Opinião
- 01 de novembro de 2018
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A propaganda política e o denário de César
Por Rosifran Macedo
Em 1951, o primeiro ministro britânico, Winston Churchill, enviou uma carta a C.S. Lewis nomeando-o para receber a condecoração de “Comandante do Império Britânico”, por parte da “Mais Excelente Ordem do Império Britânico”. Esta prestigiosa condecoração foi oferecida a Lewis pelos seus serviços prestados à nação através dos seus escritos, programas de rádio e palestras durante a segunda guerra mundial e em reconhecimento pelo bem que o seu trabalho trouxe ao povo britânico num tempo de dificuldades e sofrimento.
Lewis escreveu de volta ao primeiro ministro: “Eu estou muito grato ao Primeiro Ministro e, no tocante aos meus sentimentos pessoais tal honra seria muito bem-vinda”1, mas que abria mão de tal condecoração. Lewis queria evitar que uma homenagem de um ente político por seus serviços ao Reino de Deus fosse tomada como propaganda do “Reino de César” e provocasse barreiras para o evangelho na sociedade.
Timothy Keller, escrevendo sobre o ocorrido2, fala que muitos dos princípios cristãos podem ser compatíveis com alguma posição política e, por isso, haveria uma grande tentação dos que atual no espaço público de aumentar sua credibilidade alegando que o voto para tal partido “é” a vontade de Deus. E, se o partido oferece algum reconhecimento ou vantagem para líderes religiosos, a tentação é ainda maior. Se a oferta é aceita, o cristianismo pode ser desacreditado e as pessoas podem identificar o Reino de Deus com “uma” posição política partidária.
Keller diz que os cristãos devem se envolver com política e os valores bíblicos devem ter implicações nas escolhas e posicionamentos políticos, mas que não devemos identificar o cristianismo com nenhuma pessoa ou partido político. Para ele, C.S. Lewis, ao rejeitar a condecoração, não caiu em tentação e demonstrou que a honra do Rei dos Reis era suficiente para sua vida.
Os últimos meses foram marcados por discursos entre cristãos, de diferentes posições políticas, identificando candidatos e propostas com a “vontade de Deus”. Tenho visto cristãos, em nome da fidelidade ideológica a um partido político, infringirem princípios bíblicos como amor, graça, perdão e reconciliação. O resultado tem sido famílias, igrejas e comunidades divididas, marcadas por palavras de rancor, intolerância e desamor. E, como resultado temos trazido descrédito à mensagem do Evangelho.
Nenhuma pessoa, partido ou ideologia política pode ter a nossa fidelidade acima da fidelidade devida ao nosso Rei, à prática da sua Palavra e aos princípios do Reino. Isto é o que a Bíblia define como idolatria. Precisamos ser cidadãos responsáveis e participantes do processo democrático de construção e transformação da nossa sociedade. Mas precisamos sempre lembrar de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
C.S. Lewis ao declinar uma condecoração tão honrosa e de tanto destaque social, nos deixou o exemplo de que a nossa fidelidade a Deus, Seu Reino e valores, está acima dos nossos sentimentos pessoais e preferências partidárias.
1. W. Hooper, ed. The Collected Letters of C. S. Lewis, volume III, p. 147.
2. T Keller, The Honours of the King, http://www.timothykeller.com/blog/2011/3/1/the-honors-of-the-king, 3/1/2011.
• Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários.
Leia mais
» C.S. Lewis em tempo de eleição
» Certezas ideológicas, não; perguntas teológicas, sim!
» Fé Cristã e Ação Política – A Relevância Pública da Espiritualidade Cristã
Em 1951, o primeiro ministro britânico, Winston Churchill, enviou uma carta a C.S. Lewis nomeando-o para receber a condecoração de “Comandante do Império Britânico”, por parte da “Mais Excelente Ordem do Império Britânico”. Esta prestigiosa condecoração foi oferecida a Lewis pelos seus serviços prestados à nação através dos seus escritos, programas de rádio e palestras durante a segunda guerra mundial e em reconhecimento pelo bem que o seu trabalho trouxe ao povo britânico num tempo de dificuldades e sofrimento.
Lewis escreveu de volta ao primeiro ministro: “Eu estou muito grato ao Primeiro Ministro e, no tocante aos meus sentimentos pessoais tal honra seria muito bem-vinda”1, mas que abria mão de tal condecoração. Lewis queria evitar que uma homenagem de um ente político por seus serviços ao Reino de Deus fosse tomada como propaganda do “Reino de César” e provocasse barreiras para o evangelho na sociedade.
Timothy Keller, escrevendo sobre o ocorrido2, fala que muitos dos princípios cristãos podem ser compatíveis com alguma posição política e, por isso, haveria uma grande tentação dos que atual no espaço público de aumentar sua credibilidade alegando que o voto para tal partido “é” a vontade de Deus. E, se o partido oferece algum reconhecimento ou vantagem para líderes religiosos, a tentação é ainda maior. Se a oferta é aceita, o cristianismo pode ser desacreditado e as pessoas podem identificar o Reino de Deus com “uma” posição política partidária.
Keller diz que os cristãos devem se envolver com política e os valores bíblicos devem ter implicações nas escolhas e posicionamentos políticos, mas que não devemos identificar o cristianismo com nenhuma pessoa ou partido político. Para ele, C.S. Lewis, ao rejeitar a condecoração, não caiu em tentação e demonstrou que a honra do Rei dos Reis era suficiente para sua vida.
Os últimos meses foram marcados por discursos entre cristãos, de diferentes posições políticas, identificando candidatos e propostas com a “vontade de Deus”. Tenho visto cristãos, em nome da fidelidade ideológica a um partido político, infringirem princípios bíblicos como amor, graça, perdão e reconciliação. O resultado tem sido famílias, igrejas e comunidades divididas, marcadas por palavras de rancor, intolerância e desamor. E, como resultado temos trazido descrédito à mensagem do Evangelho.
Nenhuma pessoa, partido ou ideologia política pode ter a nossa fidelidade acima da fidelidade devida ao nosso Rei, à prática da sua Palavra e aos princípios do Reino. Isto é o que a Bíblia define como idolatria. Precisamos ser cidadãos responsáveis e participantes do processo democrático de construção e transformação da nossa sociedade. Mas precisamos sempre lembrar de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
C.S. Lewis ao declinar uma condecoração tão honrosa e de tanto destaque social, nos deixou o exemplo de que a nossa fidelidade a Deus, Seu Reino e valores, está acima dos nossos sentimentos pessoais e preferências partidárias.
1. W. Hooper, ed. The Collected Letters of C. S. Lewis, volume III, p. 147.
2. T Keller, The Honours of the King, http://www.timothykeller.com/blog/2011/3/1/the-honors-of-the-king, 3/1/2011.
• Rosifran Macedo é pastor presbiteriano, mestre em Novo Testamento pelo Biblical Theological Seminary (EUA). É missionário da Missão AMEM/WEC Brasil, onde foi diretor geral por nove anos. Atualmente, dedica-se, junto com sua esposa Alicia Macedo, em projetos de cuidado integral de missionários.
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