Opinião
- 01 de agosto de 2018
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A carta aos Romanos é para os fracos. Agostinho e Lutero comprovam
Por William Lane
Alguém poderia dizer que a carta de Paulo aos Romanos ‘não é para os fracos’, isto é, para os que não têm a maturidade ainda para entender a profundidade da sua mensagem e a densidade de sua doutrina. Talvez até imaginemos que é a Romanos que o apóstolo Pedro se refere quando diz como nas cartas de Paulo há muitas coisas difíceis de entender “as quais os ignorantes e instáveis torcem” (2Pe 3.15-16, NVI).
Mas apesar de a carta aos Romanos ser não só a mais longa como também a mais teologicamente densa carta de Paulo, ela é, sim, para os fracos! Aliás, talvez essa seja a principal mensagem que podemos tirar de Romanos. Ela nos confronta com o pecado humano, a inutilidade de se chegar a Deus mediante nossa auto imposta justiça, e nos oferece a transbordante graça de Deus onde dominava o pecado (Rm 5.20-21). Não, não há mais condenação para quem está em Cristo. A “lei do Espírito de vida me libertou do pecado e da morte” (8.2). A carta não é para quem se vangloria (3.27), mas é para quem carece, “foi destituído” de glória (3.23), para os fracos que não conseguem alcançar a justiça de Deus e assim o admitem.
É por isso que praticamente todo influente teólogo cristão teve sua experiência com Romanos ou escreveu um comentário. De Romanos 5, Agostinho extraiu seu ensino sobre o pecado original. Lutero compreendeu a justificação pela fé a partir de Romanos 3 e 4. Sobre Romanos 9 a 11, Calvino fundamentou o ensino da predestinação. Wesley encontra em Romanos 6 e 8 os argumentos sobre sua ênfase na santificação. E Karl Barth expõe a importância sobre a retidão de Deus com base em Romanos 1 e 2.
Mas Romanos não foi apenas objeto de estudo e de fundamento teológico desses importantes pensadores. A carta foi também instrumental na conversão e caminhada pessoal de muitos deles. Foi lendo Romanos 13.13 que Agostinho se converteu. Como professor de retórica e filósofo, Agostinho se afligia com o problema do mal. Até que um dia em visita ao seu amigo Alípio, em Milão, estava tão angustiado que teve que se retirar ao jardim e, sentado debaixo de uma figueira, ouviu uma criança do vizinho cantarolando “Pega e lê, pega e lê” (Confissões 8.12).
Agostinho imediatamente foi buscar o volume do apóstolo e leu a primeira passagem que encontrou ao abri-lo: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja” (NVI). Sendo uma pessoa muito devassa e dada à bebedeira e prostituição, Agostinho logo entendeu o problema da origem do mal e se converteu. Tornou-se um dos principais teólogos da cristandade.
Romanos teve também significativa influência na vida de Martinho Lutero. Ele também era um indivíduo extremamente perturbado pela culpa do pecado. Como monge agostiniano e professor de teologia em Wittenberg, foi pela leitura de Romanos que entendeu o sentido da justificação pela fé, e foi responsável por desencadear uma das principais reformas religiosas da era cristã.
No século 20, o conhecido expositor bíblico britânico, Martin Lloyd-Jones, pregou durante 13 anos, todas as sextas-feiras, a carta aos Romanos, cujos sermões hoje estão reunidos em 14 volumes.
No decorrer da história, diferentes aspectos de Romanos foram destacados como tema e mensagem centrais. A Reforma protestante destacou o ensino sobre a justificação pela fé (Rm 1–4). No início do século 20, alguns valorizaram ensinamentos sobre a graça (Rm 5–8). Após a Segunda Guerra, o holocausto e a criação do estado de Israel, muitos se interessaram pela relação entre igreja e Israel (Rm 9–11). Por fim, com a ênfase social e o evangelho integral, alguns passaram a dar importância aos aspectos práticos e éticos da vida cristã (Rm 12–16). Mas tomada em seu conjunto, é possível dizer que em Romanos Paulo busca mostrar o plano de Deus para estender o seu senhorio a todos os povos por meio de Cristo. Jesus e seu senhorio gracioso são temas centrais de Romanos.
Realmente uma primeira leitura de Romanos pode provocar certo desafio especialmente pela forma de raciocínio de Paulo com diversas perguntas retóricas e argumentos. Mas à medida que se lê, aprendemos a apreciar não só o raciocínio e lógica de Paulo, mas, sobretudo, o seu conteúdo. Além do mais, Paulo nos convida a nos fixar na essência e simplicidade do evangelho, e a acolher “o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos” (14.1).
Para saber mais, conheça Lendo Romanos com John Stott, volume 1 e volume 2.
Alguém poderia dizer que a carta de Paulo aos Romanos ‘não é para os fracos’, isto é, para os que não têm a maturidade ainda para entender a profundidade da sua mensagem e a densidade de sua doutrina. Talvez até imaginemos que é a Romanos que o apóstolo Pedro se refere quando diz como nas cartas de Paulo há muitas coisas difíceis de entender “as quais os ignorantes e instáveis torcem” (2Pe 3.15-16, NVI).
Mas apesar de a carta aos Romanos ser não só a mais longa como também a mais teologicamente densa carta de Paulo, ela é, sim, para os fracos! Aliás, talvez essa seja a principal mensagem que podemos tirar de Romanos. Ela nos confronta com o pecado humano, a inutilidade de se chegar a Deus mediante nossa auto imposta justiça, e nos oferece a transbordante graça de Deus onde dominava o pecado (Rm 5.20-21). Não, não há mais condenação para quem está em Cristo. A “lei do Espírito de vida me libertou do pecado e da morte” (8.2). A carta não é para quem se vangloria (3.27), mas é para quem carece, “foi destituído” de glória (3.23), para os fracos que não conseguem alcançar a justiça de Deus e assim o admitem.
É por isso que praticamente todo influente teólogo cristão teve sua experiência com Romanos ou escreveu um comentário. De Romanos 5, Agostinho extraiu seu ensino sobre o pecado original. Lutero compreendeu a justificação pela fé a partir de Romanos 3 e 4. Sobre Romanos 9 a 11, Calvino fundamentou o ensino da predestinação. Wesley encontra em Romanos 6 e 8 os argumentos sobre sua ênfase na santificação. E Karl Barth expõe a importância sobre a retidão de Deus com base em Romanos 1 e 2.
Mas Romanos não foi apenas objeto de estudo e de fundamento teológico desses importantes pensadores. A carta foi também instrumental na conversão e caminhada pessoal de muitos deles. Foi lendo Romanos 13.13 que Agostinho se converteu. Como professor de retórica e filósofo, Agostinho se afligia com o problema do mal. Até que um dia em visita ao seu amigo Alípio, em Milão, estava tão angustiado que teve que se retirar ao jardim e, sentado debaixo de uma figueira, ouviu uma criança do vizinho cantarolando “Pega e lê, pega e lê” (Confissões 8.12).
Agostinho imediatamente foi buscar o volume do apóstolo e leu a primeira passagem que encontrou ao abri-lo: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja” (NVI). Sendo uma pessoa muito devassa e dada à bebedeira e prostituição, Agostinho logo entendeu o problema da origem do mal e se converteu. Tornou-se um dos principais teólogos da cristandade.
Romanos teve também significativa influência na vida de Martinho Lutero. Ele também era um indivíduo extremamente perturbado pela culpa do pecado. Como monge agostiniano e professor de teologia em Wittenberg, foi pela leitura de Romanos que entendeu o sentido da justificação pela fé, e foi responsável por desencadear uma das principais reformas religiosas da era cristã.
No século 20, o conhecido expositor bíblico britânico, Martin Lloyd-Jones, pregou durante 13 anos, todas as sextas-feiras, a carta aos Romanos, cujos sermões hoje estão reunidos em 14 volumes.
No decorrer da história, diferentes aspectos de Romanos foram destacados como tema e mensagem centrais. A Reforma protestante destacou o ensino sobre a justificação pela fé (Rm 1–4). No início do século 20, alguns valorizaram ensinamentos sobre a graça (Rm 5–8). Após a Segunda Guerra, o holocausto e a criação do estado de Israel, muitos se interessaram pela relação entre igreja e Israel (Rm 9–11). Por fim, com a ênfase social e o evangelho integral, alguns passaram a dar importância aos aspectos práticos e éticos da vida cristã (Rm 12–16). Mas tomada em seu conjunto, é possível dizer que em Romanos Paulo busca mostrar o plano de Deus para estender o seu senhorio a todos os povos por meio de Cristo. Jesus e seu senhorio gracioso são temas centrais de Romanos.
Realmente uma primeira leitura de Romanos pode provocar certo desafio especialmente pela forma de raciocínio de Paulo com diversas perguntas retóricas e argumentos. Mas à medida que se lê, aprendemos a apreciar não só o raciocínio e lógica de Paulo, mas, sobretudo, o seu conteúdo. Além do mais, Paulo nos convida a nos fixar na essência e simplicidade do evangelho, e a acolher “o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos” (14.1).
Para saber mais, conheça Lendo Romanos com John Stott, volume 1 e volume 2.
Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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