Opinião
- 21 de julho de 2020
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A igreja deve ser menos debatida do que Jesus
Por Rute Salviano Almeida
"Oh, como eu desejo ver o dia no qual os cristãos se encontrarão em uma plataforma comum – a de Jesus de Nazaré – e quando cessarão todos os debates e contendas sobre assuntos não essenciais, quando "nossa igreja" for menos debatida do que "nosso Jesus"."1
Essas foram as sábias palavras de uma pregadora negra itinerante, Jarena Lee, que pregou o evangelho de Cristo nos Estados Unidos, no início do século 19. Se até hoje existe tanto preconceito contra os negros, imaginem naquela época, quando qualquer mulher pregando causava estranheza e repúdio.
Por muitas vezes, Jarena defrontou-se com pessoas preconceituosas que lhe falaram rudemente. Entre outras coisas, diziam que ela não era uma mulher, mas um homem vestido com roupas femininas.
Os próprios ministros evangélicos nutriam preconceito contra mulheres pregadoras, as quais nem ao menos cumprimentavam, como declarou Jarena sobre um ministro que encontrou: “ele não conseguiu ter comunhão comigo, nem ao menos apertou minha mão como os cristãos deveriam fazer”.2
Sem poder pregar na igreja desse pastor, Jarena pregou na residência de um dos irmãos e, depois de muita insistência, o ministro concordou em ir à reunião. O texto da mensagem foi Atos 8.35 e, apesar da mensageira se sentir incapaz e fraca, os ouvintes foram tocados pelo Espírito Santo. O pastor concordava com “améns” durante a pregação e, ao final da mesma, declarou: “Tivemos uma demonstração maravilhosa do poder de Deus entre nós, e fiquei feliz de estar lá. Nada é impossível para Deus”.3
Após se cumprimentarem, ele a convidou para pregar na casa de reunião, mesmo tendo afirmado anteriormente que nenhuma alma seria convertida pela pregação de uma mulher. Pelo poder de Deus, aquele ministro contemplou conversões quando Jarena pregou e se despediu dela com um caloroso aperto de mão.
Tudo isso ela narrou em seu diário, onde escreveu:
"Pela instrumentalidade de uma pobre mulher de cor, o Senhor derramou seu espírito entre o povo. Embora, como haviam me contado, houvesse advogados, doutores e magistrados presentes para me ouvir falar, ainda, houve lamento e choro, pois, o Senhor derramou fogo celestial ente eles. O Senhor deu à sua serva solitária poder de falar em seu grande nome, aprisionando os corações do povo e causando um tremor entre a multidão, porque ele estava presente."4
Nos lugares onde o povo era rebelde e de coração endurecido, Jarena lembrava a recomendação bíblica: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” (Mateus 10.23a).
Jarena foi uma mulher simples, mas destemida; que sofreu preconceito, mas não se acovardou; uma mulher sem erudição, mas cheia do Espírito Santo.
Às palavras iniciais de Jarena podemos acrescentar nosso desejo de que: nossas igrejas, nossas doutrinas, nossas práticas sejam menos debatidas do que nosso Jesus, porque Cristo deve ser sempre o centro da mensagem evangélica.
Foi com dificuldade que as mulheres cristãs evangelizavam na época dos avivamentos e nas que se seguiram. Não lhes era permitido falar em público e, quando o faziam, sofriam preconceitos e ouviam frases depreciativas.
Mesmo assim, prosseguiram, pois sentiam o chamado para a pregação e não queriam deixar de cumprir a ordem de Cristo de pregar o evangelho a toda a criatura.
Notas
1. LEE, Jarena. Religious experience and journal of Mrs. Jarena Lee: giving an account of her call to preach the gospel. Umilta. p. 36.
2. Ibid., p. 24.
3. Ibid., p. 24.
4. Ibid., p. 18.
>> Conheça o lançamento Vozes Femininas nos Avivamentos, de Rute Salviano Almeida
Leia mais
» As "Vozes" das mulheres que transtornaram o mundo
"Oh, como eu desejo ver o dia no qual os cristãos se encontrarão em uma plataforma comum – a de Jesus de Nazaré – e quando cessarão todos os debates e contendas sobre assuntos não essenciais, quando "nossa igreja" for menos debatida do que "nosso Jesus"."1
Essas foram as sábias palavras de uma pregadora negra itinerante, Jarena Lee, que pregou o evangelho de Cristo nos Estados Unidos, no início do século 19. Se até hoje existe tanto preconceito contra os negros, imaginem naquela época, quando qualquer mulher pregando causava estranheza e repúdio.
Por muitas vezes, Jarena defrontou-se com pessoas preconceituosas que lhe falaram rudemente. Entre outras coisas, diziam que ela não era uma mulher, mas um homem vestido com roupas femininas.
Os próprios ministros evangélicos nutriam preconceito contra mulheres pregadoras, as quais nem ao menos cumprimentavam, como declarou Jarena sobre um ministro que encontrou: “ele não conseguiu ter comunhão comigo, nem ao menos apertou minha mão como os cristãos deveriam fazer”.2
Sem poder pregar na igreja desse pastor, Jarena pregou na residência de um dos irmãos e, depois de muita insistência, o ministro concordou em ir à reunião. O texto da mensagem foi Atos 8.35 e, apesar da mensageira se sentir incapaz e fraca, os ouvintes foram tocados pelo Espírito Santo. O pastor concordava com “améns” durante a pregação e, ao final da mesma, declarou: “Tivemos uma demonstração maravilhosa do poder de Deus entre nós, e fiquei feliz de estar lá. Nada é impossível para Deus”.3
Após se cumprimentarem, ele a convidou para pregar na casa de reunião, mesmo tendo afirmado anteriormente que nenhuma alma seria convertida pela pregação de uma mulher. Pelo poder de Deus, aquele ministro contemplou conversões quando Jarena pregou e se despediu dela com um caloroso aperto de mão.
Tudo isso ela narrou em seu diário, onde escreveu:
"Pela instrumentalidade de uma pobre mulher de cor, o Senhor derramou seu espírito entre o povo. Embora, como haviam me contado, houvesse advogados, doutores e magistrados presentes para me ouvir falar, ainda, houve lamento e choro, pois, o Senhor derramou fogo celestial ente eles. O Senhor deu à sua serva solitária poder de falar em seu grande nome, aprisionando os corações do povo e causando um tremor entre a multidão, porque ele estava presente."4
Nos lugares onde o povo era rebelde e de coração endurecido, Jarena lembrava a recomendação bíblica: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” (Mateus 10.23a).
Ela escreveu sua biografia e, ao final, pediu perdão aos leitores pelos erros e rogou desculpas por todas as imperfeições, porque ela fora privada das vantagens da educação e era autodidata. Expressou também seu desejo de que sua obra pudesse ser um instrumento de encorajamento para os salvos e um consolo para os santificados.
Jarena foi uma mulher simples, mas destemida; que sofreu preconceito, mas não se acovardou; uma mulher sem erudição, mas cheia do Espírito Santo.
Às palavras iniciais de Jarena podemos acrescentar nosso desejo de que: nossas igrejas, nossas doutrinas, nossas práticas sejam menos debatidas do que nosso Jesus, porque Cristo deve ser sempre o centro da mensagem evangélica.
Foi com dificuldade que as mulheres cristãs evangelizavam na época dos avivamentos e nas que se seguiram. Não lhes era permitido falar em público e, quando o faziam, sofriam preconceitos e ouviam frases depreciativas.
Mesmo assim, prosseguiram, pois sentiam o chamado para a pregação e não queriam deixar de cumprir a ordem de Cristo de pregar o evangelho a toda a criatura.
Notas
1. LEE, Jarena. Religious experience and journal of Mrs. Jarena Lee: giving an account of her call to preach the gospel. Umilta. p. 36.
2. Ibid., p. 24.
3. Ibid., p. 24.
4. Ibid., p. 18.
>> Conheça o lançamento Vozes Femininas nos Avivamentos, de Rute Salviano Almeida
Leia mais
» As "Vozes" das mulheres que transtornaram o mundo
Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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