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- 15 de junho de 2017
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A cabra
Por Bernadete Ribeiro
Estava chegando a época da Festa da Cabra. Foi divulgado nos projetos da Bem Estar do Menor (BEM) que haveria um concurso de redação, música e poesia com o tema “A cabra”. Eu não tinha uma cabra em casa, como muitos dos meus colegas tinham. Mas conhecia o capril do sítio Betel e tomava leite de cabra na creche. Então resolvi participar do concurso com uma redação.
No dia da festa, fui assistir à entrega dos prêmios. Começaram a chamar os ganhadores e, de repente, ouvi meu nome. Empolgada, subi ao palco para receber a medalha pela redação que fizera. Era a primeira de três vitórias que eu conquistaria em concursos de redação promovidos na Festa da Cabra.
O ano era 1981. Acabávamos de nos mudar da zona rural de Graipu para Sabinópolis, pequena cidade mineira a 273 quilômetros de Belo Horizonte. Eu tinha 6 anos e achava toda aquela novidade muito agradável, mas, ao mesmo tempo, ruim. Já não podia subir nas laranjeiras, apanhar jambos com um bambu nem roubar os marmelos que minha avó esperava amadurecer para fazer doce. Minha mãe saía bem cedo para trabalhar em casas de famílias, enquanto eu e meus irmãos ficávamos em casa sozinhos, e só voltava quando já era quase noite.
Pouco tempo depois, fomos admitidos na creche da BEM, instituição ligada à Igreja Evangélica Missionária Pentecostal, que desenvolve projetos sociais em Sabinópolis e regiões circunvizinhas. As primeiras semanas foram difíceis, pois tudo nos era estranho. Mas logo nos acostumamos e passamos a gostar daquele ambiente que mudaria nossas vidas para sempre. Lá, pela primeira vez, ouvi sobre Jesus. Aos 10 anos, ganhei de Janer Fernando de Pinho, então médico veterinário da BEM, minha primeira Bíblia. Minha conversão a Jesus aconteceria no ano seguinte.
Quando fiz 14 anos, minha antiga preferência por língua portuguesa na escola começou a se transformar no interesse em estudar letras. Ao mesmo tempo, eu achava isso impossível. Como concorrer com pessoas que haviam estudado em escolas particulares e ainda faziam cursinho pré-vestibular? O sonho do curso superior adormeceu.
O tempo foi passando. Em 1993, quando eu estava no último ano do curso de magistério, comecei a trabalhar na BEM. Eu gostava do meu trabalho no escritório, mas dois anos depois o velho sonho de estudar letras voltou com força. Eu sabia que a chance de aprovação no vestibular era mínima, pois não podia pagar um cursinho pré-vestibular. Mas sabia também que, se Deus quisesse me dar esse presente, nada poderia impedir isso. Resolvi estudar em casa para, no final do ano, fazer as provas do vestibular.
Então aconteceu algo que pareceu um grande empecilho. Minha mãe foi atropelada por um carro e ficou sem andar durante um tempo. A vida se complicou. Eu tinha de trabalhar fora, cuidar da casa e da minha mãe acamada. Como estudar? Foram dias muito difíceis. Algum tempo depois do acidente, por meio de uma doação da igreja, minha mãe pôde completar o tratamento cirúrgico com fisioterapia. Graças a Deus!
Enfim, chegou o vestibular. Eu já não estava tão animada, mas viajei para Belo Horizonte e fiz as provas. Mais ou menos um mês e meio depois, como era hábito lá no meu local de trabalho, abri o jornal do dia para dar uma folheada. Surpresa, deparei-me com a lista de aprovados no vestibular/96 da Universidade Federal de Viçosa e, ainda mais surpresa, li meu nome na turma de letras. Foi euforia geral no escritório. É difícil expressar tanto a alegria que senti naquele momento como a indecisão que veio logo depois. Eu não poderia perder a oportunidade. Mas como me mudar de Sabinópolis se, dentro de três meses, minha mãe passaria por mais uma cirurgia e novamente precisaria de mim?
Então Denise Maranhão, minha chefe no trabalho, e novamente Janer, vieram me incentivar. Ela falou: “Pode ir, que cuidaremos da sua mãe”. De Janer, lembro-me bem destas palavras: “Bernadete, estou muito feliz por você. Vá e, se precisar de alguma coisa, me ligue”. Então fiz as malas e vim estudar em Viçosa, onde encontrei mais pessoas que amam ao Senhor de verdade e mostram esse amor servindo ao próximo.
Hoje, formada em letras, trabalho com produção editorial na Editora Ultimato. Sou casada com Mateus e temos uma filha, Sofia, e outro bebê que está a caminho. Agradeço a Deus pelas oportunidades que me deu e pelas pessoas que despertou para me mostrar o seu amor e me ajudar a encontrar o caminho da vida, Jesus.
> Texto originalmente publicado na edição n. 0 (novembro/dezembro de 2000) da revista Mãos Dadas. Atualizado em maio de 2017. Para ler a edição, acesse goo.gl/4BwCNf
Estava chegando a época da Festa da Cabra. Foi divulgado nos projetos da Bem Estar do Menor (BEM) que haveria um concurso de redação, música e poesia com o tema “A cabra”. Eu não tinha uma cabra em casa, como muitos dos meus colegas tinham. Mas conhecia o capril do sítio Betel e tomava leite de cabra na creche. Então resolvi participar do concurso com uma redação.
No dia da festa, fui assistir à entrega dos prêmios. Começaram a chamar os ganhadores e, de repente, ouvi meu nome. Empolgada, subi ao palco para receber a medalha pela redação que fizera. Era a primeira de três vitórias que eu conquistaria em concursos de redação promovidos na Festa da Cabra.
O ano era 1981. Acabávamos de nos mudar da zona rural de Graipu para Sabinópolis, pequena cidade mineira a 273 quilômetros de Belo Horizonte. Eu tinha 6 anos e achava toda aquela novidade muito agradável, mas, ao mesmo tempo, ruim. Já não podia subir nas laranjeiras, apanhar jambos com um bambu nem roubar os marmelos que minha avó esperava amadurecer para fazer doce. Minha mãe saía bem cedo para trabalhar em casas de famílias, enquanto eu e meus irmãos ficávamos em casa sozinhos, e só voltava quando já era quase noite.
Pouco tempo depois, fomos admitidos na creche da BEM, instituição ligada à Igreja Evangélica Missionária Pentecostal, que desenvolve projetos sociais em Sabinópolis e regiões circunvizinhas. As primeiras semanas foram difíceis, pois tudo nos era estranho. Mas logo nos acostumamos e passamos a gostar daquele ambiente que mudaria nossas vidas para sempre. Lá, pela primeira vez, ouvi sobre Jesus. Aos 10 anos, ganhei de Janer Fernando de Pinho, então médico veterinário da BEM, minha primeira Bíblia. Minha conversão a Jesus aconteceria no ano seguinte.
Quando fiz 14 anos, minha antiga preferência por língua portuguesa na escola começou a se transformar no interesse em estudar letras. Ao mesmo tempo, eu achava isso impossível. Como concorrer com pessoas que haviam estudado em escolas particulares e ainda faziam cursinho pré-vestibular? O sonho do curso superior adormeceu.
O tempo foi passando. Em 1993, quando eu estava no último ano do curso de magistério, comecei a trabalhar na BEM. Eu gostava do meu trabalho no escritório, mas dois anos depois o velho sonho de estudar letras voltou com força. Eu sabia que a chance de aprovação no vestibular era mínima, pois não podia pagar um cursinho pré-vestibular. Mas sabia também que, se Deus quisesse me dar esse presente, nada poderia impedir isso. Resolvi estudar em casa para, no final do ano, fazer as provas do vestibular.
Então aconteceu algo que pareceu um grande empecilho. Minha mãe foi atropelada por um carro e ficou sem andar durante um tempo. A vida se complicou. Eu tinha de trabalhar fora, cuidar da casa e da minha mãe acamada. Como estudar? Foram dias muito difíceis. Algum tempo depois do acidente, por meio de uma doação da igreja, minha mãe pôde completar o tratamento cirúrgico com fisioterapia. Graças a Deus!
Enfim, chegou o vestibular. Eu já não estava tão animada, mas viajei para Belo Horizonte e fiz as provas. Mais ou menos um mês e meio depois, como era hábito lá no meu local de trabalho, abri o jornal do dia para dar uma folheada. Surpresa, deparei-me com a lista de aprovados no vestibular/96 da Universidade Federal de Viçosa e, ainda mais surpresa, li meu nome na turma de letras. Foi euforia geral no escritório. É difícil expressar tanto a alegria que senti naquele momento como a indecisão que veio logo depois. Eu não poderia perder a oportunidade. Mas como me mudar de Sabinópolis se, dentro de três meses, minha mãe passaria por mais uma cirurgia e novamente precisaria de mim?
Então Denise Maranhão, minha chefe no trabalho, e novamente Janer, vieram me incentivar. Ela falou: “Pode ir, que cuidaremos da sua mãe”. De Janer, lembro-me bem destas palavras: “Bernadete, estou muito feliz por você. Vá e, se precisar de alguma coisa, me ligue”. Então fiz as malas e vim estudar em Viçosa, onde encontrei mais pessoas que amam ao Senhor de verdade e mostram esse amor servindo ao próximo.
Hoje, formada em letras, trabalho com produção editorial na Editora Ultimato. Sou casada com Mateus e temos uma filha, Sofia, e outro bebê que está a caminho. Agradeço a Deus pelas oportunidades que me deu e pelas pessoas que despertou para me mostrar o seu amor e me ajudar a encontrar o caminho da vida, Jesus.
> Texto originalmente publicado na edição n. 0 (novembro/dezembro de 2000) da revista Mãos Dadas. Atualizado em maio de 2017. Para ler a edição, acesse goo.gl/4BwCNf
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