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Prateleira

A sexta-feira 13 e os evangélicos

A propósito da sexta-feira 13, Ultimatoonline coloca na Prateleira o artigo “Mania de perseguição”, para que a semana que se segue à chamada Semana Santa, seja também santa e livre de medos e gestos de uma espiritualidade medieval que grassa pelas igrejas evangélicas brasileiras.


Mania de perseguição


Os evangélicos convivem com muita paranóia.

Aliás, a mentalidade evangélica é belicosa; e uma espécie de síndrome persecutória acompanha o movimento faz tempo. Outrora, acreditava-se que os comunistas haviam se organizado para destruir a fé e que era necessário treinar os pastores para lutar contra os “vermelhos”. O comunismo mirrou e não foram os crentes que acabaram com ele. Depois, os homossexuais foram eleitos como inimigos. Eles, ao lado dos defensores do aborto, provocariam a queda da cristandade e fechariam igrejas.

Agora são os muçulmanos que estão na alça de mira dos evangélicos. Propaga-se que eles representam uma verdadeira ameaça à civilização e aos ensinos de Cristo. Se estes inimigos se tornaram alvos de uma guerra santa global, no Brasil os oponentes da igreja são outros.

Espanto-me com alguns evangelistas que afirmam e bradam de pés juntos que existe uma conspiração da mídia para perseguir as igrejas. E que os pastores são alvos de tramas engendradas no inferno, mas deflagradas pelos grandes jornais e, principalmente, pela Rede Globo.

Alguns gostam de falar das conspirações do Vaticano para bloquear o crescimento evangélico, como se a Igreja Católica fosse uma agência do diabo e que seus cardeais e o Papa varassem noites analisando como semear escândalos que maculem a boa reputação dos protestantes, assim, neutralizando o seu avanço.

Espalham-se teorias conspiratórias estapafúrdias com notícias de que satanistas decretaram jejum com o intuito de “derrubarem” os pastores.

Já participei de cultos em que as janelas foram untadas de óleo para evitar a entrada de demônios; já soube de pastores que, em caravana, arrancaram quadros, decorações e enfeites de alguns lares, sob o pretexto de que aqueles objetos estavam possessos de demônios.

Em um congresso de atletas cristãos tive de aconselhar um jogador de futebol que, em pânico, tinha medo de acabar com sua carreira por ter participado de um jogo com chuteiras que teriam sido amaldiçoadas.

De onde vem tanta mania de perseguição? Por que o culto evangélico precisa de uma enorme dose de medo para ser intenso?

Concordo que os quatro Evangelhos mencionam perigos na trajetória da igreja. Reconheço que os que “desejam viver corretamente, sofrerão perseguição”. Mas espera lá, o que vem acontecendo no Brasil não é bem do jeito que a Bíblia relata.

A perseguição da mídia ocorre devido à repercussão de alguns escândalos promovidos pelos evangélicos. Desde 1989, quando houve uma primeira bancada evangélica com número significativo de deputados federais para desequilibrar as votações do Congresso, começaram as levas de escândalos que parecem não parar mais, chegando às “sanguessugas”, que desviaram verbas do Ministério da Saúde. Se a mídia mostra menos pecados católicos, não isenta os evangélicos da obrigatoriedade de reconhecerem que precisam ser sal da terra e luz do mundo.

Existe muita vaidade em se achar perseguido. Percebo alguns evangelistas tomados de um enorme messianismo, achando-se tão importantes, que acreditam mesmo que o mundo inteiro maquina uma maneira de destruí-los; são tão auto referenciados que projetam sobre si mesmos o ódio que o diabo revelou contra o apóstolo Pedro.

Acontece que a igreja evangélica vem tropeçando em várias questões éticas; repetindo entre o clero os mesmos erros dos líderes políticos; amando o dinheiro, igualzinho ao mundo. A pergunta inconveniente, mas necessária é: para que o mundo precisaria persegui-la? Os evangélicos são inimigos de si mesmos. Réus e vítimas de suas próprias doenças, não provocam a indignação de ninguém, pelo contrário, são, muitas vezes, dignos de pena.

Para que o mundo odiasse a igreja, ela precisaria de uma moral que não só condenasse o vício do cigarro ou da maconha, mas procedimentos íntegros em outras áreas menos abordadas; de uma teologia que não prometesse apenas o céu, e sim engajamento transformador da miséria, dos preconceitos e das injustiças; de uma espiritualidade que não tentasse usar Deus, mas promovesse intimidade com o Pai.

Antes de ter medo do mundo e do diabo, que mais crentes tenham medo de si mesmos.

Soli Deo Gloria.


Leia o livro
O Que os Evangélicos (Não) Falam, Ricardo Gondim

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Autor de Eu Creio, Mas Tenho DúvidasO Que os Evangélicos (não) Falam e Orgulho de Ser evangélico, Ricardo Gondim, casado, três filhos, é pastor da Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, e presidente do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos. É conferencista e autor de, entre outros, É Proibido (Mundo Cristão) e Artesãos de Uma Nova História (Candeia).
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