Opinião
- 18 de abril de 2008
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A música e eu
Jorge Camargo
A música entrou em minha vida quando eu tinha treze anos. Tia Mariinha, carinhosamente chamada por todos na família de Inha, era a minha madrinha de batismo e me presenteou, em meu aniversário, com um violão vermelho Giannini de cordas de aço. Nos primeiros minutos de contato, não nos entendemos muito bem: quebrei duas de suas cordas tentando afiná-lo.
Durante meses ele ficou largado em cima do guarda-roupa, ocupando espaço e juntando pó. No ano seguinte, Cláudio, um vizinho e amigo de muitos anos, indicou-me uma professora de violão: a dona Vivi. Com ela aprendi os primeiros acordes e formei meu primeiro repertório. Hoje, quando revejo na mente como um filme seu violão sempre afinado e de som doce e refinado, ao mesmo tempo em que percebo suas muitas limitações, reconheço o quanto era capaz de passar adiante o pouco que sabia.
Ainda espero encontrar dona Vivi para dizer “muito obrigado” por ter plantado em mim a boa semente do amor à música e por hoje poder dizer, citando Caetano Veloso, "como é bom poder tocar um instrumento".
Lembro-me com detalhes da primeira aula e da primeira canção que levei para casa: "O Vira" do grupo sensação da época, Secos e Molhados.
Depois de meses de encontros semanais na sala da casa de dona Vivi, meu caderno estava repleto de canções com ritmos variados, todas padronizadas e escritas com a famosa caneta Bic: as letras em azul, as cifras e a indicação do ritmo em vermelho.
Cláudio e Walter, o "Pezão", eram meus parceiros de futebol, embora nenhum dos três levasse muito jeito para a coisa. A falta de habilidade com a bola, no entanto, já não nos incomodava. Havíamos nos tornado parceiros na música. Ambos eram também alunos de dona Vivi.
Encontrávamo-nos regularmente para compartilhar nossas canções e as dificuldades no aprendizado de novos acordes, particularmente com a "pestana" (posição que exige o uso do dedo indicador inteiro estendido sobre a casa do violão servindo de apoio aos outros dedos na formação do acorde, e que é o terror de todos os iniciantes no instrumento).
Pouco tempo depois, conhecemos a Valéria, nossa colega de escola; uma garota comunicativa e simpática que também tocava e nos convidou para juntos "trocarmos figurinhas" musicais em sua casa. Aquele primeiro encontro determinou o rumo dos próximos vinte e oito anos de minha vida.
Do primeiro encontro, em que ouvi pela primeira vez um disco do grupo Vencedores Por Cristo, marcamos de nos ver novamente, dessa vez na igreja evangélica que Valéria freqüentava: um templo espaçoso em um bairro antigo e tradicional da cidade e que em suas atividades reservava uma sala para adolescentes aos domingos à tarde.
O som das guitarras era envolvente e o senso de comunidade que o ambiente suscitava era acolhedor. Dezenas de meninos e meninas reunidos em um espaço apertado, cantando a plenos pulmões, mãos unidas na canção final, sorrisos e abraços de boas vindas, essas coisas todas me marcaram profundamente. E me fizeram querer ser parte de tudo aquilo.
Poucas semanas depois eu já empunhava uma das guitarras no encontro semanal dos adolescentes. Em alguns meses, apresentava minhas primeiras composições nos cultos dominicais noturnos, para centenas de pessoas.
Minha vocação se manifestara de forma clara e límpida.
(trecho do livro-cd Somos Um)
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
A música entrou em minha vida quando eu tinha treze anos. Tia Mariinha, carinhosamente chamada por todos na família de Inha, era a minha madrinha de batismo e me presenteou, em meu aniversário, com um violão vermelho Giannini de cordas de aço. Nos primeiros minutos de contato, não nos entendemos muito bem: quebrei duas de suas cordas tentando afiná-lo.
Durante meses ele ficou largado em cima do guarda-roupa, ocupando espaço e juntando pó. No ano seguinte, Cláudio, um vizinho e amigo de muitos anos, indicou-me uma professora de violão: a dona Vivi. Com ela aprendi os primeiros acordes e formei meu primeiro repertório. Hoje, quando revejo na mente como um filme seu violão sempre afinado e de som doce e refinado, ao mesmo tempo em que percebo suas muitas limitações, reconheço o quanto era capaz de passar adiante o pouco que sabia.
Ainda espero encontrar dona Vivi para dizer “muito obrigado” por ter plantado em mim a boa semente do amor à música e por hoje poder dizer, citando Caetano Veloso, "como é bom poder tocar um instrumento".
Lembro-me com detalhes da primeira aula e da primeira canção que levei para casa: "O Vira" do grupo sensação da época, Secos e Molhados.
Depois de meses de encontros semanais na sala da casa de dona Vivi, meu caderno estava repleto de canções com ritmos variados, todas padronizadas e escritas com a famosa caneta Bic: as letras em azul, as cifras e a indicação do ritmo em vermelho.
Cláudio e Walter, o "Pezão", eram meus parceiros de futebol, embora nenhum dos três levasse muito jeito para a coisa. A falta de habilidade com a bola, no entanto, já não nos incomodava. Havíamos nos tornado parceiros na música. Ambos eram também alunos de dona Vivi.
Encontrávamo-nos regularmente para compartilhar nossas canções e as dificuldades no aprendizado de novos acordes, particularmente com a "pestana" (posição que exige o uso do dedo indicador inteiro estendido sobre a casa do violão servindo de apoio aos outros dedos na formação do acorde, e que é o terror de todos os iniciantes no instrumento).
Pouco tempo depois, conhecemos a Valéria, nossa colega de escola; uma garota comunicativa e simpática que também tocava e nos convidou para juntos "trocarmos figurinhas" musicais em sua casa. Aquele primeiro encontro determinou o rumo dos próximos vinte e oito anos de minha vida.
Do primeiro encontro, em que ouvi pela primeira vez um disco do grupo Vencedores Por Cristo, marcamos de nos ver novamente, dessa vez na igreja evangélica que Valéria freqüentava: um templo espaçoso em um bairro antigo e tradicional da cidade e que em suas atividades reservava uma sala para adolescentes aos domingos à tarde.
O som das guitarras era envolvente e o senso de comunidade que o ambiente suscitava era acolhedor. Dezenas de meninos e meninas reunidos em um espaço apertado, cantando a plenos pulmões, mãos unidas na canção final, sorrisos e abraços de boas vindas, essas coisas todas me marcaram profundamente. E me fizeram querer ser parte de tudo aquilo.
Poucas semanas depois eu já empunhava uma das guitarras no encontro semanal dos adolescentes. Em alguns meses, apresentava minhas primeiras composições nos cultos dominicais noturnos, para centenas de pessoas.
Minha vocação se manifestara de forma clara e límpida.
(trecho do livro-cd Somos Um)
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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