Opinião
- 07 de novembro de 2014
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A tragédia de um reino dividido
As eleições desmontaram alguns mitos nacionais. Primeiro, a ideia de que "política não se discute" ruiu. A população sentiu-se motivada a participar das discussões acerca dos rumos do país e dos estados (ainda que de modo mais restrito à esfera do executivo, com pouca reflexão pertinente quanto às casas legislativas). Talvez o espaço proporcionado pelas redes sociais tenha estimulado a maior inserção no debate, apesar de evidenciar um certo analfabetismo político. Segundo, a imagem do brasileiro pacífico e cordato foi desconstruída, dada a virulência verborrágica estampada nas redes sociais. Esta virulência às vezes transbordou do mundo virtual para confronto interpessoal agressivo.
O embate de ideias e perspectivas diversas no período eleitoral deixaram alguns hematomas e sequelas nos relacionamentos, que agora precisam ser curados e superados. O valor da democracia está em permitir a exposição livre de pontos de vista diversos e as escolhas de caminhos, segundo o discernimento da maioria. Ainda é preciso, entretanto, aprendizado e amadurecimento na vivência democrática, especialmente para ouvir a pluralidade de perspectivas dos outros e, no respeito às urnas, acolher os resultados. Tendo sido feita a escolha dos governantes e legisladores, é hora de aceitar a opção do povo e seguir em frente, para cooperar na construção dum futuro melhor para todos. Há os meios e modos constitucionais, democráticos e razoáveis para eventualmente discordar, sem sabotar a democracia.
A unidade dum povo (não a uniformidade) é uma força poderosa para a consolidação de qualquer plano, seja para um grupo ou organização, e mais ainda para a construção de um programa para a nação. Todos sabem que “reinos” e Estados divididos entre si não subsistem. Divisões políticas só servem para enfraquecimento e autodestruição de um Estado ou de uma Nação. Divisões radicais, em geral, favorecem a interesses de governos estrangeiros - como infelizmente acontece agora, em casos que chegam ao extremo de guerras (como ocorre na Síria e Ucrânia atualmente). Se o brasileiro perde a visão do todo, do conjunto da nação, do projeto escolhido, e se coloca contra outros brasileiros, militando e opondo-se antagonicamente contra o próprio país, isso só tornará o país mais frágil e vulnerável, susceptível a interesses de terceiros. Os adversários de uma nação são seus problemas, não são os outros cidadãos! Problemas estes que precisam ser discutidos e enfrentados. Propostas foram postas livremente, escolhas foram feitas. Agora é tempo de avançar.
As divisões – tanto de um lar quanto de uma nação - nascem primeiro num coração endurecido. Guerras, antes de mover tropas, tiros e tanques, brotam em almas inseguras, porém, inflamadas pelo desejo de possuir mais, de controlar o máximo, de satisfazer a si mesmo, de obter maior vantagem para os seus; enfim, de fazer imperar a sua vontade sobre os demais.
Não é bom, nem faz bem à democracia brasileira, as posturas dos que rufam virulentamente contra a escolha soberana do povo brasileiro. As trocas grosseiras de acusações e insultos, insinuando demência ou favorecimento econômico daquele que pensa ou escolhe diferente, evidenciam falta de atitude republicana. Alguns, privados de senso democrático, pariram sugestões as mais deploráveis e discriminatórias possíveis, cheias do ranço segregacionista, fundamentado em preconceitos de classe socioeconômica e desprezo pela origem regional.
Houve indivíduos que exaltaram tanto a própria perspectiva, considerando a si mesmo superiores e acima da democracia, do discernimento da coletividade, do bem da nação, dos valores do respeito à dignidade humana, a ponto de sugerir absurdos (reproduzidos e repercutidos em mídias que quiseram endossar tais ideias) como a fissão do país, o dilacerar da nação, o rompimento do Estado de Direito, o fraccionamento da unidade nacional, o rasgo da Constituição, o convocar das forças militares à insubordinação, o golpe na democracia e instauração de regimes de exceção para impor à força uma ditadura. É a plenitude do despautério! A fonte de onde mormente emergiram tais tendências bestiais, coincidentemente, são também os maiores centros brasileiros do capitalismo mais selvagem. É notório como o amor ao lucro desmensurado faz germinar atitudes políticas esdrúxulas.
Que tipo de sabedoria, conhecimento e formação têm estes chamados cidadãos?
As sementes de ruptura social se originam das vísceras de seres autorreferentes e são tremendamente destrutivas; tem o poder de entorpecer e enfeitiçar os que as carregam no amago de suas mentes enfermas, pois irradiam o apelo ao cerne do egoísmo e ao pendor por vantagem econômica. Plantadas nas entranhas dos que contemplam apenas os próprios interesses e mantêm em vista o seu quinhão, cegam quanto à totalidade do conjunto da nação, a conjuntura social como um todo. Tal vírus maldito precisa ser identificado, e este sim isolado em quarentena, pois provoca o letal endurecimento da consciência, dos afetos e o descarte e exclusão do outro, do diferente (ao invés da busca de soluções que incluam e integrem a todos). Obviamente esse tipo de anomalia compromete a saudável construção dum futuro coletivo melhor para todos.
Dar curso ou alimentar esse tipo de índole - a que propugna o afastamento por meio da edificação de muros e fossos de separação dos que consideram inferior - significa sacrificar o futuro da nação no altar dos interesses mesquinhos e privados de poucos. Conceber, para a si e aos seus, verdadeiros “condomínios de benefícios” - com padrões de consumo insustentáveis que inviabilizam e degradam a natureza -, ilhados e alheios dos outros e da realidade ampla, implica na destruição do projeto de país inclusivo. É um posicionamento absolutamente contrário aos esforços e movimentos que visam reunir e integrar a todos num projeto de nacional justo e comum.
A história está repleta de exemplos que nos ensinam como as paredes do coração se transformam em grandes e feias muralhas sociais: o muro de Berlim, a cortina de ferro, a cerca de bambu, o véu islâmico, os blocos de concreto que cindem a Palestina, todas essas barreiras que separam, ofendem e aviltam; grades erguidas para proteger interesses, a terra, o poder e os bens para poucos.
O Deus das Escrituras, porém, sempre tem em vista abençoar a todos. O amor de Deus é inclusivo e seu plano é estender Graça à toda comunidade humana. Deus ama o mundo e quer que a sua justiça prevaleça e alcance a todos. Propostas e projetos excludentes movidos por desdém contra o pobre, o estrangeiro, os órfãos e as viúvas, enfim aos mais frágeis e vulneráveis, são contrários à agenda celestial e estão debaixo de juízo. Não passam de soberba e arrogância.
Tendo as urnas dado à luz o seu veredito, revelando a escolha soberana do povo brasileiro, é hora de sujeitar-se democraticamente tanto às regras do jogo, como à opção feita pela nação. Estamos todos juntos no mesmo barco chamado Brasil, o capitão e oficiais estão postos e, agora, é hora de cooperarmos, com discernimento e senso crítico, clamando pela Graça que vem do Céu sobre os governantes e legisladores, bem como sobre todos os investidos de autoridade, trabalhando para que a viagem seja abençoada, sem sabotagens ou motins. Apesar de eventuais tempestades que possam surgir, navegamos rumo a bons portos.
• Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção e coordenador em Minas Gerais da Fraternidade Teológica Latino-Americana/ Setor Brasil. Twitter: @prgillis
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A unidade dum povo (não a uniformidade) é uma força poderosa para a consolidação de qualquer plano, seja para um grupo ou organização, e mais ainda para a construção de um programa para a nação. Todos sabem que “reinos” e Estados divididos entre si não subsistem. Divisões políticas só servem para enfraquecimento e autodestruição de um Estado ou de uma Nação. Divisões radicais, em geral, favorecem a interesses de governos estrangeiros - como infelizmente acontece agora, em casos que chegam ao extremo de guerras (como ocorre na Síria e Ucrânia atualmente). Se o brasileiro perde a visão do todo, do conjunto da nação, do projeto escolhido, e se coloca contra outros brasileiros, militando e opondo-se antagonicamente contra o próprio país, isso só tornará o país mais frágil e vulnerável, susceptível a interesses de terceiros. Os adversários de uma nação são seus problemas, não são os outros cidadãos! Problemas estes que precisam ser discutidos e enfrentados. Propostas foram postas livremente, escolhas foram feitas. Agora é tempo de avançar.
As divisões – tanto de um lar quanto de uma nação - nascem primeiro num coração endurecido. Guerras, antes de mover tropas, tiros e tanques, brotam em almas inseguras, porém, inflamadas pelo desejo de possuir mais, de controlar o máximo, de satisfazer a si mesmo, de obter maior vantagem para os seus; enfim, de fazer imperar a sua vontade sobre os demais.
Não é bom, nem faz bem à democracia brasileira, as posturas dos que rufam virulentamente contra a escolha soberana do povo brasileiro. As trocas grosseiras de acusações e insultos, insinuando demência ou favorecimento econômico daquele que pensa ou escolhe diferente, evidenciam falta de atitude republicana. Alguns, privados de senso democrático, pariram sugestões as mais deploráveis e discriminatórias possíveis, cheias do ranço segregacionista, fundamentado em preconceitos de classe socioeconômica e desprezo pela origem regional.
Houve indivíduos que exaltaram tanto a própria perspectiva, considerando a si mesmo superiores e acima da democracia, do discernimento da coletividade, do bem da nação, dos valores do respeito à dignidade humana, a ponto de sugerir absurdos (reproduzidos e repercutidos em mídias que quiseram endossar tais ideias) como a fissão do país, o dilacerar da nação, o rompimento do Estado de Direito, o fraccionamento da unidade nacional, o rasgo da Constituição, o convocar das forças militares à insubordinação, o golpe na democracia e instauração de regimes de exceção para impor à força uma ditadura. É a plenitude do despautério! A fonte de onde mormente emergiram tais tendências bestiais, coincidentemente, são também os maiores centros brasileiros do capitalismo mais selvagem. É notório como o amor ao lucro desmensurado faz germinar atitudes políticas esdrúxulas.
Que tipo de sabedoria, conhecimento e formação têm estes chamados cidadãos?
As sementes de ruptura social se originam das vísceras de seres autorreferentes e são tremendamente destrutivas; tem o poder de entorpecer e enfeitiçar os que as carregam no amago de suas mentes enfermas, pois irradiam o apelo ao cerne do egoísmo e ao pendor por vantagem econômica. Plantadas nas entranhas dos que contemplam apenas os próprios interesses e mantêm em vista o seu quinhão, cegam quanto à totalidade do conjunto da nação, a conjuntura social como um todo. Tal vírus maldito precisa ser identificado, e este sim isolado em quarentena, pois provoca o letal endurecimento da consciência, dos afetos e o descarte e exclusão do outro, do diferente (ao invés da busca de soluções que incluam e integrem a todos). Obviamente esse tipo de anomalia compromete a saudável construção dum futuro coletivo melhor para todos.
Dar curso ou alimentar esse tipo de índole - a que propugna o afastamento por meio da edificação de muros e fossos de separação dos que consideram inferior - significa sacrificar o futuro da nação no altar dos interesses mesquinhos e privados de poucos. Conceber, para a si e aos seus, verdadeiros “condomínios de benefícios” - com padrões de consumo insustentáveis que inviabilizam e degradam a natureza -, ilhados e alheios dos outros e da realidade ampla, implica na destruição do projeto de país inclusivo. É um posicionamento absolutamente contrário aos esforços e movimentos que visam reunir e integrar a todos num projeto de nacional justo e comum.
A história está repleta de exemplos que nos ensinam como as paredes do coração se transformam em grandes e feias muralhas sociais: o muro de Berlim, a cortina de ferro, a cerca de bambu, o véu islâmico, os blocos de concreto que cindem a Palestina, todas essas barreiras que separam, ofendem e aviltam; grades erguidas para proteger interesses, a terra, o poder e os bens para poucos.
O Deus das Escrituras, porém, sempre tem em vista abençoar a todos. O amor de Deus é inclusivo e seu plano é estender Graça à toda comunidade humana. Deus ama o mundo e quer que a sua justiça prevaleça e alcance a todos. Propostas e projetos excludentes movidos por desdém contra o pobre, o estrangeiro, os órfãos e as viúvas, enfim aos mais frágeis e vulneráveis, são contrários à agenda celestial e estão debaixo de juízo. Não passam de soberba e arrogância.
Tendo as urnas dado à luz o seu veredito, revelando a escolha soberana do povo brasileiro, é hora de sujeitar-se democraticamente tanto às regras do jogo, como à opção feita pela nação. Estamos todos juntos no mesmo barco chamado Brasil, o capitão e oficiais estão postos e, agora, é hora de cooperarmos, com discernimento e senso crítico, clamando pela Graça que vem do Céu sobre os governantes e legisladores, bem como sobre todos os investidos de autoridade, trabalhando para que a viagem seja abençoada, sem sabotagens ou motins. Apesar de eventuais tempestades que possam surgir, navegamos rumo a bons portos.
• Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção e coordenador em Minas Gerais da Fraternidade Teológica Latino-Americana/ Setor Brasil. Twitter: @prgillis
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