Opinião
- 20 de dezembro de 2018
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A lógica divina do Natal
Por Luiz Fernando dos Santos
“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14).
O Natal é uma festa que está na contramão do curso da humanidade. Tudo quanto o mundo ensina e vive sobre o que é ser feliz é severamente confrontado por essa festa cristã. Santo Agostinho para demonstrar a lógica divina no Natal, assim se expressou:
“Vejam! O Criador do ser humano se fez homem para que, Aquele que governa do mundo sideral, se alimentasse de leite; para que o Pão tivesse fome; para a Fonte tivesse sede, a Luz adormecesse, o Caminho se fatigasse na viagem, a Verdade fosse acusada por falsos testemunhos, o Juiz dos vivos e dos mortos fosse julgado por um juiz mortal, a Justiça fosse condenada pelos injustos, a Disciplina fosse açoitada com chicotes, o Cacho de uvas fosse coroado de espinhos, o Alicerce fosse pendurado no madeiro; para que a Virtude se enfraquecesse, a Saúde fosse ferida e morresse a própria Vida” (Sermão 191,1: PL 38,1010).
“Vejam! O Criador do ser humano se fez homem para que, Aquele que governa do mundo sideral, se alimentasse de leite; para que o Pão tivesse fome; para a Fonte tivesse sede, a Luz adormecesse, o Caminho se fatigasse na viagem, a Verdade fosse acusada por falsos testemunhos, o Juiz dos vivos e dos mortos fosse julgado por um juiz mortal, a Justiça fosse condenada pelos injustos, a Disciplina fosse açoitada com chicotes, o Cacho de uvas fosse coroado de espinhos, o Alicerce fosse pendurado no madeiro; para que a Virtude se enfraquecesse, a Saúde fosse ferida e morresse a própria Vida” (Sermão 191,1: PL 38,1010).
O Natal é, pois, também uma ocasião propícia para aprendermos profundas lições, enquanto fazemos uma séria revisão de vida. A primeira das lições do Natal é a da simplicidade. Não havia nada de exagerado e que pudesse demonstrar ostentação ou superfluidade no estábulo de Belém. Giles Lipovetsky, um celebrado filósofo contemporâneo, diz que um novo espírito cultural já se mistura ao da pós-modernidade e que este deve ser identificado como ‘hipermodernidade’.
O que marca o espírito dessa época é a ostentação dos bens em forma de luxo exagerado e ‘atrevido’ e de certa maneira, supérfluo e pródigo. O pródigo aqui deve ser entendido como desperdício. A sociedade cada vez mais produz bens de consumo de cada vez menor necessidade real o que provoca, entre outras, falsas necessidades e o sentimento de frustração e vazio existencial. A simplicidade do Natal nos lembra que as coisas mais essenciais da vida, embora complexas, são simples. O presépio nos remete a nossa necessidade de relacionamentos intensos, profundos, resistentes às fugas fáceis e resilientes em face das dificuldades da vida.
O Natal nos recorda que o nível de felicidade não pode ter como referência os bens e as circunstâncias, mas a autoconsciência de nossa identidade, o sentimento de pertencimento a outros e o senso de uma vocação. Aqui a prendemos a segunda lição.
O Natal nos desperta para o senso de propósito na vida. As personagens das cenas natalinas: Maria, José, os Magos, os pastores no campo, os anjos e até mesmo a estrela-guia cumpriam uma missão. Não eram figurantes em um acontecimento aleatório. Suas vidas foram preenchidas com a missão de viverem para um grande propósito, um plano muito maior do que aquele traçado para a suas vidas.
O Natal nos leva a deixar nossas vidas ensimesmadas, ‘autocentradas’, para vivermos para fora de nós em vidas ‘outrocentradas’, isto é, centradas em Deus, no que Ele é e faz e em nosso próximo. O Natal nos ensina a via da cooperação, do altruísmo gratuito e da generosidade. Aqui a terceira lição, a solidariedade.
A condescendência de Deus em vir a Terra redimir, perdoar e salvar o homem (essa é a real história do Natal) é uma ação solidária do Senhor. Ele conhecia a nossa condição, sabia dos nossos sofrimentos, ouvia os nossos clamores e gemidos sob o peso do pecado e envolvidos pelas trevas da mentira.
Então, voluntariamente quis fazer-se vizinho, quis colocar-se ao nosso lado, entrou em nossa história e veio oferecer-se a nós. O Natal nos recorda que Deus não se fez de indiferente, nos lembra que Deus se importa. E, essa é uma lição muito preciosa para se perder. Nosso mundo está cada vez mais individualista, competitivo e excludente. Cada vez mais as riquezas estão concentradas nas mãos de um grupo cada vez menor de pessoas no planeta. Isso empurra multidões incontáveis para a pobreza indigna e a miséria desumana. A solidariedade, inspirada no nascimento de Jesus que veio para enriquecer a todos de sua graça e de seu amor, deve nos impulsionar em ações solidárias que transformam vidas, soerguem histórias e levam a redescobrir e experimentar o amor.
Chegamos a última lição do Natal. Foi por amor que o Pai nos deu de presente o Filho para nos salvar. Foi por amor que Jesus, como disse Agostinho acima, inverteu a lógica de todas as coisas para vir ao nosso encontro. Foi o seu amor ensinado ás multidões, demonstrado nos milagres, realizado no perdão, ofertado no socorro aos pobres e exaltado na cruz que dividiu a história humana e deu novo rumo a humanidade caída. Ainda hoje, é exatamente esse amor que pode e vai curar o nosso mundo enfermado pelo egoísmo, a soberba e a cultura de morte. Um Feliz Natal de uma feliz aprendizagem com o Filho de Deus!
• Rev. Luiz Fernando dos Santos é Ministro na Igreja Presbiteriana Central de Itapira, casado com Regina, pai da Talita. É Coordenador do Departamento de Teologia Pastoral do Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas e professor. É professor de Teologia Histórica, Filosofia e Teologia no Seminário Teológico Servo de Cristo em São Paulo.
Créditos da imagem: freepik.com
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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