Opinião
- 03 de julho de 2008
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A urbanização no Brasil e os ministérios alternativos
Marcos Orison
Falar do Brasil como um país urbanizado é usar de maneira simplista um dado estatítico que aponta para a alta concentração da população nas cidades em detrimento do campo. O processo que levou a isso teve o seu grande efeito após a década de 70, ou seja, é algo ainda muito recente. O processo de urbanização não se refere apenas ao dado populacional, uma vez que afeta a configuração social de forma complexa. A vida na cidade envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, psicológicos e outros que compõem o dia-a-dia das pessoas. Poderíamos pensar a partir de uma perspectiva filosófica ontológica, ou seja, procurar analisar o “ser” urbano. Surge, porém, um problema metodológico, pois a urbanização afeta as pessoas de maneira diferente. Especificamente, a urbanização afeta ricos e pobres de maneira bem diferente. Aquilo que parece ser comum, o espaço urbano, interfere de modo diverso sobre a vida de cada um dos grupos sociais. Dessa forma, afirmar que o Brasil é urbanizado não significa, como muitos poderiam pensar, que somos um país desenvolvido, principalmente no sentido da condição de vida humana.
Partindo da definição da cidade como a aglomeração de pessoas em uma área geográfica reduzida, passamos a nos questionar sobre as seguintes problemáticas: Onde as pessoas irão morar? Onde irão trabalhar ou como irão se sustentar? Como irão se deslocar? Onde irão estudar? Com base nessas preocupações percebemos os problemas urbanos e seus desdobramentos. Entretanto, enquanto a camada pobre se preocupa com aspectos básicos de sobrevivência, a camada rica se preocupa com aspectos referentes ao conforto e à segurança que promovam a manutenção de seu status.
É impossível falarmos de urbanização sem levar em consideração a economia. O processo milenar inicial do fenômeno urbano nasceu do domínio de tecnologias que promoveram o excesso da produção e a abertura de possibilidade para o ócio criativo. Hoje, a urbanização está obviamente ligada ao domínio de novas tecnologias mas como fator resultante do sistema econômico global capitalista. Esse tipo de sistema é, por princípio, gerador de relações auto-excludentes. Daí o aumento do distanciamento social entre ricos e pobres e o impacto diferenciado do modo de vida urbano sobre essas camadas.
A começar pelo caótico processo histórico da urbanização brasileira, observamos a falta de planejamento e de capacidade para atender as demandas do fluxo migratório que acompanharam as mudanças econômicas. Desde a libertação dos ecravos, passando pela Belle Époque, o ciclo cafeeiro, a industrialização, o milagre brasileiro, a década perdida até os dias atuais, as cidades sofrem de males acumulativos. Como toda a transformação econômica e social foi patrocinada pelas elites acabou sobrando, para os marginalizados, os revéses.
Analisando o processo a partir de uma ótica cristã, somos obrigados a, no mínimo, refletir sobre o papel da igreja no ambiente urbano. Sei dos riscos que corremos quando focamos nossa antenção nos pobres e marginalizados. A chamada opção preferencial pelos pobres faz parte da agenda dos teólogos da libertação, via de regra, mal vistos no meio evangélico. Deixando de lado a questão teológica ou ideológica, a preocupação com essa camada social possui, pelo menos, algumas justificativas simples como o fato de representar a maioria da população que, na maior parte das vezes, vive em condições subumanas, além de carecer ser tratada com justiça e equidade. A Bíblia é clara ao mostrar Deus como o principal representante interessado pela causa dos pobres, deprovidos ou marginalizados. As expressões comumente usadas para apresentar essa camada social na Palavra de Deus são órfão, viúva e estrangeiro (Dt 10.17-18; Is 1.17).
Nossa maior barreira ao focar a atenção, como igreja, nos desafios que os centros urbanos apresentam aos mais carentes está, talvez, no fato de sermos, de alguma forma, participantes do grupo formador de opinião ligado à elite social, mesmo que encaixados na chamada classe média. Meu objetivo é abrir nossos olhos quanto à responsabilidade de sermos, por vocação, os defensores dos direitos dos que estão à margem da sociedade e os principais promotores da justiça e do Reino de Deus na terra. Leia o texto na íntegra.
• Marcos Orison é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Diretor Executivo da ACESA, mantenedora da Faculdade Teológica Sul Americana em Londrina, professor nas áreas de Teologia Prática e Teologia Sistemática. Desenvolve pesquisas nas áreas de Missão Integral, Missão Urbana e Liturgia.
Falar do Brasil como um país urbanizado é usar de maneira simplista um dado estatítico que aponta para a alta concentração da população nas cidades em detrimento do campo. O processo que levou a isso teve o seu grande efeito após a década de 70, ou seja, é algo ainda muito recente. O processo de urbanização não se refere apenas ao dado populacional, uma vez que afeta a configuração social de forma complexa. A vida na cidade envolve aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, psicológicos e outros que compõem o dia-a-dia das pessoas. Poderíamos pensar a partir de uma perspectiva filosófica ontológica, ou seja, procurar analisar o “ser” urbano. Surge, porém, um problema metodológico, pois a urbanização afeta as pessoas de maneira diferente. Especificamente, a urbanização afeta ricos e pobres de maneira bem diferente. Aquilo que parece ser comum, o espaço urbano, interfere de modo diverso sobre a vida de cada um dos grupos sociais. Dessa forma, afirmar que o Brasil é urbanizado não significa, como muitos poderiam pensar, que somos um país desenvolvido, principalmente no sentido da condição de vida humana.
Partindo da definição da cidade como a aglomeração de pessoas em uma área geográfica reduzida, passamos a nos questionar sobre as seguintes problemáticas: Onde as pessoas irão morar? Onde irão trabalhar ou como irão se sustentar? Como irão se deslocar? Onde irão estudar? Com base nessas preocupações percebemos os problemas urbanos e seus desdobramentos. Entretanto, enquanto a camada pobre se preocupa com aspectos básicos de sobrevivência, a camada rica se preocupa com aspectos referentes ao conforto e à segurança que promovam a manutenção de seu status.
É impossível falarmos de urbanização sem levar em consideração a economia. O processo milenar inicial do fenômeno urbano nasceu do domínio de tecnologias que promoveram o excesso da produção e a abertura de possibilidade para o ócio criativo. Hoje, a urbanização está obviamente ligada ao domínio de novas tecnologias mas como fator resultante do sistema econômico global capitalista. Esse tipo de sistema é, por princípio, gerador de relações auto-excludentes. Daí o aumento do distanciamento social entre ricos e pobres e o impacto diferenciado do modo de vida urbano sobre essas camadas.
A começar pelo caótico processo histórico da urbanização brasileira, observamos a falta de planejamento e de capacidade para atender as demandas do fluxo migratório que acompanharam as mudanças econômicas. Desde a libertação dos ecravos, passando pela Belle Époque, o ciclo cafeeiro, a industrialização, o milagre brasileiro, a década perdida até os dias atuais, as cidades sofrem de males acumulativos. Como toda a transformação econômica e social foi patrocinada pelas elites acabou sobrando, para os marginalizados, os revéses.
Analisando o processo a partir de uma ótica cristã, somos obrigados a, no mínimo, refletir sobre o papel da igreja no ambiente urbano. Sei dos riscos que corremos quando focamos nossa antenção nos pobres e marginalizados. A chamada opção preferencial pelos pobres faz parte da agenda dos teólogos da libertação, via de regra, mal vistos no meio evangélico. Deixando de lado a questão teológica ou ideológica, a preocupação com essa camada social possui, pelo menos, algumas justificativas simples como o fato de representar a maioria da população que, na maior parte das vezes, vive em condições subumanas, além de carecer ser tratada com justiça e equidade. A Bíblia é clara ao mostrar Deus como o principal representante interessado pela causa dos pobres, deprovidos ou marginalizados. As expressões comumente usadas para apresentar essa camada social na Palavra de Deus são órfão, viúva e estrangeiro (Dt 10.17-18; Is 1.17).
Nossa maior barreira ao focar a atenção, como igreja, nos desafios que os centros urbanos apresentam aos mais carentes está, talvez, no fato de sermos, de alguma forma, participantes do grupo formador de opinião ligado à elite social, mesmo que encaixados na chamada classe média. Meu objetivo é abrir nossos olhos quanto à responsabilidade de sermos, por vocação, os defensores dos direitos dos que estão à margem da sociedade e os principais promotores da justiça e do Reino de Deus na terra. Leia o texto na íntegra.
• Marcos Orison é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Diretor Executivo da ACESA, mantenedora da Faculdade Teológica Sul Americana em Londrina, professor nas áreas de Teologia Prática e Teologia Sistemática. Desenvolve pesquisas nas áreas de Missão Integral, Missão Urbana e Liturgia.
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