Opinião
- 02 de junho de 2023
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A igreja somos nós. Incluindo as crianças?
Quando afirmamos que a igreja somos nós, as crianças estão incluídas? A pergunta que fazemos é que lugar as crianças ocupam nesse “nós”? Elas são reconhecidas? Ou as crianças são “café com leite” e, no final, elas não contam?
No espaço central da Igreja, abraçada a Jesus há uma criança:
Por Silvia Kivitz
Quando olhamos para Jesus, percebemos que as crianças contam e contam muito! Aprendemos com Jesus a reconhecer o valor e a importância das crianças. Os Evangelhos nos contam de situações específicas envolvendo as crianças. Uma delas está registrada no evangelho de Mateus 18.1-5. Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: quem é o maior no reino dos céus? Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: “Eu lhes asseguro que a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos Céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos Céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo”.
O olhar de Jesus para a criança
De acordo com os relatos bíblicos, a comunidade de Jesus está crescendo. E como em qualquer ajuntamento humano, começa a surgir uma disputa de poder – não foi diferente entre os discípulos. Reinos têm hierarquias e os discípulos projetando esse modelo, passam a debater sobre quem seria o maior no Reino de Deus.
No reino de Deus, porém, essa relação de poder é invertida. Essa lógica é quebrada quando Jesus coloca uma criança nos braços, e afirma que o maior em sua comunidade é quem se faz humilde como uma criança, este é o maior no reino dos céus. Jesus afirma que se não nos convertermos e não nos tornamos como crianças, não entraremos no reino dos céus.
“Não seja criança!” é uma expressão que usamos, geralmente, quando queremos criticar alguém. Porém, Jesus está dizendo “seja como uma criança”. Jesus não está sugerindo seja que eu seja “infantil” ou seja um adulto infantilizado”. Não é disso que ele está falando, Jesus está chamando a nossa atenção sobre ser semelhante a uma criança. E qual é esse modo? Não é se diminuir, não é deixar de ser inteiro. É reconhecer minha vulnerabilidade, é ser verdadeiro, é ser verdadeira. É reconhecer minha dependência de Deus e não a minha autossuficiência, a minha arrogância.
As crianças simbolizam os pequeninos, os simples de coração. A novidade de Jesus consiste em tornar grande quem é pequeno, quem é despojado de poder e prestígio. Jesus não precisa de maiores nem de primeiros, busca os últimos; ele quer pessoas que saibam se colocar no final para ajudar os outros a partir desse espaço, superando a lógica do mando.
Ninguém estava disposto a ser o último.
Ser semelhante a uma criança é para gente grande. Gente que sabe do seu valor diante de Deus e não precisa provar nada para ninguém. Ao “adultecer” a gente passa a viver com a insegurança de que se de fato somos amados. Não é conhecimento ou saber, nem mesmo poder, que nossa alma busca. No fundo, no fundo, buscamos uma profunda relação de amor: ouvir “sou filho amado de Deus”, “sou filha amada de Deus”.
Quando nos ensina a orar, Jesus diz que devemos invocar a Deus como nosso Abba. Abba é o balbucio da criança que se atira no colo do pai sabendo que aquele é o lugar mais seguro da terra. Não há grandes racionalizações, a criança sabe muito pouco a respeito de seu pai. Na verdade, sabe apenas que aquele é o seu pai. E isso é suficiente.
O salmista vai dizer: “Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança”. Ela está plena, satisfeita, segura, amada, acolhida no colo de sua mãe.
Que a gente saiba que por mais complexos que sejam nossos raciocínios, por mais abrangente que seja nosso conhecimento, o nosso relacionamento com Deus é baseado em afeto, intimidade e encantamento diante da sua Glória.
Peça a Deus um coração de criança.
Somente quem tem um coração de criança vive as coisas extraordinárias do reino de Deus.
Leonardo Boff assim escreveu:
“Todo menino quer ser homem
Todo homem quer rei
Todo rei quer ser Deus
Só Deus quis ser menino”.
Para alguns, as experiências da infância estão marcadas por histórias de muito sofrimento, perdas, carências, violência, abuso e dor. Por isso a dificuldade e resistência em receber o convite de Jesus, nos interpelando a ser semelhantes à uma criança.
Não fomos reconhecidos e validados como crianças, não fomos cuidados e protegidos. Jesus não apaga o pavio que fumega e nem quebra o que está destruído. Jesus me dá a mão e vai comigo visitando os cantos escuros da nossa infância e lança luz, e traz à luz, me abraça, me olha com amor e oferece um caminho de cura e restauração. Talvez eu sozinha não consiga, e posso pedir ajuda.
Reconcilie-se com sua infância.
Nosso olhar como igreja para a criança
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo” (Mt 18.5).
Jesus toma uma criança e realiza um gesto provocativo: coloca-a no centro e a abraça. Lucas escreve que Jesus tomou uma criança e a colocou em pé, ao seu lado. Em pé, em sinal de autoridade.
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.”
No espaço central da Igreja, abraçada a Jesus há uma criança:
“Depois trouxeram crianças a Jesus, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos os repreendiam. Então disse Jesus: Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o reino de céus pertence aos que são semelhantes a elas. Depois de lhes impor as mãos, partiu dali” (Mt 19.13-15).
Provavelmente, os discípulos, influenciados pela cultura da época, onde mulheres e crianças não eram contadas, eles rejeitaram as crianças, impedindo que chegassem até Jesus e fossem abençoadas por Ele. Como se elas estivessem “atrapalhando” Jesus.
Jesus diz, são vocês que estão me atrapalhando, impedindo que as crianças cheguem até mim. Nada pode impedir as crianças de se aproximarem de Jesus. Nada. E a igreja precisa estar atenta para não colocar obstáculos para que as crianças cheguem até Jesus.
“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.” Recebe de que forma? Acolhendo a criança, amando, reconhecendo, protegendo, priorizando a criança. Ela é igreja. Crianças não são o futuro. Crianças são o presente!
Afirma o provérbio africano que “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Por isso nos unimos às famílias, nesse sagrado encargo de amar e cuidar de nossas crianças.
Que as nossas casas, as nossas famílias sejam lugar de vida, de alegria, de amor e segurança, de atenção para nossos filhos e filhas, netos e netas. A igreja seja lugar de vida para as crianças!
Uma igreja séria cuida de suas crianças. De todas as crianças. Uma igreja séria oferece espaços de proteção e segurança para suas crianças 1.
Na semana de 18 de maio, vários segmentos da sociedade brasileira se manifestaram em favor do Dia nacional de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. Diariamente 55 crianças e adolescentes são vítimas são vítimas de violência sexual, segundo dados do Observatório da Criança da Fundação Abrinq. O mês de maio também conhecido como Maio Laranja, traz para pauta a necessidade de se falar sobre abuso e exploração infantil. Se pronunciar contra, denunciar, buscar ajuda. O Projeto Bunekas, com um dos seus projetos funcionando na IBAB, é uma das respostas que damos como prevenção ao abuso sexual infantil.
Peça a Deus um coração de criança. Receba uma criança como quem recebe a Jesus.
Este artigo tem origem no sermão A igreja somos nós, de Silvia Kivitz, 21/5/2023.
Nota
1. A equipe do IBAB Criança está finalizando um documento denominado “Política de Proteção à criança e ao adolescente”.
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Não é fácil assumir-se fraco. Não é nem um pouco confortável vivenciar a fraqueza. Ela causa dor, limita, envergonha, humilha, incomoda, nos encurrala. É, muitas vezes, o lugar do desânimo, da ansiedade, do desespero, da tristeza, da desorientação, do cansaço, da indiferença. Mas é também o lugar onde clamamos com toda a sinceridade pela força que vem de Deus. E ele nos atende!
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