Opinião
- 08 de janeiro de 2008
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A teologia da lata de Nescau
Rodrigo de Lima Ferreira
Certa vez li um livro interessante com um título curioso: A teologia do cachorro e do gato. Nele os autores comparam as atitudes desses dois animais em relação aos donos (o gato, manhoso, quer se satisfazer, enquanto o cão, leal, quer agradar) e nosso relacionamento com o nosso "Dono". Achei a analogia dos autores muito interessante. Fiquei pensando se é possível criar “teologias” a partir de coisas cotidianas, como, no caso, dos animais domésticos, até que um dia eu tive um estalo a partir da brincadeira de minhas filhas pequenas.
Crianças (e alguns adultos) gostam muito de fazer barulho. A coisa que elas mais apreciam é fazer uma “batucadinha”. Minhas meninas gostam de pegar latas vazias de alumínio, dessas de Nescau, e fazer uma bateria improvisada. Vendo aquela lata agredindo meus ouvidos, comecei a formular a teologia da lata de Nescau.
Todos sabem como é a lata de Nescau. O alumínio faz um barulho intenso se batermos nele. Porém, a lata só faz barulho se estiver vazia. Experimente fazer batucada em uma lata cheia, de preferência lacrada, que você acabou de comprar no supermercado. O som que sairá é mínimo se comparado ao de uma lata vazia.
Na minha caminhada com Jesus tenho visto muita "lata de Nescau vazia" nos templos. Pessoas ocas de vida, sem conteúdo, sem relacionamento sadio e santo com Deus, mas, que fazem muito barulho. Porém, o barulho que fazem, na verdade, não é para atrair a atenção para o Senhor, mas sim para si mesmas. Quanto mais vazias, mais barulhentas.
Felizmente há também muita "lata de Nescau cheia". Gente que não atrai a atenção para si, e sim para o seu conteúdo -- a presença de Deus neles. Gente que não se importa com holofotes, gente com um relacionamento com Deus baseado na graça. O conteúdo de suas vidas ocupa todo o espaço. Naturalmente essas pessoas exalam aquilo que Paulo classificou de bom perfume de Cristo (2Co 2.15).
Quando vamos a um supermercado, não nos interessamos pela embalagem. Queremos saber se o conteúdo do produto é bom, se satisfaz as nossas necessidades. Tanto é que, quando o produto acaba, jogamos a embalagem fora. Uma lata de Nescau vazia só terá utilidade se for reutilizada para outros fins (guardar quinquilharias como pregos enferrujados, por exemplo). Caso contrário, o seu destino é a lata de lixo. O que queremos, portanto, é o conteúdo, e não o invólucro.
Não é à toa que a Bíblia nos exorta tanto a estarmos cheios do Espírito (Ef 5.18), tendo em nossas mentes somente aquilo que presta (Fp 4.8). Na medida em que nosso conteúdo for o de Deus, despertaremos a atenção para Deus, e poderemos realizar o nosso papel de sal da terra e luz do mundo. Contudo, se estivermos vazios, seremos como o sal insípido, que só serve para calçamento (Mt 5.13), ou seja, ser pisado (outro termo poderia ser “humilhado”) pelos homens, e, no final, ser jogado no lixo da história.
Fica então a admoestação de Deus: viva cheio de Deus. Busque-o sempre (Is 55.6). Molde seus padrões em conformidade aos dele, e não tente fazer o contrário (Rm 12.1-2). Enfim, seja uma lata de Nescau cheia, plena, e não uma lata vazia, barulhenta e sem significado.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Serranópolis, GO.
Certa vez li um livro interessante com um título curioso: A teologia do cachorro e do gato. Nele os autores comparam as atitudes desses dois animais em relação aos donos (o gato, manhoso, quer se satisfazer, enquanto o cão, leal, quer agradar) e nosso relacionamento com o nosso "Dono". Achei a analogia dos autores muito interessante. Fiquei pensando se é possível criar “teologias” a partir de coisas cotidianas, como, no caso, dos animais domésticos, até que um dia eu tive um estalo a partir da brincadeira de minhas filhas pequenas.
Crianças (e alguns adultos) gostam muito de fazer barulho. A coisa que elas mais apreciam é fazer uma “batucadinha”. Minhas meninas gostam de pegar latas vazias de alumínio, dessas de Nescau, e fazer uma bateria improvisada. Vendo aquela lata agredindo meus ouvidos, comecei a formular a teologia da lata de Nescau.
Todos sabem como é a lata de Nescau. O alumínio faz um barulho intenso se batermos nele. Porém, a lata só faz barulho se estiver vazia. Experimente fazer batucada em uma lata cheia, de preferência lacrada, que você acabou de comprar no supermercado. O som que sairá é mínimo se comparado ao de uma lata vazia.
Na minha caminhada com Jesus tenho visto muita "lata de Nescau vazia" nos templos. Pessoas ocas de vida, sem conteúdo, sem relacionamento sadio e santo com Deus, mas, que fazem muito barulho. Porém, o barulho que fazem, na verdade, não é para atrair a atenção para o Senhor, mas sim para si mesmas. Quanto mais vazias, mais barulhentas.
Felizmente há também muita "lata de Nescau cheia". Gente que não atrai a atenção para si, e sim para o seu conteúdo -- a presença de Deus neles. Gente que não se importa com holofotes, gente com um relacionamento com Deus baseado na graça. O conteúdo de suas vidas ocupa todo o espaço. Naturalmente essas pessoas exalam aquilo que Paulo classificou de bom perfume de Cristo (2Co 2.15).
Quando vamos a um supermercado, não nos interessamos pela embalagem. Queremos saber se o conteúdo do produto é bom, se satisfaz as nossas necessidades. Tanto é que, quando o produto acaba, jogamos a embalagem fora. Uma lata de Nescau vazia só terá utilidade se for reutilizada para outros fins (guardar quinquilharias como pregos enferrujados, por exemplo). Caso contrário, o seu destino é a lata de lixo. O que queremos, portanto, é o conteúdo, e não o invólucro.
Não é à toa que a Bíblia nos exorta tanto a estarmos cheios do Espírito (Ef 5.18), tendo em nossas mentes somente aquilo que presta (Fp 4.8). Na medida em que nosso conteúdo for o de Deus, despertaremos a atenção para Deus, e poderemos realizar o nosso papel de sal da terra e luz do mundo. Contudo, se estivermos vazios, seremos como o sal insípido, que só serve para calçamento (Mt 5.13), ou seja, ser pisado (outro termo poderia ser “humilhado”) pelos homens, e, no final, ser jogado no lixo da história.
Fica então a admoestação de Deus: viva cheio de Deus. Busque-o sempre (Is 55.6). Molde seus padrões em conformidade aos dele, e não tente fazer o contrário (Rm 12.1-2). Enfim, seja uma lata de Nescau cheia, plena, e não uma lata vazia, barulhenta e sem significado.
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Serranópolis, GO.
Casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, é autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks).
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