Opinião
- 26 de dezembro de 2011
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A morte de um deus
Na última segunda-feira, 19, o mundo recebeu a notícia da morte de Kim Jong-Il, ditador do país que ocupa, há mais de 10 anos, a primeira posição da lista de Classificação de Países por Perseguição da Portas Abertas. Em uma transmissão especial, a emissora oficial informou que Kim morreu às 8h30 hora local (21h30 de sexta-feira em Brasília) durante uma viagem de trem, vítima de um "problema cardíaco" devido a uma "grande tensão física e mental".
Kim Jong-Il governou a Coreia do Norte desde 1994, mas o governo do país foi passado para suas mãos por seu pai, Kim Il-Sung, que governou o país desde os anos setenta e o colocou sob ditadura.
O sucessor do ditador será seu filho, Kim Jong-Un, que tem cerca de 30 anos de idade e que já havia consolidado sua posição como futuro líder da Coreia do Norte em setembro do ano passado, quando foi nomeado publicamente general de quatro estrelas e vice-presidente da Comissão Militar Central do Partido dos Trabalhadores.
Segunda a Agência Estado, a Coreia do Norte saudou hoje (25/12) Kim Jong-un como “supremo comandante” do Exército, no mais recente sinal de que o inexperiente filho do ex-ditador Kim Jong-Il está consolidando seu poder. Analistas afirmam que a medida indica que Pyongyang deve continuar com sua política de manter as forças armadas no comando (Songun).
“Nós vamos apoiar o companheiro Kim Jong-Un como nosso supremo comandante e general e nós vamos levar a revolução Songun a uma conclusão”, diz um editorial publicado pelo jornal Rodong Sinmun, do governante Partido Comunista.
O periódico cobrou que Kim leve a Coreia do Norte à “vitória eterna”. É a primeira vez que um órgão oficial usa o termo “supremo comandante” - posto anteriormente ocupado por seu pai - para o novo líder, que já é um general de quatro estrelas, apesar de ter menos de 30 anos.
A Portas Abertas ouviu vários refugiados norte coreanos e há um misto de sentimentos entre eles. “Lembro-me de estar de pé para a sua estátua de pedra e não sentir nada”, disse um dos refugiados da Portas Abertas sobre o que sentiu quando Kim Sung-Il, pai de Kim Jong Il faleceu. “Tivemos que chorar pela morte dele senão seríamos punidos. Eu tive que me machucar para poder chorar. Eu ainda acho que as pessoas que estão chorando por Kim Jong Il estão fingindo”, disse ele.
Outro refugiado explicou como ouviu a notícia: “Alguém me chamou para ver o noticiário e vi que ele tinha morrido. Senti-me estranho. Eu sempre esperei por esse dia, pois pensava que ficaria feliz com a morte dele. Como cristão, eu devo amar os meus inimigos, mas eu sempre quis ver Kim Jong Il morto. Isso é um fardo pra mim.”
Após ver a notícia, ele recebeu algumas mensagens e telefonemas de outros refugiados. Um disse: “Em breve o país será unificado, oremos.”. Outro estava com medo de que uma guerra possa estar prestes a acontecer no país. E outro disse que desejava ver Jong Il morto como foi com o líder líbio Muammar Kadhafi.
“Estou feliz por não ter que chorar a morte dele”, continuou ele. “Alguns pode estar fingindo estar tristes, mas outros realmente ficaram tristes, pois tratavam Kim Jong Il era realmente um deus, assim como eu acreditava.”
O refugiado continuou dizendo: “Ainda acredito na reunificação das Coreias. Deus não esqueceu as orações dos cristãos de dentro e de fora da Coreia. Um dia, a Coreia estará pronta para se unir novamente.”
Um terceiro refugiado disse: “Kim Jong Il realmente morreu? Eu não estou triste com isso. Como posso ficar triste com a morte de alguém que fez coisas horríveis comigo e com minha família. Estou preocupado com o futuro do país, pode é possível que exista uma grande disputa pelo poder.”
Certamente há uma tensão entre os cerca de 400 mil cristãos do país. Mas não acredito que a maioria deles, principalmente os cerca de 50 mil que estão em campos de trabalhos forçados, estão completamente conscientes dos últimos acontecimentos. Não se pode esquecer que não há imprensa livre no país, a maioria das informações são transmitidas pela imprensa oficial que apoia em 100% o regime. A Portas Abertas tem mantido contato com refugiados e procurado obter informações sobre nossos irmãos, mas ainda são muito poucas.
Não há esperanças de melhora da situação de liberdade no país no curto prazo, talvez haja até uma piora já que o novo ditador deverá promover ações para demonstrar seu poder.
Kim Jong-il está morto, seu filho e todos seus auxiliares também morrerão. Ainda que se auto-proclamem deus, serão apenas homens. Nós que adoramos o Deus que se encarnou, morreu e teve o poder sobre a morte, Jesus o Cristo, acreditamos no poder eterno e na consolação do Espírito Santo sobre os irmãos e irmãs que vivem na Coreia do Norte. Não importa o que aconteça lá, devemos manter o mesmo espírito por aqui. “Se um membro do corpo sofre, todos sofrem com ele”.
15 de Abril de 2012: Dia global de jejum e oração pela Coreia do Norte
Anos atrás, a Coreia do Norte anunciou que em 2012 o país seria uma "forte e próspera" nação. 15 de abril de 2012 será comemorado o 100 º aniversário do nascimento do Grande Líder, Kim Il-Sung (que morreu em 1994). Em 2012, a Coreia do Norte deve ter superado as dificuldades econômicas dos últimos 20 anos. A economia em todos os setores deve voltar aos níveis que tinham no final de 1980. A realidade é que a Coreia do Norte não atingiu os objetivos, longe disso. Não só há fome crônica com pessoas vivendo com ração diária como ainda existem centenas de milhares de pessoas detidas em prisões e campos de trabalho forçado. Os cristãos ainda são ferozmente perseguidos. Apesar desta realidade, é provável que a Coreia do Norte celebre o nascimento de Kim Il-Sung com grandes festividades e consumindo recursos caros para a sociedade. A Portas Abertas irá conclamar um dia global de jejum e oração pela Igreja na Coreia do Norte. Será em 15 de abril de 2012.
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Carlos Alfredo de Sousa é pastor e secretário geral da ONG Portas Abertas Brasil.
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