Opinião
- 21 de agosto de 2019
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A crescente onda nacionalista e a perseguição aos cristãos
Por Quézia Alcantara
O ressurgimento de políticas nacionalistas tem contribuído para o aumento da perseguição aos cristãos, de acordo com as organizações Open Doors Internacional - Missão Portas Abertas (MPA) e Aid to the Church Needs - Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), que têm mapeado a perseguição e o sofrimento de mais de 245 milhões de cristãos. Por meio de seus relatórios observa-se o crescimento da perseguição em alguns países com governos nacionalistas de viés fundamentalista.
Enquanto que, por um lado, bandeiras a favor da tolerância e diversidade cresceram no mundo globalizado, clamando por democracia em regiões governadas por ditaduras, totalitarismo ou dinastias, por outro lado, a crescente onda nacionalista que atinge países de vários matizes políticos e sociais tem favorecido a intolerância religiosa, entre os quais, ao Cristianismo.
“Em países como Índia, Paquistão e Mianmar, onde uma religião específica é identificada com o estado-nação, foram dados passos para defender os direitos dessa religião por oposição aos direitos das minorias religiosas. Isto resultou em restrições mais rigorosas à liberdade religiosa dos grupos minoritários, aumentando os obstáculos à conversão e impondo maiores sanções para a blasfêmia”, relata a Fundação Pontifícia ACN.
A influência muçulmana é secular nos governos de Irã, Iraque, Argélia, Afeganistão e Kwait, países do Oriente Médio que dotam o estado confessional e tem o Islamismo como religião oficial. Essa tendência vem crescendo na Ásia.
No Paquistão, “o nível da perseguição religiosa é extremo e cresceu consideravelmente no último ano, bem como o nível de violência, o maior de todos os países da Lista Mundial da Perseguição da Missão Portas Abertas, ocupando a 5ª colocação (O país subiu do 8º lugar para o 5º, de 2014 a 2019). Grupos radicais estão entrando cada vez mais na esfera pública e expandindo sua influência, visto que alguns deles são cortejados por partidos políticos, pelo exército e pelo próprio governo”, expõe a Missão Portas Abertas.
Na Indonésia, onde 86% da população segue o Islamismo, foram realizadas eleições em abril de 2019 e, segundo a Agência Italiana de Notícias, “a corrida eleitoral foi marcada pela crescente influência do Islã”. A Missão Portas Abertas informa que “uma das maiores organizações islâmicas da Indonésia, a Nadhlatul Ulama, que representa 40 milhões de muçulmanos, testemunhou um fortalecimento em seu sistema islâmico conservador” e, com isso, “os cristãos continuam sofrendo perseguição religiosa violenta, tendo muitas igrejas destruídas em nome do islamismo conservador”. A Indonésia alçou 6 pontos em 2019 se comparado ao mesmo período em 2018 na Lista Mundial de Perseguição. Em 2014, ocupava a 47ª colocação. Em 2018, já estava em 38º lugar e, em 2019, chegou à 30ª posição.
Também na Turquia, o nacionalismo religioso intensificou a pressão sobre os cristãos para que se convertam ao Islamismo e sobre os ex-muçulmanos para que retornem à antiga religião. O país, que já não fazia parte da Lista Mundial da Missão Portas Abertas, voltou à listagem em 2015 com a 41ª posição e desde então vem subindo: em 2016, ocupava o 45º lugar e após as eleições em 2017 passou para a 37ª. Em 2018, atingiu a 31ª e em 2019 chegou à 26ª posição. “O governo do presidente Erdogan está abertamente restringindo a liberdade em toda a sociedade turca. Cidadãos não muçulmanos sunitas, inclusive a minúscula minoria cristã, enfrentam aumento de pressão, o que tem se traduzido de forma crescente em incidentes violentos”, reporta a Missão Portas Abertas.
A Índia, conhecida por sua diversidade cultural, religiosa e política, ocupa o 10º lugar na atual Classificação da Perseguição Religiosa da Missão Portas Abertas. Antes de 2014 o país estava no 32º lugar. Em 2014, subiu para a 28ª posição do ranking e foi escalando até chegar à atual colocação. “Os cristãos são perseguidos tanto por grupos extremistas hindus quanto por muçulmanos e outros grupos radicais e o aumento significativo de incidentes de perseguição aos cristãos no país vem abalando os cristãos locais, depois da ascensão do partido hindu Bharatiya Janata da Party (BJP) ao poder em nível nacional, em maio de 2014”. A Análise Global de Lausanne, de maio de 2019, volume 8, informa que “o terrorismo hindu contra hindus não-Hindutva, muçulmanos, cristãos, dalit-bahujans e outros grupos, aumentou gradualmente desde a década de 1980, mas escalou vertiginosamente agora que a violência é oficialmente apoiada”.
Nos países cuja maioria segue o Budismo, contrariando as crenças de tolerância, desapego e práticas tidas como pacíficas, grupos budistas radicais ligados ao Bodu Bala Sena (algo como “Budistas Poder Força” - BBS), uma formação ultranacionalista, têm promovido perseguição àqueles que discordam de sua crença. “A estimativa é que o budismo seja praticado por cerca de 6% da população mundial e de 100 pessoas que seguem os ensinamentos de Buda, 99 vivem na Ásia. Nascer em países como Sri Lanka, Mianmar, Butão, Laos e Vietnã significa ser budista. Lá, as famílias são budistas há milhares de anos. Como a cultura da honra e vergonha está espalhada na sociedade, um cristão convertido traz desonra à família por trair sua casa ou manchar seu nome”, informa a Portas Abertas.
O Sri-Lanka vem se mantendo na Lista Mundial de Perseguição desde 2015 entre o 44º e o 46º lugar. Dados sobre a perseguição em áreas budistas e exemplos de ataques como o do domingo de Páscoa de 2019 em igrejas e hotéis, que deixou 359 mortos e pelo menos 500 feridos, dão conta de que o radicalismo de grupos extremistas budistas avançam na Ásia. Além desse ataque, a Aliança Nacional Cristã Evangélica contou que, em meses anteriores, houve 86 casos de discriminação e violência contra cristãos, 26 dos quais protagonizados por monges budistas que invadiram reuniões dominicais.
Mianmar, antiga Birmânia, país onde o Budismo é a religião oficial, ascendeu 6 pontos na Lista Mundial da Perseguição 2019, comparado ao ano anterior, chegando à 18ª posição. De acordo com a Portas Abertas, “a pressão aos cristãos aumentou mais e os convertidos do budismo, islamismo e religiões tribais continuam enfrentando forte perseguição”.
Em Brunei, onde o Budismo também é a religião oficial, desde 2014 “os não budistas foram proibidos de prestar culto em público e de fazer proselitismo, apesar do recente lançamento de um movimento estudantil cristão na capital ser motivo de esperança”. No Laos, também budista, o relato da ACN é que o Estado é o responsável por discriminação às religiões minoritárias. “O ‘Decreto 92’ regulamenta todos os assuntos religiosos, impondo restrições à propagação das religiões e controle estatal sobre as publicações religiosas com exceção do Budismo”.
Estas constatações inferem que a ascensão de partidos nacionalistas, cuja ideologia envolve aspectos do fundamentalismo religioso, tem impactado negativamente na prática da fé cristã de milhares de pessoas.
Por outro lado, a Igreja de Cristo sempre sofreu perseguição e discriminação, o que não a impediu de crescer e levar a boa nova do Reino. No entanto, o apoio e a solidariedade dos cristãos da igreja livre aos cristãos da igreja sofredora, além de bíblico, é essencial para a unidade do Cristianismo.
O apóstolo Paulo, que de algoz passou a ser perseguido e sofreu intensa tribulação devido à sua fé, ao ser confortado pela visita de Tito, nos lembra quão preciosa é a presença física e a oração para os que estão sofrendo em nome de Cristo. “Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito. E não somente com a sua vinda, mas também pela consolação com que foi consolado por vós, contando-nos as vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim, de maneira que muito me regozijei” (2 Coríntios 7:6-7).
• Quézia Alcantara G. Leite é jornalista, mestre em Comunicação, Cultura e Cidadania pela UFG. Membro da Primeira Igreja Batista em Goiânia.
>> Conheça o livro Sangue, Sofrimento e Fé: A missão cristã em contextos de perseguição
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