Opinião
- 27 de janeiro de 2020
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A colportagem bíblica no fim do mundo. Na Amazônia
Por Luiz Antonio Giraldi
Antão Pessoa foi um colportor que trabalhou no Norte e Nordeste do Brasil para a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, durante as primeiras décadas do século 20. Ele estava agora na cidade de Tefé, no noroeste do Estado do Amazonas e ia iniciar uma jornada bíblica de mais de 500 quilômetros, remando sozinho em uma canoa grande, com destino à cidade de Manaus, a capital do Estado.
Nessa longa jornada de colportagem, ele remaria correnteza abaixo, no largo rio Solimões, de mais de 10 metros de profundidade. Passaria por muitos povoados pequenos, visitaria inúmeras casas isoladas à beira do rio e só encontraria, durante a viagem, uma cidade, chamada Coari. Ele não esperava enfrentar, naquela época do ano, grandes enchentes, mas tempestades seriam inevitáveis. Com certeza, remaria vários dias nas águas barrentas do Solimões, debaixo de chuva e de um sol escaldante. Porém, confiava em sua experiência de muitos anos como marinheiro para superar todas as dificuldades que pudessem estar à frente.
A fim de proteger os livros da chuva e do sol, Antão colocou na canoa um toldo bem grande. Ao lado dos livros, armou uma rede para dormir durante a noite. Como o rio tinha, em seus trechos mais estreitos, cerca de dois quilômetros de largura e a correnteza nas margens era mais forte, ficava muito difícil para ele manobrar a canoa a fim de visitar os ribeirinhos que moravam nas margens do rio. Mesmo assim, sempre que avistava um casebre, conduzia a canoa até a margem, cumprimentava os moradores e lhes oferecia um exemplar das Escrituras.
Dinheiro era algo muito escasso na região, então ele aceitava, em troca dos livros, produtos da região, tais como um cacho de banana, uma galinha, peixe seco, ovos de tartaruga, farinha de mandioca e peles de animais. Foi assim que, durante a viagem, ele conseguiu distribuir àquela gente tão pobre cerca de 400 exemplares das Escrituras. Quando a pessoa não tinha nada para dar em troca de seus livros, ele doava um Evangelho. Mesmo que a pessoa fosse analfabeta, ele deixava um exemplar, na esperança de que algum vizinho ou visitante pudesse ler. Em poucos povoados, foi possível reunir um grupo de pessoas, ler a Bíblia em voz alta e pregar o Evangelho.
À noite, antes de dormir, Antão tomava a precaução de amarrar a canoa em alguma árvore à beira do rio. Mas esse seu cuidado não impediu que, em uma noite escura e chuvosa, a amarra do barco se soltasse. Quando ele acordou assustado com o barulho das águas agitadas, viu que a canoa já estava longe da margem e, descontrolada, era levada pela correnteza rio abaixo. Com dificuldade, conseguiu controlar a embarcação e voltar para a margem.
Passados muitos dias de viagem, a canoa se aproximou do estuário do Rio Negro e, de repente, as águas tranquilas do Solimões se transformaram num mar tempestuoso. Pegando o remo maior, Antão remou sem parar até colocar a canoa na direção favorável ao vento. Durante mais de três horas, manteve uma luta de vida ou morte contra as forças da natureza. Naquele lugar, o rio tinha mais de cinco quilômetros de largura e o valente colportor só encontrou terra firme quando a tempestade já estava quase acabando. Conseguiu chegar até a margem do rio Solimões, amarrou a canoa em uma árvore e, exausto, jogou-se ao chão para recuperar o fôlego.
Na madrugada do dia seguinte, quando o sol despontou no horizonte, Antão seguiu viagem, remando em águas tranquilas, rumo à capital do Amazonas. Porém, poucas horas depois, o rio mais uma vez se tornou agitado porque a canoa estava passando pelo lugar onde as águas escuras do Rio Negro se encontram com as águas barrentas do Solimões, formando o grande Rio Amazonas. De novo, ele teve que remar forte e rápido para chegar a uma das margens, onde encontrou uma casa muito simples. E ali foi recebido amistosamente por um ribeirinho. Finalmente, seus momentos de perigo estavam terminando. No dia seguinte, remou mais algumas horas e chegou em paz à cidade de Manaus.
No dia seguinte, Antão acordou bem cedo e deu início ao trabalho de divulgação da Bíblia na capital do Amazonas. Como já conhecia Manaus muito bem, começou a oferecer seus livros no mercado municipal, o local mais movimentado da cidade. Embora fosse ainda muito cedo, o mercado já estava cheio de gente e, até o meio dia, Antão conseguiu vender uma grande quantidade de Escrituras. Depois do almoço, optou por oferecer as Escrituras de casa em casa. Ao longo de dois meses repetiu esse mesmo programa de trabalho, visitando o mercado de manhã e as casas à tarde.
Durante essa visita a Manaus, Antão distribuiu 119 Bíblias, 380 Novos Testamentos e mais de 1.600 Evangelhos. Além de distribuir tantas Escrituras, tornou-se uma pessoa muito conhecida e querida na capital do Amazonas. Encontrou ali um grande amigo do Evangelho, o juiz do Tribunal de Justiça da cidade. Esse senhor ficou tão impressionado com o trabalho de divulgação da Palavra de Deus realizado pelo colportor e com as experiências que ele lhe contou que o convidou a hospedar-se em sua casa. Dessa maneira, após uma viagem tão longa, exaustiva e perigosa, e semanas de total desconforto, Antão Pessoa passou várias semanas confortavelmente hospedado em uma rica mansão, onde foi tratado como um membro da família.
• Luiz Antonio Giraldi é bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia e pós-graduado em Administração de Empresas e Ciências Bíblicas. Trabalhou durante 48 anos como executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (1957 a 2005) e foi seu diretor executivo de 1984 a 2005. É autor de diversos livros, entre os quais “História da Bíblia no Brasil” “A Bíblia no Brasil Império, “A Bíblia no Brasil República e “Semeadores da Palavra”.
>> Conheça o livro História da Evangelização do Brasil, de Elben César
Antão Pessoa foi um colportor que trabalhou no Norte e Nordeste do Brasil para a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, durante as primeiras décadas do século 20. Ele estava agora na cidade de Tefé, no noroeste do Estado do Amazonas e ia iniciar uma jornada bíblica de mais de 500 quilômetros, remando sozinho em uma canoa grande, com destino à cidade de Manaus, a capital do Estado.
Nessa longa jornada de colportagem, ele remaria correnteza abaixo, no largo rio Solimões, de mais de 10 metros de profundidade. Passaria por muitos povoados pequenos, visitaria inúmeras casas isoladas à beira do rio e só encontraria, durante a viagem, uma cidade, chamada Coari. Ele não esperava enfrentar, naquela época do ano, grandes enchentes, mas tempestades seriam inevitáveis. Com certeza, remaria vários dias nas águas barrentas do Solimões, debaixo de chuva e de um sol escaldante. Porém, confiava em sua experiência de muitos anos como marinheiro para superar todas as dificuldades que pudessem estar à frente.
A fim de proteger os livros da chuva e do sol, Antão colocou na canoa um toldo bem grande. Ao lado dos livros, armou uma rede para dormir durante a noite. Como o rio tinha, em seus trechos mais estreitos, cerca de dois quilômetros de largura e a correnteza nas margens era mais forte, ficava muito difícil para ele manobrar a canoa a fim de visitar os ribeirinhos que moravam nas margens do rio. Mesmo assim, sempre que avistava um casebre, conduzia a canoa até a margem, cumprimentava os moradores e lhes oferecia um exemplar das Escrituras.
Dinheiro era algo muito escasso na região, então ele aceitava, em troca dos livros, produtos da região, tais como um cacho de banana, uma galinha, peixe seco, ovos de tartaruga, farinha de mandioca e peles de animais. Foi assim que, durante a viagem, ele conseguiu distribuir àquela gente tão pobre cerca de 400 exemplares das Escrituras. Quando a pessoa não tinha nada para dar em troca de seus livros, ele doava um Evangelho. Mesmo que a pessoa fosse analfabeta, ele deixava um exemplar, na esperança de que algum vizinho ou visitante pudesse ler. Em poucos povoados, foi possível reunir um grupo de pessoas, ler a Bíblia em voz alta e pregar o Evangelho.
À noite, antes de dormir, Antão tomava a precaução de amarrar a canoa em alguma árvore à beira do rio. Mas esse seu cuidado não impediu que, em uma noite escura e chuvosa, a amarra do barco se soltasse. Quando ele acordou assustado com o barulho das águas agitadas, viu que a canoa já estava longe da margem e, descontrolada, era levada pela correnteza rio abaixo. Com dificuldade, conseguiu controlar a embarcação e voltar para a margem.
Passados muitos dias de viagem, a canoa se aproximou do estuário do Rio Negro e, de repente, as águas tranquilas do Solimões se transformaram num mar tempestuoso. Pegando o remo maior, Antão remou sem parar até colocar a canoa na direção favorável ao vento. Durante mais de três horas, manteve uma luta de vida ou morte contra as forças da natureza. Naquele lugar, o rio tinha mais de cinco quilômetros de largura e o valente colportor só encontrou terra firme quando a tempestade já estava quase acabando. Conseguiu chegar até a margem do rio Solimões, amarrou a canoa em uma árvore e, exausto, jogou-se ao chão para recuperar o fôlego.
Na madrugada do dia seguinte, quando o sol despontou no horizonte, Antão seguiu viagem, remando em águas tranquilas, rumo à capital do Amazonas. Porém, poucas horas depois, o rio mais uma vez se tornou agitado porque a canoa estava passando pelo lugar onde as águas escuras do Rio Negro se encontram com as águas barrentas do Solimões, formando o grande Rio Amazonas. De novo, ele teve que remar forte e rápido para chegar a uma das margens, onde encontrou uma casa muito simples. E ali foi recebido amistosamente por um ribeirinho. Finalmente, seus momentos de perigo estavam terminando. No dia seguinte, remou mais algumas horas e chegou em paz à cidade de Manaus.
No dia seguinte, Antão acordou bem cedo e deu início ao trabalho de divulgação da Bíblia na capital do Amazonas. Como já conhecia Manaus muito bem, começou a oferecer seus livros no mercado municipal, o local mais movimentado da cidade. Embora fosse ainda muito cedo, o mercado já estava cheio de gente e, até o meio dia, Antão conseguiu vender uma grande quantidade de Escrituras. Depois do almoço, optou por oferecer as Escrituras de casa em casa. Ao longo de dois meses repetiu esse mesmo programa de trabalho, visitando o mercado de manhã e as casas à tarde.
Durante essa visita a Manaus, Antão distribuiu 119 Bíblias, 380 Novos Testamentos e mais de 1.600 Evangelhos. Além de distribuir tantas Escrituras, tornou-se uma pessoa muito conhecida e querida na capital do Amazonas. Encontrou ali um grande amigo do Evangelho, o juiz do Tribunal de Justiça da cidade. Esse senhor ficou tão impressionado com o trabalho de divulgação da Palavra de Deus realizado pelo colportor e com as experiências que ele lhe contou que o convidou a hospedar-se em sua casa. Dessa maneira, após uma viagem tão longa, exaustiva e perigosa, e semanas de total desconforto, Antão Pessoa passou várias semanas confortavelmente hospedado em uma rica mansão, onde foi tratado como um membro da família.
• Luiz Antonio Giraldi é bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia e pós-graduado em Administração de Empresas e Ciências Bíblicas. Trabalhou durante 48 anos como executivo da Sociedade Bíblica do Brasil (1957 a 2005) e foi seu diretor executivo de 1984 a 2005. É autor de diversos livros, entre os quais “História da Bíblia no Brasil” “A Bíblia no Brasil Império, “A Bíblia no Brasil República e “Semeadores da Palavra”.
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