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Opinião

A Confederação Evangélica do Brasil: um esforço por unidade

A CEB nasceu em 1930 e reuniu denominações tradicionais e grupos missionários em torno de um projeto comum para o Brasil

Por Fernando Costa

Nos primeiros anos da República, o protestantismo brasileiro experimentou um período de expansão e busca por unidade. Já havia esforços notáveis na mídia impressa, no rádio e na representação política dos interesses evangélicos, além de cooperação entre igrejas e missões. Dentro desse contexto, a Confederação Evangélica do Brasil (CEB) surgiu como a consolidação desses movimentos.

Desde o início do século 20, líderes como Erasmo Braga, Epaminondas Melo do Amaral, Miguel Rizzo Júnior, Vicente Themudo Lessa e outros debatiam, em periódicos como Cultura Religiosa, Sacra Lux e Lucerna, temas essenciais para a sociedade e a fé protestante, como a educação, a condição da mulher e o analfabetismo. Esse ambiente de reflexão e ação impulsionou a criação de organizações voltadas à cooperação interdenominacional, como a União de Escolas Dominicais do Brasil (1911), a Comissão Brasileira de Cooperação (1916) e a Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil (1931), que eventualmente convergiriam para a CEB.

A consolidação da CEB ocorreu após o Congresso do Panamá de 1916, evento que buscou fortalecer o protestantismo latino-americano, diante da ausência de representantes da região na Conferência Missionária Mundial de Edimburgo (1910). No Brasil, Erasmo Braga emergiu como um dos principais articuladores desse movimento, impulsionando uma identidade protestante que combinava fé, nacionalismo e engajamento social.

No início dos anos 1930 com o objetivo de representar igrejas e organizações protestantes no diálogo com a sociedade e o governo, nasceu a CEB. Ela funcionava como um centro difusor do pensamento protestante, promovendo debates sobre democracia, progresso e participação política. Seu impacto foi significativo, especialmente ao reunir denominações tradicionais e grupos missionários em torno de um projeto comum para o Brasil.

No entanto, o esforço pela unidade protestante naquele período enfrentou desafios. Alguns deles: a polarização teológica entre fundamentalistas e liberais, a divisão entre igrejas urbanas e rurais e as diferenças entre lideranças nacionais e missionários estrangeiros corroboram para dificultar a pretendida coesão. Além disso, com o avanço do pentecostalismo nos anos 1960, essa tensão só aumentou. A divergência de práticas entre igrejas tradicionais e carismáticas tornou-se mais evidente, refletindo visões distintas sobre a ação do Espírito Santo na igreja e na vida cristã. Essa diversidade, em seu modelo bíblico, jamais poderia ser objeto de disputa, ainda que de forma positiva pudesse manter as diferentes experiências comunitárias.



A relação da CEB com o ecumenismo global também gerou controvérsias. Muitas igrejas filiadas mantinham vínculos com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que promovia diálogo interdenominacional e projetos sociais. No entanto, o rótulo de "ecumenismo" passou a ser visto com desconfiança em alguns círculos evangélicos, especialmente no contexto da Guerra Fria, quando o ecumenismo era frequentemente associado ao comunismo.

Com o tempo, a CEB passou a promover espaços de debate e ações sociais, fortalecendo sua influência entre os evangélicos mais engajados. No entanto, a crescente fragmentação denominacional e as tensões ideológicas dentro do protestantismo brasileiro enfraqueceram sua representatividade. O golpe civil-militar-empresarial de 31 de março de 1964 marcou um ponto de inflexão, levando à repressão de grupos protestantes socialmente engajados e limitando ainda mais o alcance da CEB. A dissolução de suas lideranças foi um golpe na busca pela unidade de representatividade protestante na segunda metade do século 20. Essa lacuna foi preenchida pela massiva influência e presença de organizações e práticas missionárias e eclesiásticas vindas do norte, por uma teologia com ênfase no escapismo do caos, prosperidade financeira e pelo aparelhamento do discurso político que associou a pátria dos crentes à pátria vigiada dos governos.

Até sua dissolução formal nos anos 1980, a CEB desempenhou um papel crucial na articulação do protestantismo no Brasil. Seu legado inclui a promoção da unidade evangélica, o fortalecimento do engajamento social das igrejas e a contribuição para o desenvolvimento de uma identidade protestante brasileira. Embora os desafios tenham sido muitos, a história da Confederação Evangélica do Brasil evidencia os esforços de um movimento que buscou conciliar fé e ação em um país em constantes transformações.

  • Fernando Costa é mestre em história social (UFMA) e em ciências das religiões (FUV), foi missionário na Missão Estudantil ABUB e pastor de igreja local. Atualmente dirige o Centro Evangélico de Missões, em Viçosa, MG, e faz parte da liderança do Movimento de Lausanne no Brasil.

Este artigo é parte do texto "Pautas da Confederação Evangélica do Brasil: a busca da unidade evangélica e o seu método de leitura da realidade brasileira", publicado na Revista Unitas, v. 12, n. 2, 2024.

Imagem: James Gilbert.



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Fernando Coêlho Costa é historiador, teólogo, cientista das religiões e pesquisador do Protestantismo Brasileiro. Atuou como Assessor da ABUB, como pastor e hoje está envolvido na Geração de Líderes Jovens do Movimento Lausanne. É autor de Política, Religião e Sociedade: a contribuição protestante de Robinson Cavalcanti (Ed.CRV). Siga no Instagram: @fernandocoelhocosta. Conheça o Instituto Robinson Cavalcanti.
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