Opinião
- 27 de setembro de 2023
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A cura da alma no leito do hospital
A Palavra de Deus oferece resposta às questões mais profundas da alma humana, fazendo a pessoa encontrar propósito, até mesmo diante da morte iminente
Por Eleny Vassão de Paula Aitken
“Meu Deus, e agora, o que eu falo para este paciente?” Tudo que eu aprendera nas aulas de capelania hospitalar oferecidas aos seminaristas pelo pastor Marcos Petriaggi, então capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo, excelente em seu treinamento, ainda não podiam responder a todas as questões do sofrimento que eu viria a enfrentar. Estávamos no final de 1982. Eu, uma cristã convertida na adolescência, membro ativo da Igreja Presbiteriana da Lapa, mas completamente inexperiente quanto ao novo ministério que o Senhor havia me dado. Sabia que estava dando o primeiro passo, naquele ambiente tão desafiador de dor e morte, mas só podia confiar que Ele me guiaria, passo a passo, se caminhasse em Sua dependência.
Aos poucos, fui descobrindo que, se desse toda a atenção ao meu paciente, ouvindo com sensibilidade e amor aquilo que ele queria compartilhar, observando seus gestos e as emoções em seu semblante, descobriria onde estava sua maior dor, e o Senhor me capacitaria quanto ao que responder. Percebi, emocionada, como Deus coloca o Seu amor em nossos corações, alcançando vidas que eu acabara de conhecer, em meio a situações tremendamente dolorosas. A sua Palavra oferece resposta às questões mais profundas da alma humana, fazendo a pessoa encontrar propósito, até mesmo diante da morte iminente.
Consolando através de pacientes consolados
Foi surpreendente adentrar a enfermaria da paralisia infantil do hospital e encontrar sete crianças e adolescentes, alguns paraplégicos e outros tetraplégicos, que tinham naquele quarto a sua moradia permanente. Estavam ali desde seus poucos meses de idade, quando foram acometidos por aquela doença, e queriam muito a nossa atenção. A Tânia, a Eliana, o Paulo e o Pedro tinham aceitado a Cristo como Salvador através da irmã Júnia, que lhes fazia visitas semanais, e agora estavam sedentos por crescer no conhecimento de Deus, para aplicá-lo às questões de seu sofrimento. Mais ainda: alguns deles eram convidados a consolar pacientes que, tendo sofrido acidentes graves com lesões na medula, só pensavam em se entregar à morte, sem esperança. Colocados em macas, dependentes de seus aparelhos que os faziam respirar, ficavam ao lado do leito do enfermo em desespero, colhendo as suas lágrimas e falando-lhes como Deus os confortava dia a dia, e como também poderiam experimentar o seu amor, em Cristo. Para nós, da capelania, era um aprendizado constante e uma enorme honra ver o ministério que estes queridos desenvolviam, sem mesmo sair de seus leitos. Para os profissionais da saúde, um alívio ao perceber seus pacientes mais calmos, com esperança e aderindo ao tratamento de saúde. Algo espiritual, que não podiam compreender, estava em ação ali, restaurando a alma de seus enfermos.
Cultuando em meio à insanidade mental
Receber a chave das unidades de psiquiatria do Hospital e encarar pacientes de todas as idades caminhando a esmo, sem sentido, falando coisas desconexas, gerou em mim uma profunda ansiedade. Não sabia o que falar ou fazer diante de patologias e comportamentos tão diversos e desconhecidos. Mas o Senhor, mais uma vez, respondeu ao meu clamor, enviando o Prof. Dr. Franciso Lotufo Neto para me orientar. Levou-me à biblioteca do Instituto de Psiquiatria e, com paciência e sabedoria, me mostrou o que pesquisar, nos muitos livros de medicina. Depois, deixou-me participar de parte do programa de residência em psiquiatria, permitindo-me o acesso aos prontuários médicos, onde também podia escrever sobre a evolução de cada paciente através do aconselhamento bíblico. Quantos relatos de caso poderia fazer aqui, quanto aprendi sobre o poder da Palavra de Deus ao confortar, confrontar e desafiar pacientes com transtornos mentais e também seus enfermeiros e psiquiatras, através dos cultos semanais e aconselhamentos diários. Quantas vidas transformadas, através da medicina da alma na Palavra!
Capelania no início da AIDS
Outro grande desafio foi iniciar a Capelania Evangélica no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Era o início da AIDS no Brasil. Aprender as regras de biossegurança e formas diferentes de abordar um novo público, frágil, confuso e com pouco tempo de vida diante de uma enfermidade letal e de fácil transmissão foi um grande desafio. Como visitar e, ao mesmo tempo, evitar levar o vírus para casa, contaminando nossas famílias? Mas o Senhor foi nos dando forças para construir o ministério entre os enfermos, seus familiares e também entre os profissionais da saúde, levando vida à sombra da morte para muitos.
Capacitando novos capelães
Diante da gigantesca necessidade, com vários hospitais abertos e reconhecendo a importância do ministério de capelania como parte do atendimento da equipe de saúde, começamos a capacitar novos visitadores, que depois se tornaram treinadores e capelães. Eles vinham das mais diferentes denominações evangélicas, passando pelos cursos de capelania, entrevistas, documentos de referência e treinamento prático supervisionado e individual nos leitos dos hospitais. O ministério se estendeu por todos os Estados do Brasil e também por outros treze países. Muitos livros foram escritos, teses de mestrado e doutorado apresentados por profissionais de várias áreas da saúde, relatando os resultados do ministério de Capelania Hospitalar da ACS – Associação de Capelania na Saúde, como parte da equipe de saúde.
A criação da Casa do Aconchego
A Casa do Aconchego foi criada como extensão do ministério da Capelania Hospitalar. Próxima aos Hospitais, hoje oferece hospedagem completa e gratuita às mães com seus filhos gravemente enfermos, aguardando transplantes ou em Cuidados Paliativos, durante todo o tratamento médico. Eles vêm de toda a América Latina e ali encontram abrigo para o corpo e para a alma, tão sofrida. É uma enorme alegria ver uma equipe capacitada e amorosa e crianças que até se esquecem de sua enfermidade, ao encontrar muitos brinquedos, histórias bíblicas e brincadeiras na Casa, que agora se tornou a sua moradia por alguns meses, enquanto faz seu tratamento nos hospitais da região.
Sustentados pela fidelidade do Senhor
Durante mais de 40 anos de ministério pudemos experimentar a fidelidade do Senhor mantendo, através de ofertas de pessoas e de igrejas parceiras, nosso ministério realizado em tempo integral nos hospitais públicos e privados. Deus nunca nos deixou sequer atrasar o pagamento de um de nossos capelães ou secretárias, mesmo que não soubéssemos de onde viria o recurso a cada mês. E Ele continua sendo fiel através da sua vida, orações e ofertas. O desafio continua, e queremos convidá-lo a participar do Culto de Gratidão ao Senhor pelos 40 anos da Capelania Hospitalar, no dia 18 de novembro, às 18 horas, na Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo. Você, sua família e sua igreja serão muito bem-vindos!
À querida Equipe Ultimato, agradecemos a parceria fiel em todos estes anos, desde o nosso querido e saudoso pastor Elben César, que conheceu de perto nosso ministério e fez muitas visitas conosco!
REVISTA ULTIMATO | DOXOLOGIA NO CULTO PÚBLICO E NA VIDA DIÁRIA
A matéria de capa desta edição convida o leitor ao exercício da doxologia: a afirmação vibrante sobre o que Deus é e o que ele faz. Uma afirmação que traduz a nossa opinião sobre Deus forjada pelas Escrituras e pelas experiências com ele. Isso vai contra a correnteza do mundo em que vivemos, tão pouco propício à solitude, à contemplação e à adoração.
É disso que trata a matéria de capa da edição 403 da Revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, Maria Luiza Rückert
» Súplicas de Um Necessitado, de Elben Magalhães Lenz César
» Caminhos da Graça - Identidade, crescimento e direção nos textos da Bíblia. Karin Hellen Kepler Wondracek
» Capelania, esperança em meio à dor
» “Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa”
» A igreja no ministério da visita domiciliar
Por Eleny Vassão de Paula Aitken
“Meu Deus, e agora, o que eu falo para este paciente?” Tudo que eu aprendera nas aulas de capelania hospitalar oferecidas aos seminaristas pelo pastor Marcos Petriaggi, então capelão do Hospital das Clínicas de São Paulo, excelente em seu treinamento, ainda não podiam responder a todas as questões do sofrimento que eu viria a enfrentar. Estávamos no final de 1982. Eu, uma cristã convertida na adolescência, membro ativo da Igreja Presbiteriana da Lapa, mas completamente inexperiente quanto ao novo ministério que o Senhor havia me dado. Sabia que estava dando o primeiro passo, naquele ambiente tão desafiador de dor e morte, mas só podia confiar que Ele me guiaria, passo a passo, se caminhasse em Sua dependência.
Aos poucos, fui descobrindo que, se desse toda a atenção ao meu paciente, ouvindo com sensibilidade e amor aquilo que ele queria compartilhar, observando seus gestos e as emoções em seu semblante, descobriria onde estava sua maior dor, e o Senhor me capacitaria quanto ao que responder. Percebi, emocionada, como Deus coloca o Seu amor em nossos corações, alcançando vidas que eu acabara de conhecer, em meio a situações tremendamente dolorosas. A sua Palavra oferece resposta às questões mais profundas da alma humana, fazendo a pessoa encontrar propósito, até mesmo diante da morte iminente.
Consolando através de pacientes consolados
Foi surpreendente adentrar a enfermaria da paralisia infantil do hospital e encontrar sete crianças e adolescentes, alguns paraplégicos e outros tetraplégicos, que tinham naquele quarto a sua moradia permanente. Estavam ali desde seus poucos meses de idade, quando foram acometidos por aquela doença, e queriam muito a nossa atenção. A Tânia, a Eliana, o Paulo e o Pedro tinham aceitado a Cristo como Salvador através da irmã Júnia, que lhes fazia visitas semanais, e agora estavam sedentos por crescer no conhecimento de Deus, para aplicá-lo às questões de seu sofrimento. Mais ainda: alguns deles eram convidados a consolar pacientes que, tendo sofrido acidentes graves com lesões na medula, só pensavam em se entregar à morte, sem esperança. Colocados em macas, dependentes de seus aparelhos que os faziam respirar, ficavam ao lado do leito do enfermo em desespero, colhendo as suas lágrimas e falando-lhes como Deus os confortava dia a dia, e como também poderiam experimentar o seu amor, em Cristo. Para nós, da capelania, era um aprendizado constante e uma enorme honra ver o ministério que estes queridos desenvolviam, sem mesmo sair de seus leitos. Para os profissionais da saúde, um alívio ao perceber seus pacientes mais calmos, com esperança e aderindo ao tratamento de saúde. Algo espiritual, que não podiam compreender, estava em ação ali, restaurando a alma de seus enfermos.
Cultuando em meio à insanidade mental
Receber a chave das unidades de psiquiatria do Hospital e encarar pacientes de todas as idades caminhando a esmo, sem sentido, falando coisas desconexas, gerou em mim uma profunda ansiedade. Não sabia o que falar ou fazer diante de patologias e comportamentos tão diversos e desconhecidos. Mas o Senhor, mais uma vez, respondeu ao meu clamor, enviando o Prof. Dr. Franciso Lotufo Neto para me orientar. Levou-me à biblioteca do Instituto de Psiquiatria e, com paciência e sabedoria, me mostrou o que pesquisar, nos muitos livros de medicina. Depois, deixou-me participar de parte do programa de residência em psiquiatria, permitindo-me o acesso aos prontuários médicos, onde também podia escrever sobre a evolução de cada paciente através do aconselhamento bíblico. Quantos relatos de caso poderia fazer aqui, quanto aprendi sobre o poder da Palavra de Deus ao confortar, confrontar e desafiar pacientes com transtornos mentais e também seus enfermeiros e psiquiatras, através dos cultos semanais e aconselhamentos diários. Quantas vidas transformadas, através da medicina da alma na Palavra!
Capelania no início da AIDS
Outro grande desafio foi iniciar a Capelania Evangélica no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Era o início da AIDS no Brasil. Aprender as regras de biossegurança e formas diferentes de abordar um novo público, frágil, confuso e com pouco tempo de vida diante de uma enfermidade letal e de fácil transmissão foi um grande desafio. Como visitar e, ao mesmo tempo, evitar levar o vírus para casa, contaminando nossas famílias? Mas o Senhor foi nos dando forças para construir o ministério entre os enfermos, seus familiares e também entre os profissionais da saúde, levando vida à sombra da morte para muitos.
Capacitando novos capelães
Diante da gigantesca necessidade, com vários hospitais abertos e reconhecendo a importância do ministério de capelania como parte do atendimento da equipe de saúde, começamos a capacitar novos visitadores, que depois se tornaram treinadores e capelães. Eles vinham das mais diferentes denominações evangélicas, passando pelos cursos de capelania, entrevistas, documentos de referência e treinamento prático supervisionado e individual nos leitos dos hospitais. O ministério se estendeu por todos os Estados do Brasil e também por outros treze países. Muitos livros foram escritos, teses de mestrado e doutorado apresentados por profissionais de várias áreas da saúde, relatando os resultados do ministério de Capelania Hospitalar da ACS – Associação de Capelania na Saúde, como parte da equipe de saúde.
A criação da Casa do Aconchego
A Casa do Aconchego foi criada como extensão do ministério da Capelania Hospitalar. Próxima aos Hospitais, hoje oferece hospedagem completa e gratuita às mães com seus filhos gravemente enfermos, aguardando transplantes ou em Cuidados Paliativos, durante todo o tratamento médico. Eles vêm de toda a América Latina e ali encontram abrigo para o corpo e para a alma, tão sofrida. É uma enorme alegria ver uma equipe capacitada e amorosa e crianças que até se esquecem de sua enfermidade, ao encontrar muitos brinquedos, histórias bíblicas e brincadeiras na Casa, que agora se tornou a sua moradia por alguns meses, enquanto faz seu tratamento nos hospitais da região.
Sustentados pela fidelidade do Senhor
Durante mais de 40 anos de ministério pudemos experimentar a fidelidade do Senhor mantendo, através de ofertas de pessoas e de igrejas parceiras, nosso ministério realizado em tempo integral nos hospitais públicos e privados. Deus nunca nos deixou sequer atrasar o pagamento de um de nossos capelães ou secretárias, mesmo que não soubéssemos de onde viria o recurso a cada mês. E Ele continua sendo fiel através da sua vida, orações e ofertas. O desafio continua, e queremos convidá-lo a participar do Culto de Gratidão ao Senhor pelos 40 anos da Capelania Hospitalar, no dia 18 de novembro, às 18 horas, na Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo. Você, sua família e sua igreja serão muito bem-vindos!
À querida Equipe Ultimato, agradecemos a parceria fiel em todos estes anos, desde o nosso querido e saudoso pastor Elben César, que conheceu de perto nosso ministério e fez muitas visitas conosco!
REVISTA ULTIMATO | DOXOLOGIA NO CULTO PÚBLICO E NA VIDA DIÁRIA
A matéria de capa desta edição convida o leitor ao exercício da doxologia: a afirmação vibrante sobre o que Deus é e o que ele faz. Uma afirmação que traduz a nossa opinião sobre Deus forjada pelas Escrituras e pelas experiências com ele. Isso vai contra a correnteza do mundo em que vivemos, tão pouco propício à solitude, à contemplação e à adoração.
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» Súplicas de Um Necessitado, de Elben Magalhães Lenz César
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» “Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa”
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Eleny Vassão de Paula Aitken é casada com o Pr. Gavin L. Aitken, tem 6 filhos, é capelã-missionária pelo Supremo Concílio da IPB, Capelã Hospitalar há 40 anos e autora de 43 livros. Conheça mais sobre o ministério da ACS – Associação de Capelania na Saúde (www.capelanianasaude.org.br).
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