Opinião
03 de maio de 2021
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A casa caiu, mas não foi o fim
Lições para a igreja hoje a partir da história de Eli e seus filhos
Por José Ildo Swartele de Mello
“Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que se afaste do Deus vivo” (Hb 3.12, NAA).
Eli e seu relaxamento

Eli até chegou a chamar a atenção deles, mas estes não lhe deram ouvidos, pois eram filhos rebeldes (1Sm 2.23-25). Eli não foi suficientemente enérgico e acabou permitindo que seus filhos seguissem sem mudança de atitude no ministério sacerdotal.
A ira de Deus sobre Eli e filhos
Então, a ira de Deus recaiu sobre Eli e filhos: “Por que tratam com desprezo os meus sacrifícios? … E, você, por que honra seus filhos mais do que a mim?”. (2.29). Em seguida, Deus pronunciou um castigo de morte e destruição sobre a casa de Eli (1Sm 2.30-34). “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.31, NAA).
Os sacerdotes incorrem na condenação de Deus quando perdem o temor do Senhor, quando se tornam mercenários, quando se entregam à luxúria e quando amam os filhos, ou cônjuges, ou o próprio status de líder mais do que a Deus.
Os pecados destes sacerdotes levaram o povo a também afastar-se de Deus (1Sm 2.24). Deus retirou sua bênção e o povo foi derrotado em uma batalha contra os filisteus (4.2). “Não se enganem: de Deus não se zomba. Pois aquilo que a pessoa semear, isso também colherá” (Gl 6.7, NAA).
O povo achava que a Arca da Aliança os salvaria, e pediram que fosse trazida antes da próxima batalha. Quando Hofni e Finéias chegaram ao acampamento carregando a Arca da Aliança, “os israelitas gritaram tão alto que o chão tremeu” Fizeram um culto fervoroso de confissão positiva, confiados na possessão da Arca. Tal fervor impressionou até os filisteus (1Sm 4.6), mas não a Deus. “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mt 15.8, NAA). Deus abomina cultos hipócritas: “Não posso suportar iniquidade associada à reunião solene.” (Is 1.13, NAA). De nada adianta a Arca da Aliança quando não estamos sendo fiéis a Aliança. Deus diz: "Obediência quero e não sacrifícios” (1Sm 15.22-23).
“Fizeram muito barulho, mas Deus não os atendeu (1Sm 4.10). Trinta mil homens morreram na batalha que se seguiu, entre eles, Hofni e Finéias (1Sm 4.10-11). A Arca foi parar nas mãos dos filisteus (1Sm 4.11). Eli, abalado com a notícia, caiu da cadeira, quebrou o pescoço e morreu (1Sm 4.18). A mulher de Finéias, que estava grávida, prematuramente, deu à luz um menino, e, arrasada com todas estas notícias, deu a seu filho o nome de Icabô, que significa, foi-se embora a glória de Israel. (1Sm 4.21). Com Icabô encerra-se de forma dramática a era sacerdotal da casa de Eli.
Mas Deus continuava agindo
Enquanto Eli e seus filhos trouxeram derrota e vergonha ao povo de Deus, o Senhor agia para vindicar a glória de Seu nome que estava sendo blasfemado entre os filisteus, que, para tripudiar e humilhar, colocaram a Arca da Aliança diante da estátua de seu deus, Dagom (1Sm 5.2). No entanto, de forma assombrosa, a estátua de Dagom amanheceu caída com o rosto em terra, diante da Arca do Senhor (1Sm 5.3)! Associado a isto, uma praga acometeu a saúde do povo daquela cidade (1Sm 5.6), de modo que um temor se abateu sobre os filisteus, a ponto de decidirem devolver a Arca ao povo hebreu (1Sm 5.11 e 1Sm 6.1-21). O temor de Deus que faltou aos sacerdotes de Israel agora era visto entre os pagãos!
É notável que, mesmo antes da morte de Eli, Deus já havia escolhido um sucessor: o menino Samuel, cujo nascimento já tinha se dado através de uma intervenção milagrosa de Deus (1Sm 1.1-2.11). Mesmo tendo sido criado em um contexto de tantos maus exemplos, Samuel, manteve-se íntegro, não deixando-se levar pela correnteza, antes, ele “crescia em estatura e no favor do Senhor e dos homens”(1Sm 2.26).
É dito que a palavra de Deus e as visões se tornaram muito raras nos dias do sacerdócio da casa de Eli (1Sm 3.1). Mas "antes que a lâmpada de Deus se apagasse" (1Sm 3.3), a Palavra de Deus se manifestou a Samuel (1Sm 3.4), que acolheu a voz de Deus, dizendo: "Fala Senhor porque teu servo ouve" (1Sm 3.10). Enquanto os olhos de Eli se escureciam (1Sm 3.2), Deus dava visões a Samuel (1Sm 3.11-19). Devido a sua prontidão em obedecer ao Senhor, Deus fez de Samuel um verdadeiro profeta (1Sm 3.19 ), que, após a morte de Eli, Hofni e Finéias, tornou-se naturalmente o líder de Israel.
Os sinais de decadência
Há sete sinais da decadência da visão espiritual do Sacerdote Eli:
1. Demonstrou falta de discernimento quando julgou que Ana estivesse embriagada quando ela, de fato, apenas orava em seu coração, mexendo os lábios (1Sm 1.12-14).
2. Fez vistas grossas aos pecados dos filhos (1Sm 2).
3. As visões de Deus se tornaram cada vez menos frequentes (1Sm 3.1).
4. Terminou sua carreira completamente cego fisicamente, o que, dentro deste contexto, parece também indicar sua cegueira espiritual (1Sm 3.2).
5. Observe a seguinte sequência: Palavra e visões de Deus eram raras (v. 1), a luz dos olhos de Eli se escurecendo (v. 2) e é dito que a luz da lâmpada de Deus também estava se apagando no santuário (v. 3 e 4). "Antes que a lâmpada de Deus se apagasse, o SENHOR chamou o menino" (1Sm 3.3–4).
6. Deus não fala mais com Eli, mas apenas com Samuel (1Sm 3).
7. Um exemplo de sua falta de visão foi ter permitido que a Arca da Aliança fosse levada como objeto de idolatria, sendo que ele deveria saber que o que faltava não era a Arca, mas o arrependimento dele, de seus filhos e de todo o povo, pois todos haviam se apartado de Deus (1Sm 4).
Contrastes entre Eli e Samuel
Ao contrário de Eli, Samuel foi sensível à voz de Deus e obediente à visão celestial. Ele promoveu um despertamento espiritual em Israel! Ele conclamou o povo ao arrependimento (1Sm 7.3). O povo confessou os seus pecados (1Sm 7.6), abandonou os seus ídolos (1Sm 7.4) e voltou-se para Deus com humildade, jejum e oração (1Sm 7.6). Diante de uma nova ameaça de guerra por parte dos filisteus, o povo solicitou a Samuel que intercedesse por eles diante de Deus (1Sm 7.8). O Senhor respondeu dos altos céus (1Sm 7.9), trovejando sobre os filisteus (1Sm 7.10), que acabaram sendo derrotados nesta guerra (1Sm 7.10).
Que contraste vemos aqui em relação à atitude triunfalista e arrogante do povo liderado por Hofni e Finéias que festejava com brados de vitória o fato de possuírem a Arca (1Sm 4.5). Suas palavras de confissão positiva não lhes garantiram a vitória (1Sm 4.10). Entretanto, as palavras de confissão de pecados produziram uma resposta retumbante dos altos céus! Não é o barulho na terra que produz barulho no céu, mas, sim, corações humildes e contritos diante do Criador! “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4.24, NAA). Não adianta ter o carisma da Arca e do Sacerdócio, é preciso ter o caráter de servo que reconhece sua dependência de Deus, pois nada substitui a humilde obediência.
A vida e ministério da casa de Eli terminam com o emblemático termo: “Icabô” (foi-se a glória de Israel), já o início do ministério de Samuel começa com um grande triunfo expresso pelo termo Ebenézer (1Sm 7.12), que significa: "Até aqui nos ajudou o Senhor!". A promessa se cumpriu em Samuel: “Então suscitarei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que tenho no coração e na mente. Eu lhe edificarei uma casa estável, e ele andará diante do meu ungido para sempre.” (1Sm 2.35, NAA).
Como vimos, Deus não se deixa escarnecer nem por pagãos filisteus e nem, muito menos, por sacerdotes do seu próprio povo, porque o juízo começa pela casa de Deus (1Pe 4.17). E àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido (Lc 12.48, NAA). Portanto, “afaste-se da iniqüidade todo aquele que confessa o nome do Senhor”. (2Tm 2.19, NVI). “Ora, além disso, o que se requer destes encarregados é que cada um deles seja encontrado fiel.” (1Co 4.2, NAA). Sigamos, portanto, o exemplo de Samuel para que nossas vidas jamais terminem em Icabô, mas, sejam sempre caracterizadas por um bendito Ebenézer!
• José Ildo Swartele de Mello, bispo da Igreja Metodista Livre, líder da Conexão Wesleyana de Santidade e membro do Conselho Coordenador da Aliança Evangélica.
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