Opinião
- 14 de outubro de 2021
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A superação de uma mentalidade de escassez
Florescer em tempos bons e ruins
Por Gil Odendaal
Em sua forma mais rudimentar, uma mentalidade de escassez refere-se às pessoas que consideram a vida como se fosse um bolo que vai acabar e, por isso, se uma pessoa pega um pedaço grande, sobra menos para todas as demais. A maioria das pessoas, particularmente no mundo corporativo, tem sido condicionada a ter uma mentalidade de escassez. Essa mentalidade pode limitar significativamente o que Deus deseja fazer por meio de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de determinado ministério. Essa mentalidade de escassez pode impedir que a Miqueias Global seja a rede vibrante que Deus nos chamou para ser. Ela influencia a impressão que temos de nós mesmos, dos outros, das parcerias, do ministério e, acima de tudo, de Deus.
O antídoto para uma mentalidade de escassez é uma mentalidade de abundância que vislumbra possibilidades infinitas, que acredita que o melhor ainda está por vir e que, pela graça de Deus, as ideias, os recursos e o amor são ilimitados. É também uma mentalidade que honra a Deus. Vemos essa mentalidade sendo ensinada por Deus por meio das Escrituras, tal como em João 10.10, quando Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente” (NVI). Entre as distorções dos ensinamentos heréticos do evangelho da prosperidade e as racionalizações dos crentes que têm dificuldade em aceitar que Jesus falou sério, a posição preferida por muitos seguidores de Jesus frequentemente acaba se tornando uma completa espiritualização dessa promessa de Jesus e/ou a adoção de uma mentalidade de escassez.
Em diferentes partes das Escrituras encontramos pessoas com mentalidade de escassez, bem como pessoas com mentalidade de abundância. Moisés demonstrou ter uma mentalidade de escassez quando afirmou que “não tinha o que era preciso” para retirar o povo de Israel do Egito quando Deus o chamou. Mas, uma vez que Moisés encontrou-se com o grande Eu Sou face a face, ele adotou uma mentalidade de abundância, o que lhe permitiu colocar-se diante do líder mundial mais forte da época e exigir: “Deixe o meu povo ir”.
Todo o exército israelita se queixava e todos diziam: “Não temos o que é preciso” quando Golias blasfemava diariamente a Deus. Até que Davi, com uma mentalidade de abundância, gritou para Golias, segurando apenas cinco pedras e um estilingue: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardos, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos exércitos de Israel”, e o gigante foi morto.
Da mesma maneira, com uma mentalidade de escassez, Gideão disse a Deus: “Como posso libertar Israel? Meu clã é o menos importante de Manassés, e eu sou o menor da minha família”. Porém, uma vez que Gideão aceitou que Deus estava com ele, foi possível realizar a tarefa com sucesso, para a glória de Deus, com apenas 300 homens.
O medo da competição também é a característica de uma mentalidade de escassez, fazendo com que colaboradores potenciais sejam vistos como inimigos. Notamos que os discípulos de Jesus fizeram isso quando contaram o seguinte a Jesus: “Vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos”. Ao que Jesus respondeu: “Não o impeçam, pois quem não é contra vocês é a favor de vocês” (Lc 9.49-50). Paulo reafirmou esse tipo de mentalidade de abundância de não se sentir ameaçado quando outros são bem-sucedidos, mesmo que por motivos questionáveis, quando disse: “Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro” (Fp 1.15-18). Paulo sabia que não se tratava de um “bolo” que ia se acabar, que não se tratava do seu ministério e do seu nome, mas do reino e da transformação holística que acompanhava o poder do evangelho. Uma mentalidade de escassez não contempla isso.
Além disso, a mentalidade de escassez é, às vezes, caracterizada por crenças contrárias à Bíblia e profundamente enraizadas (às vezes subconscientes). Crenças que negam a imago Dei, a crença de que todas as pessoas são criadas à imagem de Deus, resultando, na melhor das hipóteses, em tendências paternalistas nas iniciativas de colaboração e na falta de fé na capacidade daqueles que são diferentes de si mesmos; na pior das hipóteses, racismo e preconceito étnico. Foi com isso que os públicos de Jesus tiveram de lidar quando ele elevou os samaritanos a uma posição de honra durante a sua conversa com a mulher no poço, e como iguais no reino, na parábola contada no caminho para Jericó.
A igreja primitiva também teve de lidar e superar isso. Ela teve de aceitar que os gentios fazem parte da Igreja tanto quanto os judeus, assim como Pedro experimentou em Atos 10, tal como é contado na história de Cornélio. Isso também aconteceu posteriormente, quando a nova igreja em Jerusalém igualmente adotou uma mentalidade de abundância ao endossar as igrejas em crescimento na Ásia Menor como iguais, não inferiores ou inimigas (Atos 15). Eles passaram de uma mentalidade de escassez, com uma visão paroquial e limitada sobre quem faz parte da Igreja de Jesus Cristo, para uma mentalidade de abundância, entendendo o que Jesus quis dizer por “Ide por todo o mundo”. Eles também passaram a compreender cada vez mais que os dons do Espírito não tinham vindo e realmente não vêm nas versões “azul e rosa”, e que, ao contrário disso, o Espírito Santo havia se manifestado em sua plenitude a todas as pessoas redimidas por meio da morte e da ressurreição de Cristo. Essa é a mentalidade da abundância. Deus é capaz. Deus é muito maior do que a minha compreensão limitada. Deus é capaz de fazer infinitamente mais do que posso imaginar.
Enquanto membros da Miqueias Global, temos a visão de uma criação florescente, em que as pessoas vivem em plenitude, livres da pobreza, da injustiça e dos conflitos – em paz com Deus, com a natureza e umas com as outras –, assim como Jesus Cristo pretendeu e permitiu. Essa aspiração está, entre outras verdades, baseada na promessa de Cristo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente”. A sua vida e o seu ministério não devem ser medidos de acordo com a “fatia do bolo” que você pode conseguir. Ou ser guiada pela crença de que você precisa conseguir parte da fatia que outra pessoa está segurando, já que Deus lhe está oferecendo um “bolo” que não se acaba. Ou ser limitada por aquilo que você considera ser suas limitações pessoais. Isso é uma mentalidade de escassez. Não! Que suas expectativas sejam tão grandes quanto a onipotência do Deus que servimos, aquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos! Essa é a mentalidade da abundância.
• Gil Odendaal é membro do Conselho de Administração da Miqueias Global e atua como diretor executivo do LIA Global Institute (ou Instituto Global Vida em Abundância, em tradução livre) – uma ONG cristã fundada e sediada na África e liderada por pessoas africanas.
Artigo publicado no boletim Miqueias Global de julho de 2021
Leia mais:
» Conheça os livros O Reino Entre Nós e O Discípulo Radical
» Jovem, Deus tem um propósito maior pra você
Por Gil Odendaal
Em sua forma mais rudimentar, uma mentalidade de escassez refere-se às pessoas que consideram a vida como se fosse um bolo que vai acabar e, por isso, se uma pessoa pega um pedaço grande, sobra menos para todas as demais. A maioria das pessoas, particularmente no mundo corporativo, tem sido condicionada a ter uma mentalidade de escassez. Essa mentalidade pode limitar significativamente o que Deus deseja fazer por meio de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de determinado ministério. Essa mentalidade de escassez pode impedir que a Miqueias Global seja a rede vibrante que Deus nos chamou para ser. Ela influencia a impressão que temos de nós mesmos, dos outros, das parcerias, do ministério e, acima de tudo, de Deus.
O antídoto para uma mentalidade de escassez é uma mentalidade de abundância que vislumbra possibilidades infinitas, que acredita que o melhor ainda está por vir e que, pela graça de Deus, as ideias, os recursos e o amor são ilimitados. É também uma mentalidade que honra a Deus. Vemos essa mentalidade sendo ensinada por Deus por meio das Escrituras, tal como em João 10.10, quando Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente” (NVI). Entre as distorções dos ensinamentos heréticos do evangelho da prosperidade e as racionalizações dos crentes que têm dificuldade em aceitar que Jesus falou sério, a posição preferida por muitos seguidores de Jesus frequentemente acaba se tornando uma completa espiritualização dessa promessa de Jesus e/ou a adoção de uma mentalidade de escassez.
Em diferentes partes das Escrituras encontramos pessoas com mentalidade de escassez, bem como pessoas com mentalidade de abundância. Moisés demonstrou ter uma mentalidade de escassez quando afirmou que “não tinha o que era preciso” para retirar o povo de Israel do Egito quando Deus o chamou. Mas, uma vez que Moisés encontrou-se com o grande Eu Sou face a face, ele adotou uma mentalidade de abundância, o que lhe permitiu colocar-se diante do líder mundial mais forte da época e exigir: “Deixe o meu povo ir”.
Todo o exército israelita se queixava e todos diziam: “Não temos o que é preciso” quando Golias blasfemava diariamente a Deus. Até que Davi, com uma mentalidade de abundância, gritou para Golias, segurando apenas cinco pedras e um estilingue: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardos, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos exércitos de Israel”, e o gigante foi morto.
Da mesma maneira, com uma mentalidade de escassez, Gideão disse a Deus: “Como posso libertar Israel? Meu clã é o menos importante de Manassés, e eu sou o menor da minha família”. Porém, uma vez que Gideão aceitou que Deus estava com ele, foi possível realizar a tarefa com sucesso, para a glória de Deus, com apenas 300 homens.
O medo da competição também é a característica de uma mentalidade de escassez, fazendo com que colaboradores potenciais sejam vistos como inimigos. Notamos que os discípulos de Jesus fizeram isso quando contaram o seguinte a Jesus: “Vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos”. Ao que Jesus respondeu: “Não o impeçam, pois quem não é contra vocês é a favor de vocês” (Lc 9.49-50). Paulo reafirmou esse tipo de mentalidade de abundância de não se sentir ameaçado quando outros são bem-sucedidos, mesmo que por motivos questionáveis, quando disse: “Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro” (Fp 1.15-18). Paulo sabia que não se tratava de um “bolo” que ia se acabar, que não se tratava do seu ministério e do seu nome, mas do reino e da transformação holística que acompanhava o poder do evangelho. Uma mentalidade de escassez não contempla isso.
Além disso, a mentalidade de escassez é, às vezes, caracterizada por crenças contrárias à Bíblia e profundamente enraizadas (às vezes subconscientes). Crenças que negam a imago Dei, a crença de que todas as pessoas são criadas à imagem de Deus, resultando, na melhor das hipóteses, em tendências paternalistas nas iniciativas de colaboração e na falta de fé na capacidade daqueles que são diferentes de si mesmos; na pior das hipóteses, racismo e preconceito étnico. Foi com isso que os públicos de Jesus tiveram de lidar quando ele elevou os samaritanos a uma posição de honra durante a sua conversa com a mulher no poço, e como iguais no reino, na parábola contada no caminho para Jericó.
A igreja primitiva também teve de lidar e superar isso. Ela teve de aceitar que os gentios fazem parte da Igreja tanto quanto os judeus, assim como Pedro experimentou em Atos 10, tal como é contado na história de Cornélio. Isso também aconteceu posteriormente, quando a nova igreja em Jerusalém igualmente adotou uma mentalidade de abundância ao endossar as igrejas em crescimento na Ásia Menor como iguais, não inferiores ou inimigas (Atos 15). Eles passaram de uma mentalidade de escassez, com uma visão paroquial e limitada sobre quem faz parte da Igreja de Jesus Cristo, para uma mentalidade de abundância, entendendo o que Jesus quis dizer por “Ide por todo o mundo”. Eles também passaram a compreender cada vez mais que os dons do Espírito não tinham vindo e realmente não vêm nas versões “azul e rosa”, e que, ao contrário disso, o Espírito Santo havia se manifestado em sua plenitude a todas as pessoas redimidas por meio da morte e da ressurreição de Cristo. Essa é a mentalidade da abundância. Deus é capaz. Deus é muito maior do que a minha compreensão limitada. Deus é capaz de fazer infinitamente mais do que posso imaginar.
Enquanto membros da Miqueias Global, temos a visão de uma criação florescente, em que as pessoas vivem em plenitude, livres da pobreza, da injustiça e dos conflitos – em paz com Deus, com a natureza e umas com as outras –, assim como Jesus Cristo pretendeu e permitiu. Essa aspiração está, entre outras verdades, baseada na promessa de Cristo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente”. A sua vida e o seu ministério não devem ser medidos de acordo com a “fatia do bolo” que você pode conseguir. Ou ser guiada pela crença de que você precisa conseguir parte da fatia que outra pessoa está segurando, já que Deus lhe está oferecendo um “bolo” que não se acaba. Ou ser limitada por aquilo que você considera ser suas limitações pessoais. Isso é uma mentalidade de escassez. Não! Que suas expectativas sejam tão grandes quanto a onipotência do Deus que servimos, aquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos! Essa é a mentalidade da abundância.
• Gil Odendaal é membro do Conselho de Administração da Miqueias Global e atua como diretor executivo do LIA Global Institute (ou Instituto Global Vida em Abundância, em tradução livre) – uma ONG cristã fundada e sediada na África e liderada por pessoas africanas.
Artigo publicado no boletim Miqueias Global de julho de 2021
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