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Opinião

A Igreja, o reino de Deus e a violência contra mulheres

A violência é “a causa oculta da pobreza que o mundo tem que tratar agora” segundo Gary Haugen, Diretor Internacional da “International Justice Mission”. A pobreza e a violência andam juntas e falta segurança pública em muitas comunidades ao redor do mundo. A opressão que surge desta realidade faz parte do dia a dia em comunidades marginalizadas.

A Igreja e o Reino de Deus
Somos equipados a sermos um povo profético com o papel de anunciar a vinda do Reino de Deus. Este estado em que a vontade de Deus prevalece em tudo penetrou nossa realidade com a ressurreição de Jesus Cristo. Nós mos encontramos na época entre a provisão deste meio pelo qual Deus está colocando as coisas em ordem e o cumprimento desta ação da parte de Deus. Da mesma forma que Jesus era “varão profeta em ação e palavras,” a igreja, cheia do Espírito Santo de Deus, é equipada para ações proféticas.

Na prática, o que isto quer dizer? Podemos entender o Reino de Deus como o ambiente em que Deus, o bom Rei do universo que ele mesmo criou, reina. Ou seja, aquela esfera onde a vontade dele está sendo feita. Um rei verdadeiro manda no seu território segundo seu caráter e seus valores. Deus Criador é Rei absoluto, mas em Cristo tem aberto espaço para homens e mulheres se tornarem co-criadores com ele e participarem no reinado dele para sempre.

Homem e mulher são imagem e semelhança de Deus
O Criador declarou que cada aspecto da sua criação é “bom” e o ser humano é “muito bom”. Segundo o especialista em Missão Urbana, Rick Tobias, estas proclamações compõem o fundamento da nossa luta para a dignidade de todo ser humano. No fundo, se é que temos algum direito humano, é porque nosso Criador nos dá por sua própria vontade, e não porque foi apoiado por qualquer entidade internacional. O valor inerente do ser humano, e de cada aspecto da Criação, é derivado destas afirmações. Neste ponto, vemos que ambos os gêneros foram criados à "imagem e semelhança" de Deus e, por este motivo, merecem todo respeito e carregam o mesmo valor. Acrescentamos que nossa tendência em dividir o mundo (em classes sociais, raças separadas pela cor da pele, nações mais ou menos desenvolvidas, profissões mais ou menos dignas e outras divisões arbitrárias) faz parte da criação das culturas humanas com seus aspectos socioculturais particulares dentro da estrutura do mundo criado.

Julgamentos humanos na formação de estruturas sociais têm criado raízes deformadas, gerando árvores e frutos maus. A colocação de Paulo de que não há nem fêmea nem macho, nem gentio nem judeu em Cristo Jesus lembra-nos que estas distinções são nossas, provenientes da queda da humanidade, e não fundamentais na Criação. Como tal, voltamos aos primeiros dois capítulos e meio de Gênesis para entender o caráter do Reino de Deus. Na boa criação que nos foi dada não houve distinção entre as pessoas quanto ao valor de cada um. Uma relação social onde uma pessoa chega a controlar outra pessoa segundo sua própria vontade, e não de acordo com a vontade de Deus, chegou até nós através da queda, como vemos em Gênesis 3.

A obra de Jesus quebrou esta consequência da nossa rebeldia e a declaração do Reino de Deus é a proclamação desta viravolta. Neste contexto, devemos discernir estas raízes e mostrar a transformação da sociedade quando é proveniente da redenção integral de “todas as coisas”. Contemplando a triste realidade de muitas comunidades sem paz e segurança, enxergamos o campo para o tarefa da renovação da mente coletiva e o discipulado das nações.

Uma das perguntas fundamentais deste momento é: “como a igreja pode profetizar o valor igual de todo ser humano com a vinda do Reino de Deus através das suas atividades na comunidade?”.

Dando voz

O macho e a fêmea, criados à imagem e semelhança de Deus, carregam a mesma tendência ao mal. Não há base para colocar a vergonha do pecado primordialmente em cima da mulher. Nossa fala e nosso agir no meio de nossos jovens, nas relações familiares e nas comunidades devem se alinhar com esta verdade. Quando os limites na vida pública da mulher vêm deste desentendimento, devemos mudar. Temos que honrá-la, escutar melhor sua voz e convidá-la para uma participação plena. No sentido global e histórico, a mulher tem andado na frente em trazer mudanças para comunidades carentes. Temos que valorizar e nos inclinar à voz delas para entender e vencer os desafios da missão integral da igreja.

A vergonha nos cobriu como consequência da nossa rebeldia contra Deus e numa dinâmica de “bode expiatório”, a sociedade tende a jogar este sentimento em cima dos marginalizados – os que pertencem a gêneros, classes, raças e nações menos favorecidas. Grande parte da continuidade da opressão dos pobres é baseada na falsa ideia de que os que vivem na pobreza têm menos valor. Enquanto valorizamos a produtividade acima de tudo e desconhecemos os efeitos de trauma que passam de geração a geração a realidade não muda. Cristo Jesus oferece a única resposta para a vergonha das vítimas de crimes indecentes, da marginalização e de injustiças sofridas de geração em geração.

Começando pelo nível local
Nos alegramos festejando com nossa comunidade e enfrentamos os momentos mais dolorosos juntos. O “ide” do evangelho nos leva a compartilhar vida com os marginalizados, indo além do partir de bens e chegando aos relacionamentos efetivos. Entendemos como ponto de partida da nossa ação o nível local e o contexto da igreja local aonde existe um convite para cada pessoa em Cristo agir pelo Espírito Santo e participar nesta obra de Deus. A falta de segurança pública começa a nos tocar quando compartilhamos vida em lugares não alcançados pela segurança privada. Existem trabalhos cristãos efetivos mudando este quadro em vários lugares do mundo como no Camboja, onde muitas famílias, meninas e meninos, antes vítimas do tráfico de crianças, agora encontram segurança provida pelas autoridades públicas. Quando a opressão foi exposta e ações práticas infiltraram na realidade, o quadro mudou. Deus mudou o rumo.

Contra a pornografia, sarando a relação entre homem e mulher
A pornografia é uma praga global envenenando nossas comunidades desde alguns púlpitos até às salas de aula. Sem pôr o assunto na luz, não temos como ajudar os jovens a se firmarem contra esse assalto. Boa parte de adolescentes e homens no nosso meio já estão viciados e a taxa entre jovens meninas está crescendo. Tratar desta questão é uma forma prática de sarar a visão da relação entre homem e mulher. Criar e seguir com zelo protocolos de proteção emocional, sexual e física aos vulneráveis em todos os ambientes administrados pela igreja mostra o caminho para as demais instituições públicas.

Sem cronograma, com fé
O profeta oferece sua palavra com paixão e perseverança sem expectativa de controlar os efeitos imediatos da sua fala. Estamos nos oferecendo como povo profético de ação mostrando o caráter de nosso Rei e a natureza de seu Reino, sem insistir em ter cronograma. A ação profética traz esperança para os oprimidos, confirma o olhar, presença e a solidariedade de Deus e, de forma sobrenatural, estabelece a vontade de Deus Criador e Rei "aqui na terra como nos céus".

Beth Wood tem mestrado em política social e em ministério cristão. Trabalha pela Vineyard Church do Canadá e colabora com o CADI Brasil. É uma das autoras de O Reino Entre Nós - transformação de comunidades pelo evangelho integral.

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Foto: Edman_pl/Freeimages.com

Artigo corrigido em 08/06/2016, às 7h46.

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