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Opinião

A colheita da fé – A semente caiu em boa terra, e deu fruto

Todos (se) ajudaram, todos foram ajudados

Por Carlos Caldas

A colheita da fé (All Saints no original em inglês) é um filme norte-americano de 2017, mas disponibilizado recentemente no canal de streaming Netflix. É uma produção evangélica do gênero drama cristão, bem ao estilo “Sessão da Tarde”, muito leve (nenhum dos personagens jamais fala um palavrão, o que contrasta com alguns filmes nos quais os personagens não falam uma frase sem uma imprecação) mas que se destaca por não ser nem piegas e nem moralista, e por não apresentar personagens idealizados ou tramas impossíveis.

A síntese da trama, baseada em eventos que realmente aconteceram, é a seguinte: Michael Spurlock (interpretado pelo ator John Corbett, que ficou bastante conhecido pelo filme Casamento grego, que fez muito sucesso) é um pai de família que trabalhava no comércio, tem uma “vocação tardia”, e foi ordenado pároco anglicano (episcopal, como se diz nos Estados Unidos). Ele recebe de seu bispo uma tarefa nada agradável: fechar a igreja All Saints – literalmente, “Todos os Santos”1 na pequena cidade de Smyrna, no Tennessee. A igreja é frequentada apenas por uma meia dúzia de membros idosos, e não consegue mais se manter financeiramente, dando por isso prejuízos para a diocese à qual está vinculada, que resolve fechá-la e, ato contínuo, vender a propriedade, que está em uma área muito grande. O Reverendo Spurlock aceita a tarefa ingrata e inglória, recebendo todo apoio de sua esposa Aimée e do filho Atticus, um adolescente de 12 ou 13 anos.

É aí então que o inesperado acontece: em ensolarada e bela manhã de domingo a igreja é visitada por um grupo de pessoas estranhas com feições orientais. Mais tarde descobre-se que são do povo Karen (pronuncia-se “karén”), procedentes de Mianmar, a antiga Birmânia, no sudeste da Ásia. Eles procuraram a igreja justamente por já serem anglicanos em seu país de origem.2 Ye Win (vivido pelo ator taiwanês Nelson Lee), o líder do grupo, sabe falar inglês, e será uma ponte entre os dois mundos, o dos anglo-americanos brancos que são o que restou da membresia outrora grande de All Souls, e seu próprio, dos imigrantes birmaneses.

Os membros da igreja reagem de maneiras diferentes à chegada dos imigrantes: alguns os recebem de braços e corações abertos, outros, mantêm-se à distância. Aos poucos as duas comunidades, diferentes uma da outra em todos os sentidos possíveis e imagináveis, começam a se integrar. O Reverendo Spurlock faz “de tudo e mais um pouco” para ajudá-los, agindo literalmente como o samaritano da parábola contada por Jesus, pois coloca dinheiro do seu próprio bolso no intuito de auxiliá-los. Surge uma ideia: a igreja tem uma área bastante grande que nunca fora utilizada para nada, e pensou-se em aproveitá-la para fazer uma grande horta, e os produtos hortifrutigranjeiros dali obtidos seriam vendidos, com o produto das vendas revertido para ajudar os Karen. Afinal, eles eram agricultores em seu país de origem.



Todos se envolvem na nova empreitada, e plantam milho, abóbora, tomate, além de algumas verduras como espinafre e outras especificamente asiáticas, que os Karen pretendem vender para restaurantes de comidas típicas da região. Mas a situação piora quando vem uma tempestade muito forte que praticamente destrói toda a plantação. Michael pensa em desistir de tudo, mas a esposa o incentiva a continuar. A notícia se espalha, e em uma cena particularmente tocante do filme, uma tarde o Reverendo Spurlock e o grupo de refugiados recebem uma visita inesperada de um grupo da cidade de Smyrna. Os visitantes oferecem ajuda de várias maneiras, e na conversa, descobre-se que alguns deles são batistas, outros são ateus e sem religião, e outros são budistas. Mas todos têm o mesmo propósito: ajudar os refugiados Karen e, consequentemente, a igreja que os acolhera. No fim, apesar de todos os percalços e dificuldades que surgiram no caminho, tudo se acerta. A Diocese Episcopal do Tennessee, que antes estava disposta a desistir de vez de All Souls, resolve pagar as dívidas da igreja e empregar Ye Win como obreiro leigo. Posteriormente Michael Spurlock foi encaminhado por sua diocese para ser parte do clero da Igreja Episcopal St. Thomas em Nova York.

A colheita da fé é um filme leve, e que vale a pena ser visto. A história é surpreendente, porque poder-se-ia pensar que foram americanos brancos de classe média que ajudaram imigrantes birmaneses pobres. Até certo ponto isso aconteceu, mas não se pode esquecer que aquele grupo de refugiados vindos do outro lado do planeta também ajudou os americanos. Todos (se) ajudaram, todos foram ajudados. A união faz a força. Talvez a característica mais marcante do Reverendo Michael Spurlock seja sua teimosia: ele teimou contra tudo e contra todos para ajudar os Karen, “apostou” o que tinha e o que não tinha para ajudá-los. Ele não optou pela lei do menor esforço, que é tão comum em situações assim.

O filme toca numa questão muito delicada e difícil de se tratar, que é a situação de refugiados e deslocados. Há dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças que por causa de questões políticas, guerras, e, o que deverá aumentar cada vez mais nos próximos anos, desastres climáticos, são obrigados a deixar para trás as terras onde seus ancestrais viveram e se mudar para outros países.3 Esta é uma situação que acontece há milhares de anos. Quem conhece a história da Bíblia sabe que Jacó e as famílias de seus muitos filhos foram para o Egito por causa de uma seca prolongada. A tendência é que situações assim aconteçam mais e mais. E quando acontecer – o que os seguidores de Jesus fazem, podem fazer ou farão? A colheita da fé mostra um exemplo concreto de resposta cristã em um contexto como este.

Notas
1. O anglicanismo não vê problema em dar às suas paróquias nomes que seriam considerados “anátema” pelos evangélicos tradicionais como “São Lucas” ou, como no caso em questão, “Todos os Santos”.

2. O primeiro registro de conversão de uma pessoa do povo Karen ao cristianismo é de 1830. Hoje estima-se que cerca de 30% dos Karen em Mianmar sejam cristãos, e dos que conseguiram emigrar para os Estados Unidos, calcula-se que 90% sejam cristãos (cf. Mikael Gravers, “Conversion and Identity: Religion and Formation of the Karen Ethnic Identity in Burma”, in Mikael Gravers (ed.). Exploring Ethnic Diversity in Burma. Copenhagen: Nordic Institute of Asian Studies, 2007, p. 228.

3. Notícia publicada pela BBC Brasil em 25/06/24 dá conta que, conforme o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) há hoje no mundo 120 milhões de refugiados, sendo que destes cerca de 40% são menores de idade. Para detalhes, consultar: Três gráficos mostram o aumento histórico de refugiados no mundo.Acesso: 12/10/24



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