Opinião
- 14 de outubro de 2010
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A ressurreição e minhas dúvidas
Karl Heinz Kienitz
Pode haver diversas formas para descrever a fé cristã. Mas há só um evento que a sela como única: a ressurreição de Jesus. Gary Habermas, William Craig, Josh McDowell e outros expuseram de forma convincente a evidência desse que é, talvez, o mais perturbador evento da história. Estudos histórico-críticos progressivamente nos livraram de pressupostos insidiosos, que em grande parte determinavam de antemão os resultados da investigação da ressurreição, e reverteram o ceticismo a respeito da ressurreição histórica, de forma que a tendência entre os estudiosos mais recentemente tem sido a aceitação da credibilidade histórica da ressurreição de Jesus. Não recapitularei a evidência; minha reflexão aqui é motivada por outras questões que considero importantes. Como os discípulos de Jesus assimilaram o acontecido? Como o Mestre lidou com a reação deles? O que as respostas às duas perguntas anteriores significam para nós?
Quando as mulheres chegaram à tumba, a ressurreição já acontecera. Ficaram perplexas. A tumba vazia era uma realidade inusitada que demandava explicação, e elas temiam que o corpo de Jesus tivesse sido furtado.
Na época de Jesus não havia quem esperasse uma ressurreição no fluxo corrente da história. Por isso não era concebível ver Jesus vivo após sua crucificação. Isto torna compreensível que ele não tenha sido reconhecido de imediato na maioria dos encontros pós-ressurreição narrados nos evangelhos. Maria Madalena confunde Jesus com o jardineiro e percebe o equívoco quando ele pronuncia seu nome. Os dois discípulos de Emaús só reconheceram-no após sentarem-se à mesa com ele. Quando Jesus aparece aos discípulos reunidos em Jerusalém, eles inicialmente acreditam ver um fantasma. Dias depois, à margem do mar de Tiberíades, alguns deles frustrados com uma pescaria mal sucedida novamente demoram a reconhecê-lo. Jesus acabava sendo reconhecido – seu corpo tinha as marcas da crucificação –, mas não necessariamente à primeira vista.
Mateus termina seu evangelho descrevendo um encontro em que o Cristo ressurreto assegura sua autoridade e promete que estará conosco até o fim dos tempos. É uma cena de triunfo. Mas Mateus não omite que alguns duvidaram. Não haviam – ainda – conseguido vencer a perplexidade. Jesus não se preocupou em homogeneizar o grau de entendimento dos discípulos, nem em fazer com que todos estivessem com as dúvidas sanadas. Deu a todos seu último mandamento, a Grande Comissão, uma ordem que pressupõe uma capacidade de superação inumana, como detalha o livro de Atos.
Surtiu efeito. Isto fica claro na convicção com que o líder dos apóstolos, Pedro, escreveria anos mais tarde: “Não foi seguindo fábulas sutis, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade, que vos demos a conhecer o poder e a Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. A história não deixa dúvidas de que a ressurreição de Jesus e o que se seguiu a ela deu àqueles primeiros cristãos convicções tão intensas, que esta fé permanece a base da igreja dois mil anos depois. Foi o inexplicável, porém real, evento histórico do dia de Páscoa que desvendou quem Jesus realmente é, e forneceu o alicerce da nossa fé e do nosso conhecimento teológico.
A perplexidade inicial e as dúvidas dos discípulos são naturais. Faz parte dos homens o anseio por explicações que se encaixam nas suas visões pré-fabricadas do mundo. No caso da ressurreição de Jesus – como no caso de qualquer milagre – um limite fundamental da mente é atingido: falham as explicações reducionistas. A situação é superada somente pela razão que crê, pois ela ao fazê-lo se sintoniza com a realidade observada. Foi esta a opção dos discípulos; o desejo de explicação deu lugar à obediência e ao que a Bíblia chama adoração. O grande matemático Leonhard Euler (1707-1783) escreveu que “somos convencidos dos efeitos salutares da missão de nosso Salvador pela experiência”. Da experiência foi surgindo a convicção inabalável dos discípulos.
É do teólogo Samuel Rothenberg (1910-1997) a frase “um cristão sincero é composto de muitas perguntas”. Por toda vida seguimos tendo dúvidas e desejando explicações. Assim como aconteceu com os primeiros discípulos, para algumas de nossas perguntas haverá respostas que satisfarão nosso anseio por explicações, para outras não. Nestes casos faremos como eles: seguiremos a Jesus andando “por fé [em Deus/Jesus], e não por vista [no que não compreendemos]”. (2 Co 5.7) E conheceremos os efeitos salutares da sua missão pela experiência.
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. Trabalha como professor de engenharia em São José dos Campos. É membro da Primeira Igreja Batista naquela cidade. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz
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Pode haver diversas formas para descrever a fé cristã. Mas há só um evento que a sela como única: a ressurreição de Jesus. Gary Habermas, William Craig, Josh McDowell e outros expuseram de forma convincente a evidência desse que é, talvez, o mais perturbador evento da história. Estudos histórico-críticos progressivamente nos livraram de pressupostos insidiosos, que em grande parte determinavam de antemão os resultados da investigação da ressurreição, e reverteram o ceticismo a respeito da ressurreição histórica, de forma que a tendência entre os estudiosos mais recentemente tem sido a aceitação da credibilidade histórica da ressurreição de Jesus. Não recapitularei a evidência; minha reflexão aqui é motivada por outras questões que considero importantes. Como os discípulos de Jesus assimilaram o acontecido? Como o Mestre lidou com a reação deles? O que as respostas às duas perguntas anteriores significam para nós?
Quando as mulheres chegaram à tumba, a ressurreição já acontecera. Ficaram perplexas. A tumba vazia era uma realidade inusitada que demandava explicação, e elas temiam que o corpo de Jesus tivesse sido furtado.
Na época de Jesus não havia quem esperasse uma ressurreição no fluxo corrente da história. Por isso não era concebível ver Jesus vivo após sua crucificação. Isto torna compreensível que ele não tenha sido reconhecido de imediato na maioria dos encontros pós-ressurreição narrados nos evangelhos. Maria Madalena confunde Jesus com o jardineiro e percebe o equívoco quando ele pronuncia seu nome. Os dois discípulos de Emaús só reconheceram-no após sentarem-se à mesa com ele. Quando Jesus aparece aos discípulos reunidos em Jerusalém, eles inicialmente acreditam ver um fantasma. Dias depois, à margem do mar de Tiberíades, alguns deles frustrados com uma pescaria mal sucedida novamente demoram a reconhecê-lo. Jesus acabava sendo reconhecido – seu corpo tinha as marcas da crucificação –, mas não necessariamente à primeira vista.
Mateus termina seu evangelho descrevendo um encontro em que o Cristo ressurreto assegura sua autoridade e promete que estará conosco até o fim dos tempos. É uma cena de triunfo. Mas Mateus não omite que alguns duvidaram. Não haviam – ainda – conseguido vencer a perplexidade. Jesus não se preocupou em homogeneizar o grau de entendimento dos discípulos, nem em fazer com que todos estivessem com as dúvidas sanadas. Deu a todos seu último mandamento, a Grande Comissão, uma ordem que pressupõe uma capacidade de superação inumana, como detalha o livro de Atos.
Surtiu efeito. Isto fica claro na convicção com que o líder dos apóstolos, Pedro, escreveria anos mais tarde: “Não foi seguindo fábulas sutis, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade, que vos demos a conhecer o poder e a Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. A história não deixa dúvidas de que a ressurreição de Jesus e o que se seguiu a ela deu àqueles primeiros cristãos convicções tão intensas, que esta fé permanece a base da igreja dois mil anos depois. Foi o inexplicável, porém real, evento histórico do dia de Páscoa que desvendou quem Jesus realmente é, e forneceu o alicerce da nossa fé e do nosso conhecimento teológico.
A perplexidade inicial e as dúvidas dos discípulos são naturais. Faz parte dos homens o anseio por explicações que se encaixam nas suas visões pré-fabricadas do mundo. No caso da ressurreição de Jesus – como no caso de qualquer milagre – um limite fundamental da mente é atingido: falham as explicações reducionistas. A situação é superada somente pela razão que crê, pois ela ao fazê-lo se sintoniza com a realidade observada. Foi esta a opção dos discípulos; o desejo de explicação deu lugar à obediência e ao que a Bíblia chama adoração. O grande matemático Leonhard Euler (1707-1783) escreveu que “somos convencidos dos efeitos salutares da missão de nosso Salvador pela experiência”. Da experiência foi surgindo a convicção inabalável dos discípulos.
É do teólogo Samuel Rothenberg (1910-1997) a frase “um cristão sincero é composto de muitas perguntas”. Por toda vida seguimos tendo dúvidas e desejando explicações. Assim como aconteceu com os primeiros discípulos, para algumas de nossas perguntas haverá respostas que satisfarão nosso anseio por explicações, para outras não. Nestes casos faremos como eles: seguiremos a Jesus andando “por fé [em Deus/Jesus], e não por vista [no que não compreendemos]”. (2 Co 5.7) E conheceremos os efeitos salutares da sua missão pela experiência.
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. Trabalha como professor de engenharia em São José dos Campos. É membro da Primeira Igreja Batista naquela cidade. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz
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Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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