Opinião
- 20 de março de 2017
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A crise do púlpito e a crise da igreja
Por René Padilla
Os últimos anos viram o florescimento, em círculos evangélicos, de uma inegável preocupação com uma maior coerência entre o reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor e a missão da igreja. Se a autoridade de Cristo se estende sobre toda a criação, o povo que confessa seu nome é chamado a relacionar sua fé com a totalidade da vida humana. Nada que afete o homem e sua história está isento da necessidade e da possibilidade de se colocar em submissão a Cristo, e nada, portanto, está fora da órbita do interesse cristão e missional. A missão integral é uma consequência lógica da soberania universal de Jesus Cristo.
A partir dessa perspectiva, a missão da igreja não pode se restringir à pregação dos rudimentos do evangelho. Está orientada pelo propósito de Deus, que se cumprirá em seu devido tempo, de unir sob o domínio de Cristo todas as coisas, tanto no céu como na terra (ver Ef 1.10). Consequentemente, rejeita a dicotomia entre o secular e o sagrado e se constitui no fermento que leveda toda a massa. Isto não nega, claro, a importância da pregação. O que nega é que esta possa se limitar ao objetivo de “ganhar almas” e aumentar o número de membros nas igrejas evangélicas. Cumpre seu objetivo quando se coloca a serviço da missão integral, quando é portadora das boas novas do reino de Deus, quando ecoa aquele que diz: “Faço novas todas as coisas”.
Na Declaração Evangélica de Cochabamba, que surgiu da primeira conferência da Fraternidade Teológica Latino-americana (1971), se afirmou que “o púlpito evangélico está em crise [...] A mensagem bíblica tem indiscutível pertinência para o homem latino-americano, mas sua proclamação não ocupa entre nós o lugar que lhe corresponde”. Desde então, aconteceram mudanças surpreendentes no povo evangélico em todo o continente. Por exemplo, sua participação na política nacional em vários países. Em relação à pregação, no entanto, persiste o generalizado problema da improvisação e da superficialidade. A crise do púlpito é ao mesmo tempo uma causa e um sintoma da crise da igreja. É causa porque não se pode esperar que sem o cultivo da Palavra a igreja dê seus melhores frutos: a uma pregação pobre corresponde uma vida eclesiástica igualmente pobre. É sintoma porque a matriz dos pregadores é a igreja: as debilidades e carências que afetam a esta necessariamente repercutem nos portadores de sua mensagem.
Devido à relação descrita, a renovação da pregação é inseparável da renovação da vida e da missão da igreja. O objetivo da pregação, como o da própria igreja, é que o evangelho do reino penetre em todas as esferas da vida humana, tanto em nível pessoal como comunitário, e que a glória de Deus em Jesus Cristo se manifeste em todas as esferas da sociedade. A renovação da vida e da missão da igreja será genuína caso contribua para a realização desse objetivo, para o qual terá que começar pela renovação do entendimento a que faz referência o apóstolo Paulo em Romanos 12.2.
Só uma pregação que leve muito a sério a Palavra de Deus e a relacione com a situação socioeconômica, cultural e política que nos rodeia servirá para modelar uma igreja cujos membros amem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças, e ao próximo como a si mesmos. A pregação cumpre seu propósito quando esconde o pregador atrás da cruz de Cristo e busca diligentemente o crescimento na prática do amor a Deus e ao próximo em todas as dimensões da vida daqueles que a escutam.
Traduzido por Wagner Guimarães.
Texto publicado originalmente na edição 364 da revista Ultimato.
• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O reino de Deus e a igreja. Acompanhe seu blog pessoal.
Leia mais
A falta que faz a pregação da esperança na passagem do aquém para o além
Quem leva a Bíblia a sério obriga-se a levar também a sério a justiça social
Para Entender a Bíblia [John Stott]
Foto: Stephen Radford / Unsplash.com.
Os últimos anos viram o florescimento, em círculos evangélicos, de uma inegável preocupação com uma maior coerência entre o reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor e a missão da igreja. Se a autoridade de Cristo se estende sobre toda a criação, o povo que confessa seu nome é chamado a relacionar sua fé com a totalidade da vida humana. Nada que afete o homem e sua história está isento da necessidade e da possibilidade de se colocar em submissão a Cristo, e nada, portanto, está fora da órbita do interesse cristão e missional. A missão integral é uma consequência lógica da soberania universal de Jesus Cristo.
A partir dessa perspectiva, a missão da igreja não pode se restringir à pregação dos rudimentos do evangelho. Está orientada pelo propósito de Deus, que se cumprirá em seu devido tempo, de unir sob o domínio de Cristo todas as coisas, tanto no céu como na terra (ver Ef 1.10). Consequentemente, rejeita a dicotomia entre o secular e o sagrado e se constitui no fermento que leveda toda a massa. Isto não nega, claro, a importância da pregação. O que nega é que esta possa se limitar ao objetivo de “ganhar almas” e aumentar o número de membros nas igrejas evangélicas. Cumpre seu objetivo quando se coloca a serviço da missão integral, quando é portadora das boas novas do reino de Deus, quando ecoa aquele que diz: “Faço novas todas as coisas”.
Na Declaração Evangélica de Cochabamba, que surgiu da primeira conferência da Fraternidade Teológica Latino-americana (1971), se afirmou que “o púlpito evangélico está em crise [...] A mensagem bíblica tem indiscutível pertinência para o homem latino-americano, mas sua proclamação não ocupa entre nós o lugar que lhe corresponde”. Desde então, aconteceram mudanças surpreendentes no povo evangélico em todo o continente. Por exemplo, sua participação na política nacional em vários países. Em relação à pregação, no entanto, persiste o generalizado problema da improvisação e da superficialidade. A crise do púlpito é ao mesmo tempo uma causa e um sintoma da crise da igreja. É causa porque não se pode esperar que sem o cultivo da Palavra a igreja dê seus melhores frutos: a uma pregação pobre corresponde uma vida eclesiástica igualmente pobre. É sintoma porque a matriz dos pregadores é a igreja: as debilidades e carências que afetam a esta necessariamente repercutem nos portadores de sua mensagem.
Devido à relação descrita, a renovação da pregação é inseparável da renovação da vida e da missão da igreja. O objetivo da pregação, como o da própria igreja, é que o evangelho do reino penetre em todas as esferas da vida humana, tanto em nível pessoal como comunitário, e que a glória de Deus em Jesus Cristo se manifeste em todas as esferas da sociedade. A renovação da vida e da missão da igreja será genuína caso contribua para a realização desse objetivo, para o qual terá que começar pela renovação do entendimento a que faz referência o apóstolo Paulo em Romanos 12.2.
Só uma pregação que leve muito a sério a Palavra de Deus e a relacione com a situação socioeconômica, cultural e política que nos rodeia servirá para modelar uma igreja cujos membros amem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças, e ao próximo como a si mesmos. A pregação cumpre seu propósito quando esconde o pregador atrás da cruz de Cristo e busca diligentemente o crescimento na prática do amor a Deus e ao próximo em todas as dimensões da vida daqueles que a escutam.
Traduzido por Wagner Guimarães.
Texto publicado originalmente na edição 364 da revista Ultimato.
• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de Missão Integral – O reino de Deus e a igreja. Acompanhe seu blog pessoal.
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A falta que faz a pregação da esperança na passagem do aquém para o além
Quem leva a Bíblia a sério obriga-se a levar também a sério a justiça social
Para Entender a Bíblia [John Stott]
Foto: Stephen Radford / Unsplash.com.
É fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? e colunista da revista Ultimato.
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