Opinião
- 22 de junho de 2018
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A importância dos colportores na evangelização do Brasil
Por Rute Salviano Almeida
No livro História da Evangelização no Brasil, Elben César discorre sobre a evangelização desde os primórdios, com os missionários católicos, até à chegada das denominações evangélicas tradicionais. É um rico e completo panorama.
Muitas vezes, o relato da história se inicia com os missionários pregadores e plantadores de igrejas e são esquecidos seus importantes precursores: os colportores, que foram responsáveis pela distribuição de livros e Bíblias para o povo.
O trabalho maravilhoso desses valorosos homens de Deus lembra um trecho da poesia de Castro Alves, O Livro e a América:
Oh bendito o que semeia, livros, livros a mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Castro Alves (1870)
Se um livro pode causar uma revolução, há de se considerar o impacto da distribuição da Bíblia Sagrada. E, o pastor Elben não olvidou os colportores, destacando que:
O missionário metodista americano Daniel Parish Kidder (1815-1891) foi o primeiro correspondente da Sociedade Bíblica Americana a se fixar no Brasil. Com a idade de 22 anos, já casado, ele percorreu o país de norte a sul. Kidder era destemido e criativo. Em uma de suas viagens a São Paulo, propôs à Assembleia Legislativa o uso da Bíblia nas escolas primárias de toda a província e se comprometeu a doar doze exemplares para cada escola, caso a proposta fosse aprovada. Ele fazia de tudo para tornar a Bíblia conhecida [1].
Kidder viajou extensivamente pelo Brasil e os relatos de suas viagens constam do seu livro “Reminiscências de viagens e permanências no Brasil”. Como representante da Sociedade Bíblica Americana distribuiu largamente as Escrituras: em navios, escolas, vilarejos, enfim, em lugares que somente exploradores audazes teriam ido. Ele pregava em navios de guerra norte-americanos, estabelecia depósitos de Bíblias nas cidades costeiras e se preparava para realizar culto em português no Rio de Janeiro [2].
Vale a pena destacar também sua esposa, Cynthia Kidder, que enfrentou a solidão por muitas vezes enquanto seu esposo viajava. Sobre ela foi escrito:
Ah! Cynthia, esposa e companheira de missionário, mãezinha que ficavas só nesta terra estranha enquanto o teu marido viajava longe, meses a frio, distribuindo a Palavra de Deus e anunciando as boas novas! Quantos receios e quantas saudades não terás sentido! Contudo, fervorosamente cristã, como teu marido descreveu-te, não hesitaste em aceitar o peso da solidão, do medo e da incompreensão de tua missão! [3]
Quando o missionário voltava de uma longa viagem, feliz pela sementeira lançada, ansioso pela oportunidade de pregar em português e pelo reencontro com esposa e filhinhos, encontrou sua mulher passando mal e piorando dia a dia com a “cruel moléstia”, como ele a chamou.
Cynthia Kidder faleceu de febre amarela, em 16 de abril de 1840, com apenas vinte e dois anos de idade. Ela deixou dois filhos pequenos e foi considerada a primeira mártir do metodismo brasileiro e a primeira missionária na América do Sul a falecer em seu campo de trabalho.
A repercussão de sua morte foi grande e resultou no despertamento de muitas vocações. Vale a pena destacar esse fato, pois: "As esposas, muitas das quais fizeram sacrifícios de proporções heróicas, foram tão importantes para a difusão do evangelho quanto seus maridos." [4]
Notas
[1] CÉSAR, Elben M. Lenz. História da evangelização do Brasil. Dos jesuítas aos neopentecostais. Ultimato: Viçosa, 2018, p. 69.
[2] ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 335.
[3] LONG, Eula Kennedy. Do meu velho baú metodista, 1968, p. 35.
[4] McIntire Robert L. Portrait of half a century, 7/54-55, citado por MATOS, Alderi de Souza. “Para memória sua”: a participação da mulher nos primórdios do presbiterianismo no Brasil, p. 103.
>>> Conheça a série Ultimato 50 Anos <<<
Leia mais
» De olho (e ouvido em pé) em Jesus
» O fazer que vem do nosso (in) consciente
» Para quem quer aprender a orar como gente
No livro História da Evangelização no Brasil, Elben César discorre sobre a evangelização desde os primórdios, com os missionários católicos, até à chegada das denominações evangélicas tradicionais. É um rico e completo panorama.
Muitas vezes, o relato da história se inicia com os missionários pregadores e plantadores de igrejas e são esquecidos seus importantes precursores: os colportores, que foram responsáveis pela distribuição de livros e Bíblias para o povo.
O trabalho maravilhoso desses valorosos homens de Deus lembra um trecho da poesia de Castro Alves, O Livro e a América:
Oh bendito o que semeia, livros, livros a mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Castro Alves (1870)
Se um livro pode causar uma revolução, há de se considerar o impacto da distribuição da Bíblia Sagrada. E, o pastor Elben não olvidou os colportores, destacando que:
O missionário metodista americano Daniel Parish Kidder (1815-1891) foi o primeiro correspondente da Sociedade Bíblica Americana a se fixar no Brasil. Com a idade de 22 anos, já casado, ele percorreu o país de norte a sul. Kidder era destemido e criativo. Em uma de suas viagens a São Paulo, propôs à Assembleia Legislativa o uso da Bíblia nas escolas primárias de toda a província e se comprometeu a doar doze exemplares para cada escola, caso a proposta fosse aprovada. Ele fazia de tudo para tornar a Bíblia conhecida [1].
Kidder viajou extensivamente pelo Brasil e os relatos de suas viagens constam do seu livro “Reminiscências de viagens e permanências no Brasil”. Como representante da Sociedade Bíblica Americana distribuiu largamente as Escrituras: em navios, escolas, vilarejos, enfim, em lugares que somente exploradores audazes teriam ido. Ele pregava em navios de guerra norte-americanos, estabelecia depósitos de Bíblias nas cidades costeiras e se preparava para realizar culto em português no Rio de Janeiro [2].
Vale a pena destacar também sua esposa, Cynthia Kidder, que enfrentou a solidão por muitas vezes enquanto seu esposo viajava. Sobre ela foi escrito:
Ah! Cynthia, esposa e companheira de missionário, mãezinha que ficavas só nesta terra estranha enquanto o teu marido viajava longe, meses a frio, distribuindo a Palavra de Deus e anunciando as boas novas! Quantos receios e quantas saudades não terás sentido! Contudo, fervorosamente cristã, como teu marido descreveu-te, não hesitaste em aceitar o peso da solidão, do medo e da incompreensão de tua missão! [3]
Quando o missionário voltava de uma longa viagem, feliz pela sementeira lançada, ansioso pela oportunidade de pregar em português e pelo reencontro com esposa e filhinhos, encontrou sua mulher passando mal e piorando dia a dia com a “cruel moléstia”, como ele a chamou.
Cynthia Kidder faleceu de febre amarela, em 16 de abril de 1840, com apenas vinte e dois anos de idade. Ela deixou dois filhos pequenos e foi considerada a primeira mártir do metodismo brasileiro e a primeira missionária na América do Sul a falecer em seu campo de trabalho.
A repercussão de sua morte foi grande e resultou no despertamento de muitas vocações. Vale a pena destacar esse fato, pois: "As esposas, muitas das quais fizeram sacrifícios de proporções heróicas, foram tão importantes para a difusão do evangelho quanto seus maridos." [4]
Notas
[1] CÉSAR, Elben M. Lenz. História da evangelização do Brasil. Dos jesuítas aos neopentecostais. Ultimato: Viçosa, 2018, p. 69.
[2] ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro. São Paulo: Hagnos, 2014, p. 335.
[3] LONG, Eula Kennedy. Do meu velho baú metodista, 1968, p. 35.
[4] McIntire Robert L. Portrait of half a century, 7/54-55, citado por MATOS, Alderi de Souza. “Para memória sua”: a participação da mulher nos primórdios do presbiterianismo no Brasil, p. 103.
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Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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