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- 22 de setembro de 2020
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A modernidade líquida como oportunidade para a igreja global
Como a relatividade da sociedade pós-moderna afeta igreja, conceitos estáticos, dogmas sólidos e teologias sistemáticas?
Por Phelipe Reis
O que muda na missão global, nas práticas pastorais e na cultura da igreja quando todos exigem o direito de que suas realidades individuais sejam validadas? Como a relatividade da sociedade pós-moderna afeta conceitos estáticos, dogmas sólidos, teologias sistemáticas e formas de igrejas? Questionamentos como esses são fundamentais para a reflexão de pastores e líderes da igreja hoje.
Para o escritor e conferencista neozelandês, Jay Matenga, cabe aos pastores e aos líderes cristãos buscarem adaptar seus métodos e modelos de ministério para os novos contextos sociais, para que possam continuar a cuidar efetivamente das pessoas que estão sob sua liderança e responsabilidade. Para Matenga, mais que grandes desafios, a “sociedade líquida” representa uma grande oportunidade para a igreja global.
Jay Matenga é um dos convidados internacionais para falar no Encontro Sepal 2020, que acontece de 24 a 26 de setembro. Matenga é doutor em estudos interculturais pelo Fuller School of Graduate Studies (EUA), já foi missionário na Wec International, líder na Pioneers Nova Zelândia e atualmente é diretor de missões e evangelismo da Aliança Evangélica Mundial (WEA, sigla em inglês).
Em entrevista, Matenga fala sobre a relevância das reflexões de Bauman para a igreja contemporânea e como o evangelho responde aos desafios da modernidade líquida. Confira a conversa.
Qual a relevância de Zygmunt Bauman e suas reflexões para a igreja contemporânea?
Jay Matenga – Bauman articulou bem o que vem surgindo no mundo industrializado, uma vez que se tornou mais globalizado. A globalização como a experimentamos agora começou com os portugueses no final do século 15, e foi dominada por uma visão europeia por mais de quatro séculos. Depois da Segunda Guerra Mundial, o poder dessa visão diminuiu. Agora precisamos apreciar e acomodar a pluralidade. Não é apenas uma realidade global dominante, agora são muitas realidades locais competindo por aceitação. “Policentrismo” (múltiplos centros de poder e influência) é agora a experiência de muitas sociedades industrializadas e globalizadas. Bauman reconheceu que isso afeta nosso senso de estabilidade e certeza. Muitas coisas se tornam relativas quando todos exigem o direito de que suas realidades sejam validadas. Bauman chamou esse estado de relatividade de "fluidez" porque tudo é tão mutável. Não podemos voltar no tempo, nem podemos lutar mais duro para que nossa certeza se torne certeza de todos. A Igreja deve se adaptar. Como Jonathan Edwards e outros teólogos fizeram para a modernidade, então precisamos desenvolver uma teologia bíblica autêntica e prática de seguir a Cristo para esta era cada vez mais fluida que vivemos agora.
Como você percebe o conceito de “liquidez” permeando a cultura da igreja evangélica?
Acredito que nossa realidade “líquida” ou relativa apresenta uma grande oportunidade para a igreja global. Isto é, não é por acaso que as palavras “relatividade” e “relacionamento” estão conectadas. Relatividade significa literalmente “em relação com” (tudo o mais). Eu afirmo que a igreja é mais capaz de se adaptar à inevitável experiência da realidade “líquida”, e ministrar efetivamente nela, por enfocar numa teologia de relacionamentos da aliança Fazemos isso lendo as Escrituras através das lentes do relacionamento. Isso pode ser muito desconfortável para os crentes que dependem de coisas que consideram “sólidas” (ou fundamentais) em seus sistemas de crenças. Por exemplo, ensino bíblico específico ou dogma, teologias sistemáticas, formas de igreja, sacramentos, símbolos e posicionamentos morais inegociáveis. Isso era bom para realidades que foram delimitadas ou protegidas umas das outras. Já não funciona bem quando o evangelho traz fruto em outra realidade de maneiras biblicamente defensáveis que são diferentes do que você pode considerar uma fundação “sólida”. Missões globais adaptaram a uma pluralidade de expressões do Cristianismo autêntico em todo o mundo, por crescer em nossa compreensão de como o evangelho se torna "contextualizado" em outras realidades sem perder seu poder ou autoridade.
Como o evangelho pode responder aos desafios da modernidade líquida?
Nossos relacionamentos de aliança em fidelidade a Cristo, o Senhor, devem se tornar a única âncora fixa em nossa realidade fluida. O relacionamento é tudo. Todos nós em Cristo estamos conectados à mesma âncora, mas há uma grande flexibilidade na maneira como somos capazes de viver e nos mover e ter nosso ser na fluidez de nossas experiências vividas. Todo o Novo Testamento está focado em nos ensinar como ter uma vida saudável, relações reconciliadas em Cristo em meio à diversidade étnica e socioeconômica e valores que se chocam. O Espírito Santo nos transforma no processo de vivermos em tensão uns com os outros na unidade da aliança. É a nossa interação interpessoal uns com os outros em Cristo, caracterizada por amor, perdão, reconciliação, afirmação e encorajamento, fortalecido pelo Espírito Santo, que literalmente renova (transforma) nossas mentes. Romanos 12, por exemplo, deixa claro que este processo é um ato de adoração. Eu acredito que, se fizermos dos relacionamentos harmoniosos em Cristo o foco principal, é uma poderosa declaração do evangelho; porque é pela nossa unidade na diversidade que o mundo vai acreditar e saber que o Pai amorosamente enviou o Filho (João 17.18-25, “O Grande Compromisso”).
Por Phelipe Reis
O que muda na missão global, nas práticas pastorais e na cultura da igreja quando todos exigem o direito de que suas realidades individuais sejam validadas? Como a relatividade da sociedade pós-moderna afeta conceitos estáticos, dogmas sólidos, teologias sistemáticas e formas de igrejas? Questionamentos como esses são fundamentais para a reflexão de pastores e líderes da igreja hoje.
Para o escritor e conferencista neozelandês, Jay Matenga, cabe aos pastores e aos líderes cristãos buscarem adaptar seus métodos e modelos de ministério para os novos contextos sociais, para que possam continuar a cuidar efetivamente das pessoas que estão sob sua liderança e responsabilidade. Para Matenga, mais que grandes desafios, a “sociedade líquida” representa uma grande oportunidade para a igreja global.
Jay Matenga é um dos convidados internacionais para falar no Encontro Sepal 2020, que acontece de 24 a 26 de setembro. Matenga é doutor em estudos interculturais pelo Fuller School of Graduate Studies (EUA), já foi missionário na Wec International, líder na Pioneers Nova Zelândia e atualmente é diretor de missões e evangelismo da Aliança Evangélica Mundial (WEA, sigla em inglês).
Em entrevista, Matenga fala sobre a relevância das reflexões de Bauman para a igreja contemporânea e como o evangelho responde aos desafios da modernidade líquida. Confira a conversa.
Qual a relevância de Zygmunt Bauman e suas reflexões para a igreja contemporânea?
Jay Matenga – Bauman articulou bem o que vem surgindo no mundo industrializado, uma vez que se tornou mais globalizado. A globalização como a experimentamos agora começou com os portugueses no final do século 15, e foi dominada por uma visão europeia por mais de quatro séculos. Depois da Segunda Guerra Mundial, o poder dessa visão diminuiu. Agora precisamos apreciar e acomodar a pluralidade. Não é apenas uma realidade global dominante, agora são muitas realidades locais competindo por aceitação. “Policentrismo” (múltiplos centros de poder e influência) é agora a experiência de muitas sociedades industrializadas e globalizadas. Bauman reconheceu que isso afeta nosso senso de estabilidade e certeza. Muitas coisas se tornam relativas quando todos exigem o direito de que suas realidades sejam validadas. Bauman chamou esse estado de relatividade de "fluidez" porque tudo é tão mutável. Não podemos voltar no tempo, nem podemos lutar mais duro para que nossa certeza se torne certeza de todos. A Igreja deve se adaptar. Como Jonathan Edwards e outros teólogos fizeram para a modernidade, então precisamos desenvolver uma teologia bíblica autêntica e prática de seguir a Cristo para esta era cada vez mais fluida que vivemos agora.
Como você percebe o conceito de “liquidez” permeando a cultura da igreja evangélica?
Acredito que nossa realidade “líquida” ou relativa apresenta uma grande oportunidade para a igreja global. Isto é, não é por acaso que as palavras “relatividade” e “relacionamento” estão conectadas. Relatividade significa literalmente “em relação com” (tudo o mais). Eu afirmo que a igreja é mais capaz de se adaptar à inevitável experiência da realidade “líquida”, e ministrar efetivamente nela, por enfocar numa teologia de relacionamentos da aliança Fazemos isso lendo as Escrituras através das lentes do relacionamento. Isso pode ser muito desconfortável para os crentes que dependem de coisas que consideram “sólidas” (ou fundamentais) em seus sistemas de crenças. Por exemplo, ensino bíblico específico ou dogma, teologias sistemáticas, formas de igreja, sacramentos, símbolos e posicionamentos morais inegociáveis. Isso era bom para realidades que foram delimitadas ou protegidas umas das outras. Já não funciona bem quando o evangelho traz fruto em outra realidade de maneiras biblicamente defensáveis que são diferentes do que você pode considerar uma fundação “sólida”. Missões globais adaptaram a uma pluralidade de expressões do Cristianismo autêntico em todo o mundo, por crescer em nossa compreensão de como o evangelho se torna "contextualizado" em outras realidades sem perder seu poder ou autoridade.
Como o evangelho pode responder aos desafios da modernidade líquida?
Nossos relacionamentos de aliança em fidelidade a Cristo, o Senhor, devem se tornar a única âncora fixa em nossa realidade fluida. O relacionamento é tudo. Todos nós em Cristo estamos conectados à mesma âncora, mas há uma grande flexibilidade na maneira como somos capazes de viver e nos mover e ter nosso ser na fluidez de nossas experiências vividas. Todo o Novo Testamento está focado em nos ensinar como ter uma vida saudável, relações reconciliadas em Cristo em meio à diversidade étnica e socioeconômica e valores que se chocam. O Espírito Santo nos transforma no processo de vivermos em tensão uns com os outros na unidade da aliança. É a nossa interação interpessoal uns com os outros em Cristo, caracterizada por amor, perdão, reconciliação, afirmação e encorajamento, fortalecido pelo Espírito Santo, que literalmente renova (transforma) nossas mentes. Romanos 12, por exemplo, deixa claro que este processo é um ato de adoração. Eu acredito que, se fizermos dos relacionamentos harmoniosos em Cristo o foco principal, é uma poderosa declaração do evangelho; porque é pela nossa unidade na diversidade que o mundo vai acreditar e saber que o Pai amorosamente enviou o Filho (João 17.18-25, “O Grande Compromisso”).
É natural do Amazonas, casado com Luíze e pai da Elis e do Joaquim. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e mestre em Missiologia no Centro Evangélico de Missões (CEM). É missionário e colaborador do Portal Ultimato.
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