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Opinião

A amiga de C. S. Lewis

Mais do que uma grande escritora, Dorothy L. Sayers foi uma representante de mão cheia da ascensão das mulheres no mundo da cultura.
 
Por Gabriele Greggersen
 
Em 2014, após décadas de estudo de C. S. Lewis, Tolkien, Chesterton, Monteiro Lobato, Malba Tahan, entre outros autores ficcionais correlatos, eu encarei um novo doutorado, agora na área de tradução. Logo pensei em me dedicar a uma mulher e nenhum nome parecia mais adequado do que Dorothy L. Sayers – amiga de C. S. Lewis, Chesterton e Tolkien, e que foi também uma exímia tradutora.
 
E esta obra, que tematiza a amizade entre Lewis e Sayers e traça um paralelo entre a vida de ambos, tem muito a contribuir para essa seara. Resgata um nome ainda tão pouco conhecido no Brasil, trazendo-o para mais perto de Jack – como C. S. Lewis era conhecido na intimidade –, que vem sendo redescoberto atualmente no mercado editorial brasileiro.
 
Minha primeira aproximação de Dorothy L. Sayers se deu em 1997, quando eu fazia pesquisas nos Estados Unidos para o meu doutorado em Lewis, no Wadecenter, centro de estudos dos Inklings, que estava promovendo, à época, um workshop sobre a autora. Fiquei deveras interessada.Depois, fiz uma tradução comentada de The Lost Tools of Learning 1,  da autora, que defende a volta do Trivium às escolas. Nenhum dos autores estudados até então havia contribuído tão significativamente para a minha área de educação como ela. 
 
Mas a contribuição de Sayers para os debates lewisianos se dá especialmente por ela ser mulher e, assim, convidar as mulheres para se interessarem e participarem mais ativamente das discussões em torno dos temas abordados por Lewis e para além deles. 
 
E Dorothy L. Sayers, como tão bem demonstra Igor Gaspar, não foi uma mulher qualquer. Mais do que uma grande escritora, foi uma representante de mão cheia da ascensão das mulheres no mundo da cultura. Além de ter sido uma das primeiras mulheres a receber um título de mestre da Universidade de Oxford, foi também pioneira, junto com Agatha Christie, no campo das histórias de detetive e no dos dramas para o teatro.
 
Dorothy não apenas foi uma protagonista da causa das mulheres na prática, como também tematizou o mundo feminino em um importante livro para a causa das mulheres: Are Women Human2 [As mulheres são humanas?].  Nele, ela defende que os sexos são, antes de tudo, equivalentes por sua origem e essência comum como seres humanos. E é no cumprimento de sua missão e vocação, que são mais semelhantes do que diferentes, que ambos os sexos se realizam.
 
Apesar de ela não ter se identificado com o feminismo, uma de suas primeiras poesias foi publicada numa coletânea de escritos feministas. Sua crítica é principalmente ao igualitarismo que suprime as diferenças, pondo a perder o propósito de cada criatura nesta vida, que é único. Mas, com certeza, segundo ela, os sexos têm igual valor diante do Deus Criador.
 
Então, aproximar um autor homem, como C. S. Lewis, e uma autora mulher, Dorothy L. Sayers, como tão competentemente faz Igor Gaspar –  comparando sua trajetória e ideias –, é mais do que apropriado e bem-vindo; é urgente, pois demonstra, na prática, que os temas tratados por estes dois gigantes da literatura são universais e perenes, dizendo respeito a todos os sexos, em todos os tempos. 
 
Assim, o livro Dorothy L. Sayers & C. S. Lewis – biografia, amizade e vida é um brilhante estudo intertextual de literatura comparada bastante atual e relevante para todos os interessados neste legado e escritos, fazendo jus a dois autores tão próximos e mostrando por que eles são equivalentes.
Boa leitura!

1 Dorothy L. Sayers. Are Women Human? Grand Rapids (MI): William B. Eerdmans Pub. Co., 2005.
2Dorothy L. Sayers. As ferramentas perdidas da educação [parte 1]. Tradução comentada de Gabriele Greggersen em Caminhando. São Bernardo do Campo, v. 15, 2010. p. 189-203.
______. As ferramentas perdidas da educação [parte 2], Tradução comentada de Gabriele Greggersen em Caminhando. São Bernardo do Campo, v. 16, 2011. p. 125-141.
 
  • Gabriele Greggersen, doutora em filosofia e história da educação pela Universidade de São Paulo e em estudos da tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina com a dissertação Da Mente do Criador à Mente do Tradutor, na qual traduziu o livro A Mente do Criador, de Dorothy L. Sayers.

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