Opinião
- 26 de março de 2018
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A crise da falta d’água na Índia: Desafios e oportunidades para a igreja
Por Ken Gnanakan & Atul Aghamkar
A água é absolutamente necessária para a sobrevivência humana. No entanto, acesso à agua doce está se tornando crítico, especialmente em partes da Ásia e África. Cerca de 54% da Índia sofre com extremas tensões por falta de água. A crise tem se tornado mais evidente nos anos recentes com grande parte da Índia central sofrendo com severa escassez de água.
Razões da escassez de água na Índia
A crise ambiental global afeta a Índia e o todo o mundo [1]. Em uma palestra em 2009, o professor V. Ramanathan advertiu sobre as geleiras dos Himalaias serem as mais ameaçadas pelo aquecimento global’ [2]. As geleiras dos Himalaias, que cobrem aproximadamente 1.900 km, atravessando oito países, são a fonte de água potável, irrigação e energia hidroelétrica para cerca de 1.5 bilhões de pessoas. As geleiras estão se esgotando em uma velocidade alarmante e isto reduzirá o fluxo de água nos rios indianos como o Ganges e Brahmaputra.
Analistas populacionais projetam que até 2050, cerca de 60% dos indianos viverão em áreas urbanas, onde existe uma lacuna cada vez maior entre o suprimento e demanda de água doce. A crescente demanda por uso doméstico da água nos centros urbanos coloca imensa pressão sobre recursos cada vez menores.
A agricultura é o meio de subsistência de grande parte da população. Aproximadamente 50% da água disponível é consumida pela agricultura, que, juntamente com o aumento populacional, leva à escassez [3]. É um problema global também; estima-se que até 2050 a agricultura mundial irá demandar o dobro de água utilizado para alimentar o mundo.
Com o rápido crescimento econômico e aumento de consumo de energia per capita, a demanda por eletricidade está em constante crescimento. O setor de energia, especialmente as usinas hidrotérmicas, demandam quantidades imensas de água. Muita desta energia é consumida pelas cidades, deixando quase 40% das moradias rurais privadas de energia.
Diversas indústrias consomem vastas quantias de água. O constante aumento de demanda por água na indústria ameaça também os níveis de água da superfície.
Conflitos por água
Como a água é um recurso natural tão essencial, não é surpreendente que o Banco Mundial prevê que ela se tornará a maior causa para guerras no século 21. Na Índia, os conflitos pela água existem em diversos níveis, desde brigas ao lado dos poços nos vilarejos até disputas interestaduais pela água. Estes pequenos conflitos poderão se tornar grandes guerras pela água no futuro. Listados a seguir estão alguns dos grandes problemas na Índia:
Opressão religiosa e de castas
Às comunidades da chamada “baixa casta”, frequentemente, é negado o acesso aos poços públicos de água potável e outros recursos de água nas áreas rurais. As castas altas hindus têm garantido que as castas baixas, e especialmente “os sem casta” não tenham acesso a água. É perturbador ver que tais atos foram executados com sanção religiosa. Tamanha opressão frequentemente leva a protestos. B.R Ambedkar, líder lendário dos Dalits, lançou a Water Satyagraha (uma política de resistência política passiva), em Maharashtra, ao marchar para um tanque público e protestar contra tal preconceito. Conflitos recentes mostram como séculos de preconceito de casta, firmemente enraizados na cultura e tradições, ainda não foram erradicados [4].
No entanto, muito antes de Ambedkar protestar sobre questões de água, missionários cristãos tentaram abordar o assunto oferecendo acesso à agua para todos, especialmente os sem casta. A iniciativa missionária, dentre outras, demonstrou como os cristãos aplicam na prática os princípios bíblicos de dignidade, respeito e justiça para todas as pessoas.
Acesso igualitário à agua potável
Acesso igualitário à agua é uma demanda em contextos nos quais direitos de acesso à água são contestados. Por exemplo, no sul do estado de Maharashtra, fazendeiros afetados pela seca organizam protestos buscando a reestruturação de alguns projetos de irrigação na região, buscando mais igualdade [5].
Algumas entidades cristãs já começaram a responder à crise de falta d’água no centro da Índia auxiliando o acesso de pessoas atingidas pela seca à água potável. Poços estão sendo escavados, a população está sendo educada sobre como utilizar e conservar a água, e comitês comunitários estão sendo organizados para que a água seja acessível a todos. A Índia precisa de mais iniciativas assim.
Barragens e deslocamento de pessoas
Já faz alguns anos que o projeto Sardar Sarovar no Vale Narmada se tornou um ponto para protestos contra grandes barragens. A maioria dos países no sudeste asiático recebe grande parte da chuva durante as monções. Portanto as represas são necessárias para o armazenamento e uso no restante do ano. No entanto, estes projetos causaram infindáveis conflitos políticos e comunitários sobre questões de compartilhamento desigual e deslocamento de pessoas [6]. A maioria das igrejas e ONGs cristãs ainda precisam se envolver mais seriamente com as pessoas deslocadas por conta da construção destas enormes represas.
Privatização da água
A privatização d’água se tornará um grande motivo de conflitos na maioria dos países do sul asiático, especialmente na Índia. A privatização envolve a transferência de propriedade de recursos hídricos do setor público ao setor privado. A primeira Política Nacional Hídrica, redigida em 1987 pelo governo indiano estabeleceu: “Participação do setor privado deve ser encorajada no planejamento, desenvolvimento e gerenciamento de projetos de recursos hídricos para diversos usos, quando possível.” [7]. Isto é aplicado à geração hidroelétrica, suprimento industrial e doméstico de água e até irrigação. Em somente uma década, mais de 300 projetos com participação do setor privado foram comissionados.
No entanto, resultaram em um aumento de tarifas, queda na qualidade da água, falta de prestação de contas aos consumidores, redução de controles locais e direitos públicos, desemprego e impacto sobre os mais pobres [8]. Após a globalização, muitas empresas multinacionais estão concorrendo para ter acesso aos maiores recursos hídricos da Índia, causando queda nos níveis de água em muitas partes do país. Os cristãos na Índia precisam conscientemente abordar e discutir o acesso injusto e uso da água pelos poderosos e defender os direitos iguais no acesso à agua
Conflitos que atravessam fronteiras
Os conflitos que atravessam fronteiras ocorrem quando discórdias se intensificam com relação ao compartilhamento de água que flui de rios através de fronteiras nacionais ou estaduais. A Índia teve conflitos interfronteiras sobre águas fluviais com países vizinhos como o Paquistão, Bangladesh e Nepal [9]. O conflito entre Índia e Bangladesh sobre o Ganges é o caso em questão. Diversos esforços diplomáticos estão sendo feitos para resolver estas questões transnacionais sobre compartilhamento hídrico.
Na Índia cada estado possui uma liberdade considerável para decidir questões relacionadas à agua, e a maioria dos rios interestaduais se tornou uma questão de conflito nas décadas recentes. A água do rio Kaveri entre Tamil Nadu e Karnataka e o projeto hidroelétrico Baghlighar entre Jammu e a Caxemira são dois exemplos de conflitos hídricos interestaduais. Existe um amplo escopo no qual os cristãos indianos podem usar sua influência e agirem como catalisadores para resolver os conflitos hídricos através de fronteiras.
Soluções possíveis
Enquanto há muitas soluções sendo oferecidas para a crescente crise hídrica, algumas demandam investimentos enormes, assim como muitas pesquisas. No entanto, aqui estão duas soluções possíveis e realistas:
Captação de águas pluviais
A Índia possui bons níveis de chuva, e, com melhor gerenciamento da água de chuva, a crise pode ser gerenciada efetivamente. A captação de águas pluviais, a acumulação e armazenamento de água de chuva, deve ser considerada com urgência. Há diversos casos de sucesso, mas muito mais precisa ser feito. Água captada de chuva pode ser usada para irrigação, e, com o tratamento correto, até como água potável. Um benefício imediato seria uma recarga da água subterrânea, que ajudaria com o problema principal de queda nos níveis de água.
Os cristãos na Índia deveriam buscar parcerias com o governo e ONGs sociais que estão envolvidas com iniciativas do tipo. Isto demonstraria o comprometimento cristão de se posicionar com a comunidade por uma causa em comum.
Reuso de efluentes
Água reciclada é a água que foi tratada para remoção de sólidos e impurezas. Ela então pode ser reutilizada em diversas aplicações como paisagismo, irrigação e recarga de aquíferos subterrâneos. Tratar a água para o reuso é um passo importante para a conservação. Em alguns países a reciclagem de água está se tornando lugar comum. Existe muito material escrito sobre o assunto e sendo implementado, até na Índia [10]. Esta é uma fonte viável de água, especialmente adequada para agricultura como diversos nutrientes podem ser recuperados e utilizados na produção.
Algumas instituições e ONGs cristãs já começaram a botar em prática a reciclagem de água. Mais iniciativas assim poderiam ser adotadas pelos cristãos para demonstrar o comprometimento com a conservação hídrica, assim como com a reciclagem de água geralmente descartada.
Compaixão cristã como parte da solução
O Sul Asiático, especialmente a Índia, enfrenta crises agudas de falta de água. A falta de acesso a água, fome, doenças e problemas de saneamento estão interligados. O aumento da urbanização em breve tornará estes desafios ainda mais difíceis de gerenciar. Somente uma governança boa e responsável além de responsabilidade individual irá trazer a mudança tão necessária.
Os cristãos na Índia têm uma excelente oportunidade para tomar iniciativa, em parceria com a igreja global, lançando projetos que não somente abordam a questão de falta da água, mas que também oferecem soluções de longo prazo para a crise hídrica de acordo com o compromisso de demonstrar o amor de Cristo às pessoas afetadas. Os cristãos possuem o potencial para demonstrar compaixão durante tempos de crise. São em tempos assim que as pessoas mais fracas e de castas mais baixas se tornam ainda mais vulneráveis e desprovidas. Os cristãos têm a oportunidade de iniciar a tarefa de educação da população sobre a preservação e uso da água, distribuição igualitária e justa, e garantir que a população mais carente da comunidade tenha acesso à água. Tudo isto pode ser feito da forma mais semelhante possível a Cristo para que todas as pessoas, independentemente de casta ou religião, tenham acesso igual à água na Índia.
Notas
Artigo publicado originalmente por Análise Global de Lausanne sob o título A crise da falta d’água na Índia.
1. Veja o artigo de Ed Brown: ‘Climate Change after Paris: What it means for the evangelical church’, (Mudança climática após Paris: o que significa para a igreja evangélica, sem tradução em português) na edição de maio da Análise Global de Lausanne https://www.lausanne.org/content/lga/2016-05/climate-change-after-paris.
2. The Hindu, November 9, 2009, Updated December 17, 2016. See http://www.thehindu.com/news/national/ldquoHimalayan-glaciers-most-threatened-by-global-warmingrdquo/article16890969.ece#, accessed on 04/01/2017. Prof V. Ramanathan is Director of the Centre for Clouds, Chemistry and Climate, Scripps Institution of Oceanography, San Diego, USA.
3. Maryam Mastoor, ‘Environmental Degradation: Focus on Water Scarcity in South Asia,’ Regional Studies, 27:1 (Winter 2008 – 2009), 7.
4. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’ 14, available online as PDF at https://www.academia.edu/, accessed on 17 October 2017.
5. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’13. Available online as PDF at https://www.academia.edu/, accessed on 17 October 2017. Reference to K. J., et al (ed.), Water Conflicts in India: A Million Revolts in the Making (London, New York, New Delhi: Routledge,2007), 98-104.
6. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’ 16-17.
7. National Water Policy (April 2002), available online at http://pib.nic.in/newsite/PrintRelease.aspx?relid=70832, accessed on 20 October 2017.
8. ‘MakarantPurohit, Privatising India’s Water Is a Bad Idea’, 17 October 2016, https://thewire.in/73597/water-privatisation/, accessed on 20 October 2017.
9. For a detailed discussion, see Amit Ranjan, ‘Water Conflicts in South Asia: India’s Transboundary River Water Conflicts with Pakistan, Bangladesh and Nepal,’BIISS Journal, 36:1 (January 2015), 37-55.
10. Several waste water projects have been pioneered all over the world, even India, by the International Ecological Engineering Society. See https://iees.ch/, accessed on 20 December 2017.
• Dr Ken Gnanakan fundou o ACTS Group of Institutions, International Council for Higher Education e Theological Book Trust, além disso ele dirige diversos outros ministérios na Índia e ao redor do mundo. Ele é teólogo, ambientalista e filósofo da educação, reside em Bangalore, Índia.
• Dr. Atul Aghamkar serviu de pastor e implantador de igrejas com a Christian and Missionary Alliance na Índia, e então como pastor e chefe do Departamento de Missiologia no seminário Union Biblical (Pune) e mais tarde na South Asia Institute of Advanced Christian Studies (Bangalore). Ele está atualmente servindo como diretor do National Center for Urban Transformation, uma iniciativa da EFI (Evangelical Fellowship of India).
A água é absolutamente necessária para a sobrevivência humana. No entanto, acesso à agua doce está se tornando crítico, especialmente em partes da Ásia e África. Cerca de 54% da Índia sofre com extremas tensões por falta de água. A crise tem se tornado mais evidente nos anos recentes com grande parte da Índia central sofrendo com severa escassez de água.
Razões da escassez de água na Índia
A crise ambiental global afeta a Índia e o todo o mundo [1]. Em uma palestra em 2009, o professor V. Ramanathan advertiu sobre as geleiras dos Himalaias serem as mais ameaçadas pelo aquecimento global’ [2]. As geleiras dos Himalaias, que cobrem aproximadamente 1.900 km, atravessando oito países, são a fonte de água potável, irrigação e energia hidroelétrica para cerca de 1.5 bilhões de pessoas. As geleiras estão se esgotando em uma velocidade alarmante e isto reduzirá o fluxo de água nos rios indianos como o Ganges e Brahmaputra.
Analistas populacionais projetam que até 2050, cerca de 60% dos indianos viverão em áreas urbanas, onde existe uma lacuna cada vez maior entre o suprimento e demanda de água doce. A crescente demanda por uso doméstico da água nos centros urbanos coloca imensa pressão sobre recursos cada vez menores.
A agricultura é o meio de subsistência de grande parte da população. Aproximadamente 50% da água disponível é consumida pela agricultura, que, juntamente com o aumento populacional, leva à escassez [3]. É um problema global também; estima-se que até 2050 a agricultura mundial irá demandar o dobro de água utilizado para alimentar o mundo.
Com o rápido crescimento econômico e aumento de consumo de energia per capita, a demanda por eletricidade está em constante crescimento. O setor de energia, especialmente as usinas hidrotérmicas, demandam quantidades imensas de água. Muita desta energia é consumida pelas cidades, deixando quase 40% das moradias rurais privadas de energia.
Diversas indústrias consomem vastas quantias de água. O constante aumento de demanda por água na indústria ameaça também os níveis de água da superfície.
Conflitos por água
Como a água é um recurso natural tão essencial, não é surpreendente que o Banco Mundial prevê que ela se tornará a maior causa para guerras no século 21. Na Índia, os conflitos pela água existem em diversos níveis, desde brigas ao lado dos poços nos vilarejos até disputas interestaduais pela água. Estes pequenos conflitos poderão se tornar grandes guerras pela água no futuro. Listados a seguir estão alguns dos grandes problemas na Índia:
Opressão religiosa e de castas
Às comunidades da chamada “baixa casta”, frequentemente, é negado o acesso aos poços públicos de água potável e outros recursos de água nas áreas rurais. As castas altas hindus têm garantido que as castas baixas, e especialmente “os sem casta” não tenham acesso a água. É perturbador ver que tais atos foram executados com sanção religiosa. Tamanha opressão frequentemente leva a protestos. B.R Ambedkar, líder lendário dos Dalits, lançou a Water Satyagraha (uma política de resistência política passiva), em Maharashtra, ao marchar para um tanque público e protestar contra tal preconceito. Conflitos recentes mostram como séculos de preconceito de casta, firmemente enraizados na cultura e tradições, ainda não foram erradicados [4].
No entanto, muito antes de Ambedkar protestar sobre questões de água, missionários cristãos tentaram abordar o assunto oferecendo acesso à agua para todos, especialmente os sem casta. A iniciativa missionária, dentre outras, demonstrou como os cristãos aplicam na prática os princípios bíblicos de dignidade, respeito e justiça para todas as pessoas.
Acesso igualitário à agua potável
Acesso igualitário à agua é uma demanda em contextos nos quais direitos de acesso à água são contestados. Por exemplo, no sul do estado de Maharashtra, fazendeiros afetados pela seca organizam protestos buscando a reestruturação de alguns projetos de irrigação na região, buscando mais igualdade [5].
Algumas entidades cristãs já começaram a responder à crise de falta d’água no centro da Índia auxiliando o acesso de pessoas atingidas pela seca à água potável. Poços estão sendo escavados, a população está sendo educada sobre como utilizar e conservar a água, e comitês comunitários estão sendo organizados para que a água seja acessível a todos. A Índia precisa de mais iniciativas assim.
Barragens e deslocamento de pessoas
Já faz alguns anos que o projeto Sardar Sarovar no Vale Narmada se tornou um ponto para protestos contra grandes barragens. A maioria dos países no sudeste asiático recebe grande parte da chuva durante as monções. Portanto as represas são necessárias para o armazenamento e uso no restante do ano. No entanto, estes projetos causaram infindáveis conflitos políticos e comunitários sobre questões de compartilhamento desigual e deslocamento de pessoas [6]. A maioria das igrejas e ONGs cristãs ainda precisam se envolver mais seriamente com as pessoas deslocadas por conta da construção destas enormes represas.
Privatização da água
A privatização d’água se tornará um grande motivo de conflitos na maioria dos países do sul asiático, especialmente na Índia. A privatização envolve a transferência de propriedade de recursos hídricos do setor público ao setor privado. A primeira Política Nacional Hídrica, redigida em 1987 pelo governo indiano estabeleceu: “Participação do setor privado deve ser encorajada no planejamento, desenvolvimento e gerenciamento de projetos de recursos hídricos para diversos usos, quando possível.” [7]. Isto é aplicado à geração hidroelétrica, suprimento industrial e doméstico de água e até irrigação. Em somente uma década, mais de 300 projetos com participação do setor privado foram comissionados.
No entanto, resultaram em um aumento de tarifas, queda na qualidade da água, falta de prestação de contas aos consumidores, redução de controles locais e direitos públicos, desemprego e impacto sobre os mais pobres [8]. Após a globalização, muitas empresas multinacionais estão concorrendo para ter acesso aos maiores recursos hídricos da Índia, causando queda nos níveis de água em muitas partes do país. Os cristãos na Índia precisam conscientemente abordar e discutir o acesso injusto e uso da água pelos poderosos e defender os direitos iguais no acesso à agua
Conflitos que atravessam fronteiras
Os conflitos que atravessam fronteiras ocorrem quando discórdias se intensificam com relação ao compartilhamento de água que flui de rios através de fronteiras nacionais ou estaduais. A Índia teve conflitos interfronteiras sobre águas fluviais com países vizinhos como o Paquistão, Bangladesh e Nepal [9]. O conflito entre Índia e Bangladesh sobre o Ganges é o caso em questão. Diversos esforços diplomáticos estão sendo feitos para resolver estas questões transnacionais sobre compartilhamento hídrico.
Na Índia cada estado possui uma liberdade considerável para decidir questões relacionadas à agua, e a maioria dos rios interestaduais se tornou uma questão de conflito nas décadas recentes. A água do rio Kaveri entre Tamil Nadu e Karnataka e o projeto hidroelétrico Baghlighar entre Jammu e a Caxemira são dois exemplos de conflitos hídricos interestaduais. Existe um amplo escopo no qual os cristãos indianos podem usar sua influência e agirem como catalisadores para resolver os conflitos hídricos através de fronteiras.
Soluções possíveis
Enquanto há muitas soluções sendo oferecidas para a crescente crise hídrica, algumas demandam investimentos enormes, assim como muitas pesquisas. No entanto, aqui estão duas soluções possíveis e realistas:
Captação de águas pluviais
A Índia possui bons níveis de chuva, e, com melhor gerenciamento da água de chuva, a crise pode ser gerenciada efetivamente. A captação de águas pluviais, a acumulação e armazenamento de água de chuva, deve ser considerada com urgência. Há diversos casos de sucesso, mas muito mais precisa ser feito. Água captada de chuva pode ser usada para irrigação, e, com o tratamento correto, até como água potável. Um benefício imediato seria uma recarga da água subterrânea, que ajudaria com o problema principal de queda nos níveis de água.
Os cristãos na Índia deveriam buscar parcerias com o governo e ONGs sociais que estão envolvidas com iniciativas do tipo. Isto demonstraria o comprometimento cristão de se posicionar com a comunidade por uma causa em comum.
Reuso de efluentes
Água reciclada é a água que foi tratada para remoção de sólidos e impurezas. Ela então pode ser reutilizada em diversas aplicações como paisagismo, irrigação e recarga de aquíferos subterrâneos. Tratar a água para o reuso é um passo importante para a conservação. Em alguns países a reciclagem de água está se tornando lugar comum. Existe muito material escrito sobre o assunto e sendo implementado, até na Índia [10]. Esta é uma fonte viável de água, especialmente adequada para agricultura como diversos nutrientes podem ser recuperados e utilizados na produção.
Algumas instituições e ONGs cristãs já começaram a botar em prática a reciclagem de água. Mais iniciativas assim poderiam ser adotadas pelos cristãos para demonstrar o comprometimento com a conservação hídrica, assim como com a reciclagem de água geralmente descartada.
Compaixão cristã como parte da solução
O Sul Asiático, especialmente a Índia, enfrenta crises agudas de falta de água. A falta de acesso a água, fome, doenças e problemas de saneamento estão interligados. O aumento da urbanização em breve tornará estes desafios ainda mais difíceis de gerenciar. Somente uma governança boa e responsável além de responsabilidade individual irá trazer a mudança tão necessária.
Os cristãos na Índia têm uma excelente oportunidade para tomar iniciativa, em parceria com a igreja global, lançando projetos que não somente abordam a questão de falta da água, mas que também oferecem soluções de longo prazo para a crise hídrica de acordo com o compromisso de demonstrar o amor de Cristo às pessoas afetadas. Os cristãos possuem o potencial para demonstrar compaixão durante tempos de crise. São em tempos assim que as pessoas mais fracas e de castas mais baixas se tornam ainda mais vulneráveis e desprovidas. Os cristãos têm a oportunidade de iniciar a tarefa de educação da população sobre a preservação e uso da água, distribuição igualitária e justa, e garantir que a população mais carente da comunidade tenha acesso à água. Tudo isto pode ser feito da forma mais semelhante possível a Cristo para que todas as pessoas, independentemente de casta ou religião, tenham acesso igual à água na Índia.
Notas
Artigo publicado originalmente por Análise Global de Lausanne sob o título A crise da falta d’água na Índia.
1. Veja o artigo de Ed Brown: ‘Climate Change after Paris: What it means for the evangelical church’, (Mudança climática após Paris: o que significa para a igreja evangélica, sem tradução em português) na edição de maio da Análise Global de Lausanne https://www.lausanne.org/content/lga/2016-05/climate-change-after-paris.
2. The Hindu, November 9, 2009, Updated December 17, 2016. See http://www.thehindu.com/news/national/ldquoHimalayan-glaciers-most-threatened-by-global-warmingrdquo/article16890969.ece#, accessed on 04/01/2017. Prof V. Ramanathan is Director of the Centre for Clouds, Chemistry and Climate, Scripps Institution of Oceanography, San Diego, USA.
3. Maryam Mastoor, ‘Environmental Degradation: Focus on Water Scarcity in South Asia,’ Regional Studies, 27:1 (Winter 2008 – 2009), 7.
4. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’ 14, available online as PDF at https://www.academia.edu/, accessed on 17 October 2017.
5. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’13. Available online as PDF at https://www.academia.edu/, accessed on 17 October 2017. Reference to K. J., et al (ed.), Water Conflicts in India: A Million Revolts in the Making (London, New York, New Delhi: Routledge,2007), 98-104.
6. K. J. Joy and SuhasParanjape, ‘Understanding Water Conflicts in South India,’ 16-17.
7. National Water Policy (April 2002), available online at http://pib.nic.in/newsite/PrintRelease.aspx?relid=70832, accessed on 20 October 2017.
8. ‘MakarantPurohit, Privatising India’s Water Is a Bad Idea’, 17 October 2016, https://thewire.in/73597/water-privatisation/, accessed on 20 October 2017.
9. For a detailed discussion, see Amit Ranjan, ‘Water Conflicts in South Asia: India’s Transboundary River Water Conflicts with Pakistan, Bangladesh and Nepal,’BIISS Journal, 36:1 (January 2015), 37-55.
10. Several waste water projects have been pioneered all over the world, even India, by the International Ecological Engineering Society. See https://iees.ch/, accessed on 20 December 2017.
• Dr Ken Gnanakan fundou o ACTS Group of Institutions, International Council for Higher Education e Theological Book Trust, além disso ele dirige diversos outros ministérios na Índia e ao redor do mundo. Ele é teólogo, ambientalista e filósofo da educação, reside em Bangalore, Índia.
• Dr. Atul Aghamkar serviu de pastor e implantador de igrejas com a Christian and Missionary Alliance na Índia, e então como pastor e chefe do Departamento de Missiologia no seminário Union Biblical (Pune) e mais tarde na South Asia Institute of Advanced Christian Studies (Bangalore). Ele está atualmente servindo como diretor do National Center for Urban Transformation, uma iniciativa da EFI (Evangelical Fellowship of India).
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