Opinião
- 27 de março de 2009
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A ciência precisa da religião?*
A visão é de que haveria uma progressão normativa para além da fé em
direção a formas de olhar o mundo que dipensam qualquer necessidade da religião. Haveria, aparentemente, uma inevitabilidade quanto a este processo que significaria que toda religião está destinada a recuar até o ponto da extinção. É desnecessário dizer que, embora isso pareça ser acurado quanto ao estado atual da Europa Ocidental, não reflete a realidade social em outras partes do mundo, mesmo em lugares, como os Estados Unidos, onde a ciência moderna é influente.
Poderia a ciência admitir a ação divina, ou a realização de qualquer intenção divina? Frequentemente se pensa que ela pode ser compreendida em seus próprios termos, sem a necessidade de fazermo-la dependente de qualquer coisa além de si mesma. A ciência é assim vista como a mais pura expressão da razão humana, sendo a sua função pôr em fuga as forças da superstição e da fé cega. Este é o legado do Iluminismo do século 18, que tendia a ver o mundo como um mecanismo material autocontido, e a razão humana como a chave para compreender o seu funcionamento. Qualquer referência a Deus era, na melhor das hipóteses, redundante, e na pior delas, uma descida à irracionalidade. O Iluminismo tendia a tomar por certo o poder da racionalidade humana. Mas nem a possibilidade da razão e da verdade, nem a ordem e a regularidade no mundo investigado pela ciência deveriam ser assumidas assim tão facilmente. A racionalidade tem sido vista demasiadas vezes como um fato supremo, e às vezes foi quase deificada, como quando após a Revolução Francesa igrejas foram convertidas em Templos da Razão. De fato o racionalismo e o materialismo parecem andar de mãos dadas, de modo que o termo “racionalismo” frequentemente se aproxima de um sinônimo para “ateísmo”.
Embora já se tenha visto o mundo em termos mecanicistas, os seres humanos aparentemente foram capazes de se postar fora do mecanismo para compreendê-lo. Afinal, se a razão fosse ela mesma o produto de um mecanismo causal, como uma peça sofisticada de engenho, não haveria garantias de que o que somos levados a crer seja necessariamente verdadeiro. Nós simplesmente creríamos no que fomos induzidos a crer, havendo ou não boas razões para tanto. Para tomar o exemplo da evolução: nós poderíamos, de acordo com a teoria da seleção natural, ter evoluído de modo a sustentar certas crenças naturalmente. Algumas crenças poderiam ser benéficas, ajudando-nos a sobreviver e a ter mais descendentes. Alguns argumentam que as próprias crenças religiosas poderiam pertencer a esta categoria. No entanto, o propósito deste argumento, no mais das vezes, é explicar racionalmente porque alguns tipos de crenças são comuns, a despeito de serem falsas; e tal explicação exige a confiança no poder independente da razão humana.
direção a formas de olhar o mundo que dipensam qualquer necessidade da religião. Haveria, aparentemente, uma inevitabilidade quanto a este processo que significaria que toda religião está destinada a recuar até o ponto da extinção. É desnecessário dizer que, embora isso pareça ser acurado quanto ao estado atual da Europa Ocidental, não reflete a realidade social em outras partes do mundo, mesmo em lugares, como os Estados Unidos, onde a ciência moderna é influente.
Poderia a ciência admitir a ação divina, ou a realização de qualquer intenção divina? Frequentemente se pensa que ela pode ser compreendida em seus próprios termos, sem a necessidade de fazermo-la dependente de qualquer coisa além de si mesma. A ciência é assim vista como a mais pura expressão da razão humana, sendo a sua função pôr em fuga as forças da superstição e da fé cega. Este é o legado do Iluminismo do século 18, que tendia a ver o mundo como um mecanismo material autocontido, e a razão humana como a chave para compreender o seu funcionamento. Qualquer referência a Deus era, na melhor das hipóteses, redundante, e na pior delas, uma descida à irracionalidade. O Iluminismo tendia a tomar por certo o poder da racionalidade humana. Mas nem a possibilidade da razão e da verdade, nem a ordem e a regularidade no mundo investigado pela ciência deveriam ser assumidas assim tão facilmente. A racionalidade tem sido vista demasiadas vezes como um fato supremo, e às vezes foi quase deificada, como quando após a Revolução Francesa igrejas foram convertidas em Templos da Razão. De fato o racionalismo e o materialismo parecem andar de mãos dadas, de modo que o termo “racionalismo” frequentemente se aproxima de um sinônimo para “ateísmo”.
Embora já se tenha visto o mundo em termos mecanicistas, os seres humanos aparentemente foram capazes de se postar fora do mecanismo para compreendê-lo. Afinal, se a razão fosse ela mesma o produto de um mecanismo causal, como uma peça sofisticada de engenho, não haveria garantias de que o que somos levados a crer seja necessariamente verdadeiro. Nós simplesmente creríamos no que fomos induzidos a crer, havendo ou não boas razões para tanto. Para tomar o exemplo da evolução: nós poderíamos, de acordo com a teoria da seleção natural, ter evoluído de modo a sustentar certas crenças naturalmente. Algumas crenças poderiam ser benéficas, ajudando-nos a sobreviver e a ter mais descendentes. Alguns argumentam que as próprias crenças religiosas poderiam pertencer a esta categoria. No entanto, o propósito deste argumento, no mais das vezes, é explicar racionalmente porque alguns tipos de crenças são comuns, a despeito de serem falsas; e tal explicação exige a confiança no poder independente da razão humana.
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