Opinião
- 15 de março de 2019
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A contribuição única da mulher, conforme os propósitos de Deus
Por Isabelle Ludovico
Concordo com Paul Tournier, quando ele afirma, no livro A Missão da Mulher, que as interpretações da Bíblia feitas por homens, a partir de uma perspectiva patriarcal, contribuíram para restringir a mulher ao espaço da casa. Mas Cristo não deu margem para essa discriminação. Pelo contrário, abriu novos espaços para as mulheres, a ponto de dar-lhes o privilégio de anunciar a sua ressurreição. Ele convidou o homem a mudar seu olhar sobre a mulher, trocando a exigência de seus direitos, segundo a lei, pelo reconhecimento de seus deveres para com ela, segundo o plano de Deus. Em Cristo, somos chamados a resgatar o projeto original de parceria entre o homem e a mulher.
O alijamento da mulher gerou um mundo desenvolvido tecnologicamente, em detrimento das relações interpessoais e da qualidade de vida. Tournier convoca a mulher a ocupar seu lugar, reequilibrando o mundo com sua afetividade. Mas tal proposta mantém a dicotomia: o homem pensa e a mulher sente. Por isso escrevi O Resgate do Feminino – A força da sensibilidade e ternura em homens e mulheres, propondo que ambos deem lugar ao coração. Pois o machismo amputou os homens de sua sensibilidade. E o movimento feminista, que no início buscou, acertadamente, igualdade de direitos com os homens, acabou priorizando a carreira profissional, promovendo atitudes competitivas e gerando mulheres masculinizadas.
O mundo está à beira do colapso porque o princípio feminino foi censurado nos homens e negligenciado pelas mulheres. Assim, a missão continua sendo reumanizar o mundo e reequilibrar a sociedade pela prioridade das pessoas sobre as coisas. Mas afetividade e intuição, atribuídas socialmente à mulher, estão em todo ser humano, já que fomos criados à imagem de um Deus que ama. Reconciliar-se com Deus e tornar-se discípulo é abrir mão do poder e, em troca, tornar-se apto a amar e servir, uma proposta na contramão da sociedade.
As mulheres precisam se libertar das imagens estereotipadas impostas pelo machismo e pelo feminismo para encontrar sua verdadeira identidade não em papéis, mas em sua essência. Uma característica do feminino é o anseio por intimidade e pessoalidade. O princípio feminino tem por função acompanhar o ser humano num caminho de interioridade, na descoberta de seu espaço interior, onde ele pode se encontrar com Deus, deixar-se amar e compartilhar esse amor.
Ouvir a Deus e o próprio coração permite desenvolver uma maior intimidade, pois Deus se revela para quem se aproxima com reverência e humildade. Diante de um Deus que me acolhe como sou, posso baixar as armas, reconhecer minha fragilidade e me perceber amada incondicionalmente. Não preciso mais das identidades artificiais impostas pela sociedade e baseadas na aparência, no desempenho e nos recursos materiais.
A mulher, por sua biologia, tem predisposição para acolher e proteger a vida. Esse acolhimento se amplia no exercício da hospitalidade e da receptividade, que gera trocas transformadoras. Em vez de mendigar afeto e reconhecimento, ela transborda de amor quando se deixa suprir pelo Pai. Sabendo de onde vem e para onde pode voltar, a mulher pode amar desinteressadamente e servir, conforme o exemplo de Jesus. Em contato com suas emoções, ela é capaz de se identificar com a alegria ou a dor do outro. Seus sentidos são vivificados, de forma a ver, ouvir, tocar, saborear e sentir com o coração. Torna-se fecunda e criativa, não apenas por meio da maternidade biológica, mas também desenvolvendo uma maternidade espiritual, que a leva a cuidar de si, do outro e da natureza com doçura e delicadeza. A sensibilidade não a impede, do contrário, a fortalece para encarar a vida e a morte, pois quem evita a dor acaba se privando da vida. O homem constrói UTIs, mas é a mulher, como Tereza de Calcutá, que acompanha os moribundos, ou como Elisabeth Kübler-Ross, que estuda as fases do fim da vida.
A mulher é convocada a exercer sua cidadania conforme os valores do reino para construir uma sociedade mais fraterna, inclusiva e sustentável, priorizando qualidade de vida, simplicidade, despojamento, generosidade e gratidão, características dos que se sabem repletos do amor do Pai. É a coerência de vida que nos torna agentes efetivos de mudanças culturais, sociais e políticas. Como protagonista e empreendedora, a mulher contribui para a preservação da vida e a construção de relações interpessoais fundamentadas no respeito e no compromisso.
*Versão ampliada do artigo "A contribuição única da mulher", publicado na edição 376 da revista Ultimato.
Francesa de nascimento e brasileira de coração, é psicóloga e terapeuta sistêmica. Aprendeu com a filha a separar o lixo e com o filho um estilo de vida mais simples.
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