Opinião
- 18 de março de 2024
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A conexão divina entre a fé e o dinheiro
A despeito das nossas tentativas de dissociar fé de finanças, Deus as vê de forma inseparável
Por Fabio Marques, CFP®
Por vezes somos levados a criar uma separação entre o sagrado e o secular, entre o espiritual e o carnal, enfim, entre as coisas que se relacionam com Deus e as coisas restritas ao nosso mundo material. Isso também pode acontecer quando pensamos na relação entre fé e dinheiro. Essa dualidade tende a gerar um desengajamento quando nos distanciamos de uma vida piedosa e generosa, fruto da transformação genuína do coração alcançado pelo amor de Jesus. É como manter compartimentos estanques na vida. De um lado a fé e a esperança de um lar eterno, e de outro a manutenção de hábitos e estilo de vida neste mundo, totalmente a serviço de nossas próprias conveniências e conforto.
É comum observarmos uma certa inquietação com o trato do tema dinheiro em nossas igrejas, o que é perfeitamente compreensível, uma vez que o simples fato de falarmos sobre dinheiro por si só já é um desafio relevante. No artigo Atribuindo propósito e significado eternos às suas finanças pessoais, abordamos a complexidade de se tratar do tema, já que o dinheiro traz consigo a incrível capacidade de se relacionar a aspectos mais íntimos do nosso coração e revelar traços de nosso caráter. De fato, esse deveria ser o motivo para darmos a importância devida à conexão entre a nossa fé e o dinheiro.
Já sabemos que a Bíblia trata sobejamente sobre o tema do dinheiro. No livro The Treasury Principle, Randy Alcorn nos traz insights muito interessantes a respeito do que ele chama “a conexão do dinheiro”. A questão central é a ênfase que o próprio Jesus dá ao tema, ao fazer menção sobre dinheiro e posses materiais em várias de suas parábolas e ensinamentos. Randy Alcorn atesta que mais de 15% de tudo o que Jesus falou está relacionado ao tema dinheiro – mais que todos os seus ensinamentos sobre céu e inferno juntos!
Mas qual seria a razão de tanta ênfase a respeito do dinheiro, um tema tão mundano? A resposta é a conexão estreita e fundamental entre a nossa vida espiritual e a forma como lidamos com o dinheiro. A despeito das nossas tentativas de dissociar fé de finanças, Deus as vê de forma inseparável.
Vamos às Escrituras para conferirmos essa verdade.
Encontramos um primeiro exemplo no relato de Lucas, capítulo 3. O contexto é a resposta de três grupos distintos de pessoas à mensagem veemente e confrontadora de João Batista sobre arrependimento e salvação (ver versículos 7 a 14).
No versículo 10, Lucas narra que as multidões perguntavam a João Batista: “O que devemos fazer?”. Para essas pessoas, sua resposta é direta e prática: “Se tiverem duas vestimentas, deem uma a quem não tem. Se tiverem comida, dividam com quem passa fome”. Observe que João Batista não titubeia em relacionar a nova disposição das vidas transformadas pelo arrependimento de pecados ao exercício da generosidade, do compartilhar de bens materiais.
O segundo grupo formado por cobradores de impostos também se aproxima de João Batista com a mesma pergunta: “Mestre, o que devemos fazer?”. A resposta é certeira: “Não cobrem impostos além daquilo que é exigido” (v. 12 e 13). Novamente somos surpreendidos pela conexão direta entre o coração e o bolso daqueles que aceitam de forma verdadeira a mensagem de arrependimento e salvação!
O terceiro grupo, o de soldados, não foge à regra (v. 14). A mesma pergunta, “O que devemos fazer?”, e o mesmo teor na resposta: “Não pratiquem extorsão nem façam acusações falsas. Contentem-se com seu salário”. Uma abordagem econômica ao que deveria estar sendo tratado no âmbito espiritual, diriam alguns. Mas é exatamente esse o ponto. Em suas respostas, João Batista apenas demonstra a indissociabilidade entre fé e dinheiro. Corações transformados pela fé salvífica são chamados a testificar a respeito de sua nova disposição de vida através do desprendimento das coisas materiais. Caem os ídolos, e Jesus assume a prioridade absoluta assentando-se no trono da vida.
João Batista nos ensina que a forma como abordamos as questões relacionadas a dinheiro é central para a nossa vida espiritual.
Outras passagens reforçam essa verdade. Como não lembrar da transformação radical de Zaqueu ao ter um encontro verdadeiro com Jesus (Lucas 19.1-10). O chefe dos cobradores de impostos entendeu como o coração transformado pelo amor de Jesus se conecta de forma prática e impactante ao bolso. Num ímpeto de justiça e generosidade, declara que dividiria metade de sua riqueza com os pobres e devolveria quatro vezes mais àqueles que porventura haviam sido explorados na cobrança dos impostos! As palavras de Jesus coroam esse episódio com graça e júbilo: “Hoje chegou salvação a esta casa!” (v. 9). A atitude de Zaqueu em relação às suas posses materiais testifica sobre a transformação radical experimentada pelo seu coração.
O livro de Atos relata como os novos convertidos se mobilizavam no compartilhar de seus bens com os mais necessitados (Atos 2.45, 4.32-35). A passagem de Paulo por Éfeso foi impactante ao ponto de levar aqueles que outrora praticavam feitiçarias a queimar em praça pública todos os seus livros de encantamento. Agora, notem o valor dos livros incinerados: cinquenta mil moedas de prata (50 mil dracmas), o que em valores atuais equivaleria a R$ 10 milhões1 (Lc 19.19)! Certamente os mágicos haviam encontrado o seu verdadeiro tesouro!
Por fim, vale também destacar o encontro de Jesus com um jovem rico (Mt 19.16-22). Esse episódio retrata com clareza o dilema da dualidade gerando desengajamento. No esforço de manter uma vida compartimentalizada e dual, o jovem devoto e justo na observância das leis renuncia a um relacionamento íntimo com Jesus. Prefere se distanciar, eventualmente mantendo-se fiel ao seu elevado padrão de conduta, mas triste por não ser capaz de atender ao chamado do Mestre “porque tinha muitos bens”.
Que sejamos inspirados e desafiados a viver de forma impactante neste mundo.
Que as nossas ações sejam permeadas de generosidade e entrega, demonstrando de forma inconteste que a conexão entre a nossa fé e as nossas finanças proclama a esperança eterna que guardamos como tesouro maior em nossos corações.
Nota
1. Uma dracma equivalia ao valor de um dia de trabalho. Considerando R$ 200,00/dia, chegamos a R$ 10 milhões.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
Nem bens materiais nem espirituais – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
É disso que trata a matéria de capa da edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Trabalho, Descanso e Dinheiro – Uma abordagem bíblica, Timóteo Carrriker
» O Discípulo – Um chamado para ser como Cristo, John Stott
» Encorajamento Que Vem do Alto – A vida nova que só Deus pode dar, Robert Koo
» Dinheiro é bênção ou maldição? Você decide, por Gustavo Ipólito
» Atribuindo propósito e significado eternos às suas finanças pessoais, por Fábio Marques
Por Fabio Marques, CFP®
Por vezes somos levados a criar uma separação entre o sagrado e o secular, entre o espiritual e o carnal, enfim, entre as coisas que se relacionam com Deus e as coisas restritas ao nosso mundo material. Isso também pode acontecer quando pensamos na relação entre fé e dinheiro. Essa dualidade tende a gerar um desengajamento quando nos distanciamos de uma vida piedosa e generosa, fruto da transformação genuína do coração alcançado pelo amor de Jesus. É como manter compartimentos estanques na vida. De um lado a fé e a esperança de um lar eterno, e de outro a manutenção de hábitos e estilo de vida neste mundo, totalmente a serviço de nossas próprias conveniências e conforto.
É comum observarmos uma certa inquietação com o trato do tema dinheiro em nossas igrejas, o que é perfeitamente compreensível, uma vez que o simples fato de falarmos sobre dinheiro por si só já é um desafio relevante. No artigo Atribuindo propósito e significado eternos às suas finanças pessoais, abordamos a complexidade de se tratar do tema, já que o dinheiro traz consigo a incrível capacidade de se relacionar a aspectos mais íntimos do nosso coração e revelar traços de nosso caráter. De fato, esse deveria ser o motivo para darmos a importância devida à conexão entre a nossa fé e o dinheiro.
Já sabemos que a Bíblia trata sobejamente sobre o tema do dinheiro. No livro The Treasury Principle, Randy Alcorn nos traz insights muito interessantes a respeito do que ele chama “a conexão do dinheiro”. A questão central é a ênfase que o próprio Jesus dá ao tema, ao fazer menção sobre dinheiro e posses materiais em várias de suas parábolas e ensinamentos. Randy Alcorn atesta que mais de 15% de tudo o que Jesus falou está relacionado ao tema dinheiro – mais que todos os seus ensinamentos sobre céu e inferno juntos!
Mas qual seria a razão de tanta ênfase a respeito do dinheiro, um tema tão mundano? A resposta é a conexão estreita e fundamental entre a nossa vida espiritual e a forma como lidamos com o dinheiro. A despeito das nossas tentativas de dissociar fé de finanças, Deus as vê de forma inseparável.
Vamos às Escrituras para conferirmos essa verdade.
Encontramos um primeiro exemplo no relato de Lucas, capítulo 3. O contexto é a resposta de três grupos distintos de pessoas à mensagem veemente e confrontadora de João Batista sobre arrependimento e salvação (ver versículos 7 a 14).
No versículo 10, Lucas narra que as multidões perguntavam a João Batista: “O que devemos fazer?”. Para essas pessoas, sua resposta é direta e prática: “Se tiverem duas vestimentas, deem uma a quem não tem. Se tiverem comida, dividam com quem passa fome”. Observe que João Batista não titubeia em relacionar a nova disposição das vidas transformadas pelo arrependimento de pecados ao exercício da generosidade, do compartilhar de bens materiais.
O segundo grupo formado por cobradores de impostos também se aproxima de João Batista com a mesma pergunta: “Mestre, o que devemos fazer?”. A resposta é certeira: “Não cobrem impostos além daquilo que é exigido” (v. 12 e 13). Novamente somos surpreendidos pela conexão direta entre o coração e o bolso daqueles que aceitam de forma verdadeira a mensagem de arrependimento e salvação!
O terceiro grupo, o de soldados, não foge à regra (v. 14). A mesma pergunta, “O que devemos fazer?”, e o mesmo teor na resposta: “Não pratiquem extorsão nem façam acusações falsas. Contentem-se com seu salário”. Uma abordagem econômica ao que deveria estar sendo tratado no âmbito espiritual, diriam alguns. Mas é exatamente esse o ponto. Em suas respostas, João Batista apenas demonstra a indissociabilidade entre fé e dinheiro. Corações transformados pela fé salvífica são chamados a testificar a respeito de sua nova disposição de vida através do desprendimento das coisas materiais. Caem os ídolos, e Jesus assume a prioridade absoluta assentando-se no trono da vida.
João Batista nos ensina que a forma como abordamos as questões relacionadas a dinheiro é central para a nossa vida espiritual.
Outras passagens reforçam essa verdade. Como não lembrar da transformação radical de Zaqueu ao ter um encontro verdadeiro com Jesus (Lucas 19.1-10). O chefe dos cobradores de impostos entendeu como o coração transformado pelo amor de Jesus se conecta de forma prática e impactante ao bolso. Num ímpeto de justiça e generosidade, declara que dividiria metade de sua riqueza com os pobres e devolveria quatro vezes mais àqueles que porventura haviam sido explorados na cobrança dos impostos! As palavras de Jesus coroam esse episódio com graça e júbilo: “Hoje chegou salvação a esta casa!” (v. 9). A atitude de Zaqueu em relação às suas posses materiais testifica sobre a transformação radical experimentada pelo seu coração.
O livro de Atos relata como os novos convertidos se mobilizavam no compartilhar de seus bens com os mais necessitados (Atos 2.45, 4.32-35). A passagem de Paulo por Éfeso foi impactante ao ponto de levar aqueles que outrora praticavam feitiçarias a queimar em praça pública todos os seus livros de encantamento. Agora, notem o valor dos livros incinerados: cinquenta mil moedas de prata (50 mil dracmas), o que em valores atuais equivaleria a R$ 10 milhões1 (Lc 19.19)! Certamente os mágicos haviam encontrado o seu verdadeiro tesouro!
Por fim, vale também destacar o encontro de Jesus com um jovem rico (Mt 19.16-22). Esse episódio retrata com clareza o dilema da dualidade gerando desengajamento. No esforço de manter uma vida compartimentalizada e dual, o jovem devoto e justo na observância das leis renuncia a um relacionamento íntimo com Jesus. Prefere se distanciar, eventualmente mantendo-se fiel ao seu elevado padrão de conduta, mas triste por não ser capaz de atender ao chamado do Mestre “porque tinha muitos bens”.
Que sejamos inspirados e desafiados a viver de forma impactante neste mundo.
Que as nossas ações sejam permeadas de generosidade e entrega, demonstrando de forma inconteste que a conexão entre a nossa fé e as nossas finanças proclama a esperança eterna que guardamos como tesouro maior em nossos corações.
Nota
1. Uma dracma equivalia ao valor de um dia de trabalho. Considerando R$ 200,00/dia, chegamos a R$ 10 milhões.
- Fabio Marques, CFP® é casado com Alessandra, pai de quatro filhos e sócio fundador da Bridgen Planejamento Financeiro. Acredita no poder transformador do planejamento de vida que, a partir de uma renovada abordagem das finanças pessoais, é capaz de pavimentar o caminho rumo a uma vida plena e abençoadora.
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Nem bens materiais nem espirituais – são gerados a partir de nós. Em nada temos mérito. Tudo o que temos foi recebido. E a fonte, a inspiração primeira, o doador, é Deus.
O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
É disso que trata a matéria de capa da edição 406 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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» Trabalho, Descanso e Dinheiro – Uma abordagem bíblica, Timóteo Carrriker
» O Discípulo – Um chamado para ser como Cristo, John Stott
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