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A incansável busca de Cristo

John Stott

Olhando para trás, por toda uma longa vida, muitas vezes tenho me perguntado o que me levou a Cristo. E, como já disse, não foi minha educação nem minha escolha independente; foi o próprio Cristo batendo à minha porta, chamando-me a atenção para a sua presença do lado de fora.

Ele fez isso de duas maneiras. A primeira foi por do meu sentimento de alienação para com Deus. Eu não era um ateu. Eu cria na existência de Deus — alguém ou alguma coisa em algum lugar, a realidade suprema por trás e além de todos os fenômenos cósmicos —, mas não conseguia encontrá-lo. Eu costumava visitar uma pequena
capela escura na escola que frequentava, a fim de ler livros religiosos e recitar orações. Tudo isso não tinha proveito algum; Deus estava distante e afastado, e eu não conseguia penetrar na névoa que parecia envolvê-lo.

A segunda maneira como vi Cristo batendo em minha porta foi pelo meu senso de derrota. Com o idealismo vibrante da juventude, eu tinha uma imagem heróica da pessoa que eu queria ser — altruísta e de espírito público. Mas tinha, ao mesmo tempo,
uma imagem clara de quem eu realmente era — malicioso, egoísta e orgulhoso. As duas imagens não combinavam. Eu era uma pessoa com altos ideais, mas sem a mínima disposição de alcançá-los.

Em meio a todo esse sentimento de alienação e fracasso, o Estranho à porta continuava batendo, até que o pregador que mencionei no início deste capítulo [um pregador falando sobre a pergunta de Pilatos: “o que farei com Jesus, chamado Cristo?”] lançou luz sobre o meu dilema. Ele falou da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Explicou que Cristo havia morrido para tornar a minha alienação em reconciliação, e havia ressuscitado dos mortos para tornar a minha derrota em vitória. A correspondência entre a minha necessidade subjetiva e a oferta objetiva de Cristo parecia muita próxima para ser uma coincidência. As batidas de Cristo em minha porta tornaram-se mais altas e mais insistentes. Eu abri a porta ou ele a abriu? De fato eu a abri, mas somente a sua persistência tornou isso possível e até mesmo inevitável.

Eu contei a você a minha história e me pergunto como é a sua. Jesus nos assegura em suas parábolas que, quer estejamos conscientemente buscando a Deus, quer não, ele com certeza está nos buscando. Cristo é como uma mulher que varre a sua casa em busca de uma moeda perdida; é como um pastor que se arrisca nos perigos do deserto em busca de apenas uma ovelha que se perdeu; e é como um pai que sente saudades de seu filho pródigo e deixa que ele experimente as amarguras de seus desatinos, mas que está pronto, a todo momento, para correr e encontrá-lo, e dar-lhe as boas-vindas de volta ao lar.

Estou convencido de que em algum momento de nossa vida sentimos o cutucão de Jesus Cristo e o ouvimos bater na porta, embora não reconheçamos o que aconteceu. Há muitas maneiras diferentes como ele nos busca, nos persegue e nos adverte quando estamos no caminho errado, seguindo na direção equivocada.

Pode ser por meio de um sentimento de culpa e vergonha, quando lembramos de algo que pensamos, dissemos ou fizemos e ficamos horrorizados com as profundezas de depravação nas quais somos capazes de afundar. Ou pode ser por meio da fossa escura da depressão, ou do vazio do desespero existencial, no qual nada faz sentido e tudo é absurdo. Ou, ainda, pode ser pelo medo da morte e do julgamento depois dela.

Podemos positivamente, de tempos e tempos, ficar maravilhados com o delicado equilíbrio da natureza, ou com algo maravilhoso para o ouvido, os olhos ou o toque. Ou, ainda, podemos experimentar o êxtase do amor imerecido ou a dor aguda do amor não-correspondido, porque sabemos instintivamente que o amor é a maior de todas as coisas no mundo. É em momentos como esses que Jesus Cristo se achega a nós e usa a sua mão para bater à porta ou para cutucar.

Se nos tornarmos cientes da incansável busca de Cristo, desistirmos de tentar escapar dele e nos entregarmos ao abraço desse “amante tremendo”, não haverá espaço para ostentação em relação àquilo que fazemos, mas somente para uma profunda ação de graças por sua graça e misericórdia, e para a firme resolução de passar o tempo e a eternidade a seu serviço.

Nota:
Texto retirado do capítulo 01 do livro Por que sou cristão. John Stott faleceu aos 90 anos no dia 27 de julho de 2011, exatamente há um ano.

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