Opinião
- 14 de novembro de 2014
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A Bíblia no Brasil República
A proclamação da República no dia 15 de novembro em 1889 foi importante não somente para o país, mas também para a expansão do trabalho de distribuição da Bíblia Sagrada. Quem lembra disso é Luiz Antonio Giraldi, estudioso da história da Bíblia no Brasil e autor, entre outros, de “A Bíblia no Brasil República”, livro que ganhou o prêmio Areté de publicação do ano de 2014 pela Associação de Editores Cristãos (ASEC). Giraldi foi presidente da Sociedade Bíblia do Brasil (SBB) de 1984 a 2005. Leia a entrevista a seguir,
Portal Ultimato - O seu livro, “A Bíblia no Brasil República”, traz um recorte histórico com foco na Bíblia. Então, qual a importância daquele período para a história da igreja evangélica no país?
Luiz A. Giraldi - Até o final do Brasil Império, a Igreja Católica era a religião oficial do Estado e os evangélicos eram discriminados e perseguidos no país. A partir da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, impulsionadas pela liberdade religiosa, as denominações evangélicas que operavam no Brasil - luteranos, presbiterianos, metodistas e episcopais - cresceram rapidamente. O mesmo aconteceu com os batistas e os adventistas que iniciaram suas atividades no Brasil no final do século 19. Em 1910 e 1911, chegaram as primeiras denominações pentecostais, a Congregação Cristã no Brasil e a Assembleia de Deus e, com esse reforço, a comunidade evangélica acelerou ainda mais seu crescimento no país.
Portal Ultimato - Havia perseguição contra evangélicos naquele período? Se sim, que tipo de perseguição?
Luiz A. Giraldi - Apesar de a liberdade religiosa no Brasil ter sido decretada em 1889, a hostilidade aos colportores das Sociedades Bíblicas, que vendiam Bíblias de porta em porta, persistiu nos primeiros anos da República. Por exemplo: em 1896, o colportor Joaquim Andrade foi preso na cidade de Itu, SP, e proibido de vender suas Escrituras. No mesmo ano, em Pernambuco, queimaram as Escrituras do colportor Gregório Cruz e ele foi obrigado a refugiar-se em uma casa particular para não ser agredido. No mesmo período, no estado da Paraíba, o colportor Antonio Miranda quase foi morto por uma multidão exaltada.
Portal Ultimato - Um fato fundamental na “República da Espada” ou “República Velha” foi a promulgação da Constituição em 1891, que trouxe, entre outras mudanças, a federalização do país e a ampliação do direito do voto. É possível dizer se a Constituição de 1891, mesmo que indiretamente, ajudou ou prejudicou na propagação da Bíblia? Ou seja, as consequências da promulgação da Constituição foram positivas para a expansão da Bíblia no país?
Luiz A. Giraldi - A Constituição de 1891 determinou a separação entre a Igreja e o Estado, estabeleceu plena liberdade de culto e liberou a divulgação da Bíblia. O novo sistema de governo despertou uma crescente aspiração tanto pela liberdade civil como pela liberdade religiosa. A liberdade religiosa fez surgir um crescente espírito de investigação e o interesse pela leitura da Bíblia. Muitos líderes políticos, sem nenhum interesse pessoal na Bíblia, incentivaram sua circulação junto ao povo porque afirmavam que ela os esclarecia e os tornava mais liberais. Tudo isso contribuiu para que, nos primeiros 30 anos do Brasil República, a população evangélica saltasse de 145 mil para 500 mil e a distribuição anual de Escrituras de 25 para 150 mil.
Portal Ultimato - Em sua opinião, por que a Tradução Brasileira da Bíblia, lançada em 1917, não teve o mesmo sucesso da NBV e NTLH?
Luiz A. Giraldi - A Tradução Brasileira da Bíblia não teve o mesmo sucesso das demais traduções devido especialmente à sua linguagem erudita. Apesar de ser considerada extremamente fiel aos originais, alguns leitores acharam que a tradução era literal demais e não aprovaram a grafia dos nomes próprios e dos lugares, bem diferente da adotada na tradução de João Ferreira de Almeida, publicada antes.
Portal Ultimato - Como estudioso da história da Bíblia, qual a valor das Escrituras Sagradas para a sociedade como um todo, e não só para os cristãos?
Luiz A. Giraldi - Quando a Bíblia chega às mãos e ao coração das pessoas, famílias e nações, algo de sobrenatural acontece pelo poder do Espírito Santo. Impactados pelo poder do evangelho, as pessoas passam a ser mais bondosas, honestas, educadas e pacíficas. E, no convívio familiar, os leitores da Bíblia se tornam melhores pais, melhores mães e melhores filhos. Tornam-se melhores profissionais e melhores cidadãos e passam a dar uma contribuição maior para o futuro do seu país. Foi o que aconteceu nos séculos 18 e 19 na Inglaterra, nos séculos 19 e 20 nos Estados Unidos, e está acontecendo hoje no Brasil.
Portal Ultimato - Como foi o seu início na Sociedade Bíblica do Brasil?
Luiz A. Giraldi - Em 1957, quando pastoreava a 1ª. Igreja Presbiteriana Independente do Rio de Janeiro, fui convidado pela Sociedade Bíblica do Brasil para trabalhar na área de distribuição da Bíblia. Aceitei o convite, iniciei minhas atividades como Promotor de Colportagem e, durante 48 anos, atuei nas áreas de tradução, produção, finanças e administração. Em 1984, fui eleito Diretor Executivo da SBB e me aposentei em 2005. Durante meu mandato, a SBB lançou a Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje e a Bíblia completa em Braile-Português e fundou a Gráfica da Bíblia e o Museu da Bíblia.
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Portal Ultimato - Havia perseguição contra evangélicos naquele período? Se sim, que tipo de perseguição?
Luiz A. Giraldi - Apesar de a liberdade religiosa no Brasil ter sido decretada em 1889, a hostilidade aos colportores das Sociedades Bíblicas, que vendiam Bíblias de porta em porta, persistiu nos primeiros anos da República. Por exemplo: em 1896, o colportor Joaquim Andrade foi preso na cidade de Itu, SP, e proibido de vender suas Escrituras. No mesmo ano, em Pernambuco, queimaram as Escrituras do colportor Gregório Cruz e ele foi obrigado a refugiar-se em uma casa particular para não ser agredido. No mesmo período, no estado da Paraíba, o colportor Antonio Miranda quase foi morto por uma multidão exaltada.
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Luiz A. Giraldi - A Tradução Brasileira da Bíblia não teve o mesmo sucesso das demais traduções devido especialmente à sua linguagem erudita. Apesar de ser considerada extremamente fiel aos originais, alguns leitores acharam que a tradução era literal demais e não aprovaram a grafia dos nomes próprios e dos lugares, bem diferente da adotada na tradução de João Ferreira de Almeida, publicada antes.
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