhice é, portanto, o período em que homens e mulheres devem fazer a colheita da experiência de toda a sua vida, fazer um balanço entre o que é essencial e o que é supérfluo e alcançar o nível de grande sabedoria e serenidade. É também o período em que podem realizar um relevante papel na sociedade: deixar um legado. Todas as pessoas idosas estão passando um legado à geração seguinte. Legado espiritual, emocional e social passam de pai para filho, bom ou mal. Se é verdade que o homem vive sob a herança dos que o precederam e que seu futuro depende definitivamente dos valores dos mais velhos, então a sabedoria e a experiência dos idosos podem iluminar os passos das gerações mais jovens no caminho do progresso em direção a uma forma cada vez mais completa de civilização. Entender o valor de um legado deixado a outros, olhar para frente e saber que se pode influenciar o futuro é o grande papel dado a todas as pessoas idosas. Há em nós um sentimento de que há mais para esta vida do que viver e morrer, ansiamos por algo mais, queremos saber de onde viemos, para onde vamos e onde nos encontramos nesse grande projeto da existência. Ora, não seria uma grande riqueza quando é colocado em nossas vidas uma pessoa idosa que pode aliviar o peso destas questões oferecendo sábias respostas? Sem dúvida, este é o forte legado e a grande herança que que as pessoas idosas devem estender e a todos abençoar. A Bíblia escreve este plano: “Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus mas lhe observassem os mandamentos [...]” (Sl 78.5-7).
Concluindo, ao examinarmos o tema da velhice no contexto bíblico, do ponto de vista do Antigo e Novo Testamento, podemos inferir diversas referências importantes e esclarecedoras em relação ao envelhecimento humano. A luz irradiada pelas Escrituras sobre os diversos temas relativos à velhice poderá contribuir para uma visualização mais clara do “quadro completo” dessa realidade. Acreditamos que palestras, debates, eventos e todo e qualquer tema gerontológicos jamais seria o mesmo depois de serem abordados pelo viés bíblico com a devida aplicação da cosmovisão cristã. Dessa perspectiva, o resgate da literatura bíblica e dos seus ensinamentos relativos ao envelhecimento se tornam cruciais para o avanço da ciência gerontológica em seu intuito de oferecer uma visão mais humana e, por conseguinte, uma visão acerca do tipo de ambiente social mais propício que desejamos viver.
Artigo publicado na edição 006 da Revista Virtual Médicos de Cristo. Reproduzido com permissão.
Imagem: Unsplash.
REVISTA ULTIMATO – COMO VIVEM OS QUE TÊM ESPERANÇA
Com a matéria “Como vivem os que têm esperança”, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que têm esperança atrai outros para a Esperança. Quer lembrar que a comunidade dos que têm esperança deve ser uma ponte para aqueles que “passam por necessidades, cuja esperança para o futuro não é sustentada pela experiência de bênção no passado, que não conheceram cura, ou fé, ou prosperidade e que não têm esperança”.
É disso que trata a matéria de capa da edição 412 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho. E Daí?, Kléos Magalhães Lenz César
» Envelhecemos - A arte de continuar, edição 404 de Ultimato
Por Wilson Nunes

Semelhantemente, penso que o gerontólogo ao voltar-se para a Bíblia expondo-se à sua luz se surpreenderá com a abrangência e a atualidade da literatura bíblica na abordagem do tema do envelhecimento humano. Neste sentido, apresentando o tema da velhice na perspectiva do Antigo e do Novo Testamento formulamos expectativas de oferecer uma contribuição ímpar para os estudos científicos além de um incentivo ao compromisso de garantir às pessoas idosas condição de vida mais humana em uma sociedade de contínua e rápida transformação. Nossa reflexão acerca da velhice a partir da literatura bíblica nos permitiram pontuar três ordens de conteúdos cujas especificidades discorremos a seguir.
Concepções bíblicas acerca das pessoas idosas
Para o povo de Israel, a vida longa era vista mais como benção do que como carga. Chegar à velhice era considerado como recompensa pela piedade, um sinal do favor divino. "[...] e nunca se desvie do caminho que ele lhe mostra. Assim tudo correrá bem para todos vocês, e viverão muitos anos na terra que vão possuir" (Dt 5.33)."Mais uma vez os velhinhos e as velhinhas, com as suas bengalas na mão, vão se sentar nas praças de Jerusalém" (Zc 8.4). A velhice era considerada parte geral do propósito de Deus para uma vida normal. Longe de ser vista como uma situação atípica ou como um simples acidente, ela é enfatizada como algo a se esperar da parte de Deus, é como se Deus mesmo conspirasse por uma vida longa para todos os indivíduos. O patriarca Abraão é um modelo e sua longevidade foi considerada como sinal de benção divina. "Abraão viveu cento e setenta e cinco anos. Ele morreu bem velho e foi reunir-se com os seus antepassados no mundo dos mortos" (Gn 29.26, 28). A velhice também tinha a sua própria glória e dignidade. As Escrituras enfatizam a beleza da velhice ao valorizar o idoso cuja experiência acumulada e sabedoria são fonte de riqueza humana para todas as pessoas. "A beleza dos jovens está na sua força, e o enfeite dos velhos são os seus cabelos brancos" (Pv 20.29). "Uma vida longa é a recompensa das pessoas piedosas; os seus cabelos brancos são uma coroa de glória" (Pv 16.31). A velhice, em vez de descartável, é vista como tempo de frutificar e produzir. Provavelmente a lição mais útil, derivada deste estudo, seja o fato de a Bíblia considerar a velhice como uma fase altamente produtiva. Mais uma vez as palavras das Escrituras nos instruem, mostrando que o poder de Deus pode ser revelado na velhice, mesmo ao indivíduo vivendo em meio às limitações e dificuldades. Quando a vida se torna mais difícil e sente mais fraco, os idosos têm razão para sentir que eles são instrumentos úteis nas mãos do Seu Criador e que podem, mesmo na velhice, tornarem-se produtivos e frutíferos em suas vidas. "Na velhice essas pessoas ainda produzirão frutos; estarão sempre fortes e cheias de vida, dispostas a anunciar que o Eterno é justo" (Sl.92 15). Moisés guiou o povo de Israel pelo deserto dos 80 aos 120 anos. Bate-Seba, em sua velhice, participou do reinado junto com o seu filho Salomão (IRe.2 19) e, Ana, “[...] avançada em dias, falava ao povo sobre as consolações de Israel “ (Lc.2 36-38).
Vê-se, portanto, que o envelhecimento não precisa ser reputado de modo tão negativo ou como um castigo que aguarda o homem no futuro. Essa era a opinião dos intelectuais gregos e de muitos nos dias atuais, mas a opinião da Bíblia é que a velhice é benção de Deus, e uma fase que pode ser construtiva e repleta de realizações. Todavia, a literatura bíblica não ignora as perdas e as dores que podem acompanhar o envelhecimento. A Bíblia revela que não devemos ter ilusões sobre esta fase da vida, ela lembra que a vida passa como uma brisa, mas nem sempre uma brisa suave ou uma brisa que é indolor. "[...]nossa vida termina como um sopro. Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta; mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos" (Sl. 90 10). Como acontece nos dias de hoje, também naquele tempo, a velhice operava um desgaste no organismo do homem. Era comum aos idosos daquela época sofrerem muitas perdas e declínios em suas vidas. A velhice ao promover perdas, podia ser percebida como "dias maus”. "Lembre-se do seu Criador antes que venham os dias maus, e cheguem os anos em que você dirá: Não tenho mais prazer na vida" (Ec.12 1). Este texto de Eclesiastes é uma advertência aos jovens para começar a se preparem para a velhice. Isto é um toque bíblico muito atual, pois, nos nossos dias a prevenção médica é vista como uma proteção para muitos problemas da velhice. O texto ainda descreve com muito realismo algumas perdas físicas que acompanham a velhice: Perda da visão "Lembre-se dele antes que chegue o tempo em que você achará que a luz do sol, da lua e das estrelas perdeu o seu brilho e que as nuvens nunca vão embora" (Ec 12.2), "A sua visão ficará tão fraca, que você não poderá mais ver as coisas claramente" (Ec 12.3c); tremor nas mãos e pernas fracas "Então os seus braços, que sempre o defenderam, começarão a tremer, e as suas pernas, que agora são fortes, ficarão fracas" (Ec 12.3a); perda dos dentes "Os seus dentes cairão, e sobrarão tão poucos, que você não conseguirá mastigar a sua comida" (Ec 12.3b); perda de audição "Você ficará surdo e não poderá ouvir o barulho da rua. Você quase não conseguirá ouvir o moinho moendo ou a música tocando."(Ec 12.4a); dormir menos "E levantará cedo, quando os passarinhos começam a cantar" (Ec 12.4b); terá mais fobias "Então você terá medo de lugares altos, e até caminhar será perigoso" (Ec 12.5a); perda do paladar "Os seus cabelos ficarão brancos, e você perderá o gosto pelas coisas" (Ec 12.5b).
Leis que garantiam o respeito às pessoas idosas
Nos tempos bíblicos os anciãos gozavam de grande importância. Era comum atribuir a eles a autoridade para orientar, ou liderar tanto grupos políticos, religiosos como também famílias. A lei judaica sempre exigiu grande respeito pelos idosos e impunha à família e à sociedade a responsabilidade moral de cuidar de seus membros idosos e de tratá-los com máxima dignidade e valor. Aos idosos é garantida a honra e o respeito: "Respeite o seu pai e a sua mãe para que você viva muito tempo na terra que estou lhe dando" (Ex 20.12); "Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito; e honrem a mim, o Deus de vocês. Eu sou o Deus Eterno" (Lv. 9.32); "Escute o seu pai, pois você lhe deve a vida; e não despreze a sua mãe quando ela envelhecer" (Pv 23.22); "Não repreenda um homem mais velho, mas o aconselhe como se ele fosse o seu pai" (1Tm 5.1).
A dimensão cristã vai propor à Igreja uma ação contínua em prol da pessoa idosa (At 6.1-3). Amar e respeitar o ancião na história do Novo Testamento era questão de princípio e honra (Tg 1.27; 2.1,8,9). Também não se pode deixar de notar a preocupação de Deus para com os idosos registrada nas seguintes referências (Is 46.4; Ex 22.22; Is 1.17; Zc 7.10).
Os deveres das pessoas idosas
Os anciãos eram considerados os mais sábios e consequentemente os mais capacitados a assumir funções de liderança nas instituições. Não há dúvida de que se preservou esse respeito pelos idosos, mas isso não queria dizer que se devotasse uma obediência cega aos mais velhos. A ênfase bíblica recaía mais na qualidade de caráter, o fator importante era a moral, e não a idade. "Diga aos mais velhos que sejam moderados, sérios, prudentes e firmes na fé, no amor e na perseverança. Diga também às mulheres mais idosas que vivam como pessoas que têm vida santa. Que elas não sejam caluniadoras nem escravas do vinho. Que ensinem o que é bom, para que a mulheres mais jovens aprendam a amar os seus maridos e filhos" (Tt 2.2-4). As pessoas idosas eram consideradas responsáveis para servirem de elo com as gerações futuras repassando as lições aprendidas. "Tu tens me ensinado desde a minha mocidade, e eu continuo a falar das coisas maravilhosas que fazes. Ó Deus, não me abandones agora que estou velho e de cabelos brancos. Fica comigo enquanto anuncio o teu poder e a tua força a este povo e aos seus descendentes" (Sl 71.17-18).
Para a literatura bíblica a velhice é, portanto, o período em que homens e mulheres devem fazer a colheita da experiência de toda a sua vida, fazer um balanço entre o que é essencial e o que é supérfluo e alcançar o nível de grande sabedoria e serenidade. É também o período em que podem realizar um relevante papel na sociedade: deixar um legado. Todas as pessoas idosas estão passando um legado à geração seguinte. Legado espiritual, emocional e social passam de pai para filho, bom ou mal. Se é verdade que o homem vive sob a herança dos que o precederam e que seu futuro depende definitivamente dos valores dos mais velhos, então a sabedoria e a experiência dos idosos podem iluminar os passos das gerações mais jovens no caminho do progresso em direção a uma forma cada vez mais completa de civilização. Entender o valor de um legado deixado a outros, olhar para frente e saber que se pode influenciar o futuro é o grande papel dado a todas as pessoas idosas. Há em nós um sentimento de que há mais para esta vida do que viver e morrer, ansiamos por algo mais, queremos saber de onde viemos, para onde vamos e onde nos encontramos nesse grande projeto da existência. Ora, não seria uma grande riqueza quando é colocado em nossas vidas uma pessoa idosa que pode aliviar o peso destas questões oferecendo sábias respostas? Sem dúvida, este é o forte legado e a grande herança que que as pessoas idosas devem estender e a todos abençoar. A Bíblia escreve este plano: “Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus mas lhe observassem os mandamentos [...]” (Sl 78.5-7).
Concluindo, ao examinarmos o tema da velhice no contexto bíblico, do ponto de vista do Antigo e Novo Testamento, podemos inferir diversas referências importantes e esclarecedoras em relação ao envelhecimento humano. A luz irradiada pelas Escrituras sobre os diversos temas relativos à velhice poderá contribuir para uma visualização mais clara do “quadro completo” dessa realidade. Acreditamos que palestras, debates, eventos e todo e qualquer tema gerontológicos jamais seria o mesmo depois de serem abordados pelo viés bíblico com a devida aplicação da cosmovisão cristã. Dessa perspectiva, o resgate da literatura bíblica e dos seus ensinamentos relativos ao envelhecimento se tornam cruciais para o avanço da ciência gerontológica em seu intuito de oferecer uma visão mais humana e, por conseguinte, uma visão acerca do tipo de ambiente social mais propício que desejamos viver.
- Wilson Nunes, mestre em gerontologia pela Universidade Católica de Brasília e professor do curso de medicina da UNIEVANGÉLICA – Anápolis, GO. Ministro em júbilo da Igreja Cristã Evangélica do Brasil.
Artigo publicado na edição 006 da Revista Virtual Médicos de Cristo. Reproduzido com permissão.
Imagem: Unsplash.

Com a matéria “Como vivem os que têm esperança”, Ultimato quer colocar Cristo no centro e enfatizar que a vida dos que têm esperança atrai outros para a Esperança. Quer lembrar que a comunidade dos que têm esperança deve ser uma ponte para aqueles que “passam por necessidades, cuja esperança para o futuro não é sustentada pela experiência de bênção no passado, que não conheceram cura, ou fé, ou prosperidade e que não têm esperança”.
É disso que trata a matéria de capa da edição 412 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Aprender a Envelhecer, Paul Tournier
» Fui Moço, Agora Sou Velho. E Daí?, Kléos Magalhães Lenz César
» Envelhecemos - A arte de continuar, edição 404 de Ultimato
27 de março de 2025
- Visualizações: 98
comente!
- +A
- -A
-
compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.

Leia mais em Opinião

Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Sessenta +
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- A explosão das bets e a implosão do cuidado
- O fenômeno das bets
- Diálogos de Esperança: após 5 anos da pandemia, projeto lança nova temporada
- O Peregrino, clássico de John Bunyan, ganha versão em cordel
- Oportunidades para março e abril de 2025
- Vem aí mais uma edição do retiro SEPAL para pastores e líderes
- Há esperança de êxito na criação de nossos filhos hoje?
- Jesus, as mulheres e a escuta verdadeira
- Projeto Antenas: RTM busca rádios parceiras para ampliar transmissão de programas pelo Brasil
- A gratidão mata a ansiedade