Opinião
- 27 de novembro de 2018
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A divina-humana igreja e as feridas dos desigrejados
Por Nelson Bomilcar
Cresce o número daqueles que intencionalmente não se ligam a uma igreja ou que deixaram as igrejas que frequentavam. O fenômeno dos “sem-igreja” é um desafio enorme e alcança comunidades cristãs em todo o mundo.
A edição 374 da revista Ultimato convidou 8 personalidades para conversar sobre o assunto e apresenta o Especial “Desigrejismo – Anomalia ou Opção?”, em matéria de 5 páginas da revista.
Confira as respostas do autor de "Os sem-igreja - Buscando caminhos de esperança na experiência comunitária", o pastor, músico e escritor Nelson Bomilcar.
Existe uma intolerância exagerada da liderança das igrejas com os desigrejados?
Nelson Bomilcar – Vivemos um momento não favorável ao diálogo sobre este assunto, principalmente no Brasil, mesmo com vasta literatura sobre o tema a partir de diversas óticas. É preciso destacar também que muitos não estão desigrejados (o termo acaba não se aplicando), mas caminham em outras formatações que não as tradicionais “templárias” ou denominacionais. Algumas causas do desinteresse: 1) não há disposição para a promoção de fóruns nos seminários, missões denominacionais e interdenominacionais para conversarmos com humildade e genuíno interesse sobre este fenômeno na história da igreja. Envolve pessoas com suas histórias, gente por quem Jesus morreu e ressuscitou e que muitas vezes são atropeladas em nossas estruturas religiosas em sua dinâmica relacional, dinâmica de serviço e dinâmica de crescimento de igreja nos moldes empresariais de resultados; 2) intolerância e polarização, em que ninguém ouve de fato ninguém e participantes já chegam com seus conceitos e preconceitos; 3) as pessoas somente se sensibilizam quando percebem que seus queridos, familiares e amigos, vão deixando a experiência comunitária. Quando as dores se instalam no coração por perceberem o grande número de pessoas queridas que estão ausentes ou se afastaram da comunidade local, parece que a ficha começa a cair; 4) desinteresse das lideranças por discutirem o assunto, pois são os principais alvos das críticas e avaliações. São muitas vezes os protagonistas de abuso espiritual na vida de ovelhas do Senhor e de escândalos que se multiplicam. Alguns líderes são protagonistas de projetos pessoais personalistas, que nada têm a ver com a natureza e missão da igreja. A igreja é uma instituição divino-humana, onde muitos se machucam e se decepcionam. Mas o evangelho traz sempre oportunidade do recomeço relacional, em que perdão, misericórdia, reconciliação, busca do interesse do outro, amor ao próximo, acolhimento e o exercício de ouvir os reclamos responsáveis dos desigrejados (como chamei no meu livro) estão presentes.
Se o fenômeno dos desigrejados tem a ver com insatisfação pessoal, inquietação desta época, incapacidade de ouvir e resolver problemas (pastores e ovelhas, líderes e liderados), entre outros, que passos poderiam ser dados para prevenir novos casos de afastamento?
Nelson Bomilcar – Como afirmei, a igreja é uma instituição onde muitos se machucam e se decepcionam, como acontece numa família nuclear comum. E nela temos que resolver nossos problemas relacionais. Temos também que ajustar expectativas e reconhecer a ambiguidade presente na vida da igreja. Somos uma comunidade de pecadores, ambiente onde a graça deveria ser vivenciada. Quando a igreja não vive os valores e a cultura do reino, não prioriza o aspecto relacional, a simplicidade e profundidade do que Jesus ensinou no Sermão do Monte, ela vai se tornando apenas uma instituição religiosa com relacionamentos superficiais e sem saúde ou sanidade espiritual. Quando a igreja vive seu pior, ela machuca e destrói. Quando, porém, vive o seu melhor, ela abençoa, encoraja, acolhe em amor incondicional e cria o ambiente relacional desejável para preparar todos para a obra de Deus. Temos que buscar caminhos de esperança na experiência comunitária. Temos que pregar, refletir e ensinar o que significa de fato, em sua amplitude, “ser igreja”. Muitos equívocos nesta compreensão levam, portanto, ao não diálogo, à polarização, à incapacidade de ouvir o outro e de tirar as traves de nossos próprios olhos. Igreja é congregação e espaço de amor, acolhimento e aperfeiçoamento relacional que deve refletir a pessoa e o caráter de Cristo, onde estamos para servir e não para sermos servidos. Precisamos de uma pastoral a muitos que são negligenciados na ação pastoral. Precisamos ser preventivos para não perdermos mais do que já perdemos nas igrejas locais.
• Nelson Bomilcar serve há quarenta anos no Brasil como pastor, músico, compositor, produtor musical. Autor do livro Os Sem-Igreja – Buscando caminhos de esperança na experiência comunitária (Mundo Cristão).
» Leia na íntegra o especial Desigrejismo – “anomalia” ou opção?
» Conheça o livro Dê Outra Chance à Igreja, de Todd Hunter
Cresce o número daqueles que intencionalmente não se ligam a uma igreja ou que deixaram as igrejas que frequentavam. O fenômeno dos “sem-igreja” é um desafio enorme e alcança comunidades cristãs em todo o mundo.
A edição 374 da revista Ultimato convidou 8 personalidades para conversar sobre o assunto e apresenta o Especial “Desigrejismo – Anomalia ou Opção?”, em matéria de 5 páginas da revista.
Confira as respostas do autor de "Os sem-igreja - Buscando caminhos de esperança na experiência comunitária", o pastor, músico e escritor Nelson Bomilcar.
Existe uma intolerância exagerada da liderança das igrejas com os desigrejados?
Nelson Bomilcar – Vivemos um momento não favorável ao diálogo sobre este assunto, principalmente no Brasil, mesmo com vasta literatura sobre o tema a partir de diversas óticas. É preciso destacar também que muitos não estão desigrejados (o termo acaba não se aplicando), mas caminham em outras formatações que não as tradicionais “templárias” ou denominacionais. Algumas causas do desinteresse: 1) não há disposição para a promoção de fóruns nos seminários, missões denominacionais e interdenominacionais para conversarmos com humildade e genuíno interesse sobre este fenômeno na história da igreja. Envolve pessoas com suas histórias, gente por quem Jesus morreu e ressuscitou e que muitas vezes são atropeladas em nossas estruturas religiosas em sua dinâmica relacional, dinâmica de serviço e dinâmica de crescimento de igreja nos moldes empresariais de resultados; 2) intolerância e polarização, em que ninguém ouve de fato ninguém e participantes já chegam com seus conceitos e preconceitos; 3) as pessoas somente se sensibilizam quando percebem que seus queridos, familiares e amigos, vão deixando a experiência comunitária. Quando as dores se instalam no coração por perceberem o grande número de pessoas queridas que estão ausentes ou se afastaram da comunidade local, parece que a ficha começa a cair; 4) desinteresse das lideranças por discutirem o assunto, pois são os principais alvos das críticas e avaliações. São muitas vezes os protagonistas de abuso espiritual na vida de ovelhas do Senhor e de escândalos que se multiplicam. Alguns líderes são protagonistas de projetos pessoais personalistas, que nada têm a ver com a natureza e missão da igreja. A igreja é uma instituição divino-humana, onde muitos se machucam e se decepcionam. Mas o evangelho traz sempre oportunidade do recomeço relacional, em que perdão, misericórdia, reconciliação, busca do interesse do outro, amor ao próximo, acolhimento e o exercício de ouvir os reclamos responsáveis dos desigrejados (como chamei no meu livro) estão presentes.
Se o fenômeno dos desigrejados tem a ver com insatisfação pessoal, inquietação desta época, incapacidade de ouvir e resolver problemas (pastores e ovelhas, líderes e liderados), entre outros, que passos poderiam ser dados para prevenir novos casos de afastamento?
Nelson Bomilcar – Como afirmei, a igreja é uma instituição onde muitos se machucam e se decepcionam, como acontece numa família nuclear comum. E nela temos que resolver nossos problemas relacionais. Temos também que ajustar expectativas e reconhecer a ambiguidade presente na vida da igreja. Somos uma comunidade de pecadores, ambiente onde a graça deveria ser vivenciada. Quando a igreja não vive os valores e a cultura do reino, não prioriza o aspecto relacional, a simplicidade e profundidade do que Jesus ensinou no Sermão do Monte, ela vai se tornando apenas uma instituição religiosa com relacionamentos superficiais e sem saúde ou sanidade espiritual. Quando a igreja vive seu pior, ela machuca e destrói. Quando, porém, vive o seu melhor, ela abençoa, encoraja, acolhe em amor incondicional e cria o ambiente relacional desejável para preparar todos para a obra de Deus. Temos que buscar caminhos de esperança na experiência comunitária. Temos que pregar, refletir e ensinar o que significa de fato, em sua amplitude, “ser igreja”. Muitos equívocos nesta compreensão levam, portanto, ao não diálogo, à polarização, à incapacidade de ouvir o outro e de tirar as traves de nossos próprios olhos. Igreja é congregação e espaço de amor, acolhimento e aperfeiçoamento relacional que deve refletir a pessoa e o caráter de Cristo, onde estamos para servir e não para sermos servidos. Precisamos de uma pastoral a muitos que são negligenciados na ação pastoral. Precisamos ser preventivos para não perdermos mais do que já perdemos nas igrejas locais.
• Nelson Bomilcar serve há quarenta anos no Brasil como pastor, músico, compositor, produtor musical. Autor do livro Os Sem-Igreja – Buscando caminhos de esperança na experiência comunitária (Mundo Cristão).
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