Prateleira
- 27 de julho de 2012
- Visualizações: 4417
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
A incansável busca de Cristo
John Stott
Olhando para trás, por toda uma longa vida, muitas vezes tenho me perguntado o que me levou a Cristo. E, como já disse, não foi minha educação nem minha escolha independente; foi o próprio Cristo batendo à minha porta, chamando-me a atenção para a sua presença do lado de fora.
Ele fez isso de duas maneiras. A primeira foi por do meu sentimento de alienação para com Deus. Eu não era um ateu. Eu cria na existência de Deus — alguém ou alguma coisa em algum lugar, a realidade suprema por trás e além de todos os fenômenos cósmicos —, mas não conseguia encontrá-lo. Eu costumava visitar uma pequena
capela escura na escola que frequentava, a fim de ler livros religiosos e recitar orações. Tudo isso não tinha proveito algum; Deus estava distante e afastado, e eu não conseguia penetrar na névoa que parecia envolvê-lo.
A segunda maneira como vi Cristo batendo em minha porta foi pelo meu senso de derrota. Com o idealismo vibrante da juventude, eu tinha uma imagem heróica da pessoa que eu queria ser — altruísta e de espírito público. Mas tinha, ao mesmo tempo,
uma imagem clara de quem eu realmente era — malicioso, egoísta e orgulhoso. As duas imagens não combinavam. Eu era uma pessoa com altos ideais, mas sem a mínima disposição de alcançá-los.
Em meio a todo esse sentimento de alienação e fracasso, o Estranho à porta continuava batendo, até que o pregador que mencionei no início deste capítulo [um pregador falando sobre a pergunta de Pilatos: “o que farei com Jesus, chamado Cristo?”] lançou luz sobre o meu dilema. Ele falou da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Explicou que Cristo havia morrido para tornar a minha alienação em reconciliação, e havia ressuscitado dos mortos para tornar a minha derrota em vitória. A correspondência entre a minha necessidade subjetiva e a oferta objetiva de Cristo parecia muita próxima para ser uma coincidência. As batidas de Cristo em minha porta tornaram-se mais altas e mais insistentes. Eu abri a porta ou ele a abriu? De fato eu a abri, mas somente a sua persistência tornou isso possível e até mesmo inevitável.
Eu contei a você a minha história e me pergunto como é a sua. Jesus nos assegura em suas parábolas que, quer estejamos conscientemente buscando a Deus, quer não, ele com certeza está nos buscando. Cristo é como uma mulher que varre a sua casa em busca de uma moeda perdida; é como um pastor que se arrisca nos perigos do deserto em busca de apenas uma ovelha que se perdeu; e é como um pai que sente saudades de seu filho pródigo e deixa que ele experimente as amarguras de seus desatinos, mas que está pronto, a todo momento, para correr e encontrá-lo, e dar-lhe as boas-vindas de volta ao lar.
Estou convencido de que em algum momento de nossa vida sentimos o cutucão de Jesus Cristo e o ouvimos bater na porta, embora não reconheçamos o que aconteceu. Há muitas maneiras diferentes como ele nos busca, nos persegue e nos adverte quando estamos no caminho errado, seguindo na direção equivocada.
Pode ser por meio de um sentimento de culpa e vergonha, quando lembramos de algo que pensamos, dissemos ou fizemos e ficamos horrorizados com as profundezas de depravação nas quais somos capazes de afundar. Ou pode ser por meio da fossa escura da depressão, ou do vazio do desespero existencial, no qual nada faz sentido e tudo é absurdo. Ou, ainda, pode ser pelo medo da morte e do julgamento depois dela.
Podemos positivamente, de tempos e tempos, ficar maravilhados com o delicado equilíbrio da natureza, ou com algo maravilhoso para o ouvido, os olhos ou o toque. Ou, ainda, podemos experimentar o êxtase do amor imerecido ou a dor aguda do amor não-correspondido, porque sabemos instintivamente que o amor é a maior de todas as coisas no mundo. É em momentos como esses que Jesus Cristo se achega a nós e usa a sua mão para bater à porta ou para cutucar.
Se nos tornarmos cientes da incansável busca de Cristo, desistirmos de tentar escapar dele e nos entregarmos ao abraço desse “amante tremendo”, não haverá espaço para ostentação em relação àquilo que fazemos, mas somente para uma profunda ação de graças por sua graça e misericórdia, e para a firme resolução de passar o tempo e a eternidade a seu serviço.
Nota:
Texto retirado do capítulo 01 do livro Por que sou cristão. John Stott faleceu aos 90 anos no dia 27 de julho de 2011, exatamente há um ano.
Leia mais
Por que eu deveria derramar lágrimas?
A Bíblia toda, o ano todo
O discípulo radical (premium)
Olhando para trás, por toda uma longa vida, muitas vezes tenho me perguntado o que me levou a Cristo. E, como já disse, não foi minha educação nem minha escolha independente; foi o próprio Cristo batendo à minha porta, chamando-me a atenção para a sua presença do lado de fora.
Ele fez isso de duas maneiras. A primeira foi por do meu sentimento de alienação para com Deus. Eu não era um ateu. Eu cria na existência de Deus — alguém ou alguma coisa em algum lugar, a realidade suprema por trás e além de todos os fenômenos cósmicos —, mas não conseguia encontrá-lo. Eu costumava visitar uma pequena
capela escura na escola que frequentava, a fim de ler livros religiosos e recitar orações. Tudo isso não tinha proveito algum; Deus estava distante e afastado, e eu não conseguia penetrar na névoa que parecia envolvê-lo.
A segunda maneira como vi Cristo batendo em minha porta foi pelo meu senso de derrota. Com o idealismo vibrante da juventude, eu tinha uma imagem heróica da pessoa que eu queria ser — altruísta e de espírito público. Mas tinha, ao mesmo tempo,
uma imagem clara de quem eu realmente era — malicioso, egoísta e orgulhoso. As duas imagens não combinavam. Eu era uma pessoa com altos ideais, mas sem a mínima disposição de alcançá-los.
Em meio a todo esse sentimento de alienação e fracasso, o Estranho à porta continuava batendo, até que o pregador que mencionei no início deste capítulo [um pregador falando sobre a pergunta de Pilatos: “o que farei com Jesus, chamado Cristo?”] lançou luz sobre o meu dilema. Ele falou da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Explicou que Cristo havia morrido para tornar a minha alienação em reconciliação, e havia ressuscitado dos mortos para tornar a minha derrota em vitória. A correspondência entre a minha necessidade subjetiva e a oferta objetiva de Cristo parecia muita próxima para ser uma coincidência. As batidas de Cristo em minha porta tornaram-se mais altas e mais insistentes. Eu abri a porta ou ele a abriu? De fato eu a abri, mas somente a sua persistência tornou isso possível e até mesmo inevitável.
Eu contei a você a minha história e me pergunto como é a sua. Jesus nos assegura em suas parábolas que, quer estejamos conscientemente buscando a Deus, quer não, ele com certeza está nos buscando. Cristo é como uma mulher que varre a sua casa em busca de uma moeda perdida; é como um pastor que se arrisca nos perigos do deserto em busca de apenas uma ovelha que se perdeu; e é como um pai que sente saudades de seu filho pródigo e deixa que ele experimente as amarguras de seus desatinos, mas que está pronto, a todo momento, para correr e encontrá-lo, e dar-lhe as boas-vindas de volta ao lar.
Estou convencido de que em algum momento de nossa vida sentimos o cutucão de Jesus Cristo e o ouvimos bater na porta, embora não reconheçamos o que aconteceu. Há muitas maneiras diferentes como ele nos busca, nos persegue e nos adverte quando estamos no caminho errado, seguindo na direção equivocada.
Pode ser por meio de um sentimento de culpa e vergonha, quando lembramos de algo que pensamos, dissemos ou fizemos e ficamos horrorizados com as profundezas de depravação nas quais somos capazes de afundar. Ou pode ser por meio da fossa escura da depressão, ou do vazio do desespero existencial, no qual nada faz sentido e tudo é absurdo. Ou, ainda, pode ser pelo medo da morte e do julgamento depois dela.
Podemos positivamente, de tempos e tempos, ficar maravilhados com o delicado equilíbrio da natureza, ou com algo maravilhoso para o ouvido, os olhos ou o toque. Ou, ainda, podemos experimentar o êxtase do amor imerecido ou a dor aguda do amor não-correspondido, porque sabemos instintivamente que o amor é a maior de todas as coisas no mundo. É em momentos como esses que Jesus Cristo se achega a nós e usa a sua mão para bater à porta ou para cutucar.
Se nos tornarmos cientes da incansável busca de Cristo, desistirmos de tentar escapar dele e nos entregarmos ao abraço desse “amante tremendo”, não haverá espaço para ostentação em relação àquilo que fazemos, mas somente para uma profunda ação de graças por sua graça e misericórdia, e para a firme resolução de passar o tempo e a eternidade a seu serviço.
Nota:
Texto retirado do capítulo 01 do livro Por que sou cristão. John Stott faleceu aos 90 anos no dia 27 de julho de 2011, exatamente há um ano.
Leia mais
Por que eu deveria derramar lágrimas?
A Bíblia toda, o ano todo
O discípulo radical (premium)
- 27 de julho de 2012
- Visualizações: 4417
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Prateleira
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- A última revista do ano
- Vem aí "The Connect Faith 2024"