Opinião
- 24 de maio de 2023
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A importância das famílias nas missões globais
Por Carissa Potter e Karen Hardin
O ano era 1727. O lugar era a Alemanha. A comunidade dos irmãos morávios, uma das mais antigas denominações protestantes, estava jejuando e orando. Assim como aconteceu no Pentecoste, o Espírito Santo foi derramado ali, trazendo avivamento e foco. Toda a comunidade dos morávios iniciou uma reunião de oração que teve a duração de cem anos. Essa reunião de oração secular representou o início do movimento missionário moderno.
O ano era 1727. O lugar era a Alemanha. A comunidade dos irmãos morávios, uma das mais antigas denominações protestantes, estava jejuando e orando. Assim como aconteceu no Pentecoste, o Espírito Santo foi derramado ali, trazendo avivamento e foco. Toda a comunidade dos morávios iniciou uma reunião de oração que teve a duração de cem anos. Essa reunião de oração secular representou o início do movimento missionário moderno.
Como manter um movimento de oração por cem anos? A resposta talvez o surpreenda: incluindo as crianças.1
O avivamento aconteceu primeiramente entre os adultos e depois entre as crianças. Certo historiador afirmou: “Todas as crianças foram tomadas por um extraordinário derramar do Espírito e passaram a noite inteira em oração. Não há palavras para expressar a poderosa ação do Espírito Santo sobre essas crianças, cujas vidas foram tão transformadas”.2
Noite e dia, a cada hora, os crentes se revezavam intercedendo pelas nações do mundo. Pais oravam com seus filhos, uma geração transmitindo à outra um fervoroso amor por Deus e pelas nações. O movimento missionário moderno foi alicerçado na oração e preservado pela fidelidade de várias gerações.
A família e a obra missionária de Deus
Quando Deus criou a primeira família, tinha em mente sua obra missionária (Gn 1.27-28). Por meio de Adão e Eva e de seus descendentes e, posteriormente, dos descendentes de Noé, o plano de Deus era encher a Terra com famílias — portadores da imagem que refletiria a glória divina entre os povos de seu tempo. Em Gênesis 12, após a dispersão na torre de Babel, Deus iniciou com Abraão o que mais tarde se tornaria uma aliança multigeracional. Ele prometeu abençoar todos os povos da terra através de Abraão e seus descendentes.
Em Gênesis 18, Deus revela sua estratégia para garantir a concretização desse plano: fidelidade geracional.
Abraão será o pai de uma nação grande e poderosa, e por meio dele todas as nações da terra serão abençoadas. Pois eu o escolhi, para que ordene aos seus filhos e aos seus descendentes que se conservem no caminho do Senhor, fazendo o que é justo e direito, para que o Senhor faça vir a Abraão o que lhe havia prometido (Gn 18.18-19, destaque acrescentado).
No contexto dessa aliança global e permanente firmada por Deus, qual era o chamado específico de Abraão como pai? Ele deveria amar a Deus, ser uma bênção para as nações ao seu redor e discipular seus filhos para que fizessem o mesmo.
Quando estabeleceu a nação de Israel, Deus deu instruções específicas que revelam essa estratégia de fidelidade geracional. O povo de Deus deveria amá-lo de todo o coração e ensinar (ou discipular) seus filhos em todos os momentos da vida (Dt 6.4-9, Sl 78.1-7).
Embora as famílias sempre tenham sido peças estratégicas no plano global de redenção divina (incluindo a família que é o corpo da igreja), nem sempre acreditamos que as famílias – principalmente aquelas com crianças pequenas – podem ser parte central de nossa estratégia missionária. Falamos sobre obreiros de longo e curto prazo, iniciativas de evangelismo e abordagens estratégicas como plantação de igrejas e missão no local de trabalho. Mas quando desenvolvemos nossa estratégia de missões, com que frequência pensamos em estabelecer parcerias com os pais enquanto eles discipulam seus filhos para que conheçam a missão de Deus e sejam uma bênção para as nações?
O que estamos perdendo quando consideramos a inclusão de crianças e famílias apenas como um complemento e não como um componente central de nossas estratégias missionárias de mobilização? O que acontece quando não consideramos o papel fundamental da família e dos filhos na obra missionária de Deus?
Perdemos trabalhadores em potencial para a colheita. Quando uma geração de jovens crentes, que são cheios do Espírito Santo como nós também somos, não ouve sobre os povos não alcançados e a obra missionária de Deus até que atinja a idade adulta, acaba vivendo em ignorância do seu papel na história de Deus. Sua visão de mundo, que está completamente formada aos 13 anos,3 carece da compreensão de como sua identidade e seu propósito estão conectados ao coração e aos planos de Deus para as nações.
Deixamos de ter crianças como a Hope que, aos nove anos de idade, já estava ciente de seu papel na evangelização das nações e orava todos os dias pela Mongólia até ler um artigo, publicado dois anos depois, que celebrava os primeiros 500 mongóis que haviam entregado a vida a Cristo. O título do artigo era: “Esperança para a Mongólia”.4
Também perdemos o impacto da mobilização da família na cultura da igreja. Quando as famílias de uma congregação começam a entender o coração de Deus para as nações, e à medida que os filhos dessas famílias são criados como cristãos globais, a cultura da igreja começa a mudar. Não apenas de cima para baixo, mas por um movimento de base das famílias, que deixam de ver a obra missionária como uma tarefa de poucas pessoas especializadas e passam a vê-la como a essência de quem somos como discípulos de Jesus. Transformações como essa ocorrem quando pais e responsáveis colocam em prática sua convicção sobre o poderoso papel do discipulado familiar na concretização de Apocalipse 7.9. Como Doreen, do Quênia, que afirmou: “Agora sei que meus filhos não foram apenas salvos de algo, mas para algo”.
Tornando as famílias o ponto central de nossa estratégia missionária
Se Deus fez das famílias o ponto central de sua estratégia missionária, talvez também devêssemos fazer o mesmo. Aqui estão algumas maneiras de começar.
1.Fale regularmente às crianças sobre a obra missionária de Deus, em locais onde os pais também possam ouvir.
Para mobilizar as famílias, precisamos falar regularmente sobre a missão de tornar Deus conhecido e adorado por pessoas de toda tribo, língua e nação, e sobre o papel de cada crente nessa tarefa. Precisamos mostrar como o desejo de Deus de alcançar as nações está revelado em todo o Antigo e Novo Testamento e como Deus abençoa seu povo para que seja uma bênção às nações.
Pais e responsáveis não podem transmitir a seus filhos o que eles próprios ainda não compreendem e acreditam. Também é pouco provável que eles se envolvam como família na obra missionária de Deus se isso lhes parecer irrelevante ou inconcebível em algum momento de sua vida. O elemento essencial da mobilização de famílias são adultos que abraçam o amor de Deus pelas nações como um componente bíblico de sua fé cotidiana e sabem comunicar essa visão a seus filhos.
Pais e responsáveis não podem transmitir a seus filhos o que eles próprios ainda não compreendem e acreditam. Também é pouco provável que eles se envolvam como família na obra missionária de Deus se isso lhes parecer irrelevante ou inconcebível em algum momento de sua vida. O elemento essencial da mobilização de famílias são adultos que abraçam o amor de Deus pelas nações como um componente bíblico de sua fé cotidiana e sabem comunicar essa visão a seus filhos.
2. Ajude os pais e responsáveis a colocar em prática sua responsabilidade bíblica de discipulado.
Precisamos frisar continuamente aos pais e responsáveis a importância de serem influenciadores espirituais na vida de seus filhos. A igreja local pode ser um parceiro essencial no discipulado de seus filhos.
Muitos pais e responsáveis, mesmo os que cresceram em lares cristãos, nunca experimentaram o tipo de discipulado descrito em Deuteronômio 6. Pode ser algo intimidador. Podemos fazer parceria com adultos que desempenham esse papel, sempre encorajando-os em seus esforços, oferecendo orientação para ajudá-los a adquirir habilidades específicas e exemplos de como liderar devocionais ou ter conversas frequentes com seus filhos sobre Deus e sua obra missionária.
3. Defenda o papel das crianças no cumprimento da Grande Comissão.
Reserve um tempo para avaliar honestamente a forma como você ou a sua cultura vê as crianças. Nós as vemos como a igreja do futuro ou parte da igreja hoje, mesmo sendo pequenas? Cremos que o Espírito Santo se move nelas e por meio delas, assim como o faz nos adultos?
A Bíblia fala de muitas crianças que desempenharam um papel estratégico na obra de Deus. Miriam, ainda menina, cuidou do futuro líder de Israel, protegendo-o enquanto o cesto em que ele estava flutuava no rio Nilo (Êx 2.3-8). O jovem Samuel ouviu a voz de Deus quando ninguém mais estava ouvindo (1Sm 3.1-10). A serva de Naamã sentiu compaixão por seu captor, um adorador de ídolos que sofria de lepra. Ela indicou o profeta de Deus a Naamã e levou esperança para sua família (2Rs 5.1-3). Após a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, as crianças no templo o louvaram como o Filho de Davi (Mt 21.15-16).
Assim como nos tempos bíblicos, Deus está usando crianças em sua história hoje. Mobilizar crianças traz benefícios tanto a curto prazo como a longo prazo, pois as famílias participam da missão de Deus agora, enquanto seus filhos são jovens, e eventualmente enviam discípulos que já estão em missão quando se tornam jovens adultos. Igrejas e organizações devem buscar intencionalmente valorizar as crianças e sua importância na realização da Grande Comissão. Devemos oferecer oportunidades para que elas sirvam e participem como membros da igreja. Devemos compartilhar suas histórias. Devemos convidá-las para oportunidades e decisões.
Assim como nos tempos bíblicos, Deus está usando crianças em sua história hoje. Mobilizar crianças traz benefícios tanto a curto prazo como a longo prazo, pois as famílias participam da missão de Deus agora, enquanto seus filhos são jovens, e eventualmente enviam discípulos que já estão em missão quando se tornam jovens adultos. Igrejas e organizações devem buscar intencionalmente valorizar as crianças e sua importância na realização da Grande Comissão. Devemos oferecer oportunidades para que elas sirvam e participem como membros da igreja. Devemos compartilhar suas histórias. Devemos convidá-las para oportunidades e decisões.
4. Valorize o papel da família na obra missionária de Deus.
Alcançar as nações exige pessoas dispostas a ir. Em espírito de oração, muitas famílias dirão “sim”. Aqueles que forem enfrentarão dificuldades e tribulações em sua obra transcultural. Devemos encorajá-los e contribuir com seu sustento. Mas para cada missionário que se engaja na obra, dezenas de famílias são necessárias para enviá-lo, pois “Como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10.15)
Devemos valorizar todos os papéis desempenhados pelos crentes na evangelização dos que ainda não foram alcançados. Reconheça os que enviam, as famílias que usam suas finanças com sabedoria para sustentar obreiros e os esforços entre os não alcançados. Reconheça as famílias que estão alcançando as nações por meio da intercessão fiel, assim como fazem a pequena Hope e seus pais. Reconheça os que recebem esses obreiros, aqueles que voluntariamente buscam e amam as nações ao seu redor: refugiados, estudantes estrangeiros, profissionais etc. Reconheça os mobilizadores, aqueles que se dedicam a expandir a visão de alcançar as nações na igreja local e na comunidade cristã em geral.
Como a cultura de nossa igreja seria impactada se cada família acreditasse que tem uma parte estratégica no plano de Deus para abençoar as nações?
O trabalho de mobilização de famílias é como uma maratona. Alcança lugares sagrados — o coração da vida familiar — e dura mais de dezoito anos. Requer intencionalidade e perseverança. Mas quantas são as recompensas desse fruto duradouro! Para ver o cumprimento da Grande Comissão, para ver pessoas de todos os povos e tribos amando e adorando a Jesus, precisamos do envolvimento de todos os crentes. Isso inclui pais e responsáveis e seus filhos pequenos.
Saiba mais:
» Minha família é normal?
» Minha Família Pode Ser Feliz
O trabalho de mobilização de famílias é como uma maratona. Alcança lugares sagrados — o coração da vida familiar — e dura mais de dezoito anos. Requer intencionalidade e perseverança. Mas quantas são as recompensas desse fruto duradouro! Para ver o cumprimento da Grande Comissão, para ver pessoas de todos os povos e tribos amando e adorando a Jesus, precisamos do envolvimento de todos os crentes. Isso inclui pais e responsáveis e seus filhos pequenos.
Notas:
1. Story of the Moravians, Light of the World Prayer Center
1. Story of the Moravians, Light of the World Prayer Center
2. The History of Revivals of Religion by William E Allen
4. Kids Making A Difference by Pete Hohmann
Publicado, originalmente, em lausanne.org. Reproduzido com permissão.
Publicado, originalmente, em lausanne.org. Reproduzido com permissão.
- Carissa é fundadora e diretora da Weave, um ministério do Centro de Mobilização Missionária. Ela ajuda pais e líderes em mais de uma dezena de países por meio de treinamento, recursos e consultoria, e ajudou a desenvolver recursos para a família como os livros Parenting with a Global Vision e os devocionais para família da Big Story Series.
- Karen é gerente de desenvolvimento de recursos da Weave. Além de criar recursos para famílias, ela também atua como instrutora e coach internacional. Uma das maiores alegrias de Karen é ajudar e capacitar crianças e famílias a compreender os propósitos globais de Deus e desempenhar seu papel no avanço de seu Reino.
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